Выбрать главу

É só isso, pensou, é só uma medida, não o suficiente para perdoar as matanças ou o perigo que eu represento. Então que seja. Foi assim que os deuses me fizeram e é assim que eu sou. Sim, mas e quanto a Ross e Azadeh? E por que ela guarda o kookri tão perto dela:

— Foi o presente dele para você, Erikki, para você e para mim. - Traz má sorte dar uma faca a um homem sem receber dinheiro em troca, na mesma hora, só como um símbolo. Quando eu o vir, vou lhe dar algum dinheiro e aceitar o presente.

Mais uma vez ele apertou o botão de arranque. Mais uma vez o motor pegou, tossiu e morreu. E quanto a Ross e Azadeh?

Ele se sentou na porta da cabine e olhou para o céu. O céu não lhe deu nenhuma resposta. Nem o pôr-do-sol. O sol estava se pondo e havia nuvens ameaçadoras. Os chamados dos muezins começaram. Os guardas do portão viraram-se de frente para Meca e se prostraram; assim como os que estavam dentro do palácio e os que estavam trabalhando nos campos, na fábrica de tapetes e nos abrigos de ovelhas.

Inconscientemente, sua mão se dirigiu para a faca. Inconscientemente, seus olhos verificaram se a metralhadora ainda estava ao lado do assento do piloto e carregada. Havia outras armas escondidas na cabine, armas tiradas dos nativos. AK47s e M16s. Ele não se lembrava de tê-las tirado ou de tê-las escondido, descobrira-as esta manhã ao fazer a sua inspeção para ver os estragos e enquanto limpava o interior da cabine.

Com o curativo na orelha, ele não ouviu o carro que se aproximava até que este apareceu no portão. Os guardas do khan reconheceram os ocupantes e fizeram sinal para o carro passar. Este parou no enorme pátio, perto da fonte. Mais uma vez ele apertou o botão de arranque, e mais uma vez o motor pegou por um momento, sacudiu todo o aparelho e morreu.

— Boa noite, capitão — disseram os dois homens, Hashemi Fazir e Armstrong. — Como o senhor está se sentindo hoje? — perguntou o coronel.

— Boa noite. Se eu tiver sorte, dentro de mais ou menos uma semana estarei melhor do que nunca. — Erikki disse amavelmente, mas pondo-se em guarda.

— Os guardas disseram que Suas Altezas ainda não voltaram. O khan está nos esperando, nós viemos aqui a convite dele.

— Eles estão sendo radiografados no hospital. Eles saíram enquanto eu estava dormindo, não devem demorar. — Erikki observou-os. — Os senhores gostariam de um drinque? Há vodca, uísque e chá e, é claro, café.

— Obrigado, o que o senhor for tomar — disse Hashemi. — Como está o seu helicóptero?

— Mal — respondeu aborrecido. — Há uma hora que estou tentando fazê-lo pegar. Ele teve uma semana miserável. — Erikki foi na frente em direção aos degraus de mármore. — Estou precisando urgentemente de um mecânico. Nossa base está fechada, como vocês sabem, e eu tentei telefonar para Teerã, mas os telefones estão mudos de novo.

— Talvez eu possa lhe arranjar um mecânico, amanhã ou depois, da base aérea.

— Poderia mesmo, coronel? — O seu sorriso foi súbito e grato. — Isto ajudaria um bocado. E eu preciso de combustível, um tanque cheio. Seria possível?

— Você poderia voar até o campo de aviação?

— Eu não me arriscaria, mesmo que conseguisse fazer o motor pegar, seria perigoso demais. Não, eu não me arriscaria. — Erikki sacudiu a cabeça. — O mecânico vai ter que vir aqui. — Ele foi andando por um corredor comprido, abriu a porta que dava para o pequeno salão do andar térreo que Abdullah Khan reservara para convidados não-islâmicos. Era chamado Salão Europeu. O bar era bem sortido. Havia sempre gelo na geladeira, gelo feito com água fervida, soda e refrigerantes de todos os tipos, além de chocalate e halvah, que ele adorava.

— Eu vou tomar vodca — disse Erikki.

— O mesmo para mim, por favor — disse Armstrong. Hashemi pediu um refrigerante.

— Eu também vou tomar uma vodca depois que o sol terminar de se pôr.

— Os muezins ainda estavam chamando.

— Prosit! — Erikki tocou o seu copo no de Armstrong, educadamente fez o mesmo com Hashemi, e bebeu tudo de um só gole. Serviu-se de outra dose.

— Sirva-se, superintendente. — Ao ouvir um carro se aproximando, ele olhou pela janela. Era o rolls. — Dêem-me licença um minuto, vou dizer a Hakim Khan que os senhores estão aqui. — Erikki saiu e recebeu Azadeh e o irmão na escada. — O que foi que as radiografias mostraram?

— Nenhum sinal de ossos quebrados em nenhum de nós. — Azadeh estava contente, com o rosto descansado. — Como você está, meu querido?

— Muito bem. Que bom que não haja nenhuma fratura nas costas de vocês. Que maravilha! — O sorriso que deu para Hakim foi genuíno. — Estou muito contente. Você tem alguns convidados, o coronel e o superintendente Armstrong. Eu os levei para o Salão Europeu. — Erikki percebeu o cansaço de Hakim. — Quer que eu diga a eles para voltarem amanhã?

— Não, não, obrigado. Azadeh, quer dizer a eles que os verei dentro de 15 minutos, para eles ficarem à vontade? Vejo-os mais tarde, na hora do jantar.

— Hakim viu-a tocar em Erikki, sorrir e se afastar. Como eles tinham sorte em se amarem tanto, e como isso era triste para eles. — Erikki, Ahmed está morto, eu ainda não quis contar a Azadeh.

Erikki sentiu uma grande tristeza.

— É por minha culpa que ele está morto. Bayazid não lhe deu nenhuma chance. Matyeryebyets!

— Foi a vontade de Deus. Vamos entrar e conversar por um momento.

— Hakim foi até o Grande Salão, apoiando-se nas muletas. Os guardas ficaram na porta, fora do alcance da conversa. Hakim foi até um nicho, largou as muletas, virou-se de frente para Meca, gemeu de dor ao se ajoelhar e tentou orar. Mesmo fazendo força, ele não conseguiu e teve que se contentar em entoar o Shahada. — Erikki, me ajude aqui, por favor.

Erikki levantou-o com facilidade.

— É melhor você não fazer isto por uns dias.

— Não rezar? — Hakim olhou-o espantado.

— Quer dizer... talvez o único Deus possa entender se você rezar em pé, sem se ajoelhar. Se não você vai piorar as suas costas. O médico disse o que havia de errado?

— Ele acha que são ligamentos rompidos. Irei a Teerã assim que puder, com Azadeh, para consultar um especialista. — Erikki estendeu as muletas para Hakim. — Obrigado. — Depois de pensar por um momento, ele escolheu uma cadeira em lugar das almofadas e sentou-se, e depois pediu chá.

A mente de Erikki estava em Azadeh. Tão pouco tempo.

— O melhor especialista de coluna do mundo é Guy Deschamp, em Londres. Ele me consertou em cinco minutos, depois dos médicos terem dito que eu teria que ficar em tração por três meses ou ficaria com dois discos rompidos. Não acredite num médico comum sobre as suas costas, Hakim. O máximo que eles podem fazer é lhe dar analgésicos.

A porta se abriu. Um criado trouxe o chá. Hakim mandou-o sair junto com os guardas.

— Veja que eu não seja interrompido. — O chá estava quente, perfumado com hortelã, doce e servido em pequenas xícaras de prata. — Agora, nós precisamos decidir o que você vai fazer. Você não pode ficar aqui.

— Concordo — disse Erikki, satisfeito por ter terminado a espera. — Sei que eu sou... eu sou um problema para você como khan.

— Parte do acordo que eu e Azadeh fizemos com meu pai, para sermos perdoados e para que eu fosse declarado seu herdeiro, foram os juramentos que fizemos de permanecer em Tabriz, no Irã, por dois anos. Assim, embora você tenha que partir, ela não pode.

— Ela me contou sobre os juramentos.

— É óbvio que você está em perigo, até mesmo aqui. Eu não posso protegê-lo contra a polícia e contra o governo. Você deve partir imediatamente, voar para fora do país. Dentro de dois anos, quando Azadeh puder partir, ela irá.

— Não posso partir. Fazir disse que me mandaria um mecânico amanhã, possivelmente. E combustível. Se eu conseguisse falar com McIver em Teerã, ele poderia mandar alguém até aqui.