— Você está bem, Mac? — disse Ayre, muito preocupado com a cor dele.
— É claro que estou! Vá logo!
PERTO DE BAHRAIN: 10:59H. Rudi e Pop Kelly ainda estavam um atrás do outro, lutando contra o vento de proa, poupando os motores, com os mostradores de combustível no vazio e as luzes vermelhas acesas. Há uma hora atrás, os dois tinham ficado parados no ar. Os mecânicos tinham aberto a porta das cabines e se debruçado para fora, tirando a tampa dos tanques. Depois tinham desenrolado as mangueiras, enfiado o esguicho na boca do tanque e voltado para a cabine, começando a bombear o combustível de reserva dos tambores para dentro dos tanques. Nenhum dos dois mecânicos jamais tinha feito um reabastecimento em pleno vôo. Quando terminaram, tiveram um acesso de vômito. Mas a operação foi bem-sucedida.
A neblina ainda estava densa, o mar agitado e batido pelo vento e desde a hora em que quase colidiram com o petroleiro, todos os procedimentos tinham sido de rotina, buscando obter o máximo de rendimento dos helicópteros e torcendo para dar certo. — Rudi não tinha visto nenhum sinal de Dubois nem de Sandor. Um dos jatos de Rudi falhou, mas voltou logo a funcionar.
Faganwitch estremeceu.
— Quanto falta ainda?
— Muito. — Rudi ligou seu VHF, quebrando o silêncio do rádio. — Pop, troque para HF e fique na escuta — ele disse rapidamente e começou a transmitir. — Sierra Um, aqui é Delta Um, está me ouvindo?
— Alto e claro, Delta Um — Scot respondeu imediatamente — continue.
— Perto de Boston — o código para Bahrain — a duzentos, rumo 185, com pouco combustível. Delta Dois está comigo, Três e Quatro estão por sua própria conta.
— Bem-vindos da Britânia para as terras ensolaradas, G-HTXX e G-HJZI, repito, G-HTXX e G-HJZI! Jean-Luc está esperando por vocês. Ainda não temos notícias de Delta Três e Quatro.
— HTXX e HJZI! — Rudi respondeu imediatamente, usando os novos registros britânicos. — E quanto a Lima Três e Kilo Dois? — Lima para os três helicópteros de Lengeh e Kilo para os dois de Kowiss.
— Ainda não temos notícias, só sabemos que Kilo ainda não decolou. — Rudi e Pop Kelly tiveram um choque. Então ouviram:
— Aqui é o QG de Teerã, Al Shargaz, estão me ouvindo? Seguido da voz de Siamaki:
— Aqui é Teerã, quem está chamando neste canal? Quem são Kilo Dois e Lima Três? Quem é Sierra Um?
Scot respondeu:
— Não se preocupe, HTXX, algum idiota está usando o nosso canal. Telefone quando pousar — ele acrescentou para evitar mais conversas.
Pop Kelly exclamou, excitado:
— Bancos de areia à frente, HTXX!
— Estou vendo. Sierra Um, HTXX, estamos quase na costa...
Mais uma vez um dos motores de Rudi falhou, mais do que antes, mas tornou a pegar, com os mostradores girando loucamente. Então, através da neblina, ele viu a costa, um pontinho de terra e alguns bancos de areia e depois a praia, e soube exatamente onde estava.
— Pop, você se encarrega da torre. Sierra Um, diga a Jean-Luc que estou...
NO QG DE AL SHARGAZ: Gavallan já estava ligando para Bahrain e no alto-falante a voz de Rudi continuou a falar demonstrando urgência:
— ...eu estou na extremidade noroeste da praia de Abu Sabh, a leste... — houve um ruído de estática e depois silêncio.
Gavallan falou no telefone:
— Gulf Air de France? Jean-Luc, por favor. Jean-Luc, Andy. Rudi e Pop estão... Espere... — A voz de Kelly soou alto:
— Sierra Um, eu estou descendo atrás de Delta Um, ele está sem motor...
— Aqui é Teerã, quem está sem motor e onde? Quem está chamando por este canal? Aqui é Teerã, quem está...
NA COSTA DE BAHRAIN: A praia tinha uma areia branca e boa, mas estava quase vazia naquele momento, havia muitos barcos a vela e outras embarcações de passeio no mar, vários praticantes de windsurf aproveitando o dia ameno e a brisa agradável. Mais acima ficava o Hotel Starbreak, todo branco, com palmeiras, jardins e barracas coloridas espalhadas pelos terraços e pela praia. O 212 de Rudi saiu da neblina rapidamente, com os rotores girando, os motores tossindo e sem funcionar mais. A sua linha de descida dava-lhe poucas opções, mas ele estava contente por ser uma descida em terra firme e não no mar. A praia crescia em direção a eles e ele escolheu o local de pouso perto de uma barraca vazia, perto da estrada. Ele estava a favor do vento agora e muito perto, estabilizou o aparelho depois puxou o comando geral, alterando o grau de inclinação das lâminas para se segurar um pouco e suavizar o impacto e deslizou para frente na superfície irregular, inclinou um pouquinho o aparelho e parou.
— Minha nossa... disse Faganwitch, respirando de novo, com o coração batendo de novo, com o esfíncter contraído.
Rudi começou a manobra de pouso, tonto com o silêncio, com as mãos e os joelhos tremendo. Na praia, os banhistas e as pessoas que estavam nos terraços tinham se levantado e estavam olhando para eles. Então Faganwitch abriu a boca de espanto, assustando-o. Ele se virou e também abriu a boca.
Ela usava óculos escuros e quase nada mais debaixo da barraca solitária, sem a parte de cima do biquíni, e praticamente sem a parte de baixo, e estava apoiada no cotovelo olhando para eles. Sem se apressar, ela se levantou e vestiu a parte de cima do biquíni.
— Jesus Cristo... — Faganwitch estava sem fala. Rudi acenou e gritou com a voz rouca:
— Sinto muito, fiquei sem gasolina.
Ela riu, então Kelly apareceu e estragou tudo e os dois praguejaram contra ele, enquanto o vento dos seus rotores batia na barraca e nos cabelos compridos dela, fazendo voar a toalha e espalhando areia. Kelly também a viu e, gentilmente, recuou para mais perto da estrada e, tão distraído quanto os outros, pousou.
NO AEROPORTO INTERNACIONAL DE BAHRAIN: 11:13H. Jean-Luc e o mecânico Rod Rodrigues saíram correndo do edifício e atravessaram a rua em direção a um pequeno caminhão de abastecimento com a marca GAdeF — Gulf Air de France — que tinham conseguido emprestado. O aeroporto estava movimentado, terminal moderno e os suntuosos prédios em volta todos pintados de branco. Havia muitos jatos de várias nacionalidades carregando ou descarregando, e um jumbo da JAL tinha acabado de pousar.
— On y va, vamos — disse Jean-Luc.
— É claro, Sayyid. — O motorista aumentou o volume do interfone e ligou o motor, engrenou e saiu. Ele era um jovem palestino cristão, usando óculos escuros e o macacão da companhia. — Para onde nós vamos?
— Você conhece a praia de Abu Sabh?
— Oh, sim, Sayyid.
— Dois dos nossos helicópteros pousaram lá, sem combustível. Vamos!
— Já estamos quase lá! — O motorista mudou de marcha e aumentou a velocidade. Eles ouviram pelo alto-falante do interfone:
— Alfa Quatro? — Ele apanhou o microfone e continuou a guiar exuberantemente com uma das mãos.
— Aqui é Alfa Quatro.
— Chame o capitão Sessonne.
Jean-Luc reconheceu a voz de Matias Delarne, o gerente da Gulf Air de France em Bahrain, um velho amigo dos tempos da Força Aérea Francesa e da Argélia.
— Aqui é Jean-Luc, meu velho — ele disse em francês. Também em francês, Delarne disse rapidamente:
— A torre me chamou para dizer que outro helicóptero acabou de entrar no sistema, no rumo que você está esperando. Dubois ou Petrofi, hein? A torre está chamando mas ainda não conseguiu fazer contato.
— Só um? — Jean-Luc ficou preocupado.
— Sim. Ele está se aproximando corretamente para pousar na pista 16. O problema que nós discutimos, hein?
— Sim. — Jean-Luc tinha contado ao amigo o que estava realmente acontecendo e o problema dos registros. — Matias, diga à torre que é o GHTTE e que está em trânsito — disse, fornecendo o terceiro dos quatro registros de chamada. — Depois ligue para Andy e diga a ele que vou mandar Rodrigues cuidar de Rudi e Kelly. Nós vamos tratar de Dubois ou Sandor, você e eu, onde nos encontramos?