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— Como é que eu vou saber? Provavelmente apenas um maníaco atirador. Fique firme, vou dar uma olhada rápida. Se o trem de pouso estiver direito, vamos pousar e você e Rod podem fazer uma inspeção.

— Como está a maldita pressão do óleo? — gritou Jordon.

— No verde. — Lochart voltou à posição, automaticamente verificando os mostradores, a clareira, o céu, à esquerda, à direita, acima e abaixo. Eles estavam descendo muito bem, faltando mais sessenta metros. Através do fone, ouviu Gavallan cantarolando baixinho.

— Você se saiu muito bem, Scot.

— Bem, uma ova — disse o rapaz, tentando parecer casual. — Eu ia me espatifar. Fiquei completamente paralisado quando as balas nos atingiram, e se não tivesse sido por você, eu teria me arrebentado.

— A culpa foi quase toda minha. Eu empurrei a alavanca de comando sem avisar. Peço desculpas por isto, mas tinha que tirar o helicóptero depressa daquela maldita linha de fogo. Aprendi isso na Malásia. — Lochart passara um ano lá com as Forças Britânicas, na guerra contra os rebeldes comunistas. — Não havia tempo para avisar. Pouse o mais depressa que puder. — Ele observou, com aprovação, Gavallan fazer o helicóptero flutuar, examinando o terreno cuidadosamente.

— Você viu quem atirou em nós, Tom?

— Não, mas eu não estava procurando inimigos. Onde vai pousar?

— Ali, bem longe daquela árvore caída. Está bom?

— Parece-me ótimo. O mais rápido que puder. Segure-o a mais ou menos meio metro de altura.

A sustentação foi perfeita. Poucos centímetros acima do solo firme como as rochas que estavam por baixo, embora o vento estivesse forte. Lochart abriu a porta. O frio repentino gelou-o. Fechando sua jaqueta acolchoada, esgueirou-se cuidadosamente para fora, mantendo a cabeça bem abaixada por causa das pás giratórias.

A parte da frente dos esquis estava arranhada, bastante amassada e um pouco torta, mas os rebites que o prendiam ao trem de pouso estavam firmes. Rapidamente, checou o outro lado, tornou a checar o esqui avariado, depois levantou os polegares. Gavallan desacelerou um pouquinho e pousou, macio como uma pluma.

Na mesma hora, os três homens que estavam atrás pularam para fora. Jean-Luc Sessonne, o piloto francês, saiu da frente para deixar os dois mecânicos iniciarem sua inspeção, um a bombordo, o outro a estibordo, indo do nariz até a cauda. O vento dos rotores tentava arrancar-lhe as roupas, fustigando-os. Lochart estava debaixo do helicóptero procurando algum vazamento de óleo ou gasolina, mas não achou nenhum, então levantou-se e seguiu Rodrigues. O homem era americano e muito bom — era seu mecânico e, já há um ano, vinha trabalhando no 212 que Lochart geralmente pilotava. Rodrigues abriu um painel de inspeção e examinou o interior, seu cabelo salpicado de branco e as roupas repuxadas pela corrente de ar.

Os padrões de segurança da S-G eram os mais altos de todos os operadores de helicópteros iranianos, de forma que o emaranhado de cabos, tubos e condutos de combustível estava limpo, em ordem e em excelentes condições. Mas, de repente, Rodrigues apontou. Havia uma marca profunda no cárter onde uma bala ricocheteara. Cuidadosamente, seguiram o rastro da bala. Mais uma vez ele apontou para o emaranhado, desta vez com uma lanterna. Um dos condutos de óleo estava rachado. Quando tirou a mão, ela estava suja de óleo.

— Merda! — disse.

— Desligamos os motores, Rod? — gritou Lochart.

— Não, que diabo, pode haver mais desses maníacos atiradores por aí, e este não é um lugar para se passar a noite. — Rodrigues apanhou um pedaço de estopa e uma chave inglesa. — Você checa a popa, Tom.

Lochart deixou-o trabalhando, deu uma olhada em volta, inquieto, procurando um possível abrigo para o caso de terem que passar a noite ali. Do outro lado da clareira, Jean-Luc urinava despreocupadamente, encostado numa árvore caída, com um cigarro na boca.

— Não vá apanhar uma frieira, Jean-Luc! — gritou, e viu-o acenar complacentemente com o jato de urina.

— Ei, Tom.

Era Jordon chamando. Imediatamente ele se abaixou e entrou sob a cauda do helicóptero para se juntar ao mecânico. Seu coração deu um salto. Jordon também abrira um painel de inspeção. Havia dois buracos de bala na fuselagem, logo acima dos tanques. Jesus, mais um segundo e os tanques teriam explodido, pensou. Se eu não tivesse empurrado a alavanca de comando, teríamos ido pelos ares. Completamente. Se não fosse por isso estaríamos despedaçados na encosta da montanha. E a troco de quê?

Jordon cutucou-o e tornou a apontar, seguindo o caminho das balas. Havia uma outra marca na coluna do rotor.

— Como aquele maldito demônio errou as malditas pás da hélice é que eu não sei — gritou, com o gorro de lã vermelha que sempre usava puxado sobre as orelhas.

— Não tinha chegado a nossa hora.

— O quê?

— Nada. Encontrou mais alguma coisa?

— Ainda não. Você está bem, Tom?

— Claro.

Houve um estrondo repentino e todos se viraram assustados, mas era apenas um enorme galho de árvore, cheio de neve, caindo no chão.

— Espéce de con! — disse Jean-Luc e olhou para o céu, bem consciente de que estava escurecendo, depois deu de ombros, acendeu outro cigarro e saiu andando, batendo os pés para espantar o frio.

Jordon não encontrou mais nada de errado do lado dele. Os minutos iam passando. Rodrigues ainda estava resmungando e praguejando, com um dos braços enfiado, desajeitadamente, nas entranhas do aparelho. Atrás dele, os outros estavam agrupados, olhando, bem longe dos rotores. Era barulhento e desconfortável, a luz ainda era boa, mas não por muito tempo. Ainda teriam que viajar trinta quilômetros e não havia nenhum sistema de orientação naquelas montanhas além do pequeno radiofarol que tinham na base e que às vezes funcionava, às vezes não.

— Depressa, pelo amor de Deus — alguém resmungou. Claro, pensou Lochart, escondendo a inquietação.

Em Shiraz, a tripulação de dois mecânicos e dois pilotos que eles estavam substituindo despedira-se apressadamente e correra para o 125 da companhia — um avião a jato de dois motores e oito lugares, usado para transporte ou para algum carregamento especial — o mesmo jato que os trouxera do Aeroporto Internacional de Dubai, através do golfo, depois de um mês de licença; Lochart e Jordon na Inglaterra, Jean-Luc na França e Rodrigues numa caçada no Quênia.

— Por que a maldita pressa? — perguntara Lochart quando o pequeno jato fechou as portas e começou a taxiar.

— O aeroporto só está operando parcialmente, todo mundo ainda está em greve, mas nada para se preocupar — dissera Scot. — Eles têm de levantar vôo antes que aquele cretino intrometido da torre, que pensa que é uma dádiva de Deus para o controle de tráfego aéreo iraniano, cancele a licença deles.

É melhor darmos o fora também, antes que ele comece a nos encher. Ponha suas coisas a bordo.

— E a alfândega?

— Eles ainda estão em greve, cara. Eles e todo mundo — os bancos ainda estão fechados. Não faz mal, vai tudo voltar ao normal numa semana.

— Merde — exclamou Jean-Luc. — Os jornais franceses dizem que o Irã é une catastrophe com Khomeini e seus mulás de um lado, as Forças Armadas prontas para darem um golpe a qualquer momento, os comunistas enrolando todo mundo, o governo de Bakhtiar impotente e a guerra civil inevitável.

— O que é que eles sabem na França, cara? — dissera Scot, despreocupadamente, enquanto carregavam a bagagem.

— Os franceses sabem, mon vieux. Todos os jornais dizem que Khomeini nunca cooperará com Bakhtiar porque ele foi indicado pelo xá e qualquer pessoa ligada ao xá está acabada. Acabada. Aquele velho comedor de fogo já disse cinqüenta vezes que não vai trabalhar com ninguém indicado pelo xá.