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Kia e Esvandiary empalideceram e começaram a falar ao mesmo tempo, declarando que aquilo era ridículo e que eles estavam sendo falsamente acusados. Hussein estendeu a mão e deu um puxão na pulseira de ouro do relógio também de ouro que estava no pulso de Esvandiary

— Quando foi que você comprou isto e como foi que pagou?

— Minhas... minhas economias e...

— Mentiroso. Pishkesh por dois serviços. O komiteh sabe. Agora, e quanto ao seu plano de lesar o Estado, oferecendo secretamente rendimentos de petróleo para corromper funcionários?

— Ridículo, Excelência, é tudo mentira! — Esvandiary gritou, em pânico. Hussein olhou para Kia que também tinha ficado lívido.

— Que funcionários, Excelência? — Kia perguntou, mantendo a voz calma, certo de que seus inimigos tinham-lhe preparado uma cilada bem longe da sua área de influência. Siamaki! Tem que ser Siamaki!

Hussein fez sinal para um dos Faixas Verdes, que saiu e voltou com o operador de rádio, Wazari.

— Diga a eles, diante de Deus, o que você me disse — ordenou.

— Conforme eu lhe disse, Excelência, eu estava no telhado — Wazari disse nervosamente. — Eu estava checando uma das nossas linhas e escutei a conversa deles pela clarabóia. Eu o ouvi fazer a oferta. — Ele apontou para Esvandiary, encantado pela oportunidade de se vingar. Se não fosse por Esvandiary, eu nunca teria sido apanhado por aquele louco do Zataki, não teria sido surrado e quase morto.

— Eles estavam falando em inglês e ele disse: "Eu posso dar um jeito de desviar rendimentos de petróleo dos novos poços, posso manter os poços fora das listas e desviar fundos para você"...

Esvandiary estava perplexo. Ele tivera o cuidado de mandar sair do escritório todo o pessoal iraniano e, além disso, tinha falado em inglês como medida de segurança. Agora estava perdido. Ele viu Wazari terminar de falar e Kia começar a responder calmamente, evitando toda cumplicidade, dizendo que estava apenas dando corda àquele homem mau e corrupto:

— Pediram-me para vir aqui exatamente para isso, Excelência, fui mandado pelo governo do imã, que Deus o proteja, exatamente com este objetivo: acabar com a corrupção onde quer que ela esteja. Permita-me congratular-me com o senhor por ser tão zeloso. Se o senhor permitir, assim que eu chegar a Teerã, vou recomendá-lo diretamente ao próprio Komiteh Revolucionário e, é claro, ao primeiro ministro.

Hussein olhou para os Faixas Verdes.

— Esvandiary é culpado ou inocente?

— Culpado, Excelência.

— Este homem, Kia, é culpado ou inocente?

— Culpado — Esvandiary gritou antes que eles pudessem responder. Um dos Faixas Verdes deu de ombros.

— Todos os teeranis são mentirosos. Culpado. — Os outros concordaram com ele.

Kia disse educadamente:

— Os mulás e os aiatolás de Teerã não são mentirosos, Excelência, o Komiteh Revolucionário não é composto de mentirosos, nem o imã, que Deus o guarde, é mentiroso e ele talvez possa ser considerado teerani porque vive agora em Teerã. Eu nasci na sagrada Qom, Excelência — ele acrescentou, abençoando este fato pela primeira vez na vida.

Um dos Faixas Verdes quebrou o silêncio.

— O que ele diz é verdade, não é, Excelência? — E coçou a cabeça. — A respeito dos teeranis?

— Que nem todos os teeranis são mentirosos? Sim, isto é verdade. — Hussein olhou para Kia, também inseguro. — Diante de Deus, você é ou não é culpado?

— É claro que não sou culpado, Excelência, diante de Deus! — Os olhos de Kia eram inocentes. Idiota! Você acha que pode me pegar com isto? O Ta-qiyah me dá o direito de me proteger caso eu considere a minha vida ameaçada por um falso mulá!

— Como o senhor explica o fato de ser um ministro do governo e também o diretor desta companhia de helicópteros?

— O ministro encarregado... — Kia parou, pois Esvandiary estava balbuciando acusações em voz alta. — Sinto muito, Excelência, seja como Deus quiser, mas com este barulho é difícil falar sem gritar.

— Levem-no para fora! — Esvandiary saiu arrastado. — Bem?

— O ministro encarregado da Aviação Civil me pediu para fazer parte da diretoria da CHI como representante do governo — Kia disse, distorcendo a verdade como se estivesse revelando um segredo de Estado, cometendo exageros com o mesmo ar de importância. — Nós não estamos seguros da lealdade dos diretores. Posso dizer-lhe ainda, confidencialmente, Excelência, que dentro de poucos dias todas as companhias de aviação estrangeiras serão nacionalizadas.

Ele falou intimamente com eles, modulando a voz para causar mais efeito, e quando achou que era o momento certo, parou e suspirou:

— Diante de Deus, eu confesso que sou tão inocente quanto o senhor, Excelência, e embora não tenha sido chamado por Deus como o senhor, também tenho dedicado a minha vida a servir ao povo.

— Que Deus o proteja, Excelência — o Faixa Verde exclamou.

Os outros concordaram e até Hussein se deixou convencer. E ia investigar um pouco mais quando se ouviu ao longe um muezin chamando para a oração da noite, e ele admoestou a si mesmo por ter desviado o pensamento de Deus.

— Vá com Deus, Excelência — disse, encerrando o julgamento, e levantou-se.

— Obrigado, Excelência. Que Deus o guarde e a todos os mulás por salvar-nos e à nossa grande nação islâmica das obras de Satã!

Hussein saiu da frente. Lá fora, seguindo o seu exemplo, todos se lavaram ritualmente, viraram-se na direção de Meca e rezaram: Kia, os Faixas Verdes, os operários, o pessoal do escritório, os empregados da cozinha — todos felizes e contentes por poderem, mais uma vez, dar testemunho, publicamente, da sua submissão pessoal a Deus e ao Profeta de Deus. Só Esvandiary chorou de forma abjeta enquanto rezava.

Kia voltou para o escritório silencioso. Ele se sentou atrás da escrivaninha e se permitiu um suspiro, congratulando-se consigo mesmo. Como foi que aquele filho de um cão do Esvandiary ousou acusar-me! A mim, o ministro Kia! Que Deus mande para o fogo do inferno a ele e todos os inimigos do Estado. Lá fora houve uma explosão de tiros. Calmamente, ele apanhou um cigarro e acendeu-o. Quanto mais cedo eu sair deste monte de merda, melhor, pensou. Uma rajada de vento sacudiu o prédio. A chuva bateu nas vidraças.

57

LENGEH: 18:50H. O entardecer estava ameaçador, o céu escuro e coberto de nuvens.

— Amanhã de manhã o tempo vai estar fechado, Scrag — disse o piloto americano, Ed Vossi, com os cabelos escuros e encaracolados despenteados por causa do vento que soprava de Ormuz para Abadan, através do golfo. — Maldito vento!

— Nós não vamos ter problemas, meu chapa. Mas e Rudi, Duke c os outros? Se o vento continuar assim ou piorar, eles vão ficar encrencados.

— Maldito vento! Por que foi escolher logo hoje para mudar de direção? — Os dois homens estavam em pé no promontório que dava para o golfo, sob o mastro da bandeira, vendo as águas cinzentas e, lá no estreito, cobertas de espuma branca. Atrás deles, estava a base e o campo de aviação, ainda molhados em conseqüência da tempestade daquela manhã. Lá embaixo, à direita, ficava a praia e o flutuador de onde eles costumavam nadar. Desde o dia em que o tubarão aparecera, ninguém mais tinha se aventurado a ir até lá, preferindo ficar no raso, caso houvesse algum outro tubarão emboscado à espera deles. Vossi resmungou:

— Eu vou ficar muito contente quando tudo isto estiver terminado. Scragger concordou distraidamente, pensando nas condições atmosféricas, tentando prever o que aconteceria nas próximas 12 horas, o que era difícil nesta época do ano, quando o golfo, geralmente tranqüilo, podia agitar-se com uma violência súbita e monstruosa. Durante 363 ou 364 dias por ano, costumava soprar um vento de noroeste. Mas agora não.