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Imediatamente, Changiz tinha sido chamado pelo Faixa Verde de serviço, que já tinha levado o telex para Hussein e o komiteh. O komiteh estava em sessão na base, dando prosseguimento à investigação acerca da confiabilidade islâmica de todos os soldados e oficiais, e dos crimes cometidos contra Deus em nome do xá. Changiz ficou enjoado.O komiteh era impiedoso. Ninguém que havia sido pró-xá tinha escapado. E embora ele fosse o comandante, indicado pelo komiteh com a aprovação de Hussein, o seu nome ainda não havia sido confirmado pelo todo-poderoso Komiteh Revolucionário. Até isto acontecer, Changiz sabia que estava sob julgamento. E ele não tinha feito um juramento de fidelidade ao xá, pessoalmente, assim como todos os outros membros das Forças Armadas?

Na torre, ele viu Hussein olhando para o equipamento.

— O senhor sabe operar os rádios, coronel? — perguntou o mulá, com

suas roupas velhas, mas limpas, o turbante branco recém-lavado mas também velho.

— Não, Excelência, foi por isso que mandei chamar Borgali.

O cabo Borgali subiu as escadas de dois em dois degraus e se apresentou.

— UHF e HF — ordenou o coronel.

— Sim senhor — Borgali ligou os aparelhos. Nada. Checou-os rapidamente e encontrou o cristal quebrado e viu que estava faltando o disjuntor do VHF. — Desculpe, senhor, mas este equipamento não está funcionando.

— Você quer dizer que foi sabotado? — Hussein perguntou em voz baixa e olhou para Changiz.

Changiz perdeu a fala. Que Deus castigue todos os estrangeiros, ele estava pensando, cheio de desespero. Se foi uma sabotagem deliberada... então isto prova que eles fugiram e levaram os nossos helicópteros. Aquele cão do McIver devia estar sabendo de tudo quando eu falei com ele sobre o 125.

Um arrepio gelado percorreu-o. Não havia mais nenhum 125 agora, nem rota de fuga, nem chance de tomar Lochart ou qualquer um dos outros pilotos como refém num ataque forjado, e depois ajudar o homem secretamente a 'escapar da prisão' em troca de um lugar no avião para si mesmo — caso isso fosse necessário. Ele sentiu uma contração nas entranhas. E se o komiteh descobrir que minha mulher e minha família já estão em Bagdá, e não em Abadan, onde a minha pobre mãe está 'morrendo'? Os demônios que povoavam os seus pesadelos estavam sempre zombando dele, gritando a verdade: "Que mãe? A sua mãe está morta há sete ou oito anos! Você está planejando fugir, você é culpado de crimes contra Deus e o Irã e a revolução..."

— Coronel — Hussein disse com uma voz aterradora —, se os rádios foram sabotados, isto significa que o capitão Lochart não está procurando os outros helicópteros, mas sim que fugiu junto com o outro, e que McIver mentiu ao dizer que tinha mandado os 212 para cá, não?

— Sim... sim, Excelência, e...

— E então isto também significa que eles escaparam ilegalmente e levaram dois helicópteros daqui ilegalmente, sem falar nos quatro de Bandar Delam, não?

— Sim, sim, isto também é verdade.

— Seja como Deus quiser, mas o senhor é responsável.

— Mas Excelência, o senhor deve compreender que seria impossível prever uma operação secreta, ilegal, como... — Ele compreendeu o olhar do outro e calou-se.

— Então o senhor foi enganado?

— Os estrangeiros são uns filhos da mãe que mentem e fingem o tempo todo... — Changiz parou, tendo uma idéia. Ele agarrou o telefone e praguejou ao ver que este não estava funcionando. Num tom de voz diferente, ele disse rapidamente: — Excelência, um 212 não pode atravessar o golfo sem ser reabastecido, não é possível, e McIver vai ter que reabastecer o seu aparelho também para conseguir chegar até Teerã com Kia. Ele vai ter que reabastecer também, então nós poderemos apanhá-lo. — Para Borgali ele disse: — Depressa, volte para a torre e descubra onde o 206 que partiu para Teerã com o ministro Kia vai pousar para reabastecer. Diga ao oficial de serviço para alertar a base e prender o piloto, deter o helicóptero e mandar o ministro para Teerã... por terra. — Ele olhou para Hussein. — O senhor concorda, Excelência? — Hussein fez um sinal afirmativo com a cabeça. — Ótimo. Vá depressa!

O cabo saiu correndo pelas escadas.

Estava frio na torre e ventando. Uma pancada de chuva sacudiu as janelas por um instante e depois passou. Hussein não prestou atenção, com os olhos fixos em Changiz.

— Nós vamos agarrar aquele cão, Excelência. O ministro Kia vai nos agradecer.

Hussein não sorriu. Ele já tinha providenciado um komiteh de recepção para Kia no aeroporto de Teerã, e se Kia não conseguisse explicar o seu estranho comportamento, dentro em breve o governo estaria livre de um ministro corrupto.

— Talvez o ministro Kia faça parte da conspiração e esteja fugindo do Irã com McIver, o senhor já pensou nisso, coronel?

O coronel ficou boquiaberto.

— O ministro Kia, o senhor acha mesmo?

— O que o senhor acha?

— Por Deus, é... é possível, se o senhor acha que sim... — Changiz respondeu cautelosamente, tentando manter-se bem alerta. — Eu nunca tinha visto aquele homem na minha vida. O senhor deve saber melhor do que eu, Excelência, a respeito de Kia, o senhor o interrogou diante do komiteh. — E o isentou de culpa, pensou satisfeito. — Quando agarrarmos McIver, poderemos usá-lo como refém para trazer os outros de volta, nós vamos apanhá-lo, Excelência...

Hussein viu o medo no rosto do coronel e imaginou que culpas o homem carregaria, será que o coronel também fazia parte do plano de fuga que tinha se tornado tão óbvio para ele desde que havia interrogado Starke na véspera e McIver naquela manhã?

E se tinha se tornado tão óbvio — ele imaginou um superior religioso perguntando — por que você o manteve em segredo e não o evitou?

— Por causa de Starke, Eminência. Porque eu acredito sinceramente que aquele homem, embora seja um infiel, é um instrumento de Deus e um protegido de Deus. Por três vezes ele evitou que as forças do mal me concedessem a paz do paraíso. Por causa dele, os meus olhos se abriram para a vontade de Deus, eu compreendi que não devo mais buscar o martírio, e sim permanecer na terra para me tornar um flagelo incansável para os inimigos de Deus e do imã, para os inimigos do Islã e os seus inimigos.

— Mas e os outros? Por que permitiu que eles escapassem?

— O Islã não precisa nem de estrangeiros nem de seus helicópteros. Se o Irã precisar de helicópteros, há mais de mil em Isfahan.

Hussein não tinha a menor dúvida de que estava certo, tão certo quanto este coronel vira-casaca pró-xá, pró-americanos, estava errado.

— Então, coronel, e quanto aos dois 212, o senhor vai pegá-los também? Como?

Changiz foi até o mapa da parede, perfeitamente consciente de que, embora todos dois tivessem sido enganados, ele era o comandante e o responsável caso o mulá quisesse responsabilizá-lo. Mas não se esqueça de que este é o mulá que fez um acordo com o coronel Peshadi na noite do primeiro ataque à base, este é o mesmo homem que fez amizade com o americano Starke e aquele maníaco de Abadan, Zataki. E eu não sou um defensor do imã e da revolução? Eu não entreguei a base aos soldados de Deus?

Insha'Allah. Concentre-se nos estrangeiros. Se você conseguir agarrá-los, nem que seja só um, você estará a salvo deste mulá e dos seus Faixas Verdes.

Havia várias rotas de vôo marcadas no mapa, de Kowiss para diversos campos de petróleo e plataformas situadas no golfo.

— Aquele cão lá do escritório falou em peças que estavam sendo transportadas para Abu Sal — ele murmurou. Agora, se eu fosse eles, onde desceria para reabastecer? Ele apontou para as plataformas. — Numa dessas, Excelência — ele disse, cheio de excitação. — Era aqui que eu desceria.

— As plataformas têm reservas de combustível?

— Oh, sim, para o caso de uma emergência.