Выбрать главу

— A sua vida é aqui conosco, Aysha. Logo você vai ver como nós vamos ser felizes juntos. — disse Azadeh. A garota tem o direito de estar com medo, pensou. Hakim nunca vai ceder o khanato se tiver filhos. Ele tem que se casar agora, eu preciso ajudá-lo a encontrar uma boa esposa. Não se preocupe, Aysha.

— Preocupar-me? Você está em segurança agora, você que até poucos dias atrás vivia em terror. Agora eu não estou segura e vivo aterrorizada.

Azadeh analisou-a. Não havia nada que pudesse fazer por ela. A vida de Aysha estava decidida. Ela era a viúva de um khan. Ela ficaria no palácio, vigiada e guardada, vivendo o melhor que pudesse. Hakim não ousaria permitir que ela tornasse a se casar, e não poderia permitir que ela desistisse dos direitos do filho, garantidos pela vontade pública do marido moribundo. — Não se preocupe — disse.

— Olhe aqui — Aysha tirou um grande envelope pardo de baixo do seu chador. — Isto é seu.

— O que é isto? — As mãos de Azadeb estavam molhadas e ela não quis apanhar o envelope.

A garota abriu-o e mostrou-lhe o que tinha dentro. Azadeh arregalou os olhos. Seu passaporte, carteira de identidade, e outros documentos, de Erikki também, todas as coisas que tinham sido roubadas pelo mujhadin na barreira da estrada. Isto era realmente um pishkesh.

— Onde você conseguiu isso?

A garota estava certa de que ninguém estava escutando, mas ainda assim baixou a voz.

O mulá esquerdista, o mesmo mulá da aldeia, ele os entregou a Sua Alteza, Abdullah Khan, há duas semanas, quando você estava em Teerã... o mesmo mulá da aldeia.

Azadeh ficou olhando para ela sem acreditar.

— Como ele os conseguiu? Nervosamente, a garota deu de ombros.

— O mulá sabia sobre a barreira e sobre o que tinha acontecido lá. Ele veio aqui para tentar apanhar o... o seu marido. Sua Alteza... — Ela hesitou, depois continuou aos cochichos. — Sua Alteza disse a ele que não, só quando ele desse a sua aprovação, mandou-o embora e guardou os papéis.

— Você tem outros papéis, Aysha? Papéis particulares?

— Não que digam respeito a você, nem ao seu marido. — Mais uma vez a garota tremeu. — Sua Alteza odiava tanto vocês todos. Ele queria o seu marido destruído, depois ele ia entregá-la ao soviético, e o seu irmão ia ser assassinado. Há tanta coisa que eu sei e que poderia ajudar a você e a ele, e tanta coisa que eu não entendo. Azadeh, tome cuidado com ele, Azadeh.

— Sim — Azadeh disse lentamente. — Papai mandou o mulá para a aldeia?

— Eu não sei. Acho que sim. Eu o ouvi pedir ao soviético para acabar com Mahmud, ah, sim, este era o nome do falso mulá. Talvez Sua Alteza tenha-o mandado lá para atormentar você e o Sabotador, mandando-o também ao encontro da própria morte. Mas Deus interveio. Eu ouvi o soviético concordar em mandar alguns homens atrás desse Mahmud.

Azadeh perguntou como quem não quer nada:

— Como foi que você ouviu tudo isso?

Aysha segurou o chador e ajoelhou-se nervosamente na beirada da banheira.

— O palácio é uma colmeia de buracos feitos para se ouvir e se ver, Azadeh. Ele... Sua Alteza não confiava em ninguém, espionava todo mundo, até a mim. Eu acho que nós devíamos ser amigas, aliadas, você e eu, nós somos indefesas, até você, talvez você mais do que qualquer um de nós e a menos que nos ajudemos mutuamente estaremos perdidas. Eu posso ajudá-la, protegê-la. — Gotas de suor apareceram-lhe na testa. — Eu só peço que você proteja o meu filho, por favor. Eu posso proteger você.

— É claro que devemos ser amigas — disse Azadeh, sem acreditar que estivesse sob qualquer ameaça, mas curiosa de conhecer os segredos do palácio. — Você me mostra esses lugares secretos e divide comigo os seus conhecimentos?

— Oh, sim, sim. — O rosto da garota iluminou-se. Eu vou lhe mostrar tudo e estes dois anos passarão rapidamente. Oh, sim nós vamos ser amigas.

— Que dois anos?

— Enquanto seu marido estiver fora, Azadeh. Azadeh se levantou, alarmada.

— Ele vai embora? Aysha olhou-a espantada.

— É claro. Que mais ele pode fazer?

 

NO SALÃO EUROPEU: Hashemi estava entregando a Robert Armstrong a mensagem enviada por Mzytryk que Hakim acabara de mostrar a ele. Armstrong deu uma olhada nela:

— Sinto muito, Hashemi, mas não sei ler turco.

— Ah, desculpe, eu me esqueci. — Hashemi leu em inglês. Os dois homens viram a decepção de Armstrong. — Da próxima vez, Robert, nós o pegaremos, Insha’Allah.

Não tem importância, pensou Armstrong. Foi um tiro ao acaso, de qualquer maneira. Eu pego Mzytryk de outra vez. Eu vou pegá-lo e vou pegar você, meu velho amigo Hashemi, você fez muito mal em matar Talbot. Por que fez isso? Vingança, porque ele conhecia muitos dos seus segredos? Ele não lhe faria nenhum mal, pelo contrário, ele tirou muitos ossos do seu caminho e consertou um bocado de erros para você. Droga! Você não lhe deu nenhuma chance, então por que você deveria ter uma? Assim que eu tiver conseguido uma saída, você está frito. Não há nenhum motivo para adiar mais isso, agora que Mzytryk sabe que eu estou atrás dele e está debochando de mim lá onde ele está seguro. Talvez os chefões mandem a Divisão Especial ou uma equipe dos Serviços Aéreos Especiais para Tbilisi agora que sabemos onde ele está — alguém vai pegar o filho da mãe. Mesmo que eu não o faça... Ele foi atraído pelas palavras de Hakim:

— Coronel, o que significa isso, sobre Yazernov e o cemitério de Jaleh? — Hashemi respondeu prontamente:

— É um convite, Alteza. Yazernov é um intermediário que Mzytryk usa às vezes, aceito pelos dois lados, quando algo de importância para os dois lados precisa ser discutido.

Armstrong quase riu, pois Hashemi sabia tão bem quanto ele que se tratava de uma promessa de vingança pessoal e, evidentemente, de uma imediata Seção 16/a. Esperto da parte de Mzytryk usar o nome Yazernov e não Rakoczy.

— Assim que for conveniente encontrar Yazernov — disse Hashemi. — Eu acho, Alteza, que é melhor nós voltarmos para Teerã amanhã.

— Sim — concordou Hakim. Voltando do hospital de carro com Azadeh, ele tinha decidido que a única maneira de lidar com a mensagem de Mzytryk e com estes dois homens era cara a cara. — Quando vocês voltarão a Tabriz?

— Se estiver bem para o senhor, na semana que vem. Então nós poderemos discutir como atrair Mzytryk para cá. Com a sua ajuda, há muito a ser feito no Azerbeijão. Nós acabamos de receber um relatório comunicando que os curdos estão em rebelião perto de Rezaiyeh, agora bem providos de armas e dinheiro fornecidos pelo Iraque, que Deus os amaldiçoe. Khomeini ordenou ao Exército que acabasse com eles de uma vez por todas.

— Com os curdos? — Hakim sorriu. — Nem mesmo ele, que Deus o proteja, nem mesmo ele vai conseguir fazer isto, não de uma vez por todas.

— Talvez desta vez ele consiga, Alteza. Ele está enviando fanáticos para lutar contra fanáticos.

— Os Faixas Verdes podem obedecer ordens e morrer mas eles não habitam estas montanhas, eles não têm a resistência dos curdos nem o seu desejo pela liberdade na terra a caminho do paraíso.

— Com a sua permissão, eu comunicarei o seu conselho, Alteza. Hakim disse asperamente:

— Será que darão mais crédito a mim do que deram aos conselhos do meu pai, ou do meu avô, que foram os mesmos?

— Eu espero que sim, Alteza. Eu espero... — Suas palavras foram abafadas pelo barulho do 212 que foi ligado, pegou, tossiu, se agüentou por um momento e tornou a morrer. Pela janela, eles viram Erikki tirar a tampa de um dos motores e ficar olhando para o problema que havia lá dentro com um lanterna. Hashemi tornou a voltar-se para o khan que estava sentado numa cadeira, com as costas retas. O silêncio se tornou complicado, com as mentes de três homens trabalhando, todas igualmente poderosas, todas inclinadas para algum tipo de violência.