A sua pena arranhava o papel, fazendo ranger os dentes de Scragger: 8:1 Ih. Ele se levantou, desanimado, agradeceu ao cabo que, gentilmente, perguntou se ele não queria ficar esperando. Então dirigiu-se para a porta e quase deu um encontrão em Qeshemi.
— Oh, desculpe, meu chapa! Salaam, aga Qeshemi, salaam.
— Salaam, aga. — Qeshemi percebeu o alívio e a impaciência de Scragger. Sarcasticamente, fez sinal para ele esperar e foi até a escrivaninha, olhando para o cabo com os seus olhos argutos.
— Saudações, Ahmed, que a paz de Deus esteja com você.
— Com o senhor também, Excelência sargento Qeshemi.
— Qual é o problema que temos hoje?, eu sei o que o estrangeiro quer.
— Houve outro encontro islâmico-marxista por volta da meia-noite nas docas. Um mujhadin foi morto e nós temos mais sete nas celas. Foi fácil, a emboscada funcionou bem, graças a Deus, e os Faixas Verdes nos ajudaram. O que vamos fazer com eles?
— Obedeça às novas regras — Qeshemi disse pacientemente. — Apresente os prisioneiros diante do Komiteh Revolucionário quando eles chegarem aqui amanhã de manhã. O que mais? — O cabo contou-lhe a respeito do rapaz. — Faça a mesma coisa com ele. Filho de um cão, como foi se deixar apanhar!
Qeshemi atravessou a porta da divisória que dava para o cofre, apanhou a chave e começou a abri-lo.
— Graças a Deus, pensei que a chave estivesse perdida — disse o cabo.
— Estava, mas Lafi achou. Eu fui até a casa dele hoje de manhã. Ele estava com ela no bolso. — Os passaportes estavam sobre caixas de munição. Ele os levou até a mesa, verificou-os cuidadosamente, assinou os vistos em nome de Khomeini e tornou a verificá-los. — Aqui estão, aga piloto — disse e entregou-os a Scragger.
— Mamnoon am, Agha, khoda haefez. — Obrigado, Excelência, até logo.
— Khoda haefez, Agha. — O sargento Qeshemi apertou a mão estendida e observou-o sair, Pensativamente. Pela janela, ele viu Scragger arrancar rapidamente com o carro. Rápido demais.
— Ahmed, nós temos gasolina no carro?
— Ontem nós tínhamos, Excelência.
NO AEROPORTO DE BANDAR DELAM: 8:18H. Agora Numir corria freneticamente de um trailer para outro, mas estavam todos vazios. Ele correu de volta para o escritório. Jahan, o operador de rádio, olhou para ele, espantado.
— Eles foram embora! Todo mundo foi embora, pilotos, mecânicos... e a maioria dos pertences deles! — Numir gaguejou, com o rosto ainda lívido do soco que tinha levado de Zataki. — Aqueles filhos de um cão!
— Mas... mas eles foram só até a Irã-Toda, Excel...
— Estou dizendo que eles fugiram e fugiram com os nossos helicópteros!
— Mas os nossos dois 206 estão no hangar, eu os vi, tem até um ventilador secando a tinta. Excelência Rudi não deixaria um ventilador ligado se..
— Por Deus, eu estou dizendo que eles foram embora. Jahan, um homem de meia-idade que usava óculos, ligou o HF:
— Capitão Rudi, aqui é a base, está me ouvindo?
NA CABINE DE RUDI: Tanto Rudi quanto o seu mecânico, Faganwitch, ouviram a chamada claramente.
— Base para o capitão Rudi, está me ouvindo?
Rudi moveu ligeiramente os comandos e depois tornou a relaxar, olhando para a direita e para a esquerda. Ele viu Kelly fazer sinal para os seus fones, levantar dois dedos e gesticular. Ele respondeu. Então sua alegria desapareceu.
— Teerã, aqui é Bandar Delam, está me ouvindo? — Nenhuma resposta. — Lengeh, aqui é Bandar Delam, está me ouvindo?
— Bandar Delam, aqui é Lengeh, você está dois por cinco. Continue. Houve imediatamente uma explosão de farsi por parte de Jahan que Rudi não entendeu, depois os dois operadores ficaram falando entre si. Depois de uma pausa, Jahan disse em inglês:
— Teerã, aqui é Bandar Delam, está me ouvindo? — Estática. A chamada foi repetida. Estática. Depois: — Kowiss, está me ouvindo? — Depois silêncio outra vez.
— Por enquanto — resmungou Rudi.
— Que confusão foi essa, capitão? — perguntou Faganwitch.
— Fomos apanhados. Não faz nem uma hora que partimos e já fomos apanhados! — Havia bases militares em volta deles e logo adiante ficava uma muito grande e eficiente, em Kharg. Ele não tinha nenhuma dúvida de que se fossem interceptados seriam abatidos da mesma forma que o HBC. Com toda razão, pensou. E embora eles estivessem seguros por enquanto, ali embaixo, sobre as ondas, com a visibilidade agora abaixo de meio quilômetro, em pouco tempo a neblina melhoraria e eles estariam desprotegidos. Mais uma vez a voz de Jahan:
— Teerã, aqui é Bandar Delam, está me ouvindo? — Estática. — Kowiss, aqui é Bandar Delam, está me ouvindo? — Nenhuma resposta.
Rudi praguejou. Jahan era um bom operador de rádio, persistente, e iria continuar chamando Teerã e Kowiss até obter resposta. E então? Isto é problema deles, não meu. O meu é tirar os meus quatro daqui em segurança, é só com isto que eu tenho que me preocupar. Tenho que levar os meus quatro em segurança.
Três ou quatro metros abaixo deles estavam as ondas, ainda não cobertas de espuma, mas cinzentas e ameaçadoras e o vento não tinha melhorado. Ele olhou para Kelly e balançou a mão da esquerda para a direita, o sinal para se espalharem mais e não tentarem manter contato visual caso a visibilidade piorasse. Kelly respondeu e fez o mesmo sinal para Dubois, que transmitiu a mensagem para Sandor, na sua extrema direita, e depois dedicou-se a alcançar o máximo de rendimento com o mínimo de combustível, forçando os olhos a enxergarem no meio do nevoeiro à sua frente. Logo eles estariam realmente nos domínios do mar
LENGEH, NO CAMPO DE AVIAÇÃO: 8:31H. — Jesus, Scrag, nós pensamos que você tivesse sido preso — exclamou Vossi, acompanhado por Willi, ambos aliviados, com os três mecânicos agrupados em volta do carro. — O que foi que aconteceu?
— Consegui os passaportes, então vamos logo.
— Nós estamos com um problema — Vossi estava branco. Scragger fez uma careta, ainda suando por causa da espera e da viagem de volta.
— O que foi agora?
— Ali Pash está aqui. Está falando no HF. Ele veio normalmente, nós tentamos dispensá-lo, mas ele não quis e...
Impacientemente, Willi interrompeu:
— E nos últimos cinco minutos, Scrag, nos últimos cinco ou dez minutos, ele está se comportando de uma forma muito estranha e...
— Como se tivesse um vibrador enfiado no rabo, Scrag, eu nunca o vi assim — Vossi parou. Ali Pash saiu para a varanda da sala de rádio e fez um sinal urgente para Scragger.
— Já vou, Ali — Scragger gritou. — E cochichou para Benson, o mecânico-chefe: — Você e seus rapazes estão com tudo pronto?
— Sim, senhor — Benson era pequeno, magro e nervoso. — Coloquei as suas coisas no helicóptero antes de Ali Pash aparecer. Nós vamos dar o fora?
— Espere até eu chegar no escritório. Todo o...
— Nós recebemos o chamado de Delta Quatro, Scrag — disse Willi — mas nada dos outros.
— Ótimo. Todo mundo deve ficar esperando até eu dar o sinal. — Scragger respirou fundo e se afastou, cumprimentando os Faixas Verdes que encontrava pelo caminho.
— Salaam, Ali Pash, bom dia — disse, notando o nervosismo e a ansiedade do outro. — Eu pensei que lhe houvesse dado o dia de folga.
— Aga, há algo que...
— Só um segundo, meu filho! — Scragger se virou e fingiu estar irritado, ao gritar: — Benson, eu já disse que se você e Drew quiserem ir fazer um piquenique, podem ir, mas é melhor estarem de volta às duas horas! E o que é que vocês dois estão esperando? Vão fazer a revisão de terra ou não vão?
— Sim, Scrag, desculpe, Scrag!