Irritado, Gianni soltou o cinto e obedeceu, o helicóptero balançou e ele gritou, perdeu o equilíbrio, caindo sobre a porta, e seu peso fez com que a porta se abrisse mais e ele foi projetado para fora. Mas o homem que estava segurando seu cinto agüentou firme, com Gianni com metade do corpo para dentro e metade para fora e a sucção puxando-os violentamente. No instante em que Gianni abriu a porta, Pietro tinha acendido o isqueiro e o fogo já tinha incendiado o pavio, mas no meio do pânico por causa de Gianni, Pietro tinha se distraído. Instintivamente, ele também tentou agarrar Gianni e a dinamite caiu da sua mão. Todos ficaram olhando estatelados, enquanto ele engatinhava pelo chão, enfiando a mão debaixo das poltronas, enquanto a dinamite rolava de um lado para o outro, com o pavio queimando alegremente — e os fones arrancados do ouvido. Quase desmaiando de medo, Gianni agarrou-se na porta com uma das mãos e começou a se arrastar para dentro, apavorado que o seu cinto arrebentasse e se xingando por ter usado aquele cinto fino ao invés daquele que a mulher tinha-lhe dado de Natal...
Os dedos de Pietro tocaram a dinamite. O pavio encostou nele, queimando-o, mas ele não sentiu dor. Agarrou a dinamite, ainda no chão, virou-se, se apoiou numa cadeira e atirou a dinamite e o que restava do pavio para fora, depois esticou a mão que estava livre e agarrou uma das pernas do amigo, ajudando a puxá-lo para dentro. O outro homem bateu a porta e os dois, Pietro e Gianni, caíram no chão.
— Afaste-se daqui, Scot — disse Jean-Luc, com uma voz fraca.
O helicóptero se inclinou e afastou-se da face norte, sessenta metros abaixo deles. Por um momento, o cume continuou puro, desolado e imóvel. Então houve uma grande explosão, que ninguém no helicóptero ouviu nem sentiu. A neve subiu em espiral e depois começou a assentar. Depois, com um rugido poderoso, toda a face norte desmoronou, a avalanche desceu pelo vale, cortando a encosta da montanha, deixando uma trilha de meio quilômetro de largura até parar.
— Meu Deus, oine! — disse Scot, apontando para a frente. O bloco unha desaparecido Sobre a plataforma Bellissima havia apenas uma ligeira inclinação, o lugar estava intacto exceto onde o trailer e o tanque tinham sido carregados pela primeira avalanche.
— Pietro! — exclamou excitadamente Jean-Luc — Você... — Ele parou. Pietro e Gianni ainda estavam caídos no chão, se recuperando. Os fones de Pietro tinham desaparecido. — Scot, eles não vão conseguir ver pelas janelas. Chegue mais perto e faça a volta para eles poderem ver!
Animadamente, Jean-Luc engatinhou novamente para a cabine e começou a dar tapas em Pietro, cumprimentando-o. Todo mundo olhou para ele com cara de idiota, e quando entenderam o que ele estava gritando por sobre o barulho dos motores, esqueceram o medo e espiaram pelas janelas. E quando viram como a explosão afastara completamente o perigo, deram gritos de alegria. Gianni abraçou Pietro, emocionado, jurando amizade eterna, abençoando-o por salvá-lo, por salvar-lhes as vidas e o emprego.
— Niente, caro — disse Pietro, expansivamente. — Eu não sou um homem de Aosta?
Jean-Luc se debruçou sobre a maca e sacudiu delicadamente Mario Guineppa.
— Mario! Pietro conseguiu! Com perfeição. Bellissima está salva... Guineppa não respondeu. Ele já estava morto.
TERÇA-FEIRA
13 de fevereiro21
NA FACE NORTE DO MONTE SABALAN: 22H. A noite estava terrivelmente fria sob um céu sem nuvens, coberto de estrelas e com uma lua brilhante, e o capitão Ross e seus dois gurkhas avançavam cautelosamente pelo alto da montanha, seguindo o guia e o homem da CIA. Os soldados usavam macacões brancos, com capuz, por cima do uniforme de batalha, além de luvas e roupas de baixo térmicas, e ainda assim o frio os incomodava. Estavam a cerca de dois mil e quinhentos metros, caminhando a favor do vento em direção ao seu objetivo, que estava a um quilômetro de distância, do outro lado do topo. Sobre eles, o vasto cone do vulcão extinto se erguia a cinco mil metros de altura.
— Meshgi, vamos parar para descansar — disse o homem da CIA, em turco, para o guia. Ambos vestiam roupas grossas, usadas pelos homens das tribos.
— Se é isso o que o senhor deseja, aga, então que seja.
O guia indicou o caminho, deixando a trilha e caminhando através da neve até uma pequena caverna que nenhum deles tinha notado. Ele era velho e retorcido como uma oliveira velha, magro e cabeludo, com uma roupa em farrapos, e, no entanto, ainda era o mais forte deles depois de quase dois dias de escalada.
— Ótimo — disse o homem da CIA. Depois, virando-se para Ross: — Vamos ficar escondidos aqui até estarmos prontos.
Ross tirou a carabina do ombro, sentou-se e arriou com satisfação a mochila, com as batatas da perna, as coxas e as costas doendo.
— Meu corpo está todo doído — disse aborrecido —, e eu pensei que estivesse em forma.
— O senhor está em forma, sahib — o sargento gurkha, chamado Tenzing, disse com um sorriso. — Na nossa próxima licença vamos escalar o Everest, hein?
— Nem que você me pague — retrucou Ross, em inglês e os três soldados riram juntos.
— Deve ser fantástico ir até o topo dessa montanha — disse pensativo o homem da CIA.
Ross viu-o olhar para a noite lá fora e para os milhares de metros de montanha lá embaixo. Quando eles tinham se encontrado pela primeira vez perto de Bandar-e Pahlavi, há dois dias, se não soubesse quem ele era, teria pensado que fosse meio-mongol, nepalês ou tibetano, pois o homem da CIA tinha cabelos escuros, uma pele amarelada, olhos asiáticos e se vestia como um nômade.
— O seu contato da CIA é Rosemont, Vien Rosemont, ele é meio-vietnamita, meio-americano — dissera o coronel da CIA. — Ele tem 26 anos, está aqui há um ano, fala farsi e turco, faz parte da segunda geração da CIA e você pode confiar sua vida a ele.
— Parece que vou ter que fazê-lo de qualquer maneira, o senhor não acha?
— Hein? Oh, é claro. Sim, acho que sim. Encontre-se com ele ao sul de Bandar-e Pahlavi, nestas coordenadas, e ele estará lá com o barco. Mantenham-se perto da costa até chegarem ao sul da fronteira soviética, e então voltem para terra.
— Ele é o guia?
— Não. Ele apenas, ahn, sabe a respeito de Meca... este é o nosso código para o posto de radar. Arranjar o guia é problema dele, mas ele vai conseguir. Se ele não estiver no local combinado, espere até sábado à noite. Se ele não chegar até o amanhecer é porque foi apanhado e você desiste. OK?
— Sim. E quanto aos boatos de insurreição no Azerbeijão?
— Pelo que eu sei, está havendo luta em Tabriz e na parte ocidental, nada na região de Ardabil. Rosemont deve saber mais sobre isso. Nós, ahn, nós sabemos que os soviéticos estão de prontidão e prontos para invadir se os habitantes do Azerbeijão expulsarem os partidários de Bakhtiar. Depende dos líderes deles. Um deles é Abdullah Khan. Se você tiver problemas, vá procurá-lo. Ele é um dos nossos. É leal.
— Está bem. E esse piloto, Charles Pettikin. Digamos que ele não queira levar-nos?
— Obrigue-o. De um jeito ou de outro. Esta operação tem a aprovação dos chefões, tanto do seu lado quanto do meu, mas não podemos ter nada por escrito. Certo, Bob?
O outro homem presente ao encontro, um tal de Robert Armstrong que ele também nunca tinha visto antes, balançara a cabeça, concordando.
— Sim.
— E os iranianos? Eles também aprovaram?
— Isso é uma questão de, ahn, de segurança nacional, sua e nossa. Deles também, mas eles... eles estão ocupados. Bakhtiar, bem, pode ser que ele não dure.
— Então é verdade. Os Estados Unidos estão puxando o tapete?
— Não sei dizer, capitão.
— Uma última pergunta: por que não estão mandando o seu próprio pessoal?