Scragger espiou através da neblina. Ele viu a plataforma semiconstruída, com uma barcaça amarrada a uma das pilastras. Os ponteiros dos instrumentos estavam todos no verde e — ei, espere um instante, a temperatura subiu, a pressão do óleo baixou no motor número um. Benson também tinha visto. Ele deu um tapinha no mostrador, inclinando-se para a frente. O ponteiro que marcava a pressão do óleo subiu um pouco e depois tornou a cair, a temperatura estava alguns graus acima do normal — não há tempo para pensar nisso agora, prepare-se! O pessoal de terra tinha ouvido o barulho do helicóptero e parara de trabalhar, afastando-se do local de pouso. Quando estava a 15 metros da plataforma, Scragger disse:
— Kish, HVX pousando agora. Bom dia.
— HVX, apresente-se diretamente a Kish. Solicite permissão para decolar. Repito, apresente-se diretamente a Kish. Está me ouvindo?
Mas Scragger nem respondeu nem pousou. Quando estava a poucos metros de altura, ele ficou flutuando no ar, acenou para o pessoal de terra que o reconheceu e achou que ele estava apenas treinando algum piloto novo, como era seu hábito. Um último aceno. Então ele avançou, desceu, passando ao lado da plataforma e, pertinho do mar, virou para sudoeste acelerando ao máximo.
NA BASE AÉREA DE KOWISS: 10:21H. O mulá Hussein estava dirigindo e parou o carro diante do escritório. McIver saltou.
— Obrigado — disse, sem saber o que esperar, pois Hussein mantivera-se calado desde que saíram do escritório. Lochart, Ayre e os outros estavam perto dos helicópteros. Kia saiu do prédio, parou ao ver o mulá e depois desceu a escada
— Bom dia, Excelência Hussein, saudações, que prazer em vê-lo. — Ele estava usando um tom de voz ministerial próprio para se dirigir a um personagem importante, mas não a um igual, e depois disse secamente para McIver: — Temos que partir imediatamente.
— Ahn, sim, aga. Dê-me dois minutos para me preparar. — Ainda bem que eu não sou Kia, disse a si mesmo enquanto se afastava, com o estômago ardendo, e dirigiu-se a Lochart: — Olá, Tom.
— Você está bem, Mac?
— Sim. — E acrescentou em voz baixa: — Vamos ter que agir com muita cautela nos próximos minutos. Não sei o que o mulá está tramando. Tenho que esperar para ver o que ele vai fazer com Kia, não sei se Kia está encrencado ou não. Assim que soubermos, podemos agir. — E baixou ainda mais a voz. — Não posso deixar de levar Kia, a não ser que Hussein o agarre. Pretendo levá-lo até metade do caminho, até o outro lado das montanhas, fora do alcance do VHF, fingir uma emergência e aterrissar. Quando Kia estiver fora da cabine, esticando as pernas, eu decolo e vou me encontrar com vocês no lugar combinado.
— Não gosto dessa idéia, Mac. É melhor deixar-me fazer isso. Você não conhece o lugar e estas dunas são todas iguais. É melhor eu levá-lo.
— Já pensei nisso, mas aí eu estaria conduzindo os mecânicos sem licença. É melhor pôr Kia em risco, em lugar deles. Além disso, você poderia ficar tentado a voltar para Teerã.
— É melhor eu levá-lo e depois me encontar com você no lugar combinado. É mais seguro.
McIver sacudiu a cabeça, sentindo-se muito mal em encurralar o amigo.
— Você continuaria até Teerã, não? Depois de uma estranha pausa, Lochart disse:
— Enquanto eu estava esperando por você, se pudesse teria posto Kia no helicóptero e decolado. — Ele deu um sorriso irônico. — Os soldados não permitiram. Mandaram esperar. É melhor tomar cuidado com eles, Mac, alguns falam inglês. O que foi que aconteceu com você?
— Hussein apenas interrogou-me a respeito de Kia e de Duke. Lochart olhou-o espantado.
— Duke? O que ele queria saber?
— Tudo sobre ele. Quando eu perguntei a Hussein por que, ele só disse: "Ele me interessa." — McIver viu Lochart estremecer.
— Mac, acho melhor que eu leve Kia. Você pode não achar o lugar do encontro. Você pode ir em dupla com Freddy. Eu vou primeiro e espero por vocês.
— Sinto muito, Tom, mas não posso correr esse risco, você acabaria indo para Teerã. Se eu fosse você, faria o mesmo. Mas não posso deixá-lo voltar. Voltar agora seria um desastre. Um desastre para você, tenho certeza disso, Tom, bem como para nós. Esta é a verdade.
— Para o inferno com a verdade — Lochart disse com amargura. — Está bem, mas por Deus, assim que pousarmos no Kuwait, ou vocês me dão o mês de licença a que tenho direito ou eu me demito da S-G, o que preferirem.
— Está certo, mas tem que ser de Al Shargaz. Nós vamos ter que reabastecer os helicópteros no Kuwait e sair de lá o mais depressa possível, se tivermos a sorte de chegar até lá e se eles nos deixarem sair.
— Não. O Kuwait é o fim da linha para mim.
— Como você quiser — disse McIver, zangado. — Mas eu vou me certificar de que você não consiga um avião para Teerã, Abadan ou qualquer outro lugar no Irã.
— Você é um filho da mãe — disse Lochart, zangado por McIver ter percebido as suas intenções tão claramente. — Vá para o inferno!
— Sim. Sinto muito. Em Al Shargaz eu vou fazer tudo o que puder para ajudá-lo — McIver parou, vendo Lochart resmungar um palavrão. Ele se virou. Kia e Hussein ainda estavam conversando perto do carro. — O que foi?
— A torre.
McIver olhou para cima. Então viu Wazari, semi-oculto atrás de uma janela, fazendo sinal para eles. Não havia meio de fingir que não tinham visto. Enquanto olhavam, Wazari tornou a chamá-los com gestos e desapareceu.
— Desgraçado — Lochart estava dizendo. — Eu chequei a torre logo depois que você saiu para ter certeza de que ele não tinha se escondido lá e como ele não estava lá, achei que tinha fugido. — Ficou vermelho de raiva. — Pensando bem, eu não cheguei a entrar na sala, e ele podia estar escondido no telhado. — O filho da puta deve ter ficado lá o tempo todo.
— Minha nossa! Talvez ele tenha descoberto o fio partido. — McIver ficou nervoso.
— Fique aqui. Se ele tentar causar problemas, eu o mato — disse Lochart enfurecido.
— Espere, eu também vou. Freddy — ele chamou — voltaremos num instante.
Ao passar por Hussein e Kia, McIver disse:
— Eu vou pedir autorização para decolar, ministro. Podemos partir em cinco minutos.
Antes que Kia pudesse responder, Hussein disse enigmaticamente:
— Insha’Allah.
Kia falou secamente para McIver:
— Capitão, o senhor não se esqueceu de que tenho que estar em Teerã às 19 horas para uma importante reunião, esqueceu? Bem — e deu as costas para eles, voltando a dar atenção a Hussein: — O que o senhor estava dizendo, Excelência?
Os dois pilotos entraram no escritório, furiosos com a grosseria de Kia, evitaram Pavoud e o resto do pessoal e se dirigiram para a escada da torre.
A torre estava vazia. Então eles viram a porta do telhado aberta e ouviram Wazari cochichar:
— Estou aqui. — Ele estava do lado de fora, agachado junto à parede. — Não se moveu. — Eu sei o que vocês estão tramando. O rádio não está com defeito nenhum — ele disse, sem poder conter a excitação. — Quatro helicópteros decolaram de Bandar Delam e desapareceram. O diretor Siamaki está berrando como um porco no matadouro porque não consegue falar nem com Lengeh, nem conosco e nem com Al Shargaz, e o sr. Gavallan está lá. Eles só não estão respondendo, não é? Hein?
— E o que isso tem a ver conosco? — perguntou Lochart.
— Tem tudo a ver, tudo, porque tudo se encaixa. Numir, em Bandar Delam, diz que todos os estrangeiros partiram, que não sobrou nenhum em Bandar. Siamaki diz o mesmo com relação a Teerã, ele disse até a Numir, capitão McIver, que o seu empregado disse que a maioria das suas coisas e das coisas de um certo capitão Pettikin foram retiradas do apartamento. McIver deu de ombros e foi ligar o VHF.
— Simples medida de segurança enquanto eu e Pettikin estamos fora. Tem havido muitos assaltos.