Выбрать главу

— Eles estão todos ocupados. Nós não podemos trazer mais gente para cá com rapidez. Não gente treinada como vocês. — Robert Armstrong respondera pelo coronel.

Não há dúvida que nós somos bem treinados, pensou Ross, relaxando os ombros em carne viva por causa das alças da mochila — escalar, saltar, esquiar, mergulhar, matar silenciosamente ou fazendo barulho, mover-se com a rapidez do vento contra terroristas ou inimigos públicos, e explodir qualquer coisa, em cima ou debaixo d'água, se for preciso. Mas eu tenho muita sorte, tenho tudo o que quero: saúde, diploma universitário, Sandhurst, paraquedistas, Serviços Aéreos Especiais e até os meus bem-amados gurkhas. Sorriu para os dois e disse uma obscenidade em gurkhali, um dialeto vulgar, que os fez rir às gargalhadas. Então viu Vien Rosemont e o guia olhando para ele.

— Perdão, Excelências — disse em farsi —, eu só estava dizendo aos meus irmãos para se comportarem.

Meshgi não disse nada, apenas tornou a prestar atenção na noite. Rosemont tinha tirado as botas e estava massageando os pés por causa do frio.

— Os caras que eu tenho visto, oficiais britânicos, eles não fazem amizade com os seus soldados, não como você.

— Talvez eu tenha mais sorte que os outros. — Com o canto dos olhos, Ross vigiava o guia que tinha se levantado e estava agora em pé na entrada da caverna, escutando. O velho vinha ficando cada vez mais inquieto nas últimas horas. Até onde eu posso confiar nele?, pensou, e então olhou para Gueng que estava mais perto. Na mesma hora, o homenzinho entendeu a mensagem e concordou com a cabeça, imperceptivelmente.

— O capitão é um dos nossos, senhor — dizia Tenzing para Rosemont, orgulhosamente. — Como seu pai e seu avô. E todos dois eram Sheng'khan.

— O que é isso?

— É um título gurkhali — disse Ross, disfarçando o orgulho. — Significa Senhor da Montanha. Não tem muito sentido fora do regimento.

— Três gerações na mesma unidade. Isso é comum?

É claro que não, Ross teve vontade de dizer, incomodado com as perguntas pessoais, embora estivesse gostando de Vien Rosemont. O barco chegara na hora, a viagem pela costa fora rápida e segura, com eles escondidos debaixo da carga. Ao anoitecer, desembarcaram com facilidade e se dirigiram para o próximo ponto de encontro, onde o guia esperava. Depois caminharam depressa para as montanhas, sem que Rosemont reclamasse nenhuma vez, apenas mantendo uma marcha puxada, com pouca conversa e sem fazer muitas perguntas.

Rosemont esperou com paciência, notando que Ross estava distraído. Então viu o guia sair da caverna, hesitar, depois voltar e se agachar na entrada da caverna com o rifle no colo.

— O que é, Meshgi? — perguntou Rosemont.

— Nada, aga. Há rebanhos no vale, de cabras e ovelhas.

— Ótimo. — Rosemont encostou-se na parede, confortavelmente. Foi sorte encontrar esta caverna, pensou, é um bom lugar para se esconder. Tornou a olhar para Ross e viu que este o observava. Depois de um intervalo, acrescentou: É ótimo fazer parte de uma equipe.

— Qual é o plano de agora em diante? — perguntou Ross.

— Quando sairmos daqui, eu vou na frente. Você e os seus homens esperem atrás, até eu me certificar de que está tudo bem, certo?

— Como quiser, mas leve o sargento Tenzing com você. Ele pode proteger sua retaguarda. Eu e Gueng cobriremos vocês dois.

— Claro, parece uma boa idéia. Está bem, sargento? — perguntou Rosemont, depois de uma pausa.

— Sim, sahib. Por favor, diga-me o que quer com palavras simples. Meu inglês não é bom.

— Tudo bem — disse Rosemont, disfarçando o nervosismo. Sabia que estava sendo avaliado por Ross do mesmo modo como o avaliava. Havia muito em jogo.

— Faça Meca ir pelos ares — dissera-lhe o seu diretor. — Temos uma equipe de especialistas para ajudá-lo; não sabemos o quanto eles são bons, mas foi o melhor que pudemos conseguir. O líder é um capitão, John Ross, aqui está o retrato dele e está acompanhado por dois gurkhas, não sei se falam inglês, mas vêm muito bem recomendados. Ross é um oficial de carreira. Ouça, como você nunca trabalhou com ingleses antes, vou-lhe dar um aviso. Não tente fazer amizade nem o chame logo pelo primeiro nome... eles são sensíveis como o diabo no que diz respeito a perguntas pessoais, então vá com calma, OK?

— É claro.

— Pelo que sabemos, vocês vão encontrar Meca vazia. Nossos outros postos, mais próximos da Turquia, ainda estão operando. Estamos querendo agüentar o máximo que pudermos; até lá os chefões já terão feito um acordo com os novos mandachuvas, Bakhtiar ou Khomeini. Mas Meca... malditos sejam os filhos da mãe que nos causaram tanto risco.

— Quanto risco?

— Achamos que eles simplesmente partiram com muita pressa e não destruíram nada. Você já esteve lá, pelo amor de Deus! Meca está cheia de instrumentos altamente secretos, aparelhagem de escuta, de espia, radares de longo alcance, lá estão guardados códigos cifrados de satélites, códigos e computadores em quantidade suficiente para fazer com que o nosso antipático chefe da KGB, Andropov, seja eleito o Homem do Ano, se ele os pegar. Pode acreditar nisso: aqueles filhos da mãe simplesmente deixaram tudo para trás!

— Traição?

— Duvido. Apenas estupidez, burrice. Não havia nem mesmo um plano de emergência em Sabalan, pelo amor de Deus. Nem em nenhum outro lugar. Acho que a culpa não é inteiramente deles. Nenhum de nós calculou que o xá fosse se entregar tão depressa, nem que Khomeini acabasse com Bakhtiar tão depressa. Não tivemos nenhum aviso. Nem mesmo da Savak...

E agora temos que catar os pedaços, pensou Vien. Ou, mais corretamente, mandá-los pelos ares. Olhou para o relógio, sentindo-se muito cansado. Examinou a noite e a lua. É melhor esperar mais uma meia hora. Suas pernas doíam, e também a cabeça. Viu Ross observando-o e sorriu por dentro: Eu não vou falhar, inglês. Mas, e você?

— Mais uma hora e partimos — disse Vien.

— Por que esperar?

— A lua estará mais favorável. Aqui é seguro e temos tempo. Você sabe tudo o que temos que fazer?

— A minha parte é explodir a entrada da caverna e tudo o mais que você mandar em Meca, depois sair correndo até chegar em casa.

— Em casa, para você, é onde? — perguntou Rosemont sorrindo e sentindo-se melhor.

— Não sei realmente — disse Ross, apanhado desprevenido. Nunca fizera esta pergunta a si mesmo. Alguns instantes depois, mais para ele mesmo do que para o americano, acrescentou: — Talvez a Escócia, talvez o Nepal. Minha mãe e meu pai estão em Katmandu, são escoceses como eu, mas estão morando lá desde 1951, quando ele se aposentou. Eu até nasci lá, embora tenha feito quase todos os meus estudos na Escócia. — Os dois lugares são a minha casa, pensou. — E você?

— Washington D.C., na verdade, Falls Church, Virgínia, que quase faz parte de Washington. Eu nasci lá. — Rosemont queria um cigarro mas sabia que podia ser perigoso. — Papai era da CIA. Ele já está morto, mas passou os seus últimos anos em Langley, que fica perto... o QG da CIA é em Langley. — Estava satisfeito em conversar. — Mamãe ainda está em Falls Church, há uns dois anos que eu não vou lá. Você já esteve nos Estados Unidos?

— Não, ainda não. — O vento tinha aumentado um pouco e, por alguns instantes, eles observaram a noite.

— Vai diminuir depois da meia-noite — disse Rosemont, confiante. Ross viu o guia mudar de posição outra vez. Será que ele vai fugir?

— Você já trabalhou com o guia antes?

— Claro. Andei por todas estas montanhas com ele no ano passado; passei um mês aqui. Rotina. Tem um bocado de gente da oposição infiltrada por esta área e nós tentamos vigiá-los. Como eles fazem conosco. — Rosemont observou o guia. — Meshgi é um cara legal. Os curdos não gostam dos iranianos, nem dos iraquianos ou dos nossos amigos do outro lado da fronteira. Mas você tem razão em perguntar.

— Tenzing, vigie tudo aqui por perto, você come depois — falou Ross em gurkhali. Imediatamente, Tenzing se levantou de onde estava e saiu. — Eu o mandei ficar de guarda.