— Khoda haefez, Agha. — Depois afastou-se com o seu cavalo e ficou lá, observando-o. Quando os motores estavam com toda a força, McIver acenou e partiu. Ele foi pensando no rapaz durante toda a viagem. O rapaz não tinha nenhum motivo para não atirar em mim. Nem para atirar. Será que eu sonhei com ele e com a dor? Não, eu não sonhei com a dor. Será que eu tive um ataque cardíaco?
Agora, pronto para partir para o Kuwait, ele encarou a questão pela primeira vez. A inquietação voltou e ele olhou para Wazari, que estava olhando desconsoladamente para o mar, pela janela lateral. Até que ponto eu represento um perigo agora? Ele perguntou a si mesmo. Se eu tive um ataque, mesmo que fraco, posso ter outro, então será que estou arriscando a vida dele e a minha? Acho que não. Eu só tenho a pressão alta e isto está sob controle, eu tomo duas pílulas por dia e não há problema. Eu não posso largar um 212 só porque Tom ficou maluco. Eu estou cansado mas estou bem, e o Kuwait fica apenas a duas horas de vôo. Eu estaria mais satisfeito se não tivesse que pilotar. Meu Deus, eu nunca imaginei que um dia fosse sentir isso. O velho Scragger pode continuar pilotando, mas eu nunca mais vou querer saber disso.
Ele estava prestando atenção ao barulho dos motores. Estão prontos para decolar agora, não há necessidade de checar os instrumentos. Através dos pingos de chuva do pára-brisa ele viu Ayre erguer o polegar, também pronto. Lá na praia, ele podia ver Lochart no 206. Pobre Tom. Aposto que está torcendo para nós irmos logo, louco para reabastecer e correr para o norte, atrás de um outro destino. Espero que ele consiga, pelo menos vai ter um vento favorável.
— Posso ligar o VHF? — perguntou Wazari, distraindo-o. — Vou sintonizá-lo nas freqüências militares.
— Ótimo. — McIver sorriu para Wazari, satisfeito com a companhia dele.
Ouviu o barulho de estática nos fones, depois vozes falando em farsi. Wazari escutou um pouco, depois falou com voz rouca:
— São os caças falando com Kowiss. Um deles disse: "Em nome de Deus, como vamos encontrar dois helicópteros nesta poça de merda?"
— Eles não vão encontrar se depender de mim. — McIver tentou mostrar-se confiante. Ele atraiu a atenção de Ayre, apontou para cima, indicando os caças e fez um sinal de quem corta a garganta. Então apontou para o golfo mais uma vez e ergueu o polegar. Deu uma olhada no relógio: 14:21h. — Aqui vamos nós, sargento — ele disse e acelerou ao máximo — próxima parada o Kuwait. Eta 16:40h aproximadamente.
NO AEROPORTO DO KUWAIT: 14:56H. Genny e Charlie Pettikin estavam sentados no restaurante ao ar livre do último andar do terminal recém-inaugurado. Estava um dia lindo, ensolarado, e lá eles estavam abrigados do vento. As toalhas e os guarda-sóis eram de um amarelo brilhante, todo mundo comia e bebia com prazer. Exceto eles. Genny mal havia tocado na sua salada, Pettikin tinha só beliscado o seu arroz com curry.
— Charlie — Genny disse subitamente — acho que vou tomar um martíni de vodca afinal.
— Boa idéia — Pettikin chamou o garçom e fez o pedido. Ele gostaria de acompanhá-la, mas estava esperando substituir ou se revesar com Lochart e Ayre no próximo trecho até a ilha Jellet, pelo menos mais uma parada para reabastecer, talvez duas, antes de chegar a Al Shargaz. Maldito vento. — Não vai demorar muito agora, Genny.
Oh, pelo amor de Deus, quantas vezes você vai repetir isto, Genny teve vontade de gritar, doente de tanto esperar. Estoicamente, ela continuou a manter uma aparência de tranqüilidade.
— É, agora falta pouco, Charlie. — Eles olharam na direção do mar. A visibilidade estava ruim, o horizonte coberto de névoa, mas eles seriam informados assim que os helicópteros entrassem no radar do Kuwait. O representante da Imperial Air estava esperando na torre.
Como medir o tempo? Ela perguntou a si mesma, tentando enxergar através da neblina, com toda a sua energia se derramando, buscando Duncan, enviando preces e esperança e forças que ele poderia estar precisando. A informação que Gavallan tinha dado naquela manhã não havia ajudado:
— Por que motivo ele está levando Kia, Andy? De volta para Teerã? O que significa isto?
— Eu não sei, Genny. Estou repetindo o que ele disse. A nossa interpretação é que Freddy foi enviado primeiro para o ponto de encontro. Mac decolou com Kia. Ou ele vai levá-lo para o ponto de encontro ou vai deixá-lo no caminho. Tom vai segurar as pontas por algum tempo, para dar aos outros tempo para se afastar, depois ele vai para o ponto de encontro. Nós recebemos o primeiro chamado de Mac às 10:42h. Digamos que ele e Freddy tenham decolado às 11 horas. Vamos dar-lhe mais uma hora para chegar ao ponto de encontro e reabastecer, vamos acrescentar duas horas e meia de vôo e eles devem chegar ao Kuwait por volta das 14:30h. Dependendo de quanto tempo tiverem que esperar no ponto de encontro, podem chegar a qualquer hora a partir das 14:30h.
Ela viu o garçom trazendo o seu drinque. Na bandeja havia um telefone sem fio.
— Telefone para o senhor, capitão Pettikin — disse o garçom, enquanto colocava o copo na frente dela.
Pettikin levantou a antena e atendeu.
— Alô? Oh, alô, Andy. Ela observou o rosto dele.
— Não, não, ainda não... Oh?... — Ele ouviu atentamente durante algum tempo, respondendo de vez em quando, sem demonstrar nada, e ela imaginou o que Gavallan estaria dizendo que ela não devia ouvir. — Sim, claro... sim, está tudo sob controle... Sim, sim, ela está aqui, está bem, um momento. — Ele passou o telefone para ela. — Quer falar com você.
— Alô, Andy, o que há de novo?
— Estou só dando notícias, Genny. Não se preocupe com Mac e os outros, não se pode dizer quanto tempo eles tiveram que esperar no ponto de encontro.
— Eu estou bem, Andy. Não se preocupe comigo. E quanto aos outros?
— Rudi, Pop Kelly e Sandor estão a caminho daqui. Eles reabasteceram em Abu Dhabi e nós estamos em contato com eles. John Hogg é o nosso retransmissor. Eles estão sendo esperados dentro de vinte minutos. Scrag está bem, Ed e Willi sem problemas, Duke está dormindo e Manuela está aqui. Ela quer falar com você. — Ela ouviu a voz de Manuela.
— Oi, querida, como vai? E não me diga que vai muito bem
Genny sorriu.
— Muito bem. Duke está bem?
— Está dormindo como um bebê, não que os bebês durmam quietinhos o tempo todo. Só queria que você soubesse que nós também estamos ansiosos. Vou passar para Andy.
Uma pausa e então:
— Alô, Genny, Johnny Hogg vai entrar na sua área em pouco tempo e também vai ficar na escuta, Nós manteremos contato com você. Posso falar outra vez com Charlie, por favor?
— É claro, mas e quanto a Marc Dubois e Fowler? Uma pausa.
— Nada ainda. Nós estamos com esperança de que eles tenham sido resgatados. Rudi, Sandor e Pop refizeram parte do caminho e procuraram o mais que puderam. Não havia nenhum sinal de destroços e há um bocado de navios nessas águas, além de plataformas. Nós achamos que eles devem estar bem.
— Agora conte-me o que Charlie deve saber e eu não. — Ela franziu a testa com o silêncio do outro lado da linha, depois ouviu Gavallan suspirar.
— Você é esperta demais para mim, Genny. Está bem, eu perguntei a Charlie se tinha chegado aí algum telex do Irã, como o que recebemos aqui em Dubai e em Bahrain. Eu estou tentando puxar todas as cordas possíveis através de Newbury e da nossa embaixada no Kuwait no caso de alguma complicação, embora Newbury diga que eu não deva esperar muito, uma vez que o Kuwait está perto demais do Irã, não quer desagradar a Khomeini e está apavorado que ele mande alguns fundamentalistas para cá para açular os xiitas do Kuwait. Eu disse a Charlie que estou tentando comunicar-me com os pais de Ross no Nepal e com seu regimento. Isto foi tudo. — E numa voz mais genticlass="underline" — Eu não queria preocupá-la mais do que o necessário. Certo?
— Sim, obrigada. Sim, eu... eu estou bem. Obrigada, Andy. — Ela passou o fone para Charlie e olhou para o seu copo. Haviam-se formado gotículas na superfície. Algumas estavam escorrendo. Como as lágrimas no meu rosto, ela pensou e levantou-se. — Volto num segundo.