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O chamado cessou. Agora estava tudo muito quieto, muito silencioso. Os olhos dele viram a velha cidade com todo o seu antigo esplendor, o deserto mais além, o infinito além do horizonte. E então ele viu as coisas como elas eram. O som de um jato decolando e de gaivotas chamando. Depois o ruído de um helicóptero em algum lugar e ele decidiu.

— Tu — ele disse para ela em farsi — tu, eu te amo para sempre.

— Tu, eu te amo para sempre — ela murmurou, quase chorando. Então ela o viu suspirar e soube que estavam juntos outra vez.

— Hora de ir para casa, minha querida. — Ele tomou-a nos braços. — Hora de nós todos irmos para casa.

— A minha casa é onde você está — ela disse, agora sem nenhum temor.

NO HOTEL OÁSIS: 23:52H. Na escuridão, o telefone tocou, despertando Gavallan de um sono profundo. Ele deu um salto, acendendo a luz da mesinha-de-cabeceira.

— Alô?

— Alô, Andrew, aqui é Roger Newbury, desculpe ligar tão tarde, mas...

— Oh, não faz mal, eu disse que você podia ligar até meia-noite, como foram as coisas? — Newbury tinha prometido telefonar contando o que acontecera na recepção. Normalmente Gavallan estaria acordado, mas hoje ele pedira licença para se ausentar da comemoração pouco depois das dez e adormecera imediatamente.

— E quanto a amanhã?

— Fico encantado em dizer que Sua Excelência Abadani aceitou o convite do xeque para passar o dia caçando no oásis Al Sal, então é provável que fique fora o dia todo. Pessoalmente eu não confio nele, Andrew, e o aconselho a retirar os seus helicópteros e o seu pessoal o mais rápida e discretamente possível, e também para fechar o escritório aqui por um mês ou dois até receber uma comunicação nossa. Está bem?

— Sim, ótimo, obrigado. — Gavallan tornou a deitar-se sentindo-se um novo homem. — Eu já tinha planejado fechar o escritório — ele disse com um bocejo. — Todo mundo vai partir antes do pôr-do-sol. — Ele tinha percebido o nervosismo na voz de Newbury, mas atribuíra a toda aquela excitação. Abafou outro bocejo e acrescentou: — Scragger e eu seremos os últimos; estamos com reservas no vôo para Bahrain, junto com Kasigi, para visitar McIver.

— Ótimo. Como você conseguiu dobrar Abadani eu não sei, mas nós todos tiramos o chapéu para você. Agora, ahn, eu detesto trazer más notícias junto com as boas, mas acabamos de receber um telex de Henley, de Tabriz.

Gavallan perdeu o sono imediatamente.

— Problemas?

— Acho que sim. Parece estranho, mas diz o seguinte: — houve um ruído de papéis: — "Soubemos que houve uma espécie de atentado ontem à noite contra a vida de Hakim Khan e parece que o capitão Yokkonen está envolvido. Na noite passada ele fugiu para a fronteira da Turquia no seu helicóptero, levando a mulher, Azadeh, com ele, contra a vontade dela. Hakim Khan mandou expedir uma ordem de prisão contra ele por tentativa de homicídio e rapto. No momento, estão ocorrendo muitas lutas entre facções rivais em Tabriz, o que está dificultando a obtenção de notícias mais exatas. Assim que conseguirmos informações mais detalhadas, tornaremos a nos comunicar." É só isso. Espantoso, não? — Silêncio. — Andrew, você está ouvindo?

— Sim, sim, estou. Estou só... estou só tentando me refazer do choque. Não há nenhuma chance de ter havido um engano?

— Eu duvido. Enviei um telex urgente pedindo mais detalhes; talvez recebamos mais notícias amanhã. Sugiro que você entre em contato com o embaixador da Finlândia em Londres e o avise. O telefone da embaixada é 01-7668888. Sinto muito por tudo isso.

Gavallan agradeceu, tonto, e desligou o telefone.

DOMINGO

4 de marco72

NA ALDEIA TURCA: 10:20H. Azadeh acordou assustada. Por um momento ela não conseguiu reconhecer onde estava, então o quarto entrou em foco — pequeno, triste, com duas janelas, o colchão de palha sobre a cama dura, lençóis e cobertores grosseiros mas limpos — e se lembrou que aquele era o hotel da aldeia e que na véspera, ao anoitecer, apesar dos seus protestos e de não querer deixar Erikki, ela fora escoltada até lá pelo major e por um policial. O major ignorara suas desculpas e insistira em jantar com ela no pequeno restaurante que tinha ficado vazio assim que eles chegaram.

— É claro que a senhora tem que comer alguma coisa para manter as forças. Sente-se, por favor. Eu vou mandar levar para o seu marido a mesma coisa que a senhora pedir. Está bem assim?

— Sim, por favor — ela disse, também em turco, percebendo a ameaça implícita. — Eu posso pagar por isso.

Um ligeiro sorriso aflorou-lhe aos lábios grossos.

— Como quiser.

— Obrigada, major. Quando eu e meu marido poderemos partir?

— Discutirei isso com a senhora amanhã, não esta noite. — Ele fez um sinal ao policial para ficar de guarda na porta. — Agora falaremos em inglês — disse, estendendo-lhe sua cigarreira de prata.

— Não, obrigada, eu não fumo. Quando poderei ter as minhas jóias de volta, major?

Ele escolheu um cigarro e começou a bater com uma das pontas na cigarreira, observando-a.

— Assim que for seguro. O meu nome é Abdul Ikail. Minha base é em Van e sou responsável por toda esta região, até a fronteira. — Ele usou o isqueiro, tragou a fumaça, sem tirar os olhos dela. — A senhora já esteve em Van?

— Não, nunca.

— É um lugarzinho tranqüilo. Era — ele corrigiu — antes da sua revolução, embora a fronteira tenha sido sempre problemática. — Tornou a tragar a fumaça. — Indesejáveis de ambos os lados querendo atravessar ou fugir. Contrabandistas, traficantes de drogas, comerciantes de armas, ladrões, tudo o que a senhora possa imaginar. — Ele disse isto naturalmente, pontilhando as palavras com baforadas de fumaça. O ar estava pesado na pequena sala e cheirava a comida velha, gente e fumo. Azadeh estava cheia de pressentimentos Seus dedos brincavam com a alça da bolsa.

— A senhora já esteve em Istambul? — perguntou.

— Sim. Uma vez. Passei uns dias lá quando era pequena. Fui com o meu pai, ele tinha negócios lá e eu fui mandada de avião para um colégio na Suíça

Eu nunca estive na Suíça. Fui a Roma uma vez, de férias. E a Bonn, fazer um curso na polícia, e outro em Londres, mas nunca estive na Suíça. — Ele fumou por alguns instantes, pensativo, depois apagou o cigarro num cinzeiro lascado e fez um sinal ao gerente do hotel, que estava parado, servilmente, na porta, esperando para servir. A comida era primitiva mas saborosa e servida com uma humildade nervosa que a deixou ainda mais perturbada. Era óbvio que a aldeia não estava acostumada a tão augusta presença.

— Não precisa ter medo, Lady Azadeh, a senhora não corre nenhum perigo — ele disse, como se pudesse ler-lhe os pensamentos. — Pelo contrário, estou contente pela oportunidade de conversar com a senhora, é muito raro uma pessoa da sua... da sua posição passar por aqui. — Durante todo o jantar, com paciência e educação, ele a interrogou acerca do Azerbeijão e de Hakim Khan, falando muito pouco, recusando-se a falar sobre Erikki ou sobre o que iria acontecer. — O que tiver que ser, será. Por favor, torne a contar-me a sua história.

— Eu... eu já contei tudo, major. É a verdade, não uma história. Eu contei a verdade e meu marido também.

— É claro — ele disse, comendo com apetite. — Por favor, conte outra vez.

Ela contou tudo novamente, assustada, vendo o desejo em seus olhos, embora ele fosse sempre respeitoso e sério.

— É a verdade — disse, mal tocando na comida à sua frente, sem apetite algum. — Nós não cometemos nenhum crime, meu marido simplesmente defendeu a si próprio e a mim, juro por Deus.