Выбрать главу

— Quem era? — Sua mulher perguntou lá de cima.

— Nada, nada de importante. Um estrangeiro da base aérea. O velho. Ele queria os passaportes deles.

— A esta hora da noite? Que Deus nos proteja! Toda a vez que batem na porta eu fico esperando mais problemas... os malditos Faixas Verdes ou os desgraçados dos esquerdistas! — Qeshemi balançou a cabeça, distraído, mas não disse nada, esquentando as mãos no fogo, mal ouvindo o que ela dizia:

— Por que ele veio até aqui? Os estrangeiros são tão mal-educados. Para que ele iria precisar dos passaportes a esta hora da noite? Você os entregou a ele?

— Eles estão trancados no cofre. Normalmente eu trago a chave comigo, mas ela sumiu. — A criança tornou a tossir. — Como está a pequena Sousan?

— Ela ainda está com febre. Traga-me um pouco d'água quente, isto vai ajudar. Ponha um pouco de mel na água. — Ele pôs a chaleira no fogo, suspirou, ouvindo-a resmungar: — Passaportes a esta hora da noite! Por que eles

não podem esperar até sábado? Que falta de consideração! Você disse que a chave sumiu?

— Sim. Provavelmente aquele idiota do Lafti a apanhou e se esqueceu de tornar a colocar no lugar. Seja como Deus quiser.

— Muhammed, por que será que o estrangeiro queria os passaportes a esta hora da noite?

— Não sei. É estranho. Muito estranho.

58

NO CAMPO DE AVIAÇÃO DE BANDAR DELAM: 19:49H. Rudi Lutz estava na varanda do seu trailer contemplando a chuva.

— Scheiss— resmungou. Atrás dele, a porta estava aberta e o reflexo da luz fazia brilharem as gotas de chuva. Ele estava ouvindo Mozart no toca-fitas. A porta do trailer ao lado, o trailler-escritório, se abriu e ele viu Pop Kelly sair segurando um guarda-chuva e vir pulando pelas poças até onde ele estava. Nenhum dos dois notou o iraniano nas sombras. Em algum lugar da base um gato estava miando.

— Oi, Pop. Entre. Você conseguiu?

— Sim, sem problemas. — Kelly sacudiu a chuva da roupa. Dentro do trailer estava quente e agradável, tudo muito arrumado. O HF estava desencapado e ligado, com a estática se misturando com a música. Havia um bule de café no fogão.

— Café?

— Obrigado. Eu me sirvo. — Kelly entregou-lhe o papel e foi até a cozinha. O papel tinha colunas de números escritas apressadamente, temperaturas, direções de vento, e força do vento para cada trezentos metros, pressão barométrica e a previsão de tempo para o dia seguinte. — A torre de Abadan disse que estava atualizada. Eles disseram que incluía todos os dados fornecidos hoje. Não parecia assim tão mau, hein?

— Se estiver correta. — A previsão indicava uma diminuição da precipitação por volta da meia-noite e uma redução da força do vento. Rudi aumentou o volume do toca-fitas e Kelly sentou-se ao lado dele. Rudi baixou a voz. — Poderia estar tudo bem para nós, e uma droga para Kowiss. Nós ainda vamos precisar reabastecer durante o vôo para chegar até Bahrain.

Kelly tomou um gole de café com satisfação, estava quente e forte, com uma colher de leite condensado.

— O que você faria se fosse Andy?

— Com as três bases com que me preocupar, eu... — Houve um ligeiro barulho lá fora. Rudi se levantou e olhou pela janela. Nada. Então, mais uma vez o barulho do gato, mais perto. — Malditos gatos, eles me dão arrepios.

— Eu gosto de gatos. — Kelly sorriu. — Nós temos três lá em casa: Mateus, Marcos e Lucas. Dois são siameses, o outro é um vira-lata; Betty diz que os garotos estão deixando-a maluca, querendo mais um para arredondar a conta.

— Como está ela?

O vôo de hoje da BA para Abadan trouxera Sandor Petrofi para pilotar o quarto 212, junto com uma carta de Gavallan. Desde o início dos problemas, a correspondência era enviada através do QG em Aberdeen, a primeira em muitas semanas.

— Está bem, aliás está ótima... faltam três semanas. Ela geralmente se mantém dentro do prazo. Eu vou ficar feliz de estar em casa quando ela tiver o bebê. — Kelly sorriu satisfeito. — O médico disse que acha que finalmente vai ser uma menina.

— Parabéns! Isso é maravilhoso! — Todo mundo sabia que os Kelly estavam torcendo para isso. — Sete meninos e uma menina, é um bocado de gente para alimentar. — Rudi pensou no quanto achava difícil pagar as contas e as mensalidades do colégio com apenas três filhos e nenhuma prestação da casa, a casa deixada para a mulher pelo pai dela, que Deus abençoe o velho filho da mãe. — Um bocado de bocas, não sei como você consegue.

— Oh, nós damos um jeito, que Deus seja louvado. — Kelly olhou para a previsão do tempo e franziu a testa. — Sabe, se eu fosse Andy, forçaria a barra e não adiaria nada.

— Se dependesse de mim, eu cancelaria a operação e esqueceria toda esta maluquice. — Rudi continuou falando baixo e chegou mais perto. — Eu sei que vai ser duro para Andy, talvez a companhia tenha que fechar, talvez. Mas nós todos podemos conseguir novos empregos, até melhores, nós temos que pensar na família e eu detesto esta história de agir contra as regras. Como é que nós vamos conseguir dar o fora? Não é possível. Se nós... — Faróis de automóvel iluminaram a janela, um carro se aproximou e parou lá fora.

Rudi foi o primeiro a chegar na janela. Ele viu Zataki saltar com alguns Faixas Verdes, depois Numir, o gerente da base, sair do escritório com um guarda-chuva e se juntar a eles.

— Scheiss — Rudi tornou a resmungar, então baixou a música, checou rapidamente o trailer para ver se havia alguma coisa que os incriminasse e colocou a previsão do tempo no bolso.

— Salaam, coronel — disse, abrindo a porta. — O senhor estava me procurando?

— Salaam, capitão, sim, estava. — Zataki entrou na sala, com uma metralhadora do exército americano pendurada no ombro. — Boa noite. Quantos helicópteros há aqui no momento, capitão?

Numir começou:

— Quatro 212 e..

— Eu perguntei ao capitão — Zataki exclamou — não a você. Se eu quiser que você me dê alguma informação, eu peço! Capitão?

— Quatro 212 e dois 206, coronel.

Para grande espanto deles, especialmente de Numir, Zataki disse:

— Ótimo. Eu quero que dois 212 sejam enviados para a Irã-Toda amanhã às oito horas para trabalhar sob as ordens do aga Watanabe, o chefe de lá. A partir de amanhã, vocês deverão fazer isto diariamente. O senhor o conhece?

— Ahn, sim, ahn, uma vez eles tiveram uma emergência e nós os ajudamos. — Rudi tentou controlar-se. — Ahn, eles... eles vão trabalhar no dia santo, coronel?

— Sim. E vocês também. Numir disse:

— Mas o aiatolá dis...

— Ele não é a lei. Cale-se. — Zataki olhou para Rudi. — Esteja lá às oito horas.

Rudi balançou a cabeça.

— Ahn, sim. Posso, ahn, oferecer-lhe um café, coronel?

— Obrigado. — Zataki encostou a metralhadora num canto e se sentou na mesa, com os olhos em Pop Kelly. — Eu não o vi em Kowiss?

— Sim, é verdade — ele respondeu. — Aquela é a minha base. Eu, ahn, vim trazer um 212. Eu sou Ignatius Kelly. — E desabou numa cadeira em frente a ele, tão abalado quanto Rudi, encolhendo-se sob o seu olhar. — Está uma noite para peixes, hein?

— O quê?

— A, ahn, a chuva.

— Ah, sim — disse Zataki. Estava satisfeito por estar falando inglês, melhorando o seu inglês, convencido de que os iranianos que soubessem falar a língua internacional e fossem educados seriam muito procurados, mulás ou não. Desde que começara a tomar as pílulas que o dr. Nutt lhe dera, ele se sentia muito melhor, as dores de cabeça tinham melhorado. — A chuva vai impedir os vôos de amanhã?

— Não...

— Isso depende — Rudi disse rapidamente da cozinha — do tempo melhorar ou piorar. — Ele trouxe a bandeja com duas xícaras de açúcar e leite condensado, ainda tentando enfrentar este novo desastre. — Por favor, sirva-se, coronel. Com relação à Irã-Toda — ele disse cautelosamente — todos os nossos helicópteros estão sob contrato com a IranOil e o aga Numir aqui é o encarregado. — Numir concordou com a cabeça, começou a dizer alguma coisa, mas mudou de idéia. — Nós temos contratos com a IranOil