O desconforto de Pettikin aumentou. Se ele fornecesse os registros britânicos e os helicópteros fornecessem os registros iranianos — como legalmente seriam obrigados a fazer — estariam todos encrencados. As letras verdadeiras teriam forçosamente que ser vistas da torre quando os helicópteros se aproximassem para pousar — não havia como os controladores deixarem de vê-las. Mas se ele desse a Sweeney os registros iranianos... isso arruinaria a operação Turbilhão. O filho da mãe está tentando me pegar, pensou, sentindo um grande vazio por dentro.
— Sinto muito — disse humildemente —, eu não sei. O nosso serviço de documentação não é dos melhores. Desculpe.
O telefone da escrivaninha tocou. Sweeney atendeu.
— Ah, sim, sim, comandante?... sim, não... no momento não... achamos que são dois... sim, sim, eu concordo... não, está bom agora. Desaparece de vez em quando... sim, muito bem. — Desligou, tornando a concentrar-se na tela.
Inquieto, Pettikin tornou a olhar para a tela. A luzinha parecia estar parada.
Então Sweeney trocou para alcance máximo e a tela abrangeu uma extensão maior para o interior do golfo, a oeste em direção aos poucos quilômetros até a fronteira do Kuwait com o Iraque, a nordeste em direção à fronteira Irã-Iraque, ambas muito próximas.
— O nosso sistema de longo alcance esteve enguiçado por algum tempo ou nós os teríamos visto antes, agora está ótimo, graças a Deus. Há um bocado de bases de combate ali — disse distraidamente, indicando com o lápis o lado iraniano da fronteira do Shatt-al-Arab na direção de Abadan. Então moveu o lápis na direção do golfo, traçando uma linha entre Kowiss e Kuwait e parou na luzinha. — Estes são os seus helicópteros, caso haja dois, e caso sejam os seus. — Ele moveu a ponta do lápis um pouco para o norte, para dois pontos que se deslocavam rapidamente. — Caças. Não são nossos. Mas estão na nossa área. — E levantou os olhos para Pettikin que ficou gelado. — Não autorizados e portanto hostis.
— O que eles estão fazendo? — perguntou, agora certo de que estava sendo testado.
— É isto que nós gostaríamos de saber, e muito. — A voz de Sweeney não era nada amigável. Com o lápis, ele indicou dois outros pontos, saindo da faixa militar do Kuwait. — Estes são nossos, vão dar uma olhada. — Ele emprestou um fone de reserva para Pettikin e ligou o transmissor. — Aqui é o Kuwait. Helicóptero ou helicópteros aproximando-se a 274 graus, qual o seu registro e a sua altitude?
Estática. O chamado foi repetido pacientemente. Então Pettikin reconheceu a voz de McIver.
— Kuwait, aqui é o helicóptero... aqui é o helicóptero Boston Tango e o helicóptero Hotel Echo, em trânsito para Al Shargaz, passando de duzentos para duzentos e cinqüenta. — McIver tinha dado apenas as duas últimas letras do registro iraniano em vez de todas as letras exigidas na primeira chamada, incluindo o prefixo EP para Irã.
Surpreendentemente, Sweeney aceitou a chamada:
— Helicópteros Bosto. Tango e Hotel Echo comuniquem-se no momento de pousar. — E Pettikin viu que ele estava distraído, concentrado nos dois pontos hostis que agora se aproximavam rapidamente dos helicópteros, seguindo-os com o lápis na tela. — Eles estão rentes — murmurou. — Quinze quilômetros a leste.
A voz de McIver soou nos fones:
— Kuwait, por favor confirme pouso. Solicitamos aproximação direta, estamos com pouco combustível.
— Aproximação direta aprovada, comunique momento de pouso.
Pettikin percebeu a dureza da voz e quase deu um gemido. Sweeney começou a cantarolar. O controlador-chefe, um kuwaitiano, levantou-se da sua mesa e aproximou-se deles.
Eles observaram o sinal deixando um desenho da terra e os pontinhos de luz à sua passagem, vendo-os não como pontos luminosos, mas como dois caças hostis e dois interceptadores do Kuwait ainda muito longe, com dois helicópteros indefesos entre eles. Mais perto. Os hostis estavam quase fundidos com os helicópteros agora. Então eles se afastaram em direção ao golfo. Por um momento, os três homens prenderam a respiração. Foguetes levam algum tempo para alcançar o alvo. Os segundos se passaram. Os sinais dos helicópteros permaneceram na tela. Os dos interceptores do Kuwait também, aproximando-se dos helicópteros, e depois eles também se afastaram. Sweeney trocou para a freqüência deles e escutou a conversa em árabe. Ele olhou para o controlador-chefe e falou com ele em árabe. O homem disse:
— Insha'Allah — cumprimentou Pettikin com a cabeça e saiu da sala.
— Os nossos interceptadores comunicaram que não viram nada — Sweeney disse a Pettikin com uma voz neutra. — Exceto dois helicópteros 212. Eles não viram nada. — Ele voltou para a faixa regular, com aviões se apresentando e sendo orientados para pouso e decolagem, depois mudou o radar para um alcance menor. Agora os helicópteros estavam separados em dois sinais, ainda longe da costa. A aproximação deles parecia terrivelmente lenta em comparação com os traços dos jatos que chegavam e partiam.
A voz de McIver se fez ouvir:
— Pan pan pan! Kuwait, aqui falam os helicópteros BT e HE, pan pan pan, as nossas luzes vermelhas estão acesas, os tanques vazios, pan pan pan.
— Era a chamada de emergência que ficava um grau abaixo de Mayday.
— Permissão para pousar no heliporto de Messali Beach, bem à sua frente, perto do hotel. Vamos avisá-los e enviaremos combustível. Está me ouvindo? — perguntou Sweeney.
— Roger, Kuwait, obrigado. Eu conheço o hotel. Por favor, informe ao capitão Pettikin.
— Certo, informarei imediatamente. — Sweeney telefonou e pôs de sobreaviso o helicóptero de resgate para o caso de uma decolagem repentina, mandou um carro de bombeiros para o hotel e depois estendeu a mão para apanhar o fone que tinha emprestado a Pettikin, olhou para a porta e fez sinal para ele chegar mais perto. — Agora ouça — falou baixinho, com raiva. — É você quem vai encontrá-los e reabastecê-los e fazê-los passar pela Alfândega e pela Imigração — se puder — e fazê-los dar o fora do Kuwait o mais depressa possível ou vocês, eles e os seus amigos "importantes" irão todos para a cadeia! Mãe Santíssima, como vocês tiveram a coragem de pôr em risco o Kuwait com essas suas aventuras malucas contra aqueles fanáticos do Irã, obrigando homens honestos a arriscarem os seus empregos por vocês. Se um dos seus helicópteros tivesse sido abatido... foi uma sorte danada não ter havido um incidente internacional. — Ele pôs a mão no bolso e de lá tirou um papel que enfiou na mão de Pettikin, que ficou paralisado de susto.
Sweeney deu-lhe as costas e tornou a pegar o telefone. Pettikin saiu com as pernas bambas. A uma distância segura, ele olhou o papel. Era um telex. O telex. De Teerã. Não era uma fotocópia. Era o original.
Deus do céu! Será que Sweeney o interceptou e o guardou para nós? Mas ele não disse: ...fazê-lo passar pela Alfândega e pela Imigração — se puder?
HOTEL MESSALIBEACH: O pequeno caminhão de combustível, com Genny e Pettikin a bordo, saiu da estrada e entrou nos amplos jardins do hotel, com os esguichos ligados. O heliporto ficava bem à esquerda do enorme estacionamento. Já havia um carro de bombeiros lá, esperando. Genny e Pettikin saltaram, Pettikin com um walkie-talkie de ondas curtas, ambos examinando o céu na direção do mar.
— Charlie, você está pegando alguma coisa?
Eles podiam ouvir o barulho dos motores, mas ainda não os viam, até que de repente:
— Dois por cinco, Charlie... — Ruídos de estática. — ...mas eu.. Freddy, você desce no heliporto, eu vou descer do lado... — Mais estática.
— Lá estão eles! — gritou Genny. Os 212 saíram do meio da neblina a cerca de duzentos metros. — Oh, Deus, ajude-os...
— Estamos vendo vocês, Mac, há um carro de bombeiros aqui, não há problema. — Mas Pettikin sabia que eles estavam numa grande enrascada, não havia possibilidades de trocar as letras com tantas pessoas olhando. Um dos motores falhou e tossiu, mas eles não puderam saber de qual dos helicópteros. Outra tossida.