— Jesus, Scrag, nós já...
— Ed, quer me ouvir? Nós partimos de qualquer jeito mas evitamos Al Shargaz, onde temos certeza de que teríamos problemas e nos refugiamos em Bahrain. Eu conheço o oficial do porto de lá. Nós invocamos a sua proteção, talvez tenhamos alguma 'emergência' na praia. Enquanto isso, falamos por rádio com Al Shargaz assim que sairmos do espaço aéreo do Irã para que alguém vá nos encontrar para pagar as nossas fianças. Isso foi o melhor que eu pude pensar e pelo menos ficaremos cobertos de qualquer jeito.
E ainda é o melhor que eu consigo pensar, ele disse a si mesmo, observando Willi no fogão, a manteiga começando a chiar na frigideira.
— Eu pensei que os ovos iam ser mexidos.
— É assim que se faz ovos mexidos. — A voz de Willi soou impaciente.
— Não é mesmo — Scragger disse secamente. — Você tem que usar água ou leite e...
— Pelo amor de Deus — Willi respondeu — se você não quer... Scheissl Desculpe, Scrag, eu não queria ser agressivo.
— Eu também estou nervoso, cara. Não tem problema
— É assim que minha mãe costuma fazer. Você coloca os ovos na frigideira sem batê-los, deixa a parte branca cozinhar e então, rápido como um raio, você coloca um pouco de leite e mexe, assim a clara fica branca e a gema amarela... — Willi não conseguia parar de falar. Ele tinha passado uma noite ruim... com pesadelos e maus pressentimentos e agora não estava se sentindo melhor
Lá no canto o Faixa Verde se mexeu, sentindo o cheiro de manteiga derretida e se espreguiçou, cumprimentou-os sonolentamente, depois se ajeitou mais confortavelmente e voltou a dormir. Quando a água da chaleira ferveu, Scragger preparou um pouco de chá, e olhou para o relógio: 5:56h. Atrás dele, a porta se abriu e Vossi entrou e sacudiu a água do guarda-chuva.
— Oi, Scrag! Ei, Willi, café, duas torradas com ovos e bacon para mim
— Vá à merda!
Todos riram, tontos de ansiedade. Scragger tornou a olhar para o relógio. Pare com isso! Ordenou a si mesmo. Você tem que manter a calma, assim eles também ficarão calmos. É fácil ver que os dois estão prestes a explodir
EM KOWISS: 6:24H. McIver e Lochart estavam na torre olhando para a chuva e para o céu carregado. Ambos estavam vestidos com os uniformes de vôo, McIver sentado em frente ao HF, Lochart em pé perto da janela. Não havia nenhuma luz acesa — só os verdes e vermelhos do equipamento. Nenhum ruído, exceto o zumbido agradável e o barulho não tão agradável do vento que entrava pelas janelas quebradas, fazendo as antenas sacudirem.
Lochart olhou para o marcador de vento. Vinte e cinco nós, com rajadas de trinta de sul-sudeste. Lá no hangar, dois mecânicos estavam lavando os já limpos 212 e o 206 que McIver tinha trazido de Teerã. Havia luzes na cozinha. Exceto por uma pequena equipe de cozinha, McIver tinha dito ao pessoal do escritório e aos operários para tirarem o dia de folga. Depois do choque da execução sumária de Esvandiary por 'corrupção', eles não tinham precisado de nenhum encorajamento para sair.
Lochart olhou para o relógio. O ponteiro grande parecia vagoroso demais. Um caminhão passou lá embaixo. Mais um. Agora eram exatamente seis e meia.
— Sierra Um, aqui é Lengeh. — Era Scragger chamando, conforme tinha sido planejado. McIver ficou muito aliviado. Lochart ficou mais sério ainda.
— Lengeh, aqui é Sierra Um, você está cinco por cinco. — A voz de Scot lá em Al Shargaz estava clara. Sierra Um era o código para o escritório no aeroporto de Al Shargaz, Gavallan não queria chamar mais atenção para o pequeno domínio do que o estritamente necessário.
McIver ligou o transmissor.
— Sierra Um, aqui é Kowiss.
— Kowiss, aqui é Sierra Um, você está quatro por cinco.
— Sierra Um, aqui é Bandar Delam. Ambos perceberam o tremor na voz de Rudi.
— Bandar Delam, aqui é Sierra Um. Você está dois por cinco. Agora só se ouvia estática no alto-falante. McIver enxugou o suor das mãos.
Até agora tudo bem O café estava frio e com um gosto horrível, mas ele terminou de bebê-lo.
— Rudi pareceu nervoso, não? — disse Lochart.
— Tenho certeza que eu também. E Scrag. — McIver observou-o, preocupado com ele; Lochart não o encarou, apenas foi até a chaleira elétrica e ligou-a na tomada. Na escrivaninha havia quatro fones, duas linhas internas e duas externas. Ambas ainda mudas. Já há dois dias. Mortas como eu. Não há nenhum modo de entrar em contato com Xarazade, nem pelo correio.
— Há um cônsul canadense em Al Shargaz — disse McIver — Eles poderiam falar com Teerã de lá para você.
— Claro. — Uma rajada de vento sacudiu a tábua que estava cobrindo a janela quebrada. Lochart não prestou nenhuma atenção, pensando em Xarazade, rezando para ela ir se encontrar com ele. Encontrar-se comigo para quê? A chaleira começou a apitar. Ele ficou olhando. Desde que saíra do apartamento, ele tinha bloqueado o futuro na sua cabeça. Mas de noite tudo voltava à sua mente, por mais que ele tentasse evitar-
Da base veio o primeiro chamado do muezin.
Venham rezar, venham melhorar, rezar é melhor do que dormir
EM BANDAR DELAM: 6:38H. Um amanhecer encharcado, a chuva era ligeira, o vento mais fraco do que na véspera. No campo de aviação, Rudi Lutz, Sandor Petrofi e Pop Kelly estavam no trailer de Rudi, com as luzes apagadas, tomando café. Lá fora na varanda, Marc Dubois estava de guarda. Não havia nenhuma luz acesa na base. Rudi consultou o relógio.
— Confio em Deus que seja hoje. — disse Rudi.
— É hoje ou nunca — Kelly estava muito sério. — Faça a ligação, Rudi.
— Ainda falta um minuto.
Pela janela, Rudi podia ver a entrada do hangar e os 212. Nenhum deles tinha tanques de longo alcance. Em algum lugar na escuridão, Fowler Joines e três mecânicos estavam colocando silenciosamente o resto do combustível de reserva a bordo, terminando os preparativos iniciados cautelosamente na noite anterior enquanto os pilotos distraíam os guardas e Numir. Pouco antes de irem para a cama, os quatro tinham feito os seus cálculos separadamente. Nenhum tinha uma diferença acima de dez milhas náuticas com relação aos outros.
— Se o vento se mantiver como está, estaremos todos no mar — Sandor dissera baixinho, era difícil falar com o barulho da música e perigoso falar sem ela. Mais cedo, Fowler Joines tinha visto Numir se escondendo perto do trailer de Duke.
— Sim —. concordara Marc Dubois. — Cerca de dez quilômetros para dentro do mar
— Talvez a gente deva desistir de Bahrain e se dirigir para o Kuwait, Rudi.
— Não, Sandor, nós temos que deixar o Kuwait livre para Kowiss. Já pensou, seis helicópteros com registro iraniano indo todos para lá? Eles iam ter um ataque.
— Onde estão os novos registros que nos prometeram? — perguntou Kelly, com seu nervosismo aumentando a cada momento.
— Nós vamos ser esperados. Charlie Pettikin vai para o Kuwait e Jean-Luc para Bahrain.
— Mon Dieu, que azar o nosso — Dubois tinha dito, aborrecido. — Jean-Luc está sempre atrasado, sempre. Aqueles Pieds Noirs, eles pensam como árabes.
— Se Jean-Luc estragar as coisas desta vez, ele vai virar picadinho. Olhem, a respeito da gasolina, talvez a gente consiga mais um pouco com a Irã-Toda. Vai ficar um bocado suspeito carregar toda esta gasolina só para ir até lá.
— Rudi, faça a ligação, está na hora.
— Certo, certo! — Rudi respirou fundo e apanhou o microfone. — Sierra Um, aqui é Bandar Delam, está me ouvindo? Aqui é...
NO QG DE AL SHARGAZ: 6:40H. — ... Bandar Delam, está me ouvindo? Gavallan estava sentado diante do HF, com Scot ao seu lado, Nogger Lane encostado numa mesa atrás deles e Manuela sentada na única cadeira. Todos estavam rígidos, com os olhos pregados no alto-falante, todos certos de que a chamada significava problemas, uma vez que a operação Turbilhão exigia silêncio no rádio antes das sete horas e durante a fuga em si, exceto em emergências.