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— O Eufrates é tão grande assim? — Dubois perguntou, ficando mais preocupado.

— Sim. Ele nasce na Turquia. O senhor já esteve no Iraque antes?

— Não, m'sieur, infelizmente. Talvez na minha próxima viagem.

— Bagdá é uma maravilha, antiga e moderna, e o resto do Iraque também, merece uma visita. Nós temos nove bilhões de toneladas de reserva de petróleo e duas vezes isto esperando para ser descoberto. Valemos muito mais do que o Irã. A França deveria apoiar a nós, não a Israel.

— Eu, m'sieur, sou só um piloto — disse Dubois. — Nada de política para mim.

— Para nós isto é impossível. Política é vida. Nós descobrimos isto do modo mais difícil. Mesmo no jardim do Éden... o senhor sabia que há pessoas vivendo aqui há mais de sessenta mil anos? O jardim do Éden ficava a menos de cem quilômetros de distância; onde o Tigre e o Eufrates se encontram. O nosso povo descobriu o fogo, inventou a roda, a matemática, a escrita, o vinho, a jardinagem, a agricultura... os jardins suspensos da Babilônia eram aqui, Xarazade inventou suas histórias para o califa Harum al-Rashid, só igualadas pelas do seu Carlos Magno, e aqui viviam os povos mais poderosos das antigas civilizações: babilônios e assírios. Até o Dilúvio começou aqui. Nós sobrevivemos aos sumérios, gregos, romanos, árabes, turcos, ingleses e persas. — Ele quase cuspiu estas palavras. — E vamos continuar a sobreviver a eles.

Dubois balançou a cabeça, concordando. O comandante Tavistock o havia alertado:

— Nós estamos em águas iraquianas, a plataforma é território iraquiano, meu rapaz. Assim que você sair do navio, estará por sua conta. Eu não tenho nenhuma jurisdição. Compreende?

— Eu só quero dar um telefonema. Tenho que dar.

— Que tal desembarcar quando passarmos por Al Shargaz na volta?

— Não haverá nenhum problema — Dubois tinha dito a ele, perfeitamente confiante. — Por que haveria? Eu sou francês. — Ao fazer a aterrissagem forçada no navio, ele tivera que contar ao comandante a respeito do Turbilhão e dos motivos que levaram a ele. O velho tinha apenas resmungado.

— Eu não sei nada sobre isso, meu rapaz, você não me contou nada. Primeiro é melhor você passar uma tinta sobre esses números iranianos e colocar um G na frente de qualquer coisa que quiser. Eu vou pedir ao meu pintor para ajudá-lo. Quanto a mim, se alguém me perguntar alguma coisa, você é uma experiência que os proprietários me impingiram, você embarcou em Cape Town e eu não gosto nem um pouco de você e quase nunca conversamos. Certo? — O capitão tinha sorrido. — Estou feliz por tê-lo a bordo. Eu estive em barcos que operavam no Canal durante a guerra, a minha mulher é de íle d'Ouessant, perto de Brest. Nós costumávamos ir até lá de vez em quando atrás de vinho e conhaque, como os meus ancestrais piratas costumavam fazer. Tire a pele de um inglês e encontrará um pirata. Seja bem-vindo a bordo. Dubois esperou e olhou para o gerente iraquiano.

— Talvez eu possa tornar a usar o telefone amanhã, antes de partirmos?

— É claro. Não se esqueça de nós. Tudo começou aqui, e terminará aqui. Salaaml — O gerente deu um sorriso estranho e estendeu a mão. — Boa sorte.

— Obrigado. Até breve.

Dubois saiu, desceu as escadas e foi para fora, ansioso por voltar ao Oceanrider. A algumas centenas de metros de distância, ele viu o barco patrulha iraniano, uma pequena fragata jogando no meio das ondas.

— Espèce de con — ele resmungou e se afastou, com a cabeça confusa. Dubois levou cerca de 15 minutos para caminhar de volta até o navio. Ele viu Fowler esperando e contou-lhe as novidades.

— Que bom saber notícias dos rapazes, que maravilha, mas ir até Amsterdã nesta banheira velha? — Fowler começou a praguejar, mas Dubois foi até a proa e se encostou na amurada.

Todo mundo salvo! Nunca pensei que fôssemos conseguir, pensou, feliz. Que sorte fantástica! Andy e Rudi vão achar que foi planejamento, mas não foi. Foi sorte. Ou Deus. Deus programou o Oceanrider para passar na hora certa. Merde, foi outra vez por pouco, mas está terminado, então não há necessidade de lembrar. E agora? Contanto que não tenhamos mau tempo e que eu não fique com enjôo, ou que esta banheira velha afunde, será ótimo não ter nada para fazer por duas ou três semanas, só pensar, esperar, dormir, jogar um pouco de bridge, e dormir e pensar e planejar. Depois Aberdeen e o mar do Norte e rir com Jean-Luc, Tom Lochart e Duke e os outros rapazes, depois ir para... para onde? Está na hora de me casar. Merda, eu não quero casar ainda. Só tenho trinta anos e até agora consegui evitar isso. Seria um azar encontrar uma feiticeira parisiense com cara de anjo, capaz de usar os seus feitiços para destruir as minhas defesas e me fazer mudar de idéia. A vida é divertida demais, e a caçada mais ainda!

Ele se virou e olhou para o poente. O sol, enevoado por causa da enorme poluição, estava se pondo no horizonte plano e sem graça. Eu gostaria de estar em Al Shargaz com os rapazes.

AL SHARGAZ — HOSPITAL INTERNACIONAL: 18:01H. Starke estava sentado na varanda do segundo andar, também olhando o sol se pôr, mas aqui ele estava lindo, sobre um mar calmo e um céu sem nuvens, com a luminosidade obrigando-o a apertar os olhos, mesmo por trás dos óculos escuros. Ele estava usando calças de pijama e o seu peito estava envolto em ataduras e cicatrizando rapidamente e embora ainda estivesse fraco, tentava refletir e fazer planos. Havia tanto o que pensar — caso consigamos retirar os aparelhos ou não.

No quarto, atrás dele, podia ouvir Manuela conversando numa mistura de espanhol e texano com seu pai e sua mãe lá em Lubbock. Ele já tinha falado com eles, e falado também com os seus próprios pais e os seus filhos, Billyjoe, Little Conroe e Sarita:

— Puxa, papai, quando é que você vem para casa? Eu ganhei um cavalo novo e o colégio está ótimo e hoje está mais quente do que uma tigela de chili apimentado de Chiquita.

Starke sorriu ligeiramente mas não conseguiu livrar-se do seu mar de preocupações. Há uma distância tão grande entre aqui e lá. Tudo é tão diferente mesmo na Inglaterra. Depois Aberdeen, e o mar do Norte? Eu não me importo de ir por um mês ou dois, mas isto não é para mim, nem para as crianças e Manuela. É óbvio que as crianças querem ficar no Texas, em casa, e Manuela também. Aconteceu muita coisa para assustá-la, coisa demais e muito de repente. E ela tem razão, mas que diabo, eu não sei para onde quero ir nem o que quero fazer. Tenho que continuar voando, é só isso que sei fazer, quero continuar voando. Onde? Não no mar do Norte nem na Nigéria, que são as regiões mais importantes de Andy agora. Talvez uma das áreas menores na América do Sul, Indonésia, Malásia ou Bornéus? Eu gostaria de continuar com ele, se pudesse, mas e as crianças, o colégio e Manuela?

Talvez esquecer o estrangeiro e ir para casa? Não. Muito tempo fora. Muito tempo aqui.

Seus olhos contemplaram o deserto, lá longe, para além da velha cidade. Ele estava recordando as vezes que tinha ido para o deserto à noite, às vezes com Manuela, outras vezes sozinho, indo até lá só para escutar. Escutar o quê? O silêncio, a noite, as estrelas chamando umas às outras? Nada?

— Você escuta Deus — dissera o mulá Hussein. — Como pode um infiel fazer isso? Você escuta Deus.

— Essas palavras são suas, mulá, não minhas.

Homem estranho, salvou a minha vida, eu salvei a dele, quase morri por causa dele e depois fui salvo de novo, depois todos nós de Kowiss tivemos liberdade para partir — que diabo, ele sabia que estávamos deixando Kowiss para sempre, tenho certeza disso. Por que ele nos deixou partir, nós, o Grande Satã? E por que ele vivia me dizendo para ir falar com Khomeini? O imã não está certo, não está nada certo.

O que existe em tudo isso que me atrai?

Está lá longe, alguma coisa no deserto que existe só para mim. Uma completa paz. O absoluto. É só para mim. Não é para Manuela nem para as crianças nem para os meus pais nem para mais ninguém, só para mim... Não posso explicar isto para ninguém, muito menos para Manuela, da mesma forma como não poderia explicar o que aconteceu na mesquita em Kowiss e durante o interrogatório.