No espaçoso salão da Alfândega Imigração, passageiros faziam fila para passar pela Imigração, outros esperavam por suas bagagens. O quadro de chegadas anunciava que o vôo da Gulf Air n? 52 de Muscat, capital do Omã, tinha chegado na hora e que deveria partir dentro de 15 minutos para Abu Dhabi, Bahrain e Kuwait. A banca de jornal ainda estava aberta, e ele foi até lá para ver que jornais havia. Estava estendendo a mão para apanhar o Times de Londres quando viu o cabeçalho PRIMEIRO-MINISTRO CALLAGHAN ANUNCIA OS SUCESSOS DO PARTIDO TRABALHISTA e mudou de idéia. Para que eu quero saber disto?, pensou. Então ele viu Genny McIver.
Ela estava sentada sozinha, perto do portão de embarque, com uma pequena mala ao lado.
— Olá, Genny, o que você está fazendo aqui? Ela sorriu docemente.
— Eu vou para o Kuwait. Ele também sorriu docemente.
— E para quê?
— Porque eu preciso de umas férias.
— Não seja ridícula. O botão ainda nem foi apertado e de qualquer maneira não há nada que você possa fazer lá, nada. Você só atrapalharia. É muito melhor ficar esperando aqui. Genny, pelo amor de Deus, seja razoável.
O sorriso continuou o mesmo.
— Você já terminou?
— Sim.
— Eu sou razoável, sou a pessoa mais razoável do mundo. Mas Duncan McIver não é. Ele é o cara mais torto e desorientado que eu já conheci e é para o Kuwait que eu vou. — Tudo isso foi dito com uma calma fantástica.
Espertamente, ele mudou de tática.
— Por que você não me contou que estava indo ao invés de sair de fininho? Eu ficaria morto de preocupação se você sumisse.
— Se eu tivesse falado com você, você teria tentado me fazer desistir. Eu pedi a Manuela para lhe contar depois, dizer-lhe a hora do vôo, o nome do hotel, e o telefone. Mas estou contente que esteja aqui, Andy. Você pode se despedir de mim. Eu gostaria de ter alguém que viesse se despedir de mim, detesto não ter ninguém para me trazer, bem você sabe o que eu quero dizer.
Foi então que ele viu o quanto ela parecia frágil.
— Você está bem, Genny?
— Oh, sim... É só que... bem, é só que eu preciso estar lá, não posso ficar aqui sentada, e de qualquer maneira uma parte disto foi idéia minha, eu também me sinto responsável e não quero que nada... nada dê errado.
— Nada vai dar errado — disse e os dois bateram na madeira do banco. Então ele passou o braço pelo ombro dela. — Vai dar tudo certo. Ouça, uma boa notícia. — E contou a ela sobre Erikki.
— Oh, isto é maravilhoso. Hakim Khan? — Genny vasculhou a memória. — Este não é o irmão de Azadeh, aquele que estava vivendo em... droga, esqueci o nome, algum lugar perto da Turquia, o nome dele não era Hakim?
— Talvez o telex estivesse certo e ele seja Hakim 'Khan'. Isto seria ótimo para eles.
— Sim. O pai dela parecia ser um homem horrível. — Ela o olhou ansioso. — Você já decidiu? Vai ser amanhã?
— Não, ainda não.
— E quanto ao tempo? Ele lhe contou.
— Isto não ajuda muito — ela disse.
— Gostaria que Mac estivesse aqui. Ele saberia o que fazer numa situação como esta.
— Não mais do que você, Andy. — Eles olharam para o quadro de embarque enquanto o locutor chamava os passageiros do vôo 52. Eles se levantaram. — Se isso adianta de alguma coisa, Andy, se tudo continuar como está, Mac decidiria por amanhã.
— Como é que você sabe?
— Eu conheço Duncan. Até logo, querido Andy. — Ela o beijou apressadamente e não olhou para trás.
Esperou até que ela tivesse desaparecido. Ele saiu, muito pensativo, e não notou Wesson perto da banca de jornais, guardando a sua caneta.
LIVRO QUATRO
AL SHARGAZ — HOTEL OÁSIS: 5:37H. Gavallan estava parado diante da janela, já vestido, e lá fora ainda era noite, exceto a leste, e estava quase amanhecendo. Havia traços de neblina vindos da costa, a meio quilômetro de distância, que desapareciam rapidamente na direção do deserto. O céu estava sem nuvens a leste, mas aos poucos foi se cobrindo de nuvens. De onde ele estava, podia ver quase todo o campo de aviação. As luzes da pista estavam acesas, um pequeno jato se preparava para decolar e o vento trazia um cheiro de querosene. Houve uma batida na porta.
— Entre! Ah, bom dia, Jean-Luc, bom dia, Charlie.
— Bom dia, Andy. Se quisermos pegar o nosso vôo está na hora de sairmos — disse Pettikin, com o nervosismo fazendo-o falar atropeladamente. Ele estava escalado para ir para o Kuwait e Jean-Luc para Bahrain.
— Onde está Rodrigues?
— Está esperando lá embaixo.
— Ótimo, então é melhor vocês irem logo. — Gavallan ficou satisfeito por sua voz soar calma. Pettikin ficou radiante, Jean-Luc resmungou merde. — Se você concordar, Charlie, eu proponho apertar o botão às sete horas conforme o planejado, desde que nenhuma das bases dê o contra antes. Se o fizerem, tentaremos outra vez amanhã. De acordo?
— De acordo. Não houve nenhuma chamada ainda?
— Ainda não.
Pettikin mal podia conter a sua excitação.
— Bem, lá vamos nós. Vamos, Jean-Luc! Jean-Luc levantou as sobrancelhas.
— Mon Dieu, é a vez dos escoteiros! — Então encaminhou-se para a porta. — As notícias sobre Erikki foram ótimas, Andy, mas como é que ele vai dar o fora?
— Eu não sei. Vou procurar Newbury no consulado para tentar mandar uma mensagem para ele, para sair via Turquia. Vocês dois me telefonem assim que aterrissarem. Eu estarei no escritório a partir das seis. Vejo-os mais tarde.
E fechou a porta atrás deles. Agora estava feito. A menos que uma das bases desistisse.
EM LENGEH: 5:49H. Mal se percebia a claridade do amanhecer através das nuvens. Scragger estava usando uma capa de chuva e atravessou as poças d'água em direção à cozinha que era o único lugar da base que estava com a luz acesa. O vento sacudia o seu boné de piloto, fazendo a chuva bater no seu rosto.
Para sua surpresa, Willi já estava na cozinha, sentado perto do fogão a lenha, tomando café.
— Bom dia, Scragger, café? Acabei de fazer. — Ele fez um sinal com a cabeça em direção a um dos cantos. Enroscado no chão, profundamente adormecido perto do calor do fogo, estava um dos Faixas Verdes do campo. Scragger fez que sim com a cabeça e tirou a capa.
— Chá para mim, filho. Você acordou cedo. Onde está o cozinheiro? Willi deu de ombros e colocou a chaleira de volta no fogo.
— Atrasado. Eu quis tomar café cedo. Vou mexer uns ovos. Quer que eu faça para você também?
Scragger ficou faminto de repente.
— Ótimo! Quatro ovos para mim e duas torradas e no almoço eu vou comer pouco. Nós temos pão, cara? — Ele viu Willi abrir a geladeira. Três pães de fôrma, bastante manteiga e ovos. — Oba! Não sei comer ovos sem torradas com manteiga. O gosto não fica bom. — Ele olhou para o relógio.
— O vento virou quase na direção do sul e está a trinta nós
— O meu nariz diz que vai diminuir.
— O meu rabo diz que vai diminuir mas que ainda vai ser foda.
— Tenha confiança, cara. — riu Scragger.
— Vou ficar muito mais confiante com o meu passaporte.
— Eu também, mas o plano ainda está de pé. — Na noite passada, quando ele voltou da casa do sargento, Vossi e Willi estavam esperando por ele. Bem longe de ouvidos indiscretos, ele lhes contou o que tinha acontecido.
Willi dissera imediatamente:
— É melhor avisarmos Andy de que talvez tenhamos que desistir. — E Vossi tinha concordado.
— Não — dissera Scragger. — Eu estou imaginando o seguinte, cara: se Andy não der sinal verde para o Turbilhão de manhã, eu terei o dia inteiro para pegar os passaportes. Se ele der a ordem, será às sete horas em ponto. Isto me dá bastante tempo para chegar na delegacia às sete e meia e estar de volta às oito. Enquanto eu estiver fora, vocês vão providenciando tudo.