Ele quase riu ao vê-los tropeçando uns nos outros, Benson e o mecânico americano, Drew, pulando no velho caminhão e se afastando, Vossi e Willi dirigindo-se para as suas cabines. Uma vez dentro do escritório, ele respirou com mais facilidade, colocando a pasta com os passaportes sobre a mesa.
— Agora, qual é o problema?
— Você vai nos deixar, aga — disse o jovem para espanto de Scrag.
— Bem, ahn, não estamos indo embora — Scragger começou, estamos fazendo uma revisão...
— Oh, mas vocês estão indo embora, estão sim! Não há... não há nenhuma troca de pessoal amanhã, não há necessidade de malas, eu vi o aga Benson com duas malas, e por que todas as peças foram retiradas e todos os pilotos e mecânicos.— As lágrimas começaram a correr pelo rosto do homem.
— .. é verdade.
— Agora escute, meu filho, você está perturbado. Tire o dia de folga.
— Mas o senhor vai partir como o pessoal de Bandar Delam, o senhor vai partir hoje e o que vai ser de nós?
Uma explosão de farsi no alto-falante interrompeu-o. O rapaz enxugou as lágrimas e ligou o transmissor, respondendo em farsi e depois acrescentando em inglês:
— Aguarde na linha — e disse, infeliz: — Era o aga Jahan, de novo, repetindo o que transmitiu há dez minutos. Os quatro 212 de lá desapareceram, aga. Eles partiram, aga. Eles decolaram às 7:32h para ir para a Irã-Toda, mas não pousaram lá, dirigiram-se para o interior.
Scragger agarrou a cadeira, tentando aparentar calma. Outra vez o HF, em inglês agora:
— Teerã, aqui é Bandar Delam, está me ouvindo?
— Ele chama Teerã a cada dez minutos, e Kowiss também, mas não tem resposta... — Outras lágrimas saltaram dos olhos do rapaz. — Os de Kowiss também já foram embora, aga? O seu povo deixou Teerã? O que vamos fazer quando vocês tiverem partido? — Na rampa, o primeiro dos 212 ligou barulhentamente os motores, seguido do segundo. — Aga — disse Ali Pash, aflito — nós deveríamos pedir licença a Kish para ligar os motores.
— Não precisamos incomodá-los no feriado, não é um vôo, é só um teste — disse Scragger. Ele ligou o VHF e limpou o queixo, sentindo-se sujo e muito perturbado. Ele gostava de Ali Pash e o que o rapaz tinha dito era verdade. Sem eles, não haveria trabalho, e para os Ali Pashes, só existia o Irã, e só Deus sabia o que iria acontecer lá. Pelo VHF ouviu-se a voz de Willi:
— O meu conta-giros está com problemas, Scrag. Scragger pegou o microfone.
— Leve o helicóptero para a plantação de repolhos e teste-o lá. — Era uma área a uns dez quilômetros dali, bem longe da cidade, onde eles podiam testar os motores e praticar procedimentos de emergência. — Fique lá, Willi, qualquer problema comunique-me, eu posso chamar o Benson se você precisar de um ajuste. Como vai indo, Ed?
— Ótimo, Scrag, ótimo. Se não houver problema, eu gostaria de praticar alguns cortes de motor, está chegando a época da renovação da minha licença e Willi pode me ajudar, certo?
— Certo. Chame-me dentro de uma hora — Scragger foi até a janela, satisfeito por estar de costas para Ali Pash e longe daqueles olhos tristes e acusadores. Os dois helicópteros decolaram e se dirigiram para longe da costa. O escritório parecia mais abafado do que normalmente. Ele abriu a janela. Ali Pash estava sentado melancolicamente ao lado do rádio
— Por que você não tira o dia de folga, rapaz''
— Eu tenho que responder a Bandar Delam. O que devo dizer, aga!
— O que foi que Jahan perguntou?
— Ele disse que aga Numir queria saber se eu tinha notado alguma coisa estranha, peças sendo retiradas, aparelhos partindo, pilotos e mecânicos sumindo.
Scragger observou-o.
— Parece-me que não há nada de estranho acontecendo por aqui. Eu estou aqui, os mecânicos foram fazer um piquenique, Ed e Willi estão fazendo verificações de rotina. Rotina, certo? — Ele olhou fixamente para o rapaz, querendo forçá-lo a ficar do lado dele. Não tinha nenhuma maneira de convencê-lo, nada para lhe oferecer, nenhum pishkesh, exceto... — Você aprova o que está acontecendo aqui, meu filho? — perguntou cautelosamente. — Isto é, que futuro você tem aqui?
— Futuro? O meu futuro é com a companhia. Se... se vocês partirem, então... então eu não terei emprego, não poderei... não poderei mais fazer nada. Eu sou filho único...
— Se você quisesse partir, bem, haveria um emprego para você e um futuro. Fora do Irã. Garantido.
O rapaz olhou-o boquiaberto, entendendo, de repente, o que Scragger estava-lhe oferecendo.
— Mas... mas o que estaria garantido, aga! Uma vida no Ocidente, só para mim? E o meu povo, a minha família, a minha noiva?
— Isto eu não posso responder, Ali Pash — disse Scragger, com os olhos no relógio, consciente do tempo passando, das luzes e do ruído do HF, preparando-se para dominar o rapaz, que era mais alto do que ele, maior, uns 35 anos mais moço, e depois quebrar o HF e sair correndo... Sinto muito, meu filho, mas de um jeito ou de outro você vai ter que colaborar. Casualmente, ele chegou mais perto, posicionando-se melhor.
— Insha'Allah é a maneira que vocês têm de colocar as coisas — disse bondosamente e se preparou.
Ao ouvir estas palavras, saídas da boca daquele homem velho, bondoso e estranho que ele respeitava tanto, Ali Pash sentiu uma onda de afeição invadi-lo.
— Este é o meu lar, aga, a minha terra — disse Ali Pash, com simplicidade. — O imã é o imã e ele só obedece a Deus. O futuro é o futuro e está nas mãos de Deus. O passado também é o passado.
Antes que Scragger pudesse detê-lo, Ali Pash chamou Bandar Delam e agora estava falando em farsi no microfone. Os dois operadores conversaram por alguns momentos e depois, abruptamente, ele se despediu. Ele olhou para Scragger.
— Eu não o culpo por partir — disse. — Obrigado, aga, pelo... pelo passado. — Então, com grande determinação, ele desligou o HF, tirou uma peça e guardou no bolso. — Eu disse a ele que nós... que nós iríamos fechar pelo resto do dia.
Scragger respirou.
— Obrigado, meu filho.
A porta se abriu. Qeshemi estava lá.
— Eu gostaria de inspecionar a base — disse.
QG DE AL SHARGAZ: Manuela estava dizendo:
— ...e então, Andy, o operador de Lengeh, Ali Pash, disse para Jahan: "Não, não há nada de estranho por aqui", e depois acrescentou, um tanto abruptamente: "Estou fechando pelo resto do dia. Tenho que assistir às orações." Numir ligou para ele logo em seguida, pedindo-lhe para esperar alguns minutos, mas não obteve resposta.
— Abruptamente? — Gavallan perguntou, com Scot e Nogger também escutando atentamente. — Abruptamente, como?
— Como, como se ele estivesse de saco cheio ou tivesse uma arma apontada para a sua cabeça. Não é normal um iraniano ser tão abrupto. — Manuela acrescentou, inquieta: — Eu posso estar imaginando coisas, Andy.
— Isto significa que Scrag ainda está lá ou não?
Scot e Nogger fizeram uma careta, apavorados com a idéia. Manuela se mexeu nervosamente.
— Se estivesse lá, ele não teria respondido pessoalmente para nós sabermos? Acho que eu faria isso. Talvez ele... — O telefone tocou e Scot atendeu:
— SG? Oh, alô, Charlie, um momento. — Ele passou o fone para o pai. — É do Kuwait.
— Alô, Charlie, está tudo bem?
— Sim, obrigado. Eu estou no aeroporto do Kuwait, telefonando do escritório de Patrick na Guerney. — Embora as duas companhias fossem rivais no mundo inteiro, elas mantinham relações cordiais. — O que há de novo?
— Delta Quatro, nada mais até agora. Eu ligo assim que tiver notícias. Jean-Luc deu notícias de Bahrain, ele está com Delarne no Gulf Air de France se você quiser falar com ele. Genny está com você?
— Não, ela voltou para o hotel, mas estou com tudo preparado para quando Mac e os rapazes chegarem.
Gavallan disse calmamente:
— Você contou a Patrick, Charlie? — Ele ouviu o riso forçado de Pettikin.