— Meu Deus, Jean-Luc, depois disto nós vamos ter que entrar para a Legião Estrangeira. Encontre-me na frente do escritório.
Jean-Luc respondeu, e tornou a pendurar o microfone no gancho.
— Pare aqui! — O caminhão parou imediatamente. Rodrigues e Jean-Luc quase saíram pelo pára-brisa. — Rod, você sabe o que fazer. — Ele saltou. — Podem ir!
— Ouça, eu prefiro ir andando e... — O resto ele não ouviu, e saiu correndo de volta enquanto o caminhão arrancava cantando os pneus, passando pelo portão e pegando a estrada que levava à praia.
EM KOWISS, NA TORRE: 11:17H. Em Lochart e Wazari estavam olhando o 206 de McIver subindo em direção às Montanhas Zagros.
— Kowiss, aqui é HCC — McIver estava dizendo pelo VHF — estou deixando o seu sistema agora. Bom dia.
— HCC, Kowiss. Bom dia — disse Wazari. No alto-falante do HF, em farsi:
— Bandar Delam, aqui é Teerã, já tiveram notícias de Kowiss?
— Negativo. Al Shargaz, aqui é Bandar Delam, está me ouvindo? — Estática, então a chamada foi repetida, e depois outra vez o silêncio.
Wazari enxugou o rosto.
— O senhor acha que o capitão Ayre já chegou ao local do encontro? — Ele perguntou, tentando desesperadamente agradar. Não era difícil perceber que Lochart não gostava dele e nem confiava nele. — Hein?
Lochart apenas deu de ombros, pensando em Teerã e no que fazer. Ele tinha dito a McIver para mandar os dois mecânicos com Ayre:
— Para o caso de eu ser apanhado, Mac, ou de Wazari ser descoberto ou nos trair.
— Não faça nenhuma besteira, Tom, como ir para Teerã no 212, com ou sem Wazari.
— Não havia nenhuma maneira de voltar para Teerã sem pôr em alerta todo o sistema e estragar o Turbilhão. Eu teria que reabastecer o aparelho e eles me apanhariam.
Existe alguma maneira? Ele perguntou a si mesmo, então viu Wazari observando-o.
— O que é?
— O capitão McIver vai lhe dar algum sinal ou chamar depois que tiver largado Kia? — Lochart não respondeu e Wazari disse humildemente: — Droga, o senhor não está vendo que é a minha única chance de dar o fora daqui?
Os dois homens se viraram, sentindo-se observados. Pavoud estava olhando para eles através do corrimão da escada.
— Então é isso! — Ele disse baixinho. — Seja como Deus quiser. Vocês foram apanhados na sua traição.
Lochart deu um passo em direção a ele.
— Eu não sei o que está incomodando você — começou, com a garganta apertada. — Não há nada...
— Vocês foram apanhados! Você e o Judas! Vocês estão todos fugindo, fugindo com os nossos helicópteros!
O rosto de Wazari se contorceu e ele disse entre dentes:
— Judas, hein? Venha até aqui! Eu sei tudo sobre você e os seus amigos do Tudeh!
Pavoud ficou branco.
— Você não sabe o que está dizendo! Você é que foi apanhado, você é...
—Você é que é o Judas, seu maldito comunista! O cabo Ali Fedagi é meu companheiro de quarto e ele é o oficial na base e você é subordinado dele. Eu sei tudo sobre você. Ele tentou me fazer entrar no Partido há meses. Venha até aqui! — E quando Pavoud hesitou, Wazari avisou: — Se você não vier, eu vou chamar o komiteh e entregar você, Fedagi, junto com Muhammad Berani e mais uma dúzia de outros e não dou a mínima... — Ele esticou a mão para apertar o transmissor do VHF, mas Pavoud exclamou:
— Não — e subiu as escadas, parando, trêmulo, no patamar. Por um instante, nada aconteceu, então Wazari agarrou o homem apavorado e atirou-o num canto, e pegou uma chave inglesa para dar na cabeça do homem. Lochart impediu o golpe bem a tempo.
— Por que você está me impedindo, pelo amor de Deus? — Wazari estava tremendo de medo. — Ele vai nos trair.
— Não há necessidade... não há necessidade disso. — Lochart não conseguiu falar por um momento. — Seja paciente. Ouça, Pavoud, se você ficar quieto, nós também ficaremos.
— Eu juro por Deus, é claro que vou...
— Você não pode confiar neste filho da mãe — disse Wazari.
— Eu não confio — respondeu Lochart. — Rápido, ponha tudo por escrito! Rápido! Todos os nomes que você conseguir se lembrar. Rápido, e faça três cópias! — Lochart enfiou uma caneta na mão do homem. Wazari hesitou, depois pegou um bloco e começou a escrever. Lochart se aproximou de Pavoud que se encolheu, implorando piedade. — Cale a boca e ouça, Pavoud, eu vou fazer um trato com você, se você não disser nada, nós não diremos nada.
— Por Deus, é claro que eu não vou dizer nada, aga, eu não tenho servido fielmente a companhia, fielmente, por todos estes anos, eu não...
— Mentiroso — disse Wazari, depois acrescentou, dando um choque em Lochart: — Eu ouvi você e os outros mentindo e fazendo piadas com Manuela Starke, espiando-a de noite.
— Mentira, tudo mentira...
— Cale a boca, seu filho da mãe! — disse Wazari.
Pavoud obedeceu, paralisado com ódio do outro, e se encolheu no seu canto.
Lochart tirou os olhos do homem encolhido e apanhou uma das listas, colocando-a no bolso.
— Você fique com uma, sargento. Olhe aqui — disse para Pavoud, enfiando uma na cara dele. O homem tentou recuar, não conseguiu, e quando a lista foi-lhe enfiada na mão, ele gemeu e jogou-a no chão como se estivesse pegando fogo. — Se nós formos parados, eu juro por Deus que isto vai para as mãos do primeiro Faixa Verde que aparecer, e não se esqueça de que nós dois falamos farsi e que eu conheço Hussein! Entendeu? — Pavoud balançou a cabeça humildemente. Lochart inclinou-se e apanhou a lista, enfiando-a no bolso do homem. — Sente-se ali! — Ele apontou para uma cadeira num canto, depois enxugou o suor das mãos e ligou o VHF, apanhando o microfone.
— Kowiss chamando os helicópteros que estão vindo de Bandar Delam, estão me ouvindo? — Lochart esperou, depois repetiu o chamado. Depois disse: — Torre, aqui é a base, está me ouvindo?
Depois de uma pausa, ouviu-se uma voz cansada, com sotaque carregado:
— Sim, estamos ouvindo.
— Nós estamos esperando quatro helicópteros que vêm de Bandar Delam e que estão equipados apenas com VHF. Eu vou decolar para tentar me comunicar com eles. Estaremos fora do ar até eu voltar, certo?
— Certo.
Lochart desligou. Do HF veio:
— Kowiss, aqui é Teerã, está me ouvindo? Lochart perguntou:
— E quanto a ele? — Os dois olharam para Pavoud, quase se encolheu na cadeira.
A dor que Wazari estava sentindo atrás dos olhos era a pior que já havia sentido. Eu vou ter que matar Pavoud, esta é a única maneira de provar a Lochart que estou do lado dele.
— Eu trato dele — disse e se levantou.
— Não — atalhou Lochart. — Pavoud, você vai tirar o resto do dia de folga. Você vai descer as escadas, dizer aos outros que está doente e vai para casa. Não vai dizer mais nada e vai sair imediatamente. Nós podemos vê-lo e ouvi-lo daqui. Se você nos trair, por Deus, você e todos os homens desta lista serão traídos também.
— O senhor jura... que... o senhor jura que não vai contar a ninguém?
— Saia e vá para casa! E é a sua cabeça que está em perigo, não a nossa! Ande, saia logo! — Eles ficaram olhando o homem sair cambaleando. E quando o viram pedalando a sua bicicleta pela estrada em direção à cidade, sentiram-se um pouco melhor.
— Nós deveríamos tê-lo matado, capitão. Eu o teria feito.
— Deste jeito é tão seguro quanto... e, bem, matá-lo não resolveria nada. — Nem me ajudaria com Xarazade, pensou.
Mais uma vez no HF:
— Kowiss, aqui é Bandar Delam, está me ouvindo?
— Não é seguro deixar estes filhos da mãe transmitindo, capitão. A torre vai ouvi-los, por mais ineficientes e destreinados que sejam.