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— Como você se sente hoje?

— Muito bem, nem um pouco enjoada. Meshang fez uma cara azeda.

— Zarah ficava enjoada o tempo todo e desanimada, não como uma mulher normal. Vamos esperar que você seja normal, mas você é tão magra... Insha'Allah.

As duas mulheres forçaram um sorriso, disfarçando o seu ódio, compreendendo-se mutuamente.

— Pobre Zarah — disse Xarazade. — Como foi a sua manhã, Meshang? Deve ser muito difícil para você, com tanto o que fazer, com tantas pessoas para tomar conta.

— É difícil porque eu estou cercado de imbecis, querida irmã. Se eu tivesse uma equipe eficiente, treinada como eu sou, seria tudo muito fácil. — E muito mais fácil se você não tivesse enrolado o meu pai, fracassado com o seu primeiro marido e nos desgraçado com a sua escolha do segundo. Você tem me causado tantos aborrecimentos, querida irmã, com o seu rosto e corpo de tuberculosa e a sua burrice, eu que tenho trabalhado tanto para salvá-la de si mesma. Deus queira que os meus esforços tenham sido bem-sucedidos!

— Deve ser muito duro para você, Meshang, eu não saberia nem por onde começar — Zarah estava dizendo e pensava: é simples dirigir os negócios desde que se saiba onde estão as chaves, as contas bancárias, os papéis dos devedores e todos os esqueletos. Vocês não querem que nós tenhamos igualdade nem direito a voto porque nós os atiraríamos na sarjeta e conseguiríamos os melhores empregos.

O horisht de carneiro e o arroz dourado estavam deliciosos, temperados e perfumados como ele gostava e ele comeu com gosto. Não devo comer demais, disse a si mesmo. Não quero ficar muito cansado antes de me encontrar com a pequena Yasmin hoje à tarde. Eu nunca imaginei que uma zinaat pudesse ser tão suculenta nem que houvesse lábios tão cobiçosos. Se ela engravidar, eu me casarei com ela e Zarah que vá para o inferno.

Ele olhou para a mulher. Imediatamente ela parou de comer, sorriu para ele e entregou-lhe um guardanapo para limpar os vestígios de gordura da sua barba.

— Obrigado — ele disse educadamente e mais uma vez se concentrou no seu prato. Depois de possuir Yasmin, ele estava pensando, eu posso dormir uma hora e então voltar ao trabalho. Gostaria que aquele filho de um cão do Kia já estivesse de volta, nós temos muito que conversar, muito que planejar. E Xarazade...

— Meshang, querido, você ouviu o boato de que os generais decidiram dar um golpe e que o exército já está preparado para assumir o controle? — perguntou Zarah.

— É claro, o bazar inteiro está falando nisso. — Meshang sentiu uma pontada de ansiedade. Ele tinha se garantido da melhor forma possível caso isso acontecesse. — O filho de Mohammed, o ourives, jura que o seu primo, que é telefonista no QG do Exército, ouviu um dos generais dizer que eles esperaram para dar tempo a uma força-tarefa americana se organizar, e que esta será apoiada por um desembarque aéreo.

As duas mulheres ficaram chocadas.

— Pára-quedistas? Então nós devemos partir imediatamente, Meshang

— disse Zarah. — Não será seguro ficar em Teerã, é melhor nós irmos para a nossa casa no Cáspio e esperar que a guerra termine. Quando você poderia partir? Eu vou começar a arrumar as malas imediatamente.

— Que casa no Cáspio! Nós não temos nenhuma casa no Cáspio! — Meshang disse, irritado. — Ela não foi confiscada junto com todas as outras propriedades que nós levamos anos e anos para adquirir? Que Deus amaldiçoe aqueles ladrões, depois de tudo o que fizemos pela revolução e pelos mulás ao longo de gerações. — Ele estava vermelho de raiva. Um pouco de horish escorreu-lhe pela barba. — E agora...

— Perdoe-me, você tem razão, Meshang querido, você tem razão como sempre. Perdoe-me, eu falei sem pensar. Você está certo, mas se quiser, eu posso ficar na casa do meu tio, aga Madri, ele tem uma propriedade desocupada na costa, nós poderíamos partir amanhã...

— Amanhã? Não seja ridícula! Você acha que eu não vou ser avisado com antecedência? — Meshang limpou a barba, um tanto aborrecido com as humildes desculpas dela, e Xarazade pensou na sorte que tivera com os seus dois maridos, que nunca a maltrataram nem gritaram com ela. Fico imaginando se Tommy estará bem em Kowiss ou seja lá onde estiver. Pobre Tommy, imagine se eu poderia abandonar a minha casa e a minha família e me exilar para sempre.

— É claro que nós, bazaris, seremos avisados — Meshang tornou a dizer.

— Nós não somos nenhuns cabeças-ocas.

— Sim, sim, é claro, Meshang querido — Zarah disse apaziguadoramente.

— Sinto muito, eu estava só preocupada com a sua segurança e queria estar preparada. — Por pior que ele seja, ela pensou, fervendo por dentro, é a nossa única defesa contra os mulás e os seus Faixas Verdes. — Você acredita que o golpe será consumado?

— Insha'Allah — ele disse e arrotou. De qualquer maneira, eu estarei preparado, com a ajuda de Deus. Seja como for, ganhe quem ganhar, eles vão precisar dos bazaris. Sempre precisaram e sempre precisarão. Nós podemos ser tão modernos quanto qualquer estrangeiro, e mais espertos, alguns de nós podem, e eu com toda a certeza. Filho de um cão do Paknouri, que ele e os antepassados dele queimem no fogo do inferno por nos colocar em perigo! O Cáspio! O tio dela, Madri é uma boa idéia, uma idéia perfeita. Eu mesmo teria pensado nisto com o tempo. Zarah pode estar gasta e ter uma zinaat tão seca quanto a poeira do verão, mas ela é uma boa mãe e os seus conselhos, se você esquecer o seu mau humor, são sempre sábios.

— Outro boato é que o nosso glorioso ex-primeiro-ministro, Bakhtiar, ainda está escondido em Teerã, sob a proteção e o teto do seu velho amigo e colega, o primeiro-ministro Bazargan.

Zarah ficou estarrecida.

— Se os Faixas Verdes o pegarem...

Bazargan não vale mais nada. É uma pena. Ninguém o obedece mais, ninguém nem mesmo o ouve. O Komiteh Revolucionário os executaria a ambos, se eles fossem apanhados.

Xarazade estava tremendo.

— Jari disse que ouviu um boato no mercado esta manhã de que Sua Excelência Bazargan já havia pedido demissão.

— Isto não é verdade — Meshang disse rispidamente, contando um outro boato como se fosse uma informação particular. — Um amigo meu, que é íntimo de Bazargan, me contou que ele ofereceu sua demissão a Khomeini, mas que o imã a recusou, dizendo para ele ficar onde está. — Ele estendeu o prato para Zarah servi-lo. — Chega de horish, um pouco mais de arroz.

Ela lhe deu a parte tostada e ele começou a comer de novo, já com o estômago cheio. O boato mais interessante de hoje, cochichado de orelha em orelha, foi que o imã estava à beira da morte ou por causas naturais ou envenenado pelos comunistas do Tudeh ou pelos mujhadins ou pela CIA e, ainda pior, que as legiões soviéticas estavam esperando do outro lado da fronteira, prontas para marchar novamente sobre o Azerbeijão e sobre Teerã assim que ele estivesse morto.

Só haverá morte e destruição se isto for verdade, ele pensou. Não, isto não vai acontecer, não pode acontecer. Os americanos jamais permitirão que os soviéticos dominem o Irã, não podem deixar que eles assumam o controle de Ormuz — até Carter pode ver isto! Não. Vamos torcer para que só a primeira parte seja verdade — que o imã vá bem depressa para o paraíso.

— Seja como Deus quiser — ele disse, piedosamente, depois fez sinal para os criados saírem e, quando ficaram a sós, dirigiu-se à irmã. — Xarazade, o seu divórcio já está acertado, só faltam algumas formalidades.

— Oh — ela disse, pondo-se em guarda imediatamente, odiando o irmão por perturbar a sua calma, fazendo o seu cérebro fervilhar: eu não quero o divórcio, Meshang poderia facilmente ter-nos dado dinheiro das contas da Suíça e não ter sido tão mau para com o meu Tommy e então nós poderíamos ter partido. Não seja tola, você não poderia partir sem documentos e se exilar, e Tommy abandonou-a, a decisão foi dele. Sim, mas Tommy disse que seria só por um mês, não disse? Ele disse que esperaria um mês. Em um mês muita coisa pode acontecer.