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TEERÃ — APARTAMENTO DE McIVER: O som da última badalada desaparecendo, recepção deficiente, cheia de estática. "Aqui fala a BBC World Service, são 17:00 horas, hora de Greenwich..." Cinco horas da tarde no horário de Londres, oito e meia da noite no Irã.

Os dois homens conferiram automaticamente seus relógios. A mulher apenas tomou um gole do martíni com vodca. Os três estavam reunidos em torno do grande rádio de ondas curtas, o sinal de transmissão era fraco e havia muita superposição de ondas. Fora do apartamento, a noite estava escura. Ouviam-se algumas explosões ao longe. Eles não deram nenhuma importância. Ela tornou a beber esperando. Dentro do apartamento estava frio, o aquecimento central fora cortado várias semanas antes. A única fonte de calor que eles tinham agora era um pequeno aquecedor elétrico que, assim como as lâmpadas fracas, estava reduzido à metade da capacidade.

"...às 19:30 horas, hora de Greenwich, haverá uma reportagem especial sobre o Irã, do nosso próprio correspondente..."

— Ótimo — ela murmurou, e todos concordaram. Ela tinha 51 anos, era jovem para a idade, atraente, loura de olhos azuis, elegante, e usava óculos de aros escuros. Genevere McIver, simplesmente Genny.

"...mas primeiro um resumo das notícias internacionais: na Grã-Bretanha, dezenove mil trabalhadores tornaram a entrar em greve na fábrica de Birmingham da British Leyland, a maior fábrica de automóveis do país, por um aumento de salário: intermediários do sindicato representando os trabalhadores do serviço público conseguiram um acordo para um aumento de salário de 16%, embora o governo trabalhista do primeiro-ministro Callaghan queira manter 8,8%. A rainha Elizabeth viajará para o Kuwait na segunda-feira, iniciando uma visita de três semanas aos países do golfo Pérsico; em Washington, o pres..."

A transmissão sumiu completamente. O homem mais alto praguejou.

— Seja paciente, Charlie — ela disse carinhosamente — vai voltar.

— Sim, Genny, você tem razão — Charlie Pettikin respondeu. Outra rajada de metralhadora à distância.

— Um tanto arriscado mandar a rainha para o Kuwait agora, não é? — disse Genny. O Kuwait era um território governado por xeques, extremamente rico em petróleo, que ficava do outro lado do golfo, fazendo fronteira com a Arábia Saudita e o Iraque. — É bem estúpido numa época destas, não é?

— Extremamente estúpido. O maldito governo está com a cabeça lá em Aberdeen — disse Duncan McIver, seu marido.

— Isto é um bocado longe, Duncan — disse rindo.

— Não é longe o bastante para mim, Gen! — McIver era um homem corpulento de 58 anos, com a estrutura de um lutador de boxe, e cabelos grisalhos. — Callaghan é um maldito aproveitador e... — Parou, ouvindo o barulho de um veículo pesado passando lá embaixo na rua. O apartamento era no último andar, o quinto, de um moderno edifício residencial nos subúrbios ao norte de Teerã. Outro veículo passou.

— Parecem mais tanques — disse ela.

— São tanques, Genny. — corrigiu Charlie Pettikin. Ele tinha 56 anos, ex-membro da RAF, natural da África do Sul, com cabelos escuros, entremeados de branco, piloto-sênior, Irã, e chefe do exército iraniano da S-G e do programa de treinamento de helicópteros da Força Aérea.

— Talvez a gente vá passar outro mau pedaço — disse ela.

Há semanas que todos os dias tinham sido maus. Primeiro foi a lei marcial em setembro, quando as reuniões públicas foram proibidas e o toque de recolher de nove da noite às cinco da manhã, imposto pelo xá, só tinha servido para exaltar ainda mais o ânimo do povo. Especialmente na capital, Teerã, no porto petrolífero de Abadan e nas cidades religiosas de Qom e Meshed. Tinha havido muitas mortes. Então a violência aumentava, com o xá vacilando, depois cancelando abruptamente a lei marcial nos últimos dias de dezembro e apontando Bakhtiar, um moderado, como primeiro-ministro, fazendo concessões e depois, inacreditavelmente, no dia 16 de janeiro, partindo do Irã para umas 'férias'. Em seguida, Bakhtiar formando o seu governo e Khomeini — ainda no exílio na França — renegando-o e a qualquer um que o apoiasse. Os tumultos crescendo, as mortes aumentando. Bakhtiar tentando negociar com Khomeini, que se recusou a vê-lo ou a falar com ele, o povo impaciente, o exército impaciente, depois fechando-se todos os aeroportos para Khomeini, depois abrindo-os para ele. E afinal, também inacreditavelmente, há oito dias, em 1º de fevereiro, a volta de Khomeini.

Desde então, os dias têm sido muito ruins, pensou ela.

Naquela madrugada, ela, seu marido e Pettikin estiveram no aeroporto internacional de Teerã. Era uma quinta-feira, muito fria mas revigorante, com retalhos de neve aqui e ali e um vento suave. Ao norte, as montanhas Elburz estavam com os picos cobertos de neve, o sol nascente ensangüentando a neve. Os três tinham ficado ao lado do 212 que estava no pátio de manobras do aeroporto, bem longe da pista em frente ao terminal. Outro 212 estava do outro lado do campo de aviação, também pronto para levantar vôo — ambos por ordem dos partidários de Khomeini.

Este lado do terminal estava deserto, exceto por uns vinte nervosos funcionários do aeroporto, a maioria carregando metralhadoras portáteis, esperando perto de um grande Mercedes preto e de um carro com rádio que estava ligado com a torre. Estava calmo ali — em violento contraste com o interior do terminal e com o lado de fora da cerca que circundava o aeroporto. Dentro do prédio do terminal havia um comitê de recepção de cerca de mil convidados especiais: políticos, aiatolás, mulás pessoal de imprensa, e centenas de policiais uniformizados e guardas islâmicos com braçadeiras verdes — apelidados de Faixas Verdes — o exército particular ilegal e revolucionário dos mulás. Todas as outras pessoas tinham sido mantidas fora do aeroporto, todas as estradas de acesso bloqueadas, guardadas e barricadas. Mas do outro lado dessas barricadas havia dezenas de milhares de pessoas ansiosas, de todas as idades. A maioria das mulheres usava o chador, uma túnica longa como uma mortalha, que as cobria dos pés à cabeça. Além dessas pessoas, ao longo do caminho de 16 quilômetros até o cemitério de Behesht-Zahra onde o aiatolá faria seu primeiro discurso, havia cinco mil policiais armados e, em volta deles, espremidos em balcões, janelas, muros e ruas, havia o maior ajuntamento de pessoas que o Irã já tinha visto, um mar de gente — a maior parte da população de Teerã. Quase cinco milhões de pessoas viviam dentro e nos arredores da cidade. Todos ansiosos, todos nervosos, todos com medo de que pudesse haver um atraso de última hora ou que talvez o aeroporto estivesse fechado mais uma vez para ele ou que talvez a força aérea o derrubasse — com ou sem ordens.

O primeiro-ministro Shahpur Bakhtiar, seu gabinete e os generais de todas as forças armadas não estavam no aeroporto. Por opção. Nem estava lá nenhum dos seus oficiais e soldados. Aqueles homens esperavam nos seus quartéis, campos de aviação ou navios — todos igualmente ansiosos e impacientes para agir.

— Eu gostaria que você tivesse ficado em casa, Gen — dissera McIver inquieto.

— Eu gostaria que nós todos tivéssemos ficado em casa — disse Pettikin, também pouco à vontade.

Um semana antes, McIver fora abordado por um dos partidários de Khomeini para fornecer um helicóptero que levasse Khomeini do aeroporto para Behesht-Zahra.

— Sinto muito, mas não é possível. Eu não tenho autorização para fazer isso — dissera, estupefato. Em uma hora, o homem estava de volta com os Faixas Verdes, o escritório de McIver e os outros escritórios ficaram cheios deles, jovens, duros, com rostos ferozes, dois portando rifles automáticos soviéticos AK47, um com um US Ml6.

— Como eu tinha dito, o senhor vai fornecer o helicóptero — ordenou o homem com arrogância. — Para o caso de se tornar muito difícil controlar a multidão. É claro que Teerã inteira estará lá para dar as boas-vindas ao aiatolá, que a Bênção de Deus esteja com ele.