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— O Velho não teve escolha, Rudi. — Mas ele viu que Rudi não estava ouvindo, então deu de ombros e disse distraidamente para Scragger: — Você vai mesmo deixar de voar, Scrag?

O rosto enrugado se contorceu.

— Por um ano, só por um ano... Bahrain vai ser ótimo para mim, Kasigi é uma beleza e eu não vou deixar de voar completamente, é claro que não. Não posso, meu filho, só de pensar nisso tenho arrepios.

— Eu também. Scrag, se você tivesse a minha idade... — Ele parou quando um funcionário da BA, muito irritado, atravessou a segurança e falou para Rudi:

— Capitão Lutz, esta foi a última chamada! — O avião já está cinco minutos atrasado. Não podemos segurá-lo por mais tempo! O senhor tem que embarcar o resto do seu grupo imediatamente ou partiremos sem vocês!

— Está bem — Rudi disse. — Scrag, diga a Andy que esperamos o máximo possível. Se Charlie não conseguir chegar a tempo, atire-o no Gottver-dammstechen, calabouço! Maldita Alitalia por ter chegado tão cedo. Todos a bordo. — Ele entregou o seu cartão de embarque a uma aeromoça atraente e passou pelo portão, ficando do outro lado, checando se todos estavam lá, Freddy Ayre, Pop Kelly, Willi, Ed Vossi, Sandor, Nogger Lane, Scot ficando por último e fazendo cera até que não pôde mais esperar.

— Ei, Scrag, diga ao Velho que eu concordo.

— Claro, meu chapa. — Scragger acenou enquanto ele desaparecia na Segurança, depois virou-se e foi para o seu portão, do outro lado do terminal, onde Kasigi já estava esperando, então ele viu Pettikin correndo no meio da multidão, de mãos dadas com Paula e Gavallan um pouco atrás. Pettikin abraçou-a rapidamente e correu para o portão.

— Pelo amor de Deus, Charlie...

— Não brigue comigo, Scrag, tive que esperar por Andy. — Charlie disse, sem fôlego. Ele entregou o seu cartão de embarque, jogou um beijo para Paula e desapareceu.

— Oi, Paula, o que está havendo?

Paula também estava sem fôlego, mas radiante. Ela deu-lhe o braço, dando-lhe um apertão:

— Charlie me convidou para passar a sua licença com ele, caro, na África do Sul; eu tenho parentes perto de Cape Town, uma irmã e a família dela, então eu disse que sim.

— Claro! Isto quer dizer que...

— Desculpe, Scrag! — Gavallan gritou, juntando-se a eles. Ele estava ofegante, mas vinte anos mais jovem. — Desculpe, fiquei meia hora no telefone, parece que perdemos o maldito contrato com a ExTex na Arábia Saudita e parte do mar do Norte, mas que se dane. Tenho grandes notícias! — Ele sorriu radiante e ficou dez anos mais moço ainda, atrás dele, o sol tocou o horizonte.

— Erikki ligou quando eu já estava na porta, ele está bem, e Azadeh também, eles estão a salvo na Turquia e...

— Aleluia! — Scragger explodiu de alegria e lá de dentro da sala de espera, depois da Segurança, houve uma explosão de alegria dos outros, ao receberem a notícia de Pettikin.

— ...e depois recebi um telefonema de um amigo do Japão. Quanto tempo nós temos ainda?

— Bastante tempo, vinte minutos, por quê? Você deixou de ver Scot por pouco, ele me pediu para dar-lhe um recado: "Diga ao Velho que sim."

Gavallan sorriu.

— Ótimo. Obrigado. — Agora ele já tinha recuperado o fôlego. — Eu me encontro com você, Scrag. Espere por mim, Paula, volto já. — Ele foi até o balcão de informações da JAL. — Boa noite, poderia informar-me, por gentileza, a que horas sai o próximo vôo de vocês de Bahrain para Hong Kong?

A recepcionista consultou o computador.

— Às onze e quarenta e dois desta noite, Sayyid.

— Excelente. — Gavallan pegou os seus bilhetes. — Cancele a minha reserva no vôo da BA para Londres esta noite e faça uma reserva para mim no... — Os alto-falantes ganharam vida e abafaram a voz dele com o chamado para as orações. Um silêncio imediato tomou conta do aeroporto.

E lá no alto das montanhas Zagros, a oitocentos quilômetros de distância ao norte, Hussein Kowissi saltou do cavalo e depois ajudou o seu filho a fazer o camelo ajoelhar-se. Ele usava um casaco de pele de cabra kash'kai por cima das vestes negras, um turbante branco e o seu Kalashnikov estava pendurado nas costas. Ambos estavam solenes, o rosto do garotinho inchado de tanto chorar. Juntos, eles amarraram os animais, apanharam os seus tapetes de rezar, viraram-se de frente para Meca e começaram. Um vento gelado soprava à volta deles, levantando a neve que cobria os altos cumes. O pôr-do-sol aparecia numa nesga de céu, no meio das grossas camadas de nuvens, cheias de neve e de tempestade. As preces foram rezadas rapidamente.

— Vamos acampar aqui esta noite, meu filho.

— Sim, pai. — Obedientemente, o garotinho ajudou-o a descarregar, com as lágrimas outra vez escorrendo-lhe pelo rosto. Na véspera a mãe dele tinha morrido. — Pai, a mamãe estará no paraíso quando chegarmos lá?

— Não sei, meu filho. Sim, acho que sim. — Hussein disfarçou a tristeza. O parto tinha sido longo e cruel, não pôde fazer nada para ajudá-la a não ser segurar-lhe com carinho as mãos e rezar para que ela e a criança fossem poupadas e que a parteira fosse habilidosa. A parteira era habilidosa, mas a criança nasceu morta, a hemorragia não parou e aconteceu o que tinha que acontecer.

Seja como Deus quiser, ele tinha dito. Mas pela primeira vez isto não o ajudou. Ele a havia enterrado junto com a criança. Com grande tristeza, tinha ido até a casa do seu primo, também um mulá, e tinha dado os seus filhos pequenos para eles criarem, e o seu lugar na mesquita até que a congregação escolhesse o seu sucessor. Depois, com o outro filho, ele tinha dado as costas a Kowiss.

— Amanhã nós estaremos nas planícies, meu filho. Lá vai estar mais quente.

— Eu estou com muita fome, pai — disse o garotinho.

— Eu também, meu filho — ele disse gentilmente. — Alguma vez foi diferente?

— Nós seremos martirizados logo?

— Quando Deus quiser.

O garotinho tinha seis anos e achava difícil entender muitas coisas, mas isto não. Quando Deus quiser, nós iremos para o paraíso, que é quente e verde e há mais comida do que se pode comer e água fresca para beber. Mas e quanto...

— Há valas no paraíso? — Ele perguntou com a sua vozinha fina, encostando-se no pai para se esquentar.

Hussein abraçou-o.

— Não, meu filho, acho que não. Não há necessidade delas. — Ele continuou a limpar a sua arma com um pedaço de pano embebido em óleo. — Não há necessidade de valas.

— Isto será muito estranho, pai, muito estranho. Por que nós saímos de casa? Para onde estamos indo?

— Primeiro para nordeste, muito longe daqui, meu filho. O imã salvou o Irã, mas os muçulmanos do norte, sul, leste e oeste estão cercados por inimigos. Eles precisam de ajuda e orientação e da Palavra de Deus.

— O imã, que a paz esteja com ele, foi ele quem o mandou?

— Não, meu filho. Ele não manda, só orienta. Eu vou fazer o trabalho de Deus por livre e espontânea vontade, por minha própria escolha, um homem está livre para escolher o que deve fazer. — Ele viu o garotinho franzir a testa e deu-lhe um abraço, cheio de amor. — Agora nós somos soldados de Deus.

— Oh, que bom. Eu vou ser um bom soldado. O senhor quer me contar de novo por que deixou aqueles satanistas partirem, aqueles da base, e por que os deixou levarem as nossas máquinas?

— Por causa do líder, do capitão — Hussein disse pacientemente. — Eu acho que ele era um instrumento de Deus, ele abriu os meus olhos para a mensagem de Deus de que eu deveria buscar a vida e não o martírio, de que deveria deixar que Deus decidisse a hora do martírio. E também porque ele me deu uma arma invencível contra os inimigos do Islã, os cristãos e judeus: o conhecimento de que eles consideram a vida humana como sendo sacrossanta.

O garotinho abafou um bocejo.

— O que significa sacrossanta?

— Eles acreditam que a vida de uma pessoa não tem preço, de qualquer pessoa. Nós sabemos que a vida é dada por Deus, pertence a Deus, volta para Deus, e que qualquer vida só tem valor se estiver a serviço de Deus. Você compreende, meu filho?