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— Jean-Luc!

Desviou os olhos do helicóptero que se afastava e procurou em volta, imaginando o que havia de diferente. Então percebeu que era o silêncio, tão grande que pensou estar surdo. Por um momento, sentiu-se estranhamente desequilibrado, até um pouco enjoado, depois o barulho do vento voltou e ele se sentiu bem de novo.

— Jean-Luc, aqui! — Pietro estava na sombra, com um grupo de homens, do outro lado do acampamento, fazendo sinal para ele. Caminhou com dificuldade até eles. Estavam estranhamente silenciosos.

— Olhe lá — disse nervosamente Pietro, e apontou para cima. — Bem embaixo do bloco. Lá! Uns dez ou vinte metros abaixo. Está vendo as rachaduras?

Jean-Luc viu-as. Seus testículos se encolheram. Enquanto eles olhavam houve um grande rugido. Toda aquela massa pareceu se mover um bocadinho. Um pequeno naco de gelo e neve despencou. Foi ganhando velocidade e aumentando de tamanho ao descer pela encosta íngreme. Eles ficaram paralisados de horror. A avalanche, agora uma massa com toneladas de neve e gelo, caiu a apenas uns cinqüenta metros deles.

Um dos homens quebrou o silêncio.

— Vamos torcer para que o helicóptero não volte rodopiando como um camicase. Isso poderia ser o detonador, amico. Mesmo um ligeiro ruído poderia fazer despencar aquele stronzo inteiro.

18

NOS CÉUS, PERTO DE QAZVIN: 15:17H. Desde que Charlie Pettikin saíra de Tabriz, há quase duas horas, com Rakoczy — o homem que ele conhecia como Smith — tinha mantido o 206 o mais estável possível, na esperança de embalar o homem da KGB, fazendo-o dormir ou, pelo menos, baixar a guarda. Pela mesma razão, evitara conversar, tirando os fones do ouvido e pendurando-os no pescoço. No fim, Rakoczy desistira, passando apenas a observar o ter reno lá embaixo. Mas permaneceu alerta, com a arma no colo e o polegar na trava de segurança. E Pettikin ficou imaginando quem seria ele, o que faria, a que grupo de revolucionários pertenceria — fedayim, mujhadin ou partidário de Khomeini — ou se pertenceria aos legalistas, à polícia, ao Exército ou à Savak, e, neste caso, por que era tão importante para ele chegar a Teerã. Nunca ocorreu a Pettikin que o homem era russo e não iraniano.

Em Bandar-e Pahlavi, onde o reabastecimento foi terrivelmente lento, ele não tinha feito nada para quebrar a monotonia, apenas gastara seus últimos dólares americanos, observara enquanto os tanques eram reabastecidos, e depois assinara a nota oficial da IranOil. Rakoczy tentara puxar conversa como empregado que estava reabastecendo o helicóptero, mas o homem foi hostil, estava visivelmente assustado de ser visto reabastecendo aquele helicóptero estrangeiro, e ainda mais assustado com a metralhadora que estava no assento dianteiro.

Durante todo o tempo em que estiveram no chão, Pettikin tinha pesado as chances de tentar agarrar a metralhadora. Mas não houve nenhuma chance. A metralhadora era tcheca. Na Coréia ele tinha visto muitas. E também no Vietnã. Meu Deus, pensou, parece ter sido há um milhão de anos.

Decolara de Bandar-e Pahlavi e agora se dirigia para o sul a uma altura de trezentos e cinqüenta metros, seguindo a estrada de Qazvin. A leste, podia ver a praia onde tinha deixado o capitão Ross e seus dois paraquedistas. Mais uma vez ficou imaginando como souberam que voaria para Tabriz e qual seria a missão deles. Espero que consigam — seja lá o que for que tenham que fazer. Deve ser alguma coisa urgente e importante. Espero tornar a ver Ross, isso me agradaria...

— Por que está sorrindo, capitão?

A voz veio através dos fones. Automaticamente, na hora de decolar, ele os tinha posto. Olhou para Rakoczy e deu de ombros, depois voltou a controlar seus instrumentos e o chão lá embaixo. Quando estava sobre Qazvin, inclinou-se para sudeste, seguindo a estrada de Teerã, novamente se retraindo. Seja paciente, disse a si mesmo, e aí viu Rakoczy ficar tenso e aproximar o rosto da janela, olhando para baixo.

— Incline-se para a esquerda... um pouco para a esquerda — ordenou Rakoczy, com urgência na voz, a atenção inteiramente concentrada no solo. Pettikin inclinou suavemente o helicóptero, com Rakoczy no lado baixo.

— Não, mais! Incline 180 graus.

— O que é? — perguntou Pettikin. Aumentou a inclinação, subitamente consciente de que o homem se esquecera da metralhadora que estava no seu colo. Seu coração disparou.

— Lá, na estrada. Aquele caminhão.

Pettikin não prestou nenhuma atenção ao que se passava lá embaixo. Manteve os olhos na metralhadora, calculando a distância cuidadosamente, com o coração batendo.

— Onde? Não estou vendo nada... — aumentou ainda mais a inclinação, para tomar um novo rumo. — Que caminhão? Você diz...

Com a mão esquerda ele agarrou a arma pelo cano e atirou-a, de qualquer jeito, para a parte de trás da cabine. Ao mesmo tempo, sua mão direita puxou o controle ainda mais para a esquerda, depois para a direita e de novo esquerda-direita, fazendo o helicóptero sacudir terrivelmente. Rakoczy foi apanhado totalmente de surpresa e sua cabeça bateu na lateral do aparelho, ficando momentaneamente tonto. Rápido, Pettikin fechou o punho esquerdo e lançou-o contra o queixo do homem para deixá-lo inconsciente. Mas Rakoczy, treinado em karatê, com reflexos rápidos, conseguiu deter o golpe com o antebraço. Ainda meio tonto, ele se agarrou no pulso de Pettikin, recuperando as forças a cada segundo. Enquanto os dois homens lutavam, o helicóptero continuava perigosamente inclinado, com Rakoczy ainda na parte de baixo. Eles se agarraram um ao outro, praguejando, atrapalhados pelos cintos de segurança. Os dois ficavam cada vez mais nervosos, e Rakoczy, que estava com as duas mãos livres, começou a dominar.

De repente, Pettikin segurou o controle com os joelhos, e com a mão direita tornou a golpear o rosto de Rakoczy. O golpe não pegou direito, mas o esforço o desequilibrou, empurrando a alavanca para a esquerda e prejudicando o delicado equilíbrio dos seus pés nos pedais de direção. Imediatamente, o helicóptero virou de lado, perdeu toda a sustentação — nenhum helicóptero pode voar sozinho nem mesmo por um segundo — com a força centrífuga puxando ainda mais o seu peso para um lado e, na confusão, a alavanca geral foi empurrada para baixo. O helicóptero despencou, descontrolado.

Em pânico, Pettikin abandonou a luta. Às cegas, lutou para recuperar o controle, com os motores roncando e os instrumentos enlouquecidos. Mãos, pés e treinamento lutando contra o pânico, tentando corrigir as manobras. Caíram trezentos metros antes que conseguisse endireitar e equilibrar o aparelho, com o coração na boca, e o chão coberto de neve a 15 metros.

Suas mãos tremiam. Era difícil respirar. Então sentiu alguma coisa dura enfiada no lado do corpo e ouviu Rakoczy praguejando. Embotadamente, percebeu que a língua não era iraniana, mas não a reconheceu. Olhou para ele e viu o rosto contorcido de ódio e o metal cinzento da arma e se xingou por não ter pensado nisso. Com raiva, tentou empurrar a arma, mas Rakoczy a apertou contra o seu pescoço.

— Pare ou vou explodir sua cabeça, seu matyeryebyets!

Rápido, Pettikin inclinou violentamente o aparelho, mas a arma foi pressionada com mais força, machucando-o. Sentiu a trava de segurança sendo solta.

— Sua última chance!

O chão estava muito próximo, passando por eles vertiginosamente. Pettikin viu que não conseguiria abalá-lo.

— Está bem. Está bem — disse, endireitando o aparelho e começando a subir. A pressão da arma aumentou e, com ela, a dor. — Pelo amor de Deus, você está me machucando e tirando meu equilíbrio! Como posso pilotar se...

Rakoczy simplesmente apertou a arma com mais força, gritando com ele, xingando-o, batendo com a cabeça dele contra as traves da porta.