— Há alguma coisa acontecendo! O senhor não pode me dizer que... — Ele parou, ouvindo passos se aproximando. — Ouça, capitão — murmurou ansiosamente. — Eu estou do seu lado, tenho um trato com o capitão Ayre, ele vai me ajudar...
O Faixa Verde entrou na sala e disse alguma coisa em farsi para Wazari, cujos olhos se arregalaram.
— O que foi que ele disse? — McIver perguntou.
— Esvandiary quer vê-lo lá embaixo. — Wazari sorriu sardonicamente depois voltou para o telhado e se agachou ao lado do conector.
NO ESCRITÓRIO DE ESVANDIARY: 17:40H. Tom Lochart estava paralisado de raiva e McIver também.
— Mas os nossos vistos de saída estão em dia e nós temos autorização para retirar o pessoal hoje, agora!
— Com a aprovação do ministro Kia, as autorizações estão suspensas até chegarem os substitutos — Esvandiary disse secamente. Ele estava sentado atrás da escrivaninha, com Kia ao lado, Lochart e McIver em pé diante dele. Sobre a escrivaninha havia uma pilha de vistos e passaportes. Já estava quase escurecendo. — Aga Siamaki também está de acordo.
— Isto mesmo. — Kia estava se divertindo com a irritação deles. Malditos estrangeiros. — Não há necessidade de toda essa pressa, capitão. É muito melhor fazer as coisas ordenadamente, muito melhor.
— Nós estamos agindo ordenadamente, ministro Kia — McIver disse com raiva. — Nós temos as autorizações. Eu insisto que o avião parta conforme estava planejado!
— Isto aqui é o Irã, não a Inglaterra — Esvandiary debochou. — E mesmo lá eu duvido que o senhor pudesse insistir em alguma coisa. — Ele estava muito satisfeito consigo mesmo. O ministro Kia tinha ficado encantado com o seu pishkesh: os rendimentos de um futuro poço de petróleo e tinha-lhe oferecido imediatamente um lugar na diretoria da CHI. Então para sua grande alegria, Kia tinha explicado que se deveria cobrar uma taxa para cada visto de saída:
— Deixe os estrangeiros espernearem — o ministro tinha acrescentado. — Até sábado, eles estarão loucos para pagar, digamos, trezentos dólares americanos, em dinheiro, por cabeça.
— Como o ministro disse — ele falou com um ar de importância — nós devemos agir ordenadamente. Agora eu estou ocupado, boa...
A porta se abriu e Starke entrou no escritório, com o rosto pálido, e o braço esquerdo na tipóia.
— Que diabo está acontecendo com você, Esvandiary? Você não pode cancelar os vistos.
— Os vistos foram adiados e não cancelados. Adiados! — O rosto de Esvandiary contorceu-se de raiva. — E quantas vezes vou precisar dizer a vocês, gente sem educação, para bater antes de entrar? Bater! Este escritório não é seu, é meu, eu dirijo esta base e o ministro Kia e eu estamos tendo uma reunião que você interrompeu. Agora saiam, todos vocês! — Ele se virou para Kia, como se os dois estivessem sozinhos e disse em farsi com outro tom de voz: — Ministro, eu peço desculpas por tudo isso, o senhor está vendo o tipo de coisas com que eu tenho que lidar. Recomendo que todos os aviões estrangeiros sejam nacionalizados e que usemos apenas os nossos próprios pil...
Starke fechou o punho.
— Escuta aqui, seu filho da puta!
— SAIA! — Esvandiary estendeu a mão para a gaveta onde havia uma pistola. Mas não chegou a apanhá-la. O mulá Hussein entrou pela porta, acompanhado de Faixas Verdes. Houve um súbito silêncio na sala.
— Em nome de Deus, o que está acontecendo aqui? — Hussein disse em inglês, com seus olhos frios e duros pousados em Esvandiary e Kia. Imediatamente, Esvandiary levantou-se e começou a explicar, falando em farsi, Starke se meteu e em pouco tempo os dois estavam aos berros. Impacientemente, Hussein levantou a mão. — Primeiro você, aga Esvandiary. Por favor, fale em farsi para que o meu komiteh possa entender. — E escutou impassivamente a longa tirada em farsi, com os seus quatro Faixas Verdes amontoados na porta. Depois fez um sinal para Starke. — Capitão?
Starke foi breve e direto. Hussein olhou para Kia.
— Agora o senhor, Excelência ministro. Posso ver a sua autorização para passar por cima da autoridade de Kowiss e cancelar os vistos de saída?
— Cancelar, Excelência mulá? Adiar? Eu não — Kia disse calmamente. — Eu sou apenas um servo do imã, que a paz de Deus esteja com ele, e do primeiro-ministro indicado por ele e do seu governo.
— Excelência Esvandiary disse que o senhor aprovou o adiamento.
— Eu simplesmente concordei com o desejo dele de uma substituição ordenada de pessoal.
Hussein olhou para a escrivaninha.
— Estes são os vistos de saída e os passaportes? Esvandiary sentiu a boca seca.
— Sim, Excelência.
Hussein apanhou-os e os entregou a Starke.
— Os homens e o avião partirão imediatamente.
— Obrigado, Excelência. — Disse Starke, sentindo-se fraco por ficar tanto tempo em pé.
— Deixe-me ajudá-lo — McIver apanhou os passaportes e os vistos. — Obrigado, aga — disse para o mulá, radiante com a vitória.
Os olhos de Hussein estavam tão duros e frios como antes.
— O imã disse: "Se os estrangeiros quiserem partir, deixem-nos partir, nós não precisamos deles!"
— Ahn, sim, obrigado — disse McIver, não se sentindo nada à vontade perto daquele homem. Ele saiu, seguido de Lochart
Starke estava dizendo em farsi:
— Acho que vou ter que partir neste avião também, Excelência. — E repetiu o que o doutor Nutt tinha dito, acrescentando em inglês: — Eu não quero ir, mas não posso fazer nada. Insha'Allah.
Hussein concordou com a cabeça, pensativo.
— O senhor não precisa de um visto de saída. Pode embarcar. Eu vou explicar ao komiteh. Agora vou assistir à partida do avião. — Ele saiu e foi até a torre para comunicar a sua decisão ao coronel Changiz.
O 125 ficou cheio em pouco tempo. Starke foi o último a embarcar, com as pernas bambas. O doutor Nutt tinha-lhe dado analgésicos para que ele pudesse embarcar.
— Obrigado, Excelência — disse a Hussein por sobre o ruído dos jatos, ainda temendo-o, mas ao mesmo tempo gostando dele, sem saber por quê. — Que a paz de Deus esteja com o senhor.
Hussein estava com um ar estranho.
— A corrupção e a mentira são contra as leis de Deus, não são?
— Sim, são. — Starke viu a indecisão no rosto de Hussein. Então o momento passou.
— Que a paz de Deus esteja com o senhor, capitão. — Hussein virou-se e se afastou. O ar ficou mais leve.
Muito fraco, Starke subiu os degraus, usando a mão boa para se apoiar, procurando caminhar ereto. Lá no alto, ele se segurou no corrimão e se virou por um momento, com a cabeça latejando e o peito doendo. Tanta coisa estava sendo deixada para trás, tanta coisa, não apenas helicópteros e peças e coisas materiais, muito mais do que isso. Droga, eu devia ficar e não partir. Com um ar tristonho, ele deu adeus para os que estavam ficando para trás e fez um sinal com os polegares para cima, dolorosamente consciente de que estava agradecido por não estar entre eles.
No escritório, Esvandiary e Kia observavam o 125 taxiando na pista. Que Deus os amaldiçoe, que vão todos para o inferno por se intrometerem, Esvandiary pensou. Então ele controlou a raiva, concentrando-se na grande festa que alguns amigos, que desejavam ardentemente conhecer o ministro Kia, seu amigo e colega de diretoria, tinham preparado, na apresentação das dançarinas e nas ligações amorosas temporárias...
A porta se abriu. Para seu espanto, Hussein entrou, lívido de raiva, acompanhado por Faixas Verdes. Esvandiary levantou-se.
— Sim, Excelência? O que posso fazer... — Ele parou quando um Faixa Verde o empurrou rudemente para permitir que Hussein se sentasse atrás da escrivaninha. Kia ficou onde estava, perplexo.
Hussein disse:
— O imã, que a paz esteja com ele, ordenou que os komitehs acabassem com toda a corrupção, onde quer que ela existisse. Este é o komiteh da base aérea de Kowiss. Vocês dois são acusados de corrupção.