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— Infelizmente Deus não pode testemunhar a seu favor. Evidentemente, no seu caso, eu aceito o que a senhora diz como sendo o que acredita ser verdade. Felizmente, aqui, nós somos mais avançados, não somos fundamentalistas, existe uma separação entre o Islã e o Estado, ninguém se mete entre nós e Deus, e o nosso único fanatismo é manter a nossa maneira de viver da forma que queremos, e impedir que as crenças e leis de outros povos nos sejam impingidas. — Ele parou, escutando atentamente. Ao ir para o hotel, com a noite caindo, eles tinham ouvido tiros a distância e algumas explosões. Agora, no silêncio do restaurante, ouviram mais tiros. — Provavelmente curdos defendendo as suas casas nas montanhas. — Ele fez um ar de desprezo. — Ouvimos dizer que Khomeini está enviando o exército e os Faixas-Verdes para atacá-los.

— Então está cometendo outro erro — ela disse — É o que o meu irmão diz.

— Eu concordo. A minha família é curda. — Ele se levantou. — Haverá um policial do lado de fora do seu quarto esta noite. Para a sua proteção — ele disse, com o mesmo sorriso estranho que a perturbava. — Para a sua proteção. Por favor, fique no seu quarto até que eu... que eu a venha buscar ou mande chamá-la. A sua obediência favorece ao seu marido. Durma bem.

Então ela tinha ido para o quarto e, vendo que não havia nem fechadura nem tranca na porta, tinha colocado uma cadeira prendendo a maçaneta. O quarto era frio, a água da jarra estava gelada. Ela tinha se lavado, depois rezado, acrescentando uma prece especial para Erikki, e tinha se sentado na cama.

Com muito cuidado, ela tirou o alfinete de chapéu, de aço, de seis polegadas, que havia escondido no forro da bolsa, estudando-o por alguns instantes

A ponta era fina como a de uma agulha, a cabeça pequena mas de tamanho suficiente para permitir que ela a segurasse no momento de golpear. Ela o enfiou num dos lados do travesseiro como Ross lhe havia ensinado:

— Assim não há perigo para você — ele dissera com um sorriso — um inimigo não o notaria e você pode tirá-lo facilmente. Uma garota linda como você deve estar sempre armada, por precaução.

— Oh, Johnny, mas eu nunca seria capaz de matar, nunca.

— Você será capaz, se houver necessidade, e deve estar preparada para isto. Desde que você esteja armada, saiba como usar a arma e aceite o fato de que pode ser obrigada a matar para se proteger, nunca precisará ter medo. — Naqueles dias maravilhosos passados nas montanhas, ele tinha mostrado a ela como usá-lo.

— Uma polegada enfiada no lugar certo é mais do que suficiente, é mortal. — Ela o havia carregado desde então, mas nunca o havia usado, nem mesmo na aldeia. A aldeia. Deixe a aldeia para a noite, não para o dia.

Seus dedos tocaram a cabeça do alfinete. Talvez esta noite, ela pensou. Insha'Allah! E quanto a Erikki? Insha'Allah! Então ela se lembrou de Erikki dizendo: "Insha'Allah é ótimo, Azadeh, e uma boa desculpa, mas Deus, qualquer que seja o seu nome, precisa de uma ajuda terrena de vez em quando".

Sim, eu juro que estou preparada, Erikki. Amanhã é outro dia e eu vou ajudar meu querido. Vou dar um jeito de tirar você desta encrenca.

Mais confiante, ela soprou a vela e enfiou-se debaixo das cobertas, ainda vestida com a roupa de esqui. O luar entrava pelas janelas. Em pouco tempo, ela ficou aquecida. O calor, o cansaço, a juventude fizeram com que ela caísse num sono sem sonhos.

Durante a noite, ela acordou de repente. Alguém estava girando silenciosamente a maçaneta. Ela segurou o estilete, vigiando a porta. Esta se moveu ligeiramente mas não abriu, presa pela cadeira que rangeu sob a tensão. Logo em seguida a maçaneta voltou à posição anterior. De novo o silêncio. Nem passos nem barulho de respiração. E a maçaneta não tornou a se mexer. Ela sorriu consigo mesma. Johnny também lhe havia ensinado como colocar a cadeira na posição certa. Ah, meu querido, eu espero que você encontre a felicidade que procura, ela pensou e tornou a dormir, de frente para a porta.

Agora ela estava acordada e descansada e sabia que estava muito mais forte do que na véspera, mais preparada para a batalha que iria começar em breve. Sim, por Deus, disse a si mesma, imaginando o que a teria acordado. Ruídos de trânsito e de vendedores de rua. Não, não foi isto. Então ouviu uma batida na porta.

— Quem é, por favor?

— Major Ikail.

— Um momento, por favor. — Ela calçou as botas, endireitou o suéter e o cabelo. Depois retirou a cadeira. — Bom dia, major.

Ele olhou para a cadeira, achando graça.

— A senhora foi esperta em prender a porta. Não faça isso de novo sem permissão. — Então ele a examinou. — A senhora parece descansada. Ótimo. Já pedi café e pão fresco. O que mais a senhora gostaria?

— Apenas de poder partir junto com meu marido.

— Sim? — Ele entrou no quarto, fechou a porta e sentou-se, de costas para o sol que entrava pelas janelas. — Com a sua cooperação, isto poderia ser arranjado.

Quando ele entrou no quarto, ela recuou disfarçadamente e se sentou na beira da cama, com a mão perto do travesseiro.

— Que tipo de cooperação, major?

— Seria prudente não haver um confronto — ele disse estranhamente. — Se a senhora cooperar... e voltar para Tabriz por sua livre vontade esta noite, o seu marido permanecerá sob custódia esta noite e será mandado para Istambul amanhã

— Para que lugar em Istambul?

— Primeiro para a prisão, por medida de segurança, onde o embaixador da Finlândia poderá vê-lo e, se Deus assim o quiser, em seguida será libertado.

— Por que ele deveria ir para a prisão, ele não fez nad...

— Há uma recompensa por ele. Vivo ou morto. — O major sorriu. — Ele precisa de proteção, há dezenas de iranianos aqui na aldeia e nos arredores, todos à beira da inanição. A senhora também não precisa de proteção?

Não seria uma vítima perfeita para um rapto?, o khan não pagaria um enorme resgate pela sua única irmã? Não?

— Eu voltarei de boa vontade se isto ajudar o meu marido — ela disse imediatamente. — Mas se eu voltar, que garantia vou ter de que o meu marido será protegido e enviado Dará Istambul, major?

— Nenhuma. — Ele ficou em pé diante dela. — A alternativa, se a senhora não cooperar espontaneamente, é enviá-la hoje para a fronteira e ele. ele terá que correr os riscos.

Ela não se levantou e nem afastou a mão do travesseiro. Eu faria isso de boa vontade, mas assim que partir Erikki estará indefeso. Cooperar? Será que isto significa ir para a cama com este homem por minha livre e espontânea vontade?

— Como é que eu devo cooperar? O que é que o senhor quer que eu faça? — Ela perguntou, furiosa por sentir que sua voz estava menos segura do que antes.

Ele riu e disse sarcasticamente:

— O que todas as mulheres têm dificuldade de fazer: obedecer, sem discussão, e parar de bancar a esperta. — Ele virou as costas. — A senhora vai ficar aqui no hotel. Eu voltarei mais tarde. Espero que então a senhora esteja preparada... para dar uma resposta correta. — Ele saiu e fechou a porta.

Se ele tentar forçar-me, eu o matarei, ela pensou. Não posso ir para a cama com ele para comprá-lo, meu marido jamais me perdoaria e nem eu perdoaria a mim mesma, pois nós dois sabemos que isso não garantiria nem a liberdade dele nem a minha e mesmo que o fizesse, ele não poderia viver com isso e iria procurar vingar-se. E nem eu poderia viver com isso.

Ela se levantou, foi até a janela e olhou para a aldeia movimentada, para as montanhas cobertas de neve que a cercavam, com a fronteira logo adiante.

— A única chance que Erikki tem é se eu voltar — ela murmurou. — Mas não posso voltar, a não ser com a aprovação do major. E mesmo assim...

NO POSTO POLICIAL: 11:58H. Com um puxão das mãos possantes de Erikki, a parte de baixo da barra de ferro central da janela soltou-se com uma chuva de cimento. Rapidamente, ele tornou a enfiá-la no buraco e foi olhar pelas grades para o corredor. Não apareceu nenhum carcereiro. Rapidamente, ele juntou os pequenos pedaços de cimento e os arrumou em volta da base para disfarçar. Ele tinha passado a maior parte da noite trabalhando naquela barra, com o mesmo cuidado de um cachorro roendo um osso. Agora ele tinha uma arma e uma alavanca para entortar as outras barras.