NOS LIMITES DE TABRIZ: 7:20H. O 212 de Erikki se aproximou em grande velocidade. Todo o tempo, Erikki tinha-se mantido acima das árvores, evitando estradas, campos de aviação, cidades e aldeias, com a mente voltada para Azadeh e para a sua vingança contra o khan, sem pensar em mais nada. Agora, a cidade surgiu subitamente à sua frente. Na mesma hora, ele foi tomado de uma grande inquietação.
— Onde fica o palácio, piloto? — O xeque Bayazid gritou alegremente. — Onde fica?
— No topo da montanha, aga — disse no microfone, uma parte dele desejando acrescentar: É melhor repensarmos tudo isso, decidir se o ataque é aconselhável, e outra parte gritando: Esta é a sua única chance, Erikki, você não pode mudar os planos, mas como é que você vai escapar com Azadeh do palácio e deste bando de maníacos? — Diga aos seus homens para apertarem os cintos de segurança, esperarem até que as pás toquem o chão, diga-lhes para não abrirem os cintos enquanto não estivermos no chão, depois eles se espalham e mande dois deles guardarem o helicóptero e defendê-lo com a própria vida. Eu vou começar a contar de dez para baixo a partir do pouso e... e então irei na frente.
— Onde está o palácio?, não consigo vê-lo.
— Lá no topo da montanha, a um minuto daqui. Fale com eles! — As árvores foram ficando embaçadas à medida que eles se aproximavam delas, Erikki com os olhos presos na garganta no alto da montanha, o horizonte distorcendo-se. — Eu quero uma arma — disse, nervoso com a expectativa.
Bayazid mostrou os dentes.
— Nada de armas até invadirmos o palácio.
— Aí eu não vou mais precisar — disse com um palavrão. — Eu tenho que ter uma...
— Você pode confiar em mim, aliás, você tem que confiar. Onde é este palácio dos Gorgons?
— Lá! — Erikki apontou para o topo que estava bem acima deles. — Dez, nove, oito...
Ele tinha decidido aproximar-se pelo leste, parcialmente oculto pela floresta, com a cidade à sua direita, a garganta protegendo-o. Mais cinqüenta metros. Seu estômago se contraiu.
As rochas cresceram na direção deles. Ele sentiu mais do que viu Bayazid gritar e levantar as mãos para se proteger da batida, mas Erikki passou pela garganta e começou a descer em direção aos muros. No último instante, ele cortou toda a força, passou com o helicóptero a um centímetro do muro, preparando-se para um pouso de emergência, inclinou ligeiramente o aparelho na direção do pátio e deixou-o cair, calculando a queda com perfeição, e desceu, deslizando um pouco e depois parando. Com a mão direita desligou os circuitos, com a esquerda abriu o cinto de segurança e a porta, e foi o primeiro a saltar, correndo para a escada. Bayazid veio logo atrás, as portas da cabine se abriram e os homens começaram a saltar, tropeçando uns nos outros na sua excitação, com as hélices ainda girando e os motores parando.
Quando ele alcançou a porta da frente e a abriu, os empregados e um guarda perplexo vieram correndo para ver que confusão era aquela. Erikki arrancou o rifle das mãos dele e deixou-o desacordado. Os empregados se espalharam e fugiram, alguns reconhecendo-o. O corredor estava limpo.
— Vamos! — gritou, então, quando Bayazid e alguns dos outros se juntaram a ele, correu pelo hall e subiu as escadas. Um guarda esticou a cabeça por cima do corrimão e apontou a arma, mas um dos homens acertou nele. Erikki pulou por cima do cadáver e correu pelo corredor.
Uma porta se abriu lá na frente. Outro guarda apareceu, atirando. Erikki sentiu as balas atravessarem o seu casaco, mas não foi ferido. Bayazid atirou no homem e, juntos, eles avançaram na direção do quarto do khan. Uma vez lá, Erikki abriu a porta com um pontapé. Começaram a atirar lá de dentro mas os tiros não acertaram nele nem no xeque, e sim no homem que estava ao lado dele. Os outros se espalharam em busca de proteção e o homem ferido avançou na direção do seu agressor, levando mais tiros, mas atirando até depois de morto.
Por um segundo ou dois, houve uma trégua, então para surpresa de Erikki, Bayazid atirou uma granada para dentro do quarto. A explosão foi terrível. A fumaça se espalhou pelo corredor. Imediatamente, Bayazid pulou para dentro do quarto, com a arma apontada e Erikki ao seu lado.
O quarto estava em ruínas, as janelas arrancadas, cortinas destroçadas, a cama destruída, os restos de um guarda amontoados contra uma parede. Na alcova que ficava num dos cantos do enorme quarto, meio oculta do resto, havia uma mesa virada, uma empregada gemendo e dois corpos inertes, meio enterrados debaixo da toalha e da louça quebrada. O coração de Erikki parou quando ele reconheceu Azadeh. Em pânico, ele correu e tirou o entulho de cima dela — ao passar, notou que a outra pessoa era Hakim — ergueu-a nos braços, com os cabelos soltos, e levou-a para a luz. Só voltou a respirar quando teve certeza de que ela estava viva — inconsciente, talvez ferida, mas viva. Ela estava usando um roupão de cashmere azul que escondia tudo, mas prometia tudo. Os nativos ficaram embasbacados com a sua beleza. Erikki tirou a jaqueta e envolveu-a com ela, esquecido de tudo.
— Azadeh... Azadeh...
— Quem é este, piloto?
Erikki viu que Bayazid estava ao lado dos destroços.
— Este é Hakim, o irmão da minha esposa. Ele está morto?
— Não. — Bayazid olhou em volta, furioso. Não havia nenhum lugar em volta para o khan se esconder. Seus homens estavam amontoados na porta e ele os xingou, mandando que tomassem posições defensivas de cada lado do corredor e que outros fossem guardar o pátio lá fora. Então ele foi até onde estavam Erikki e Azadeh e olhou para o rosto lívido, os seios e as pernas sob o cashmere.
— Sua esposa?
— Sim.
— Ela não está morta. Que bom.
— Sim, mas só Deus sabe o quanto está ferida. Tenho que chamar um médico...
— Depois, primeiro temos que...
— Agora! Ela pode morrer!
— Seja como Deus quiser, piloto — disse Bayazid e depois gritou, com raiva: — Você disse que conhecia tudo, sabia onde o khan estava. Em nome de Deus, onde está ele?
— Eu não sei. Aqui... aqui era o quarto dele, aga. Eu nunca vi nenhuma outra pessoa aqui, nem mesmo a mulher dele tinha permissão para entrar sem autorização e... Uma rajada de tiros lá fora o interrompeu. — Ele tem que estar aqui, já que Hakim e Azadeh estão aqui.
— Onde? Onde ele poderia esconder-se?
Nervoso, Erikki olhou em volta, ajeitou Azadeh o melhor que pôde e correu até a janela — elas tinham grades e o khan não poderia ter fugido por ali. De lá, um canto bem protegido do palácio, ele não podia ver o pátio nem o helicóptero, só os jardins e pomares e a cidade a um quilômetro de distância, lá embaixo. Ainda não havia outros guardas ameaçando-os. Quando ele se virou, notou um movimento na alcova, viu a automática, empurrou Bayazid, tirando-o do caminho da bala que o teria matado, e precipitou-se para Hakim, que estava deitado no meio do entulho. Antes que os outros homens pudessem reagir, ele imobilizou o rapaz, tirou-lhe a arma da mão e gritou com ele, tentando fazê-lo entender:
— Você está seguro, Hakim, sou eu, Erikki, nós somos amigos, viemos salvar você e Azadeh do khan... viemos salvá-los!
— Salvar-me... salvar-me de quê? — Hakim estava olhando para ele sem entender, ainda tonto, com o sangue pingando de um pequeno ferimento na cabeça. — Salvar?
— Do khan e... — Erikki viu o seu olhar de terror, virou-se a agarrou o cano do rifle de Bayazid bem a tempo. — Espere, aga, espere, não é culpa dele, ele ainda está tonto... espere... ele estava apontando para mim, não para você, espere, ele vai nos ajudar. Espere!