Haverá uma profunda mudança nas nossas vidas, tem que haver, além de perdermos o Irã e tudo o que tínhamos lá, um bocado de lixo, a maior parte não vai fazer falta. Agora que o Turbilhão acabou, eu devia estar louca ao sugeri-lo, mas como funcionou bem! Agora a maioria dos nossos rapazes já está fora de lá e em segurança. Não posso pensar em Tom nem em Marc nem em Fowler, Erikki, Azadeh e Xarazade, que Deus os abençoe, todos os nossos melhores equipamentos e portanto ainda estamos operando, a nossa parte na S-G tem que valer alguma coisa. Não vamos ficar sem um tostão e isto já é uma bênção. Imagino quanto faríamos com as nossas ações? Suponho que tenhamos uma participação. Mas e quanto ao "colapso da Bolsa"? Espero que isto não nos tenha prejudicado.
Seria bom ter um pouco de dinheiro, mas não me importo, contanto que Duncan fique bom. Talvez ele se aposente e talvez não. Eu não gostaria que ele se aposentasse, isto o mataria. Onde nós iríamos viver? Perto de Aberdeen? Ou em Edimburgo, perto de Sara e Trevor? Ou em Londres, perto de Hamish e Kathy? Em Londres não, é horrível, e nós não deveríamos morar muito perto de nenhum dos dois, não quero incomodá-los embora fosse bom poder visitá-los de vez em quando, ajudar com as crianças. Não quero ser uma sogra chata para Trevor nem para Kathy — uma garota tão bonita. Kathy, Kathleen, Kathy: Andrew e Kathy, e ir algumas vezes para o castelo Avisyard, e agora Andrew e Maureen e a pequena Electra. Eu não gostaria de ficar sozinha e não quero que Duncan...
Não quero reviver o horror, a escuridão, sem poder enxergar, com os jatos roncando, o fedor de petróleo — meu Deus, como é que eles agüentam o barulho e o balanço hora após hora — e o tempo todo Duncan sem ar, sem saber se ele estava vivo ou morto, gritando por duas vezes:' 'Ele está morto, ele está morto" — e ninguém ouvindo e ninguém para ajudar e o querido Charlie voando para cá o mais depressa que podia, o outro homem, o sargento iraniano, como era mesmo o nome dele, ah, sim, Wazari, Wazari simpático mas inútil. Oh, Deus, foi horrível, horrível, horrível, e durou uma eternidade... mas agora está tudo bem e graças a Deus eu estava lá. Duncan vai ficar bom. Vai ficar. Tem que ficar.
O que será que aconteceu com Wazari? Ele parecia tão assustado quando a polícia o levou. Espere um pouco, Jean-Luc não disse que tinha ouvido dizer que eles provavelmente o soltariam sob a custódia de Andy como exilado político se Andy garantisse tirá-lo de Bahrain e dar-lhe um emprego?
Maldita revolução! Que droga eu não ter podido voltar para apanhar algumas das minhas coisas! Havia aquela velha frigideira que não grudava nunca, e o bule de vovó que preparava chás tão gostosos mesmo com aqueles saquinhos nojentos e a água de Teerã. Ugh! Água! Dentro em breve nada mais de me agachar e usar água em vez de papel higiênico! Ugh! Nunca mais eu vou ter que me agachar...
— Por que é que você está sorrindo, Gen?
— Oh, deixe-me pensar. Oh, sim, eu estava pensando em ser obrigada a me agachar, nos infelizes de manhã perto do fosso e suas garrafas de água. Pobre gente. Era horrível e ao mesmo tempo engraçado. Nunca mais eu quero me agachar, meu rapaz. — Ela viu a mudança nos olhos dele e a sua ansiedade voltou. — Não vai ser ruim voltar para casa, Duncan. Não vai, eu prometo.
Depois de uma pausa, ele concordou, um pouco para si mesmo.
— Vamos esperar para ver, Gen. Não vamos tomar nenhuma decisão ainda. Não há necessidade de decidir o que faremos no próximo mês ou dois. Primeiro deixe-me ficar bom, e então decidiremos. Não se preocupe, sim?
— Eu não estou preocupada.
— Ótimo, não há necessidade de se preocupar. — Mais uma vez seus olhos foram atraídos pelo mar. Eu não vou passar o resto da minha vida agüentando o clima da Inglaterra, isto seria horrível. Aposentar-me? Cristo, vou ter que pensar em alguma coisa. Se eu tiver que parar de trabalhar vou ficar maluco. Talvez a gente conseguisse um lugarzinho perto do mar para passar o inverno, na Espanha ou no sul da França. Não vou deixar de jeito nenhum Gen ficar gelada e envelhecer antes do tempo. Aquele vento horrível do mar do Norte. De jeito nenhum! Nós vamos ter dinheiro mais do que suficiente agora que o Turbilhão foi um sucesso. Nove em dez 212. Maravilhoso! Não posso pensar nem em Dubois nem em Fowler nem em Tom e Erikki, Azadeh e Xarazade.
A ansiedade dele voltou e com ela uma pontada que aumentou ainda mais a ansiedade e que trouxe uma pontada ainda maior..
— O que você está pensando Duncan?
— Que está um dia lindo.
— Sim, sim, está.
— Você quer tentar ligar para o Andy para mim, Gen?
— É claro. — Ela pegou o telefone e discou, sabendo que seria melhor para ele falar um pouco. — Alô? Oh, alô, Scot, como vai? Aqui é Genny. — Ela ouviu e depois disse. — Isto é ótimo. Seu pai está ai? — Tornou a escutar e depois disse: — Não, apenas diga a ele que Duncan quer falar com ele. Ele está bem e pode-se falar com ele pela extensão aqui do quarto: 455. Ele só quer dizer alô. Você pede a Andy para ligar quando voltar? Obrigada, Scot... não, ele está bem, diga isto a Charlie. Até logo.
Pensativamente, ela pousou o fone no gancho.
— Nada de novo, Duncan. Andy foi até o aeroporto com Scrag. Eles vão ver aquele japonês. Você sabe qual é, aquele da Irã-Toda. Desculpe, eu não diria isto na cara dele, mas ainda não consigo perdoá-los pelo que fizeram na guerra.
McIver franziu a testa.
— Sabe, Gen, talvez estivesse na hora de fazer isso. Kasigi ajudou muito ao velho Scrag. Os 'pecados dos pais' é uma conversa que não leva a nada. Talvez nós devêssemos começar uma nova era. É isto o que temos, Gen, quer queira quer não, uma nova era. Não acha?
Ela viu o sorriso dele e isso quase a fez chorar de novo. Eu não posso chorar, vai ficar tudo bem, a nova era vai ser boa e ele vai melhorar, tem que melhorar... oh, Duncan, eu estou com tanto medo.
— Vou dizer-lhe uma coisa, rapaz — ela disse alegremente —, quando você estiver em forma, nós vamos passar umas férias no Japão e então vamos ver.
— Está combinado. Podemos até tornar a visitar Hong Kong. — Ele pegou-lhe a mão e apertou-a e ambos ocultaram o seu medo do futuro, medo pelo outro.
AL SHARGAZ — HOTEL INTERNACIONAL: 13:55H. Kasigi estava pro curando pelas mesas cheias no terraço impecável dando para a piscina, - Ah, sr. Gavallan, capitão Scragger, sinto muito estar atrasado Não faz mal, sr. Kasigi, sente-se por favor.
— Obrigado. — Kasigi estava usando um terno leve de tropical e parecia estar fresco, embora não estivesse. — Sinto muito, eu detesto chegar atrasado, mas no golfo é quase impossível ser pontual. Eu tive que vir de Dubai e o trânsito... Acho que devo dar-lhes os parabéns, ouvi dizer que o Turbilhão foi um sucesso quase total.
— Ainda estamos com um helicóptero e dois tripulantes desaparecidos, mas de modo geral tivemos muita sorte — disse Gavallan, sem nenhuma alegria. — O senhor gostaria de almoçar ou de tomar um drinque? — O almoço, solicitado por Kasigi, fora marcado para as 12:30h. Conforme haviam combinado antes, Gavallan e Scragger não tinham esperado e já estavam no café.
— Um conhaque com água mineral, por favor, num copo alto, e outro copo só com água mineral. Não quero almoçar, não estou com fome. — Kasigi mentiu educadamente, sem querer comer depois que eles já tinham terminado. Ele sorriu para Scragger. — Então! Estou muito satisfeito em ver que o senhor está em segurança e que conseguiu retirar o seu helicóptero e a sua tripulação. Meus parabéns!
— Desculpe ter tido que me esquivar das suas perguntas mas, bem, o senhor compreende.
— Assim que eu soube, eu entendi, é claro. Saúde! — Kasigi bebeu a água mineral, sedento. — Agora que o Turbilhão terminou, sr. Gavallan, talvez o senhor possa me ajudar a resolver os meus problemas na Irã-Toda.