— Que coisa engraçada, Andy, o representante da BA aqui, Patrick e dois outros caras estão com idéia maluca de que nós estamos tramando alguma coisa, como retirar todos os nossos pássaros. Você pode imaginar isso?
Gavallan suspirou.
— Não adiante as coisas, Charlie, siga o plano. — Isto significava ficar calado até que os helicópteros de Kowiss estivessem dentro do sistema do Kuwait, e depois então contar a Patrick. — Eu telefono quando tiver alguma notícia. Até logo. Oh, espere, eu quase me esqueci. Você se lembra de Ross? John Ross?
— E eu poderia esquecer? Por quê?
— Ouvi dizer que ele está no Hospital Internacional do Kuwait. Verifique assim que puder, sim?
— É claro. Imediatamente. O que há com ele?
— Não sei. Ligue para mim se tiver alguma notícia. Até logo. — E desligou o telefone. Tornou a respirar profundamente. — Já estão sabendo de tudo lá no Kuwait.
— Cristo, se... — Scot foi interrompido pelo toque do telefone. — Alô? Um momento. É o sr. Newbury, papai.
Gavallan atendeu.
— Bom dia, Roger, tudo bem?
— Sim. Bem, ahn, eu queria saber se está tudo bem. Como vão as coisas? Extra-oficialmente, é claro.
— Tudo ótimo — Gavallan disse com naturalidade. — Você vai ficar o dia todo no escritório? Eu passo por aí, mas telefono antes de sair daqui.
— Sim, faça isso, vou ficar aqui até o meio-dia. É um fim-de-semana comprido, você sabe. Por favor, ligue-me assim que tiver alguma notícia... extra-oficialmente. Na mesma hora. Nós estamos um tanto preocupados e, bem, podemos conversar quando você chegar. Até logo.
— Espere um instante. Você teve notícias do jovem Ross?
— Sim, tive. Sinto muito, mas soubemos que ele está gravemente ferido, com poucas chances de sobreviver. É uma pena, mas o que se pode fazer? Vejo-o antes do meio-dia. Até logo.
Gavallan desligou. Todos olhavam para ele.
— O que foi? — Manuela perguntou.
— Aparentemente... parece que o jovem Ross está gravemente ferido, com poucas chances de sobreviver.
— Que azar! Meu Deus, não é justo... — Nogger tinha falado com todo mundo sobre Ross, como este tinha salvo a vida deles e a de Azadeh.
Manuela fez o sinal-da-cruz e rezou fervorosamente para Nossa Senhora, por ele, depois implorou a Ela para trazer de volta, a salvo, todos os homens, todos eles, e também Azadeh e Xarazade e que eles conseguissem ter paz, por favor, por favor...
— Papai, Newbury contou-lhe o que aconteceu?
Gavallan sacudiu negativamente a cabeça, mal ouvindo o que ele estava dizendo. Ele estava pensando em Ross, da mesma idade que Scot, mais duro e experiente e indestrutível do que Scot e agora... Pobre rapaz! Talvez ele se recupere... Oh, Deus, eu espero que sim! O que se pode fazer? Continuar, é só o que se pode fazer. Azadeh vai ficar abalada, pobre garota. E Erikki vai ficar tão abalado quanto Azadeh, ele deve a vida dela a Ross.
— Estarei de volta num segundo — disse e saiu, dirigindo-se para o outro escritório, de onde podia ligar para Newbury em particular.
Nogger estava na janela, olhando para fora, na direção do campo de aviação, sem enxergar nada. Ele estava vendo o matador maníaco de Tabriz, segurando a cabeça decepada, com olhos selvagens e uivando como um lobo para o céu, o anjo da morte que se tornou o anjo da vida para ele, Arberry, Dibble e, principalmente, para Azadeh. Deus, se o senhor é mesmo Deus, salve-o como ele nos salvou...
— Teerã, aqui é Bandar Delam, está me ouvindo? Kowiss, aqui é Bandar Delam, está me ouvindo?
— Cinco minutos em ponto — murmurou Scot — Jahan não se atrasa um segundo. Siamaki não disse que estaria no escritório a partir das nove horas?
— Disse. — Todos os olhares se dirigiram para o relógio. Estava marcando 8:45h
NO AEROPORTO DE LENGEH: 9:01H. Qeshemi estava no hangar, olhando para os dois 206 estacionados lá dentro. Atrás dele, Scragger e Ali Pash observavam nervosamente. Um raio de sol atravessou as nuvens e fez brilhar o 212 que estava esperando na pista, a cinqüenta metros de distância, com um carro de polícia amassado parado ao lado, com o motorista, cabo Ahmed, lá dentro.
— O senhor já voou num desses, Excelência Pash? — perguntou Qeshemi.
— No 206? Sim, Excelência sargento — disse Ali Pash, dando ao sargento o seu sorriso mais agradável. — O capitão às vezes me leva ou ao outro operador de rádio quando estamos de folga. — Ele estava com muita pena pelo fato do Demônio ter posto os pés lá hoje, mais do que com pena, porque agora ele estava irremediavelmente envolvido em uma traição. Traição por quebrar as regras, traição por mentir para a polícia, traição por não ter comunicado fatos estranhos. — O capitão poderá levá-lo quando o senhor quiser — disse agradavelmente, inteiramente concentrado agora em livrar-se do lodaçal em que o Demônio e o capitão o haviam colocado.
— Hoje seria um bom dia? Ali Pash quase se traiu.
— É claro, se o senhor pedir ao capitão, é claro, aga. Quer que eu peça? Qeshemi não disse nada, apenas saiu do hangar, sem se importar com os
Faixas Verdes, uma dúzia deles, que observavam curiosamente. Para Scragger, ele disse diretamente em farsi:
— Onde está todo mundo hoje, capitão?
Ali Pash serviu de intérprete para Scragger, embora torcendo as palavras, tornando-as mais aceitáveis, explicando que, sendo dia santo, sem vôos de inspeção, o pessoal iraniano tinha tido o dia de folga, o capitão tinha mandado os 212 para a área de treinamento, tinha deixado os mecânicos fazerem um piquenique e, ele próprio, ia sair para ir à mesquita assim que Sua Excelência o sargento tivesse terminado o que estava fazendo.
Scragger estava totalmente frustrado por não entender farsi, e estava detestando não pode controlar a situação. A sua vida e a dos seus homens estavam nas mãos de Ali Pash.
— Sua Excelência quer saber o que o senhor está planejando fazer o resto do dia.
— Está é uma boa pergunta. — Scragger murmurou. Então o lema da família veio-lhe à mente: "Enforcado por um carneirinho, enforcado por uma ovelha, então é melhor levar logo o rebanho inteiro." — O lema tinha sido passado pelo seu antepassado que fora deportado para a Austrália no início de 1800. — Por favor, diga-lhe que assim que ele terminar, eu vou para a plantação de repolhos ajudar Vossi a praticar. Está na época dele renovar a sua licença.
Ele ficou olhando e esperando e Qeshemi fez uma pergunta que Ali Pash respondeu e o tempo todo ele ficou imaginando o que faria se Qeshemi dissesse: "Ótimo, eu vou também."
— Sua Excelência quer saber se o senhor poderia emprestar um pouco de gasolina para a polícia.
— O quê?
— Ele quer um pouco de gasolina, capitão. Quer que o senhor empreste um pouco de gasolina.
— Oh. Oh, certamente, certamente, aga. — Por um momento, Scragger encheu-se de esperança. Não se anime tão depressa, meu filho, pensou. A plantação de repolho não fica assim tão longe e Qeshemi pode estar querendo gasolina para mandar o carro para lá e ir comigo no helicóptero.
— Venha, Ali Pash, você pode me dar uma ajuda — disse, não querendo deixá-lo sozinho com Qeshemi e caminhou até a bomba, fazendo um sinal para o carro de polícia. A biruta estava dançando. Ele viu que as nuvens estavam se avolumando, empurradas por um vento contrário. Aqui embaixo o vento ainda era o sudeste, embora estivesse virando para sul. Bom para nós, mas vai ser um tremendo vento de proa para os outros, pensou, preocupado.
NOS HELICÓPTEROS, PERTO DA ILHA DE KISH: 9:07H. Os quatro helicópteros de Rudi estavam à vista uns dos outros, mais juntos do que antes, viajando calmamente logo acima das ondas. A visibilidade variava entre duzentos e oitocentos metros. Todos os pilotos estavam poupando combustível, procurando tirar o melhor proveito, e mais uma vez Rudi inclinou-se para frente para dar uma pancadinha no mostrador. A agulha moveu-se ligeiramente, ainda marcando um pouco menos de meio tanque.