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— Não, Charlie, não está. — Disse Erikki, sentindo uma dor por dentro. — Hoje foi um dia terrível para ela. Ela disse que nunca tinha estado tão perto de camponeses antes... Quero dizer cercada, presa. Hoje eles a fizeram sentir-se desprotegida. Agora ela viu a verdadeira face do Irã, a realidade do seu povo. Isto e mais o fato de ter sido obrigada a usar o chador. — Mais uma vez um arrepio percorreu-o. — Foi um estupro. Eles estupraram a sua alma. Agora acho que tudo vai ser diferente para ela, para nós. Acho que ela vai ter que escolher. A família ou eu, o Irã ou o exílio. Eles não nos querem aqui, Charlie. A nenhum de nós.

— Não, você está errado. Talvez para você e Azadeh seja diferente, mas eles ainda vão precisar do petróleo e por isso precisarão de helicópteros. Nós ainda vamos servir por alguns anos, por uns bons anos. Com os contratos da Guerney e todo... — Pettikin parou, sentindo uma batida no ombro e virou a cabeça. Azadeh estava acordada agora. Ele não ouviu o que Rakoczy disse e então tirou um dos fones.

— O quê?

— Não use o rádio, capitão e prepare-se para pousar fora da cidade, onde eu disser.

— Eu... eu tenho que pedir permissão.

— Não seja idiota! Permissão de quem? Está todo mundo ocupado demais lá embaixo. O aeroporto de Teerã está sitiado, assim como Doshan Tappeh e Galeg Morghi. Aceite o meu conselho e desça no pequeno aeroporto de Rudrama, depois de me deixar.

— Eu tenho que me comunicar. Os militares insistem.

— Os militares? — E Rakoczy riu sardonicamente. — E o que você iria comunicar? Que pousou ilegalmente perto de Qazvin, ajudou a matar cinco ou seis civis e apanhou dois estrangeiros que estavam fugindo. Fugindo de quem? Do povo.

Pettikin virou para a frente com a cara fechada, disposto a se comunicar, mas Rakoczy inclinou-se e sacudiu-o rudemente.

— Acorde! Os militares não existem mais. Os generais aceitaram a vitória de Khomeini. Os militares não existem mais. Eles se renderam!

Todos olharam para ele estarrecidos. O helicóptero balançou. Apressadamente, Pettikin fez a correção.

— Do que é que você está falando?

— Na noite passada os generais ordenaram que todas as tropas voltassem aos seus quartéis. De todas as armas — todos os homens. Eles abandonaram o campo de batalha em favor de Khomeini e da sua revolução. Agora não há mais nem exército nem polícia entre Khomeini e o poder. O povo venceu!

— Não é possível — discordou Pettikin.

— Não — Azadeh disse assustada. — Meu pai teria sabido.

— Ah, Abdullah, o Grande? — Rakoczy retrucou com um sorriso de deboche. — Ele agora já deve saber, se ainda estiver vivo.

— Não é verdade.

— É... é possível que seja, Azadeh — disse Erikki, chocado. — Isto explicaria por que nós não vimos nem policiais nem soldados, e também por que a multidão estava tão hostil.

— Os generais nunca fariam isso — ela afirmou, abalada, depois virou-se para Rakoczy. — Seria suicídio, para eles e para milhares de pessoas. Dig; a verdade, por Alá!

O rosto de Rakoczy mostrou a sua satisfação, o seu prazer por distorcei as palavras e símear a dissensão para perturbá-los.

— Agora o Irã está nas mãos de Khomeini, dos seus mulás e da sua guarde revolucionária.

— É mentira.

— Se isto é verdade — disse Pettikin—, Bakhtiar está acabado. Elenun...

— Aquele fraco imbecil nem começou! — Rakoczy começou a rir. — O aiatolá Khomeini fez os generais se borrarem de medo e agora vai cortar as suas gargantas por medida de segurança.

— Então a guerra está terminada.

— Ah, a guerra — repetiu Rakoczy, sombriamente. — Está acabada. Para alguns.

— Sim — disse Erikki, preparando-lhe uma armadilha. — E se o que você diz é verdade, está tudo terminado para você também. Para todos os do Tudeh e para todos os marxistas. Khomeini vai massacrar vocês todos.

— Oh, não, capitão. O aiatolá foi a espada para destruir o xá, mas foi o povo quem empunhou a espada.

— Ele, os seus mulás e o povo vão destruir você. Ele é tão anticomunista quanto antiamericano.

— É melhor esperar para ver, em vez de se iludir, hein? Khomeini é um homem prático e adora o poder, não importa o que ele diga agora.

Pettikin viu Azadeh empalidecer e sentiu uma sensação igual.

— E os curdos? — perguntou asperamente. — O que você me diz deles? Rakoczy inclinou-se para a frente, com um estranho sorriso.

— Eu sou um curdo, não importa o que o finlandês tenha dito a você a respeito de Rússia e KGB. Ele pode provar o que diz? É claro que não. Quanto aos curdos, Khomeini vai tentar nos esmagar, se o deixarem, junto com todas as minorias tribais ou religiosas, os estrangeiros e a burguesia, os proprietários de terra, os agiotas, os partidários do xá e — ele acrescentou com um sorriso de deboche — e todas as pessoas que não aceitarem a sua interpretação do Corão. Ele vai derramar rios de sangue em nome do seu Alá, do seu, não do único e verdadeiro Deus. Se aquele filho da mãe puder. — Olhou para baixo, conferindo o rumo, depois acrescentou ainda mais sardonicamente. — Aquela Espada de Deus herética já cumpriu sua tarefa e agora vai ser transformada numa relha de arado... e enterrada.

— Você quer dizer assassinado? — perguntou Erikki.

— Enterrado — mais uma vez ele riu —, quando der na veneta do povo.

Azadeh tentou arranhar-lhe o rosto, amaldiçoando-o. Ele a dominou facilmente e segurou-a, enquanto ela se debatia. Erikki olhava, pálido de raiva. Não havia nada que ele pudesse fazer. Por enquanto.

— Pare! — disse rudemente Rakoczy. — Você mais do que ninguém deveria querer esse herege morto. Ele vai esmagar Abdullah Khan e todos os Gorgons e você junto com eles, se vencer. — Ele a empurrou. — Comporte-se ou vou ser obrigado a machucá-la. É verdade, você, mais do que ninguém, deveria querer vê-lo morto. — Levantou a metralhadora. — Virem-se, vocês dois.

Eles obedeceram, com ódio do homem e da arma. Lá na frente, surgiam os arredores de Teerã, a uns quinze quilômetros de distância. Seguiam a estrada e a ferrovia, com as montanhas Elburz à esquerda, aproximando-se da cidade pelo lado oeste. O céu estava carregado de nuvens pesadas, e não havia sol.

— Capitão, está vendo o rio, lá, onde a ferrovia o atravessa? E a ponte?

— Sim, estou vendo — disse Pettikin, tentando fazer um plano para dominá-lo, assim como Erikki também estava fazendo, imaginando se poderia virar e agarrá-lo, mas estava do outro lado.

— Pouse um quilômetro ao sul, atrás daqueles arbustos. Está vendo? Não muito longe dos arbustos havia uma estrada secundária que ia para

Teerã. Com pouco tráfego.

— Sim, e depois?

— E depois você está dispensado. Por enquanto. — Rakoczy riu e esfregou a nuca de Pettikin com o cano da arma. — Com os meus agradecimentos. Mas não se vire mais. Mantenham-se virados para a frente, vocês dois, fiquem com os cintos amarrados e saibam que estou vigiando atentamente. Quando aterrissar, faça-o com segurança e habilidade e quando eu estiver livre, decole. Mas não se virem ou eu posso me assustar. Homens assustados puxam o gatilho. Entendido?

— Sim. — Pettikin estudou o local de pouso. Ajustou os fones. — Parece bem para você, Erikki?

— Sim. Cuidado com os montes de neve. — Erikki tentou manter o nervosismo fora da sua voz.

— Deveríamos ter um plano.

— Acho que ele... que ele é esperto demais, Charlie.

— Talvez ele cometa algum erro.

— Eu só preciso de um.

O pouso foi simples e fácil. A neve, levantada pelas hélices, formava ondas ao lado das janelas.

— Não se virem!

Os nervos dos dois homens estavam em pandarecos. Ouviram a porta se abrir e sentiram o ar gelado. Então Azadeh gritou:

— Erikkiiii!