— Qual é o problema?
— Você é o problema. Turbilhão é o problema. Eu deixei muito claro que a operação não era aconselhável. Como ela está indo?
— Acabei de saber que os dois Kowiss chegaram em segurança no Kuwait e partiram para Bahrain sem problemas, isto significa nove em dez, se incluirmos o de Erikki em Tabriz. Dubois e Fowler ainda não apareceram, mas n5s estamos torcendo. Agora, qual é o problema, Roger?
— O golfo está em palvorosa, com Teerã pondo a boca no mundo e todos os nossos escritórios em alerta. O meu Líder Destemido e este seu criado, Roger Newbury, estão convidados a comparecer ao gabinete do ilustre ministro do Exterior, às sete e meia, para explicar a súbita afluência de helicópteros com registros britânicos aqui, e para informar quanto tempo eles pretendem ficar. — Newbury, um homem pequeno e magro, com cabelos cor de areia, olhos azuis e um nariz proeminente, estava visivelmente irritado. — Fico satisfeito com os nove em dez, você quer um drinque?
— Obrigado. Um uísque com soda. Newbury foi preparar.
— O meu Líder Destemido e eu ficaríamos encantados se você nos sugerisse o que dizer.
Gavallan pensou por um momento.
— Os helicópteros sairão daqui assim que conseguirmos embarcá-los nos aviões de carga.
— E quando vai ser isso? — Newbury entregou-lhe o drinque.
— Obrigado. Os aviões de carga estão prometidos para domingo, por volta das 18 horas. Nós vamos trabalhar a noite inteira e os despacharemos na segunda-feira de manhã.
Newbury ficou alarmado.
— Você não pode tirá-los daqui antes disso?
— Os aviões foram encomendados para amanhã, mas me deixaram na mão. Por quê?
— Porque, meu velho, há poucos minutos atrás nós recebemos uma informação amável, de alta fonte, de que caso os helicópteros não estejam mais aqui amanhã ao anoitecer, talvez eles não sejam apreendidos.
Agora foi a vez de Gavallan levar um choque.
— Isso não é possível. Não pode ser feito.
— Eu estou sugerindo que seria prudente que você tornasse isso possível. Leve-os para Omã ou Dubai ou qualquer outro lugar.
— Se fizermos isso... se fizermos isso, ficaremos mais encrencados ainda.
— Não acho que você possa ficar mais encrencado do que já está, meu velho. Da forma como nos passaram esta informação, amanhã ao anoitecer você vai estar encrencado até o pescoço. — Newbury brincou com o seu drinque, uma batida de limão. Que droga tudo isso, ele estava pensando. Enquanto somos obrigados a ajudar a salvar os nossos interesses comerciais da catástrofe do Irã, temos que pensar tanto a longo prazo como a curto prazo. Não podemos pôr em risco o governo de Sua Majestade. Além disso, meu fim-de-semana está arruinado. Eu deveria estar tomando um gostoso aperitivo de vodca com Angela e aqui estou eu, me aborrecendo. — Você vai ter que retirá-los.
— Você não pode nos conseguir um adiantamento de 48 horas, explicar Que os aviões de carga foram contratados mas que só pode ser no domingo?
— Eu não ousaria sugerir isto, Andy. Isto seria admitir a nossa culpa.
— Você poderia nos conseguir uma licença de trânsito de 48 horas para Omã?
Newbury fez uma careta.
— Vou perguntar ao chefe, mas não poderemos sondá-los até amanhã, agora é tarde demais, e o meu palpite é que o pedido será negado. O Irã tem uma força considerável lá, afinal de contas eles realmente ajudaram a derrotar os rebeldes comunistas apoiados pelo Iemen. Duvido que eles concordem em ofender um grande amigo, por mais que a atual linha fundamentalista os desagrade.
Gavallan estava se sentindo mal.
— É melhor eu ver se consigo trazer os meus aviões de carga ou tentar uma outra alternativa. Eu diria que tenho uma chance em cinqüenta. — Ele terminou o drinque e se levantou. — Sinto muito por tudo isto.
Newbury também se levantou.
— Sinto muito não poder ajudar mais — disse, genuinamente aborrecido. — Mantenha-me informado e eu farei o mesmo.
— É claro. Você disse que talvez pudesse mandar uma mensagem para o capitão Yokkonen em Tabriz?
— Posso tentar. O que é?
— Só que eu mandei dizer que ele deve, ahn, partir o mais cedo possível, pelo caminho mais curto. Por favor, assine GHPLX Gavallan.
Sem fazer nenhum comentário, Newbury tomou nota da mensagem.
— GHPLX?
— Sim. — Gavallan tinha certeza de que Erikki entenderia que este era o novo registro britânico. — Ele não está a par de certos acontecimentos, então, se o seu homem pudesse também falar com ele em particular e explicar o motivo de tanta pressa, eu ficaria muito agradecido. Obrigado pela sua ajuda.
— Para o seu bem, e o dele, eu concordo que quanto mais cedo ele partir melhor, com ou sem o helicóptero. Não há nada que possamos fazer para ajudá-lo. Sinto muito, mas esta é a verdade. — Newbury brincou com o copo. — Ele agora representa um enorme perigo para você. Não?
— Eu acho que não. Ele está sob a proteção do novo khan, cunhado dele. Ele está bastante seguro — disse Gavallan. O que Newbury diria se soubesse sobre Tom Lochart? — Erikki vai ficar bem, ele vai entender. Mais uma vez obrigado.
TABRIZ — NO HOSPITAL INTERNACIONAL: 18:24H. Hakim Khan caminhou penosamente para o quarto particular, seguido por um médico e por um guarda. Ele estava usando muletas e estas faziam com que andasse com mais facilidade, mas quando se inclinava ou tentava sentar, elas não lhe aliviavam a dor. Isto só os analgésicos conseguiam fazer. Azadeh estava esperando lá embaixo, seu raio-X fora melhor do que o dele, e ela sentia menos dor.
Ahmed estava deitado na cama, acordado, com o peito e o estômago envolto em ataduras. A operação para remover a bala alojada no seu peito tinha sido bem-sucedida. A do estômago fizera muitos estragos, ele perdera muito sangue e a hemorragia interna tinha recomeçado. Mas quando ele viu Hakim tentou levantar-se.
— Não se mexa, Ahmed — disse Hakim, com bondade. — O médico me disse que você está se recuperando bem.
— O médico é um mentiroso, Alteza.
O médico começou a falar, mas parou quando Hakim disse:
— Mentiroso ou não, fique bom, Ahmed.
— Sim, Alteza, com a ajuda de Deus. Mas e o senhor, o senhor está bem?
— Se o raio-X não tiver mentido, eu estou apenas com uma rotura de ligamentos. — E deu de ombros. — Com a ajuda de Deus.
— Obrigado... Obrigado pelo quarto particular, Alteza. Eu nunca tive tanto conforto.
— Isto é apenas uma prova do meu reconhecimento por tanta lealdade. — Com um gesto imperioso, ele mandou que o guarda e o médico saíssem. Depois que a porta foi fechada, ele chegou mais perto. — Você pediu para me ver, Ahmed?
— Sim. Alteza, por favor, desculpe-me por não ter podido... não ter podido ir até o senhor. — A voz de Ahmed estava fraca e ele falava com dificuldade. — O homem de Tbilisi que o senhor quer... o soviético... ele mandou uma mensagem para o senhor. Está... está debaixo da gaveta... ele a prendeu aqui debaixo da gaveta. — Com esforço ele apontou para uma pequena cômoda.
A excitação de Hakim cresceu. Ele enfiou a mão por baixo da gaveta. As ataduras que o envolviam não deixavam que ele se inclinasse direito. Encontrou o papelzinho dobrado e retirou-o com facilidade.
— Quem trouxe isto e quando?
— Foi hoje... não sei a que horas... Não tenho certeza, acho que foi esta tarde. Não sei. O homem estava usando um jaleco de médico e óculos,
mas não era um médico. Era um azerbeidjano, talvez um turco, eu nunca o tinha visto antes. Ele falou em turco, e tudo o que disse foi: "Isto é para Hakim Khan, de um amigo de Tbilisi. Compreendeu?" Eu disse que sim e ele saiu tão depressa quanto tinha entrado. Por algum tempo achei que fora um sonho...