— Em dois minutos, sahib. — O homem correu para fora.
— Gueng?
— Sim, sahib. Mais dois minutos também. — E também saiu rapidamente.
Ross foi até o outro canto e vomitou. Então se sentiu melhor. Encontrou o cantil e tomou um longo gole, enxugou a boca na manga da sua roupa de combate e foi até onde estava Rosemont, encostado numa parede, e sacudiu-o.
— Você está bem?
— Sim, claro. — Rosemont ainda estava tonto, mas agora sua mente trabalhava. Sentiu um gosto horrível na boca e cuspiu no meio do entulho. Havia pequenos incêndios na sala, lançando sombras estranhas nas paredes e no telhado. Tomou um gole, devagar. Depois de alguns instantes disse: — Não existe nada no mundo que se compare a um uísque escocês. — Tomou mais um gole e devolveu o cantil. — Acho melhor nós darmos o fora daqui.
Com a lanterna, deu uma rápida busca no meio dos destroços, encontrou os restos retorcidos do importantíssimo decodificador e andou com cuidado até a caverna seguinte, colocando os restos perto da carga que estava na base dos computadores.
— O que eu não entendo, é como tudo isso não explodiu e nos mandou para o inferno, com os nosso explosivos todos espalhados por aí.
— Eu... Antes de voltar com a corda e mandar Gueng atrás de Tenzing, eu disse a Gueng para remover os explosivos e os detonadores por medida de segurança.
— Você sempre pensa em tudo?
— Tudo isso faz parte do serviço — disse sorrindo. — Sala de comunicações?
O local foi minado rapidamente. Rosemont olhou para o relógio.
— Oito minutos para a explosão. Vamos esquecer da sala do gerador.
— Ótimo. Tenzing, você vai na frente.
Subiram a escada de emergência. A porta de ferro rangeu quando eles abriram. Uma vez na caverna, Ross tomou a dianteira. Espiou, cautelosamente, para fora, observando tudo em volta. A lua ainda estava alta. A trezentos ou quatrocentos metros de distância, o caminhão da frente subia a última encosta.
— Para que lado, Vien? — perguntou e Rosemont se sentiu animado.
— Para cima — disse, sem demonstrá-lo. — Vamos subir. Se houver soldados atrás de nós, esquecemos a costa e rumamos para Tabriz. Se não houver nenhum soldado, fazemos a volta e regressamos pelo caminho por onde viemos.
Tenzing ia na frente. Ele era como uma cabra das montanhas, mas escolhia o caminho mais fácil, sabendo que os dois homens ainda estavam muito abalados. Aqui a encosta era bem íngreme, mas não muito difícil, e havia pouca neve para atrapalhar. Mal tinham começado a caminhada quando o chão estremeceu, e o som da primeira explosão chegou até eles totalmente abafado. Em rápida sucessão, houve outros pequenos tremores.
Só falta uma, pensou Rosemont, satisfeito com o frio que clareava sua cabeça. A última explosão, na sala de comunicações, onde tinham usado todo o resto dos explosivos, foi muito mais forte e sacudiu realmente a terra. Abaixo deles e à direita, parte da montanha cedeu, com a fumaça saindo da cratera resultante.
— Cristo — murmurou Ross.
— Provavelmente um respiradouro.
— Sahibl Olhe lá!
O caminhão que liderava o comboio tinha parado na entrada da caverna Havia homens pulando para fora, outros olhando para a encosta, iluminada pelos faróis dos outros caminhões. Todos os homens tinham rifles. Ross e os outros se embrenharam ainda mais nas sombras.
— Vamos subir até aquele cume — disse baixinho Rosemont, apontando para cima e para a esquerda. — Ficaremos fora do ângulo de visão deles e bem protegidos. Depois seguimos em direção a Tabriz, quase no rumo leste. Certo?
— Tenzing, adiante!
— Sim, sahib.
Atingiram o cume e o atravessaram, rumando para leste, sem conversar, guardando as energias pois ainda teriam muitos e muitos quilômetros para caminhar. O terreno era acidentado e a neve os atrapalhava. Em pouco tempo, as luvas estavam rasgadas, as mãos e os pés feridos, as pernas doíam mas, não tendo mais as pesadas mochilas para atrapalhar, progrediam bem e o moral estava alto.
Chegaram a um dos caminhos que ziguezagueava pelas montanhas. Sempre que o caminho se bifurcava, eles escolhiam o que fosse mais alto. Havia aldeias no vale, mas muito poucas naquela altura.
— É melhor ficarmos aqui por cima — disse Rosemont —, e... e torcer para não dar de cara com ninguém.
— Você acha que todos são hostis?
— Claro. Esta região não é só antixá, mas também anti-Khomeini, anti todo mundo. — Rosemont estava ofegando. — É aldeia contra aldeia o tempo todo e é uma região de bandidos. — Fez sinal para Tenzing avançar, grato pelo luar e pelo fato de estar com os três.
Tenzing manteve o passo, mas era um passo de montanhista, uniforme, sem pressa, constante e puxado. Depois de uma hora, Gueng tomou a liderança, depois Ross, Rosemont e depois Tenzing de novo. Três minutos de descanso para cada hora, depois recomeçando.
A lua desceu mais no céu. Eles agora já estavam bem longe, o caminho mais fácil, menos íngreme. Este ainda contornava a montanha, mas conduzia para leste, em direção a uma fenda de formato curioso na encosta. Rosemont a reconhecera.
— Lá naquele vale há uma estrada secundária que vai para Tabriz. No inverno, é pouco mais do que uma trilha, mas consegue-se passar com relativa facilidade. Vamos continuar até amanhecer, depois paramos para descansar e fazer um plano. Certo?
Estavam agora bem abaixo da linha das árvores, no início da floresta de pinheiros, andando bem mais devagar e sentindo o cansaço.
Tenzing ainda ia na frente. A neve abafava o barulho dos seus passos e o ar puro o fazia sentir-se muito bem. De repente, pressentiu o perigo e parou. Ross estava bem atrás dele e parou também. Todo mundo ficou esperando, imóvel. Então Ross avançou cautelosamente. Tenzing examinava a escuridão à sua frente, com o luar lançando estranhas sombras. Vagarosamente, os dois homens olharam para os lados. Nada. Nenhum sinal nem cheiro. Esperaram. Um pouco de neve caiu de uma das árvores. Ninguém se moveu. Então uma ave noturna saiu de um galho na frente à direita e voou ruidosamente. Tenzing apontou naquele direção, fazendo sinal a Ross para esperar, tirou o seu kookri e avançou sozinho, sumindo na noite.
Poucos metros depois, Tenzing viu um homem agachado atrás de uma árvore, a uns cinqüenta metros de distância e sua excitação aumentou. Chegando mais perto, percebeu que o homem não o vira. Aproximou-se mais. Então, com o canto dos olhos, viu uma sombra mover-se à esquerda, outra à direita e compreendeu.
— Emboscada! — gritou com toda a força dos pulmões e mergulhou no chão para se proteger.
A primeira rajada de balas passou perto mas não o atingiu. A segunda rajada perfurou seu pulmão esquerdo, abriu um buraco nas suas costas e lançou-o de encontro a uma árvore caída. Mais armas começaram a atirar no lado oposto do caminho, com o fogo cruzado castigando Ross e os outros, que tinham se arrastado para baixo de troncos de árvores e se enfiado nas valas.
Por um momento, Tenzing ficou deitado lá, impotente. Podia ouvir o tiroteio, mas este parecia muito distante, embora soubesse que devia ser bem próximo. Com um tremendo esforço, conseguiu se levantar e atirou na direção das armas que o haviam matado. Viu alguns dos seus atacantes virarem-se para ele e ouviu balas passando, algumas raspando o seu capuz. Uma delas entrou no seu ombro, mas ele nem sentiu, satisfeito por estar morrendo como os homens do regimento deviam morrer. Avançando. Sem medo. Eu não sinto realmente nenhum medo. Eu sou hindu e vou me encontrar com Shiva alegremente, e quando nascer de novo, peço a Brahma, a Vishnu e a Shiva que torne a nascer um gurkha.
Quando ele alcançou a emboscada, seu kookri arrancou o braço de alguém, suas pernas cederam e uma luz monstruosa, incomparável, explodiu em sua cabeça e ele se entregou à morte sem dor.
— Cessem o fogo — ordenou Ross, examinando o terreno, recuperando o controle da luta. Concluiu que havia dois grupos de atiradores contra eles, mas não havia nenhum jeito de alcançar nenhum deles. A emboscada fora bem planejada e o fogo cruzado era mortal. Tinha visto Tenzing ser ferido. Precisou de toda a sua força de vontade para não correr em sua ajuda, mas primeiro tinha que vencer esta batalha e proteger os outros. Os tiros ecoavam pela montanha. Tirou a mochila, encontrou as granadas, certificando-se de que sua arma era totalmente automática, sem saber como sair daquela armadilha. Então vira Tenzing levantar-se com um grito de guerra e avançar pela encosta, criando a distração que Ross precisava. Imediatamente, ordenou a Rosemont: