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— Sim, Alteza, uma vez, no Clube Francês, no ano passado. Eu estava com o sr. Talbot, da embaixada britânica, e com um amigo do seu marido da embaixada da Finlândia, Christian Tollonen. Acho que era aniversário do seu marido.

— O senhor tem boa memória, superintendente. Hakim Khan deu um sorriso estranho.

— Esta é uma das características do M16, Azadeh.

— Só dos ex-policiais, Alteza — disse Armstrong. — Eu sou apenas um consultor do Serviço Secreto. — E dirigindo-se a Azadeh: — Eu e o coronel Fazir ficamos muito aliviados ao saber que nem a senhora nem o khan estavam feridos.

— Obrigada — ela disse, com os ouvidos e a cabeça ainda doendo muito e com problemas nas costas. O médico tinha dito: "Teremos que esperar alguns dias, Alteza, apesar de que iremos radiografá-los o mais cedo possível. É melhor a senhora e o khan irem para Teerã, eles têm um equipamento melhor. Com uma explosão como aquela nunca se sabe, Alteza, é melhor ir, eu não gostaria de ser responsável..."

Azadeh suspirou.

— Por favor, desculpe interromper — ela se calou abruptamente, escutando, com a cabeça ligeiramente inclinada. Eles também escutaram. Era só o vento e um carro ao longe.

— Ainda não é desta vez — disse Hakim, bondosamente. Ela tentou sorrir e murmurou:

— Seja como Deus quiser — e depois saiu. Hashemi quebrou o silêncio.

— Nós também deveríamos deixá-lo, Alteza — disse com deferência, falando em farsi outra vez. — Foi muita bondade sua receber-nos hoje. Talvez pudéssemos voltar amanhã? — Ele viu o jovem khan tirar os olhos da porta e olhar para ele por baixo das sobrancelhas escuras, com o rosto bonito e em repouso, os dedos brincando com o punhal cravejado de pedras que trazia na cintura. Ele deve ser feito de gelo, pensou, esperando educadamente que ele os despachasse.

Mas ao invés disto, o khan despachou todos os guardas, exceto um que estava parado na porta, de onde não podia ouvir a conversa, e fez sinal para os dois homens chegarem mais perto.

— Agora nós vamos falar em inglês. O que é que vocês desejam realmente pedir-me? — Ele disse baixinho.

Hashemi suspirou, certo de que Hakim Khan já sabia, e mais certo agora de que aqui ele tinha um adversário ou um aliado à altura.

— Ajuda em duas questões, Alteza: a sua influência no Azerbeijão poderia ajudar-nos imensamente a derrotar elementos hostis que estão rebelados contra o governo.

— E a segunda?

Ele percebeu o tom de impaciência e isso o divertiu.

— A segunda é um tanto delicada, Alteza. Ela diz respeito a um soviético chamado Petr Oleg Mzytryk, um conhecido do seu pai que, há alguns anos costuma vir aqui de vez em quando, assim como Abdullah Khan costumava visitar a sua fazenda em Tbilisi. Apesar de Mzytryk se fazer passar por amigo de Abdullah Khan e do Azerbeijão, na realidade ele é um membro muito graduado da KGB e muito hostil.

— De cada cem soviéticos que vêm para o Irã, 98 são da KGB e portanto inimigos, e os outros dois são da GRU e portanto inimigos. Como khan, o meu pai tinha que lidar com todo o tipo de inimigos — mais uma vez Hashemi notou o sorriso irônico — e com todo o tipo de amigos e também com o meio-termo. E então?

— Nós gostaríamos muito de entrevistá-lo. — Hashemi esperou alguma reação, mas não houve nenhuma e a sua admiração pelo rapaz aumentou. — Antes de Abdullah Khan morrer, ele tinha concordado em nos ajudar. Através dele, nós soubemos que o homem tencionava atravessar a fronteira secretamente no sábado passado e de novo na terça-feira, mas das duas vezes ele não apareceu.

— E como ele irá atravessar a fronteira?

Hashemi contou-lhe, sem saber ao certo quanto ele sabia, experimentando o terreno com grande cautela.

— Nós achamos que o homem pode entrar em contato com o senhor; neste caso, o senhor poderia por favor nos avisar? Em particular.

Hakim Khan decidiu que estava na hora de pôr este inimigo teerani e o seu lacaio inglês no seu devido lugar. Filho de um cão, será que eu sou tão ingênuo a ponto de não saber o que está acontecendo?

— Em troca de quê? — perguntou bruscamente. Hashemi foi igualmente brusco.

— O que o senhor quer?

— Primeiro: que todos os oficiais graduados da Savak e da polícia no Azerbeijão sejam suspensos imediatamente, aguardando uma revisão, que será feita por mim, e que todos os que forem designados daqui para a frente sejam submetidos à minha aprovação prévia.

Hashemi enrubesceu. Nem mesmo Abdullah Khan jamais pedira isso.

— E qual é a segunda coisa? — perguntou secamente.

Hakim Khan riu.

— Bom, muito bem, aga. A segunda coisa vai esperar até amanhã ou depois, bem como a terceira e talvez a quarta. Mas quanto ao seu primeiro ponto, amanhã às dez horas, traga-me um relatório dizendo como eu poderia ajudar a parar com toda a luta no Azerbeijão e como você, pessoalmente, se estivesse ao seu alcance, como você iria... — Ele pensou por um momento e depois continuou: — Como nos poria a salvo dos inimigos internos e externos. — Ele desviou a sua atenção para Armstrong.

Armstrong estava desejando que a discussão continuasse para sempre, extasiado por estar tendo a oportunidade de assistir em primeira mão a este novo khan enfrentando um adversário tão duro quanto Hashemi. Minha nossa, se este garoto consegue agir com tanta confiança assim dois dias depois de se tornar khan, depois de ter sido quase desintegrado por uma explosão há poucas horas atrás, é melhor que o governo de Sua Majestade o coloque no topo da lista dos elementos perigosos. Ele viu os olhos fixos nele. Com esforço, manteve o rosto calmo, resmungando por dentro: Agora é sua vez!

— Quais as áreas de sua especialidade que poderiam interessar-me?

— Bem, Alteza, eu, ahn, trabalhei no Special Branch e entendo um pouco de espionagem e contra-espionagem. É claro que boas informações, informações confidenciais são essenciais para alguém na sua posição. Se o senhor quisesse, talvez eu pudesse, junto com o coronel Fazir, sugerir maneiras de melhorar isto para o senhor.

— Uma boa idéia, sr. Armstrong. Por favor, mande-me as suas sugestões por escrito, o mais cedo possível.

— Seria um prazer. — Armstrong decidiu jogar. — Mzytryk poderia fornecer-lhe rapidamente um bocado de respostas, a maioria das respostas que o senhor precisa acerca dos inimigos "internos e externos" que o senhor mencionou, especialmente se o coronel pudesse, ahn, conversar com ele em particular. — As palavras ficaram pairando no ar. Ele viu Hashemi arrastar os pés nervosamente ao seu lado. Eu aposto a minha vida como você sabe mais do que diz, Hakim, meu rapaz, e aposto os meus testículos como você não passou todos esses anos sendo apenas uma maldita "pena"! Cristo estou precisando de um cigarro!

Os olhos de Hakim estavam cravados nele e teria adorado poder dizer. Pelo amor de Deus, pare com toda esta besteira e mije ou saia do pinico... Então imaginou este khan de todos os Gorgons mijando no assento de uma privada, com tudo pendurado para fora, e teve que tossir para não rir.

— Desculpe — disse, tentando parecer humilde. Hakim Khan franziu a testa.

— E como eu poderia ter acesso a essas informações? — perguntou, e os dois homens viram que ele estava fisgado.

— Como o senhor quiser, Alteza — disse Hashemi —, como o senhor quiser.

Houve outra pausa.

— Eu vou pensar no que... Hakim parou, escutando. Agora todos eles ouviram o barulho das hélices e dos motores. Os dois homens se dirigiram para as janelas altas. — Esperem — disse Hakim. Um de vocês, por favor, me ajude.

Perplexos, eles o ajudaram a se levantar.

— Obrigado. Assim está melhor. São as minhas costas. Eu devo ter dado um mau jeito nelas durante a explosão. — Hashemi ofereceu-lhe o braço e ele foi mancando até a janela que dava para o pátio.

O 212 se aproximava devagar, preparando-se para pousar. Quando o aparelho se aproximou, eles viram Erikki e Ahmed nos assentos da frente, mas Ahmed estava curvado e claramente ferido. Havia alguns buracos de bala no aparelho e um grande naco fora arrancado da janela lateral. O aparelho fez um pouso perfeito. No mesmo instante os motores começaram a parar. Eles viram o sangue na manga e no colarinho de Erikki.