O silêncio ficou mais pesado. Todos eles olhavam para Zataki. Sem pressa, ele colocou três Colheres cheias de açúcar no seu café, mexeu e tomou um gole.
— Está muito bom, capitão. Sim, muito bom, e sim, eu sei sobre a IranOil, mas resolvi que neste momento a Irã-Toda tem preferência sobre a IranOil e amanhã você vai fornecer dois 212 às oito horas para a Irã-Toda.
Rudi olhou para o gerente da base, que evitou o seu olhar.
— Mas... bem, desde que a IranOil não faça objeções...
— Não há objeções — Zataki disse para Numir. — Não é, aga?
— Sim, sim, aga — Numir concordou humildemente. — É claro que eu vou informar aos meus superiores da sua... da sua eminente decisão.
— Ótimo. Então está tudo combinado. Ótimo.
Não está nada combinado, Rudi teve vontade de gritar.
— Posso perguntar, ahn, como vamos ser pagos pelo, ahn, novo contrato? — perguntou, sentindo-se um imbecil.
Zataki pendurou a arma no ombro e levantou-se.
— A Irã-Toda tomará as providências. Obrigado, capitão, eu voltarei depois da primeira oração amanhã. O senhor pilotará um dos helicópteros e eu o acompanharei.
— Ótima idéia, coronel — Pop Kelly exclamou repentinamente, sorrindo e Rudi teve ganas de matá-lo. — Não há necessidade de vir antes das oito horas, isto seria melhor para nós. Há tempo bastante para se chegar lá digamos às oito e quinze. É uma grande idéia trabalhar para a Irã-Toda. Nós sempre desejamos este contrato, como podemos agradecer-lhe, coronel! Fantástico! De fato, Rudi, nós deveríamos levar todos os quatro aparelhos, fazer os rapazes tomarem conhecimento do trabalho imediatamente, isto pouparia tempo, imediatamente, sim senhor, eu vou prepará-los para você! — E saiu apressado.
Rudi ficou olhando para a porta, quase vesgo de fúria.
PERTO DO AEROPORTO DE AL SHARGAZ: 20:01H. A noite estava linda e perfumada com o cheiro das flores e Gavallan e Pettikin estavam sentados no terraço do Hotel Oásis, ao lado do campo de aviação, na beira do deserto. Eles tomavam uma cerveja antes do jantar, Gavallan estava fumando um cigarro fino e olhando para o horizonte onde o céu, roxo e cheio de estrelas, se encontrava com a terra mais escura. A fumaça do cigarro subia em espiral. Pettikin se mexeu na sua cadeira.
— Eu gostaria que houvesse mais alguma coisa que eu pudesse fazer.
— Eu queria que o velho Mac estivesse aqui, eu iria quebrar o seu maldito pescoço — Gavallan disse e Pettikin riu. Alguns hóspedes já estavam na sala de jantar que ficava atrás deles. O Oásis era velho e decadente, estilo barroco, e tinha sido a residência britânica quando os britânicos eram a única potência do golfo e, até 1971, evitavam a pirataria e mantinham a paz. Uma música tão antiga quanto o conjunto de três componentes se fazia ouvir — piano, violino e baixo, duas senhoras idosas e um senhor de cabeça branca no piano.
— Meu Deus, isto não é Chu Chin Chowly. Você me pegou, Andy. — Pettikin olhou para trás, viu Jean-Luc na sala de jantar, conversando com Nogger Lane, Rodrigues e alguns dos outros mecânicos. Ele tomou um gole da sua cerveja e viu que o copo de Gavallan estava vazio. — Quer mais uma?
— Não, obrigado. — Gavallan deixou os olhos vagarem com a fumaça.
— Acho que vou até o escritório da meteorologia e depois dar uma passada no nosso.
— Eu vou com você.
— Obrigado, Charlie, mas por que você não fica aqui para o caso de alguém telefonar?
— Claro, como você quiser.
— Não me espere para jantar, eu me encontro com você para o cafezinho. Vou dar uma passada no hospital para ver o Duke quando estiver voltando.
— Gavallan levantou-se, atravessou a sala de jantar cumprimentando o pessoal da sua equipe que estava lá, e entrou no saguão, que também já tinha conhecido dias melhores.
— Sr. Gavallan, desculpe-me effendi, mas há uma chamada para o senhor. — O recepcionista apontou para a cabine telefônica que ficava ali ao lado. Era forrada de feltro e não tinha nem ar condicionado nem privacidade.
— Alô, Gavallan falando — ele disse.
— Alô, patrão, Liz Chen... é só para dizer que recebemos uma chamada a respeito das duas encomenda de Luxemburgo e elas vão chegar atrasadas.
— "Encomendas de Luxemburgo" era o código para os dois 747 de carga que ele tinha fretado. — Não podem chegar na sexta-feira. Eles só podem garantir que cheguem no domingo às 16 horas.
Gavallan ficou abalado. Ele fora avisado pelos fretadores de que estavam com uma agenda muito apertada entre um frete e outro e que poderia haver um atraso de 24 horas. Ele tivera muita dificuldade para conseguir os aviões. Obviamente, ele não pôde se dirigir a nenhuma das companhias aéreas que serviam o golfo ou o Irã e teve que ser vago a respeito do motivo do frete e da sua carga.
— Ligue para eles imediatamente e tente antecipar esta data. Seria mais seguro se elas chegassem no sábado, muito mais seguro. O que mais?
— A Imperial Air se ofereceu para assumir a nossa posição com os novos X63.
— Mande-os para o inferno. O que mais?
— A ExTex reformulou a sua oferta com relação aos novos contratos na Arábia Saudita, Singapura e Nigéria, baixando o preço em dez por cento.
— Aceite a oferta por telex. Marque um almoço com o chefão em Nova York na terça-feira. O que mais?
— Estou com a lista de números de peças que você queria.
— Ótimo. Espere um instante. — Gavallan apanhou o bloco que carregava sempre com ele e encontrou a página que queria. Ela continha a lista dos registros iranianos dos dez 212 que ainda estavam no Irã, todos começando com 'EP' para Irã, depois 'H' para helicóptero e mais duas letras. — Pronto. Pode dizer.
— AB, RV, Kl
Enquanto ela lia as letras, ele as escrevia ao lado da coluna anterior. Por segurança, ele não colocou o registro novo por inteiro, omitindo 'G' para Grã-Bretanha e 'H' para helicóptero, anotando apenas as duas letras novas finais. Ele releu a lista e ela combinava com os dados que ele tinha.
— Obrigado, está tudo certo. Eu ligo para você hoje à noite, Liz. Ligue para Maureen e diga-lhe que está tudo bem.
— Está bem, patrão. Sir Ian telefonou há meia hora atrás para desejar-lhe boa sorte.
— Oh, que bom! — Gavallan tinha tentado falar com ele durante todo o tempo em que esteve em Aberdeen e Londres, mas não tinha conseguido. — Onde ele está? Ele deixou o telefone?
— Sim. Ele está em Tóquio: 73 73 84. Ele disse que ficará lá por algum tempo e que se você não conseguisse falar com ele, tornaria a ligar-amanhã. Ele também disse que estará de volta dentro de duas semanas e que gostaria de vê-lo.
— Melhor ainda. Ele mencionou o assunto?
— Óleo para as lamparinas da China — disse sua secretária, em código. O interesse de Gavallan aumentou.
— Maravilhoso. Marque uma data o mais cedo que ele puder. Ligo para você mais tarde, Liz, tenho que correr.
— Está bem. Só quero lembrar-lhe que amanhã é aniversário do Scot.
— Deus do céu, eu tinha esquecido. Obrigado, Liz. Falo com você mais tarde. — Ele desligou, satisfeito com as notícias de Ian Dunross, abençoando o sistema telefônico de Al Shargaz e a discagem direta à distância. Ele discou. Em Tóquio eram cinco horas a mais, cerca de uma hora da manhã.
— Hafl — disse uma voz de mulher, sonolentamente.
— Boa noite. Desculpe ligar tão tarde, mas recebi um recado para ligar para Sir Ian Dunross. Aqui é Andrew Gavallan.