— Au revoir. — E disse para Matias: — Merde, fui designado para o mar do Norte.
— Merde.
— Qual é o número da Alitalia!
— E 22134. Porquê?
— Mesmo que eu tenha que invocar o próprio papa, vou estar no primeiro vôo para Roma amanhã, com conexão para Nice. Preciso de Marie-Christine, das crianças e de uma comida decente. Espéce de con, o mar do Norte! — Preocupado, ele olhou para o relógio. — Espéce de con esta espera! Onde estão os nossos pássaros de Kowiss, onde?
KUWAIT - AO LARGO DA COSTA: 16:31H. A luz vermelha do combustível acendeu. McIver e Wazari viram-na ao mesmo tempo e ambos praguejaram.
— Quanto ainda temos, capitão?
— Com este maldito vento, não muito. — Ele estava apenas uns três metros acima das ondas.
— Quanto ainda falta para chegarmos?
— Não muito. — McIver estava exausto e sentia-se muito mal. O vento chegara a cerca de trinta e cinco nós e ele estava poupando o 212, tentando fazer o combustível render, mas não havia muito o que pudesse fazer naquela altitude. A visibilidade ainda estava fraca, e as nuvens menos densas à medida que se aproximavam da costa. Ele olhou pela janela, para Ayre, apontou para o painel e baixou os polegares. Ayre balançou a cabeça. A sua luz vermelha ainda não havia aparecido. Mas naquele momento ela acendeu.
— Maldição — Kyle, o mecânico de Ayre, disse: — Nós estaremos voando em campo aberto dentro de poucos minutos e seremos um alvo fácil.
— Não se preocupe. Se Mac não chamar logo o Kuwait, eu o farei. — Ayre espiou para cima, achou que tinha visto dois caças, mas eram apenas gaivotas. — Cristo, por um momento...
— Aqueles filhos da mãe não teriam coragem de nos seguir até aqui, teriam?
— Não sei. — Eles estavam brincando de esconder com dois caças desde que haviam saído da costa. Próximo a Kharg, esgueirando-se através da chuva e da neblina, sem variar a altura sobre as ondas, ele e McIver tinham sido localizados:
— Aqui é o controle de Kharg. Helicópteros voando ilegalmente no rumo 275, subam para trezentos e mantenham-se lá. Subam para trezentos e mantenham-se lá.
Por um momento, eles ficaram em estado de choque, então McIver fez sinal a Ayre para segui-lo, fez uma curva de noventa graus para o norte, afastando-se de Kharg, e desceu ainda mais. Em poucos minutos os seus fones encheram-se com as vozes dos pilotos dos caças, falando em farsi com o controle da Força Aérea.
— Eles estão sendo informados das nossas coordenadas, capitão — disse Wazari. — Ordens para preparar os foguetes... agora estão comunicando que os foguetes já estão armados...
— Aqui é Kharg! Helicópteros ilegais no curso 270, subam para trezentos e mantenham-se lá. Se não obedecerem, serão interceptados e abatidos; eu repito, serão interceptados e abatidos.
McIver soltou os comandos e esfregou o peito, sentindo a dor de voltar, depois manteve o curso enquanto Wazari traduzia trechos do que estava sendo dito:
— ...o líder está dizendo sigam-me... agora o atirador diz que os foguetes estão armados... como eles vão encontrar os helicópteros no meio de toda essa merda de neblina... diz: eu estou diminuindo a velocidade... não queremos errar... o controlador de terra está dizendo: confirme se os foguetes estão armados, confirme destruição. Jesus, eles estão confirmando foguetes armados e em rota de colisão conosco.
Então os dois caças tinham saído da neblina em direção a eles, mas à direita e vinte metros acima e então passaram por eles e desapareceram.
— Cristo, será que eles nos viram?
— Jesus, capitão, não sei, mas esses filhos da mãe carregam sensores de calor.
O coração de McIver estava disparado quando ele fez um sinal para Ayre e ficou parado no ar, logo acima das ondas, para despistar os caças.
— Conte-me o que eles estão dizendo, Wazari, pelo amor de Deus!
— Os pilotos estão xingando... estão comunicando que estão a duzentos, duzentos nós... um deles está dizendo que não há nenhum buraco no colchão de nuvens e que o teto está a cerca de cento e cinqüenta... que é difícil enxergar a superfície... o controlador está dizendo para eles seguirem para a fronteira e se colocarem entre ela e os piratas... Jesus, piratas? Fiquem entre eles e o Kuwait, vejam se as nuvens estão menos densas... mantenham-se emboscados em cem...
O que fazer? McIver estava perguntando a si mesmo. Nós poderíamos nos desviar do Kuwait e seguir direto para Jellet. Não adianta. Com este vento jamais conseguiríamos. Não podemos voltar. Então é mesmo o Kuwait e rezar para despistá-los.
Na fronteira, as nuvens foram suficientes para escondê-los. Mas os caças estavam à espreita em algum lugar, esperando por uma brecha, ou que as nuvens ficassem menos densas ou que suas presas achassem que estavam a salvo e subissem para a altura regulamentar de aproximação. O canal militar estava mudo já há um quarto de hora. Agora eles podiam ouvir os controladores do Kuwait.
— Vou cortar um motor para economizar combustível — disse McIver.
— O senhor quer que eu chame o Kuwait, comandante?
— Não, eu farei isso. Num minuto. É melhor você voltar para a cabine e ficar preparado para se esconder. Veja se pode encontrar algum colete salva-vidas, há alguns no armário. Use uma roupa inteiriça. Jogue fora o seu uniforme e fique com um colete à mão. Wazari ficou branco.
— Nós vamos descer no mar?
— Não, é só camuflagem, caso sejamos inspecionados — mentiu McIver, não esperando conseguir chegar até a costa. Sua voz estava calma e sua cabeça também, embora as pernas estivessem pesadas como chumbo.
— Qual é o plano quando pousarmos, comandante?
— Vamos ter que dançar conforme a música. Você tem algum documento?
— Só as minhas licenças de operador, americana e iraniana. Ambas dizem que eu pertenço à Força Aérea do Irã.
— Fique escondido, eu não sei o que vai acontecer... mas vamos ter esperança.
— Comandante, nós deveríamos subir, não há necessidade de abusarmos da sorte — disse Wazari. — Já ultrapassamos a fronteira, estamos a salvo agora.
McIver olhou para cima. A neblina e as nuvens estavam menos densas, agora eles estavam quase totalmente desprotegidos. A luz vermelha pareceu encher o seu horizonte. É melhor subir, hein? Wazari tem razão, não há necessidade de abusarmos da sorte, pensou.
— Nós só estaremos a salvo quando estivermos no chão — disse alto. — Você sabe disso.
NA TORRE DO AEROPORTO DO KUWAIT: 16:38H. A sala estava com a equipe completa. Alguns controladores britânicos, outros kuwaitianos. O melhor equipamento moderno. Telex, telefones e eficiência. A porta se abriu e Charlie Pettikin entrou.
— O senhor mandou me chamar? — perguntou ansiosamente ao controlador de plantão, um irlandês rechonchudo, usando um jogo de fones com um pequeno microfone pendurado e uma única peça de ouvido.
— Sim, capitão Pettikin — o homem disse secamente e, imediatamente, a ansiedade de Pettikin aumentou. — O meu nome é Sweeney, olhe! — Ele usou o lápis para apontar. Na periferia da sua tela, na linha dos trinta quilômetros, havia uma luzinha. — Isto é um helicóptero, talvez dois. Ele ou eles acabaram de aparecer, ainda não se comunicaram. Disseram-me que o senhor está esperando dois helicópteros britânicos em trânsito, não é verdade?
— Sim — disse Pettikin, com vontade de gritar de alegria pelo fato de um deles ou os dois terem aparecido no sistema — eles deviam estar vindo para Kuwait neste curso — e ao mesmo tempo dolorosamente consciente de que ainda faltava muito para eles estarem em segurança. — Está correto — disse, rezando.
— Talvez não sejam os seus, afinal, pois este curso que eles estão usando é um bocado estranho, vindos do leste, já que estão em trânsito do Reino Unido. — Pettikin não disse nada. — Caso eles sejam os seus, qual seria o registro deles?