— Onde você vai? — Numir gritou para Rudi pela janela.
— Irã-Toda, está no relatório. — Rudi continuou com os procedimentos de decolagem. VHF ligado, HF ligado, agulhas dos mostradores entrando no verde.
— Mas você não pediu a Abadan licença para...
— Hoje é dia santo, aga, o senhor pode fazer isto para nós. Numir gritou zangado.
— Isto é tarefa sua! Você tem que esperar por Zataki. Tem que esperar pelo...
— Certo, eu quis ter certeza de que o helicóptero estaria pronto para quando ele chegasse, é muito importante agradá-lo, não é?
— Sim, mas por que Dubois estava carregando uma mala?
— Oh, o senhor conhece os franceses — disse, sendo a primeira coisa que lhe veio à cabeça —, para eles as roupas são importantes; ele acha que vai ficar baseado na Irã-Toda e está levando um uniforme de reserva. — Ele ligou o interruptor de transmissão. Não fique impaciente, disse a si mesmo, não fique impaciente, todos eles sabem o que fazer.
Então, atrás de Numir, através da neblina, com uma visibilidade de poucas centenas de metros, Rudi viu o caminhão dos Faixas Verdes passar pelo portão e parar, seu barulho abafado pelos jatos. Mas não era Zataki, eram alguns dos guardas normais e eles ficaram lá em grupo, observando curiosamente os 212. Nunca quatro 212 tinham sido ligados ao mesmo tempo.
Pelos fones, ele ouviu Dubois dizer:
— Estou pronto, mon vieux — depois Pop Kelly e depois Sandor, e ele disse no microfone:
— Agora! — inclinou-se para a janela e fez um sinal para Numir. — Não há necessidade dos outros esperarem, eu estou esperando.
— Mas vocês receberam ordens para ir em grupo e as suas licenças... — A voz do gerente da base foi abafada pelos motores acelerados ao máximo, num procedimento de decolagem de emergência, de acordo com o plano que tinha sido feito em segredo durante a noite, Dubois indo para a direita, Sandor para a esquerda, Kelly para cima em linha reta. Em segundos eles estavam no ar, voando muito baixo. O rosto de Numir ficou roxo. — Mas vocês receberam ordens de.
— Isto é para a sua segurança, aga, nós estamos tentando protegê-lo. — Rudi falou por sobre o ruído dos motores, fazendo sinal para ele se aproximar de novo, com todas as suas agulhas no verde. — Assim é melhor, aga, assim nós faremos o trabalho sem problemas. Nós temos que proteger o senhor e a IranOil. — Pelo fone ele ouviu Dubois quebrar o silêncio e dizer com urgência:
— Há um carro se aproximando dos portões.
Neste instante, Rudi o viu e reconheceu Zataki no banco da frente. Acelerou ao máximo.
— Aga, vou só elevá-lo um pouco, o meu contador de rotação está pulando...
O que quer que Numir tenha gritado ficou perdido no meio do barulho. Zataki estava a menos de cem metros. Rudi sentiu as hélices cortando o ar e então subiu. Por um momento, pareceu que Numir ia pular numa das pás, mas ele se abaixou e se afastou, com o esqui roçando nele e caiu enquanto Rudi dava um impulso para a frente e se afastava, quase explodindo de excitação. Lá na frente, os outros estavam sobrevoando o campo. Ele sacudiu o helicóptero e quando os outros se juntaram a ele, levantou os polegares e foi na frente em direção ao golfo, a seis quilômetros de distância.
Numir estava engasgado de raiva ao se levantar e o carro de Zataki parou ao lado dele cantando pneus.
— Por Deus, o que está havendo? — perguntou Zataki, furioso, saltando do carro, depois dos helicópteros já terem desaparecido no meio da neblina, com o som dos motores se afastando rapidamente. — Estava combinado que eles iam esperar por mim.
— Eu sei, eu sei, coronel, eu disse a eles, mas... eles simplesmente decolaram e.... — Numir gritou quando o soco o atingiu de um dos lados do rosto, derrubando-o. Os outros Faixas Verdes observaram indiferentemente, acostumados a estas explosões. Um dos homens ajudou Numir a levantar-se e deu-lhe um tapa no rosto para ele voltar a si.
Zataki estava xingando o céu e quando o ataque de raiva passou, ele disse:
— Tragam este pedaço de merda de camelo e sigam-me. — Entrando no hangar, ele viu os dois 206 estacionados no fundo, algumas peças arrumadas por ali e um ventilador secando algumas peças recém-pintadas. Tudo aquilo uma camuflagem cuidadosamente preparada por Rudi para ganhar mais alguns minutos. — Eu vou fazer aqueles cães desejarem ter esperado — murmurou com a cabeça doendo.
Ele abriu a porta do escritório com um pontapé e foi se sentar ao lado do transmissor de rádio.
— Numir, faça contato com aqueles homens!
— Mas, o nosso operador de rádio, Jahan, ainda não chegou e eu...
— Faça o que estou mandando
Aterrorizado, o homem ligou o VHF com a boca sangrando e quase sem poder falar.
— Base chamando o capitão Lutz! — esperou e depois repetiu o chamado, acrescentando: 'Urgente'.
NOS HELICÓPTEROS: Eles estavam a pouco mais de três metros de altura sobre o terreno pantonoso e a poucas centenas de metros de distância quando ouviram a voz zangada de Zataki:
— Todos os helicópteros devem retornar à base, retornar à base! Apresentem-se! — Rudi fez um pequeno ajuste na força do motor. No helicóptero mais próximo, ele viu Dubois apontar para os seus fones e fazer um gesto obsceno. Ele sorriu e fez o mesmo, depois notou o suor que lhe escorria pelo rosto.
— TODOS OS HELICÓPTEROS DEVEM VOLTAR À BASE; TODOS...
NO CAMPO DE AVIAÇÃO: — ...OS HELICÓPTEROS DEVEM VOLTAR À BASE. — Zataki estava berrando no microfone. — TODOS OS HELICÓPTEROS DEVEM VOLTAR À BASE!
Ele só obteve estática como resposta. De repente, Zataki bateu com o microfone na mesa. — Ligue para a torre de Abadan! DEPRESSA! — gritou e o aterrorizado Numir, com o sangue escorrendo pela barba, trocou de canal e depois de tentar seis vezes, desta vez em farsi, conseguiu comunicar-se com a torre.
— Aqui é a torre de Abadan, aga, por favor, continue. Zataki arrancou-lhe o microfone das mãos.
— Aqui é o coronel Zataki, do Komiteh Revolucionário de Abadan — disse em farsi — chamando do campo de aviação de Bandar Delam.
— Que a paz esteja com o senhor, coronel — a voz era respeitosa. — O que podemos fazer pelo senhor?
— Quatro dos nossos helicópteros decolaram sem autorização, dirigindo-se para a Irã-Toda. Faça-os retornar, por favor.
— Um momento, por favor. — Vozes abafadas. Zataki esperou, com a cara fechada. Esperou um bocado e então: — O senhor tem certeza, aga? Não os estamos vendo na tela do radar.
— É claro que tenho certeza. Chame-os de volta!
Mais vozes abafadas e mais demora, Zataki estava quase explodindo, então uma voz em farsi disse:
— Os quatro helicópteros que saíram de Bandar Delam devem retornar à base. Respondam por favor. — Eles repetiram a transmissão. Depois a voz acrescentou: — Talvez o rádio deles esteja com defeito, aga, que Deus o abençoe.
— Continue tentando! Eles estão voando baixo na direção da Irã-Toda.
Mais vozes abafadas, depois novamente uma voz falando em farsi e depois uma voz disse em inglês com sotaque americano:
— Podem deixar comigo! Aqui é o controle de Abadan. Helicópteros voando no rumo 090 graus, estão me ouvindo?
NA CABINE DE DUBOIS: A sua bússola estava marcando 091 graus. Mais uma vez ele ouviu a voz soar nos seus fones:
— Aqui é o controle de Abadan, helicópteros voando na direção 090 graus, a um quilômetro da costa, estão me ouvindo? — Uma pausa. — Controle de Abadan, helicópteros voando no rumo 090 graus, troquem para o canal 121.9... estão me ouvindo? — Aquele era o canal de emergência em que todos os aparelhos deviam estar automaticamente sintonizados. — Helicópteros voando no rumo 090 graus, a um quilômetro da costa, retornem para a base, estão me ouvindo?