— O senhor vai destruir o quartel-general dos esquerdistas mujhadins esta noite?
— Sim, Alteza. — Agora que temos a sua permissão e a sua garantia de que não haverá repercussões junto ao Tudeh, ele teve vontade de acrescentar, mas não o fez. Não seja estúpido! Este rapaz não tem três caras como o cão do Abdullah, que ele queime no fogo do inferno. Este é mais fácil de se lidar, desde que você tenha mais cartas do que ele e não tenha medo de mostrar as garras quando necessário. — Seria uma pena se o capitão não estivesse disponível para... para ser interrogado esta noite.
Os olhos de Hakim estreitaram-se com aquela ameaça desnecessária. Como se eu não entendesse, seu filho de um cão grosseiro.
— Eu concordo. — Houve uma batida na porta. — Entre. Azadeh entrou.
— Desculpe interrompê-lo, Alteza, mas o senhor pediu-me para lembrá-lo meia hora antes da hora de ir para o hospital tirar as radiografias. Saudações, que a paz esteja com o senhor, coronel.
— E que a paz de Deus esteja com a senhora, Alteza. — Fico contente de que toda esta beleza vá ter que ser coberta com o chador em breve, estava pensando Hashemi. Ela poderia tentar o próprio Satã, quanto mais os analfabetos sujos do Irã. Ele tornou a olhar para o khan. — Eu já vou, Alteza.
— Por favor, volte às sete, coronel. Se eu tiver alguma notícia antes disso, mando chamá-lo.
— Obrigado, Alteza.
Ela fechou a porta atrás dele.
— Como você está se sentindo, Hakim querido?
— Cansado. E com muita dor.
— Eu também. Você tem que ver o coronel mais tarde?
— Sim. Isso não tem importância. Como vai Erikki?
— Está dormindo. — Ela estava feliz. — Nós temos tanta sorte, nós três.
NA CIDADE DE TABRIZ: 16:06H. Robert Armstrong checou a sua pequena automática, com o rosto fechado.
— O que você vai fazer? — perguntou Henley, sem gostar nem um pouco do revólver. Ele também era inglês, mas muito menor, tinha um bigode espetado e usava óculos. Estava sentado atrás da escrivaninha no escritório sujo e desarrumado, debaixo de um retrato da rainha Elizabeth.
— É melhor você não perguntar isso. Mas não se preocupe, eu sou um tira, lembra-se? Isto é só para o caso de algum bandido resolver acabar comigo. Você pode transmitir a mensagem para Yokkonen?
— Não posso ir ao palácio sem ser convidado, que desculpa eu daria? — Henley levantou as sobrancelhas. — Acha que posso dizer para Hakim Khan: Sinto muito, meu velho, mas quero falar com o seu cunhado a respeito da possibilidade de retirar um amigo do Irã no seu helicóptero. — A sua jovialidade desapareceu. — Você está completamente enganado a respeito do coronel, Robert. Não há nenhuma prova de que ele seja responsável pelo que aconteceu com Talbot.
— Mesmo que você tivesse uma prova, não o admitiria — disse Armstrong, zangado consigo mesmo por ter explodido quando Henley lhe contou a respeito do 'acidente'. Mais uma vez a sua voz endureceu. — Por que diabos você esperou até hoje para me contar que tinham acabado com Talbot? Pelo amor de Deus, isso aconteceu há dois dias.
— Eu não decido a política, apenas transmito as mensagens, e de qualquer maneira nós acabamos de saber. Além disso, foi difícil encontrá-lo. Todo mundo pensou que você tivesse partido, a última vez que você foi visto estava a bordo de um avião britânico, indo para Al Shargaz. Droga, você recebeu ordens de partir há uma semana e ainda está aqui, que eu saiba não está em nenhuma missão, e não importa o que você tenha decidido fazer, não o faça, queira por gentileza dar o fora do Irã porque se você for apanhado e eles o puserem no terceiro nível, muita gente vai ficar uma fera.
— Vou tentar não desapontá-los. — Armstrong levantou-se e vestiu sua velha capa com gola de pele. — Vejo-o em breve.
— Quando?
— Quando eu quiser. — Armstrong fechou a cara. — Não estou sob a sua autoridade e o que eu faço ou deixo de fazer não lhe interessa. Providencie apenas para que meu relatório fique guardado no cofre até que você tenha uma mala diplomática para enviá-lo com urgência a Londres, e fique com a sua maldita boca fechada.
— Geralmente você não é tão rude nem tão sensível. Que diabo está acontecendo, Robert?
Armstrong virou-se e desceu as escadas, saindo para a friagem da rua. Estava nublado e prometia nevar de novo. Ele desceu a rua apinhada de gente. Transeuntes e vendedores fingiam não notá-lo, presumindo que ele fosse soviético, e tratavam de cuidar da própria vida. Embora estivesse atento para ver se estava sendo seguido, sua mente estava imaginando como lidaria com Hashemi. Não havia tempo para consultar os seus superiores, e nem ele realmente queria fazer isso. Eles teriam sacudido as cabeças:
— Meu Deus, o nosso velho amigo Hashemi? Despachá-lo sob suspeita dele ter liquidado com Talbot? Primeiro nós precisaríamos de provas...
Mas nunca haverá nenhuma prova e eles não acreditariam na existência das equipes Grupo Quatro e nem que Hashemi está se imaginando um moderno Hassan ibn al-Sabbah. Mas eu sei. Hashemi não estava radiante por ter assassinado o general Janan? Agora ele tem peixes mais graúdos para fisgar. Como Pahmudi. Ou todo o Komiteh Revolucionário, sejam eles quem forem — fico me perguntando se ele já os pegou? Será que ele iria atrás do próprio imã? É impossível saber. Mas de uma maneira ou de outra, ele vai pagar pelo velho Talbot — depois de apanharmos Petr Oleg Mzytryk. Sem Hashemi eu não tenho nenhuma chance de apanhá-lo, e através dele, os malditos traidores que nós todos sabemos que estão operando lá em cima em Whitehall, os patrões de Philby, o quarto, o quinto e o sexto homem — no Gabinete, no M15 ou no M16. Ou em todos três.
Estava com dor de cabeça de tanta raiva. Tantos homens bons traídos. O toque da sua automática agradou-lhe. Primeiro Mzytryk, pensou, depois Hashemi. Só falta decidir quando e onde.
BAHRAIN — NO AEROPORTO INTERNACIONAL: 16:24H. Jean-Luc estava falando no telefone no escritório de Matias.
— ...Não, Andy, não temos nenhuma notícia. — Ele olhou para Matias que ouviu e baixou os polegares sombriamente.
— Charlie está fora de si — estava dizendo Gavallan. — Eu acabei de falar com ele pelo telefone. É terrível, mas não podemos fazer nada a não ser esperar. A mesma coisa com relação a Dubois e Fowler. — Jean-Luc pôde perceber o cansaço na voz de Gavallan.
— Dubois vai aparecer, afinal de contas ele é francês. Por falar nisso, eu disse a Charlie que se... quando — corrigiu apressadamente — quando Tom Lochart e Freddy Ayre pousarem, diga a eles para reabastecerem os aparelhos em Jellet ao invés de virem para cá, a menos que haja uma emergência. Matias levou pessoalmente o combustível de reserva para Jellet, portanto sabemos que está lá. Andy, é melhor você ligar para Charlie e usar a sua autoridade porque Bahrain pode endurecer e eu não quero arriscar um outro confronto. A advertência deles foi clara, quer estejamos voando com registro britânico ou não. Eu ainda não sei como conseguimos livrar Rudi, Sandor e Pop. Tenho certeza de que eles vão apreender qualquer aparelho com registro iraniano, bem como as tripulações, e da próxima vez vão verificar a pintura e os papéis.
— Está bem, eu vou falar com ele imediatamente. Jean-Luc, não há nenhum motivo para você voltar para Al Shargaz; por que não vai diretamente para Londres amanhã e depois para Aberdeen? Eu vou mandá-lo para o mar do Norte até estarmos com tudo resolvido, está bem?
— Boa idéia. Eu me apresentarei em Aberdeen na segunda-feira — Jean-Luc disse rapidamente, pensando no fim-de-semana livre. Mon Dieu, eu mereço isso, pensou, e mudou de assunto rapidamente para não dar tempo a Gavallan de argumentar. — Rudi já chegou?
— Sim, são e salvo. Todos três estão aqui. E também Vossi e Willi. Scrag está bem. Erikki está fora de perigo. Duke está melhorando devagar... Se não fosse por Dubois e Fowler, Mac, Tom e o grupo deles... Aleluia! Eu tenho que ir, até logo.