McIver forçou-se a raciocinar com clareza: Você é o líder. Decida. Nós estamos horrivelmente atrasados. Tom tomou esta decisão depois de tudo o que eu disse a ele. É um direito dele. Sinto muito, mas isto significa que ele está por conta dele. Agora pense nos outros. Erikki tem que estar bem. Rudi e Scragger e os rapazes estão a salvo, vamos presumir que estejam, então entre no 212 e comece a segunda parte da viagem.
Ele teve vontade de gemer alto, a idéia de ter que conduzir um 212 até o Kuwait voando baixo por mais uma ou duas horas quase acabou com ele.
— Maldição — resmungou. Os outros ainda estavam olhando para ele. E esperando. — Tom vai voltar para apanhar a esposa dele, vamos deixá-lo sozinho.
— Mas se ele for apanhado, isto não arruinará a operação? — Ayre perguntou.
— Não. Tom está por conta própria. Você ouviu o que ele disse. Nós vamos partir para o Kuwait conforme o combinado. Todo mundo para o 212 de Ayre. Eu levo o de Lochart. Vamos embora e voaremos baixo e perto um do outro. Silêncio de rádio até estarmos bem longe da fronteira. — McIver dirigiu-se para o outro 212. Os outros se entreolharam, inquietos. Todos ele tinham notado a palidez dele e todos sabiam que ele não tinha uma licença médica.
Kyle, o mecânico baixinho, foi atrás dele.
— Mac, não há sentido em voar sozinho, eu vou com você.
— Não, obrigado. Todo mundo na máquina de Freddy! Andem, vamos logo!
— Mac, eu vou falar com Tom — disse Ayre. — Ele deve estar louco, eu vou convencê-lo a ir para o Kuw...
— Você não vai fazer isso. Se fosse com Genny, eu estaria do mesmo jeito. Todos a bordo! — Neste momento, o som de dois caças a jato a baixa altitude, ultrapassando a barreira do som, encheu a praia. E deixaram um enorme silêncio atrás deles.
— Jesus — Wazari estremeceu. — Capitão, se o senhor não se importar, eu posso voar com o senhor?
— Não, todo mundo com Freddy, eu prefiro voar sozinho.
— A sua falta de licença não faz nenhuma diferença para mim. — Wazari deu de ombros. — Insha 'Allah! Eu fico tomando conta do rádio. — E fez um sinal em direção ao céu. — Aqueles filhos da mãe não falam inglês. — Ele entrou no 212 e se sentou no assento da esquerda.
— É uma boa idéia, Mac — disse Ayre.
— Está bem. Nós vamos voar baixo e juntos como planejamos. Freddy, se um de nós tiver problemas, o outro continua — Vendo o olhar de Ayre, ele acrescentou: — Qualquer tipo de problema. — Lançando um último olhar a Lochart, McIver acenou e subiu a bordo. Ele estava muito contente por não estar sozinho. — Obrigado — disse a Wazari. — Eu não sei o que vai acontecer no Kuwait, sargento, mas ajudarei no que puder. — Ele fechou o cinto e ligou o motor Número Um.
— Claro. Obrigado. Droga, eu não tenho nada a perder; minha cabeça está explodindo, eu já tomei todas as aspirinas que havia... O que houve com Kia?
McIver ajustou o volume dos seus fones, ligou o motor Número Dois, verificando os tanques de combustível e os instrumentos enquanto falava.
— Eu tive que fazer o pouso de emergência um pouco mais tarde do que tinha planejado. Pousei cerca de um quilômetro de uma aldeia, mas correu tudo bem, bem demais, o cretino desmaiou e então eu não consegui retirá-lo da cabine. Ele ficou preso no assento e os cintos dos ombros se embaralharam e eu não pude soltá-los. Eu não tinha nem uma faca para cortar as alças. Tentei de todas as maneiras, mas o fecho tinha enguiçado, então desisti e esperei que ele voltasse a si. Enquanto esperava, retirei a bagagem dele e coloquei-a perto da estrada, num lugar onde ele pudesse encontrá-la. Quando ele voltou a si, eu tive um trabalhão para convencê-lo a sair da cabine. — Os dedos experientes de McIver iam de um botão a outro. — No fim, eu fingi que tínhamos um incêndio a bordo e saltei, deixando-o lá dentro. Isto resolveu o problema, ele deu um jeito de abrir o cinto e saiu correndo. Eu tinha deixado os motores ligados, foi muito perigoso, mas eu tive que arriscar, e assim que ele saiu, eu voltei correndo e fui embora. Bati numa ou duas pedras, mas não tive maiores problemas...
O seu coração estava disparado, a garganta seca com aquela partida frenética, Kia agarrando-se à maçaneta da porta, aos berros, pendurado, com um dos pés no esqui, McIver com medo de ser obrigado a pousar novamente. Felizmente, Kia perdeu a coragem e pulou para o chão e então McIver foi embora. Ele deu uma volta para ver se Kia estava bem. A última coisa que viu foi Kia agitando os punhos enfurecido. Então ele tinha se dirigido para a costa, colado às copas das árvores e às rochas. E embora estivesse a salvo, seu coração continuou disparado. Ondas de náusea e calor começaram a percorrer seu corpo.
E só a tensão das últimas semanas, ele tinha dito a si mesmo. A tensão e o esforço para tirar aquele idiota da cabine, somados à preocupação com o Turbilhão e ao medo que senti ao ser interrogado por aquele mulá.
Depois de deixar Kia, ele tinha continuado a voar por algum tempo. Dificuldade de concentração. A dor aumentando. Os controles pouco familiares. Um espasmo de náusea e ele quase perdeu o controle, então resolveu pousar e descansar um pouco. Ele ainda estava no sopé das montanhas, coberto de rochas, árvores e neve, o teto baixo e não tão carregado. Tonto de náusea, ele escolheu o primeiro platô e desceu. O pouso não foi bom e isso o assustou mais ainda. Ali perto havia um riacho, parcialmente gelado, com a água espumando ao descer pelas pedras. Ele foi atraído pela água. Com muita dor, desligou os motores, foi tropeçando até lá, deitou-se na neve e bebeu bastante água. O choque do frio o fez vomitar e quando o espasmo passou, ele limpou a boca e tornou a beber. Isto e o ar frio o fizeram sentir-se melhor. Um punhado de neve esfregado na nuca e nas têmporas fez com que ele se sentisse ainda melhor. Aos poucos a dor diminuiu e a dormência no braço esquerdo passou. Ao sentir-se melhor, ele se levantou e, cambaleando um pouco, voltou para a cabine e atirou-se no assento.
A sua cabine estava quente, agradável e familiar — aconchegante. Automaticamente, ele prendeu o cinto de segurança. O silêncio encheu os seus ouvidos e a sua cabeça. Só o barulho do vento e da água, nem motores, nem tráfego, nem estática, nada além da suavidade da água e do vento. Paz. Suas pálpebras estavam pesadas. Ele fechou os olhos e dormiu.
Ele dormiu profundamente por cerca de meia hora. Quando acordou, sentiu-se revigorado — nem dor, nem desconforto, só um pouco tonto, como se tivesse sonhado com a dor. Ele se espreguiçou. Então ouviu um barulhinho de metal. Ele olhou em volta. Montado num pequeno pônei das montanhas, observando-o silenciosamente, havia um rapaz, um nativo. Ele trazia um rifle pendurado na sela e outro nas costas, junto com um cinturão de balas.
Os dois ficaram olhando um para o outro, então o rapaz sorriu e o platô pareceu iluminar-se.
— Salaam, aga.
— Salaam, Aga. — MacIver também sorriu, surpreso por não sentir medo algum, a beleza selvagem do rapaz deixando-o à vontade. — Loftan befarma'idshoma ki hastid? — Ele usou uma das poucas frases que sabia: Posso perguntar quem é você?
— Aga Mohammed Rud Kahani — e então algumas palavras que McIver não entendeu e ele tornou a sorrir e disse: — Kash kai.
— Ah, kash'kai. — McIver balançou a cabeça, compreendendo que o rapaz pertencia a uma das tribos nômades que se espalhavam pelas montanhas Zagros. Ele apontou para si mesmo. — Aga McIver — e disse outra frase: Mota assefan, man zaban-e shoma ra khoob nami danan. — Desculpe, eu não falo a sua língua.
— Insha'Allah. América?
— Inglês. — Ele estava observando a si mesmo e ao outro homem. Helicóptero e cavalo, piloto e nativo, um abismo entre eles, mas nenhuma ameaça de um para o outro. — Sinto muito, mas preciso ir embora — ele disse em inglês, então fez um gesto indicando voar. — Khoda haefez, até logo, aga Mohammed Kash'kai.
O rapaz balançou a cabeça e ergueu a mão numa despedida.