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Quanto a você, Seladi, meu estúpido e ganancioso tio, que trocou um reabastecimento seguro em Isfahan, que falhou em nos abastecer, para conseguir uma saída segura para você e para 11 dos seus amigos, você é pior. Você é um traidor. Se eu não tivesse um informante antigo no Estado-Maior do QG, eu nunca teria sabido da grande traição dos generais a tempo de fugir. Teríamos sido capturados como moscas num pote de mel em Teerã. Os legalistas ainda podem vencer, a batalha ainda não está perdida, mas enquanto isso eu e minha família vamos observar os acontecimentos da Inglaterra, de St. Moritz ou de Nova York.

Ele se deixou embalar pela força maravilhosa dos jatos que os estavam levando para a segurança, para uma casa em Londres, uma casa de campo em Surrey, outra na Califórnia, e para as contas bancárias que tinha na Suíça e nas Bahamas. Ah, sim, disse a si mesmo com satisfação, e isso me faz lembrar da nossa conta conjunta com a S-G bloqueada nas Bahamas, mais quatro milhões de dólares para nos enriquecer — e fáceis de arrancar das patas de Gavallan. Mais do que suficiente para manter a mim e à minha família em segurança o que quer que aconteça aqui — até que possamos voltar. Mesmo que vença, Khomeini não vai viver para sempre — que Deus o amaldiçoe! Logo nós poderemos voltar para casa, logo o Irã voltará ao normal, enquanto isso, temos tudo que precisamos.

Ele ouviu Seladi ainda resmungando a respeito de Lochart e do fato de quase ter sido deixado para trás.

— Acalme-se, Excelência — disse, e deu-lhe o braço, apaziguando-o, e pensou: Você e os seus cães fujões ainda têm um valor temporário. Talvez como reféns, talvez como iscas, quem sabe? Nenhum pertence à família exceto você, e você nos traiu. — Acalme-se meu querido tio, com a ajuda de Deus, o piloto vai ter o que merece.

Sim. Lochart não devia ter entrado em pânico. Ele devia ter esperado pela minha ordem. É revoltante entrar em pânico.

Valik fechou os olhos e dormiu, muito satisfeito consigo mesmo.

23

NA REFINARIA IRA-TODA, BANDAR DELAM: 12:04H. Scragger assoviava enquanto bombeava manualmente combustível para o interior dos seus tanques principais, tirando-o de grandes tambores alinhados ao lado do recém-lavado 206, que brilhava ao sol. Ali perto, estava um jovem Faixa Verde acocorado na sombra, apoiado no seu M16 e meio adormecido.

O sol do meio-dia estava quente e uma leve brisa tornava o dia agradável, diminuindo a constante umidade que havia ali na costa. Scragger vestia roupas leves, camisa branca com as insígnias de capitão, calças e sapatos pretos além dos inevitáveis óculos escuros e boné.

Agora os tanques estavam transbordando.

— É isso aí, meu filho — disse para o japonês designado para ajudá-lo.

— Hai, Anjin-san. Sim, sr. piloto — disse o homem. Como todos os empregados da refinaria, ele usava um macacão branco, imaculado, e luvas, com o emblema das Indústrias Irã-Toda nas costas, e com o mesmo escrito em farsi mais acima, e o equivalente em caracteres japoneses embaixo.

— Hai, é isso — disse Scragger, usando uma das palavras que aprendera com Kasigi na véspera, ao voltar de Lengeh. E apontou. — Agora os nossos tanques de longo percurso, e depois vamos encher os de reserva. — Para a viagem que de Plessey tinha generosamente autorizado no domingo à noite, para comemorar a vitória sobre os sabotadores, Scragger retirara o banco de trás e amarrara no lugar dois tambores de duzentos litros.

— Só por precaução, sr. Kasigi. Eu os liguei aos tanques principais. Podemos usar uma bomba manual e até mesmo reabastecer no ar, se formos obrigados, se o senhor concordar em bombear. Então não precisaremos mais pousar para reabastecer. Nunca se sabe como vai estar o tempo no golfo, há sempre tempestades repentinas, nevoeiro, ventos que podem nos pregar peças. Nossa melhor opção é ficarmos um pouco afastados, na direção do mar.

— E o tubarão?

— Aquele velho tubarão-martelo de Kharg? Com um pouco de sorte poderemos vê-lo; se chegarmos tão longe e não formos desviados.

— Não há ainda nenhuma resposta do radar de Kish?

— Não, mas isso não importa. Eles nos deram permissão para ir até Bandar Delam. O senhor tem certeza que pode me reabastecer na sua fábrica?

— Sim, nós temos estoques de tanques, capitão. Campo de pouso, hangar e oficina. Foram as primeiras coisas que construímos; nós tínhamos um contrato com a Guerney.

— Sim, sim, eu sabia disso, mas eles desistiram, não?

— Sim, há cerca de uma semana mais ou menos. Talvez a sua companhia possa assumir o contrato? Talvez eles possam encarregá-lo disso; há trabalho para três 212 e talvez dois 206 constantemente, enquanto estamos em construção.

— Isso faria o velho Andy e Gav ficarem tão felizes quanto um gato num barril de peixe e faria o Dirty Dunc soltar puns! — E Scragger rira.

— O quê?

Scragger tentou explicar a piada a respeito de McIver. Mas quando terminou, Kasigi não tinha rido, dizendo apenas:

— Oh, agora eu compreendo.

Eles são esquisitos, pensou Scragger.

Quando terminou de reabastecer, fez uma nova verificação: motor, rotores, sistema de vôo — embora não esperasse partir hoje. De Plessey pedira-lhe para esperar por Kasigi, para levá-lo para onde ele precisasse, e trazê-lo de volta a Lengeh na quinta-feira. O 206 estava perfeito. Satisfeito, deu uma olhada no relógio, depois apontou para o estômago e esfregou-o.

— Hora do grude, hai?

— Hai! — Seu ajudante sorriu e fez um sinal em direção ao pequeno caminhão que estava ali perto, depois apontou para o prédio de quatro andares que ficava a uns duzentos metros dali, onde ficavam os escritórios dos executivos.

— Prefiro andar — disse, sacudindo a cabeça e fez um gesto com dois dedos para explicar o que era andar, então o jovem se inclinou cumprimentando-o e foi embora no caminhão. Ele ficou parado lá por um momento, observando e sendo observado pelo guarda. Agora que o caminhão tinha partido e que os tanques estavam fechados, podia sentir o cheiro do mar e dos entulhos ali perto, na praia. Estava quase na hora da maré baixa — só havia uma maré por dia no golfo, assim como no mar Vermelho, porque ele era raso e sem acesso ao mar, a não ser através do estreito de Ormuz.

Ele gostava do cheiro do mar. Tinha crescido em Sydney, sempre com a visão do mar. Depois da guerra, tinha se instalado lá de novo. Pelo menos, disse a si mesmo, eu ia para lá entre um trabalho e outro e a mulher e as crianças viviam lá, e ainda vivem, mais ou menos. Seu filho e suas duas filhas já estavam casados e tinham filhos. Sempre que ia para casa de licença, talvez uma vez por ano, ele os via. Tinham um relacionamento distante e amigável.

Nos primeiros anos, sua esposa e filhos vieram morar no golfo. Mas no fim de um mês voltaram para Sydney.

— Nós estaremos em Bondi, Scrag — dissera Nell. — Chega de lugares estranhos para nós, rapaz. — Durante um dos seus longos períodos de serviço no Kuwait, ela tinha encontrado outro homem. Quando Scragger voltou, na vez seguinte, ela lhe disse: — Acho que é melhor nos divorciarmos, rapaz. É melhor para as crianças, e também para você e para mim. — E então eles o fizeram. O novo marido dela viveu mais alguns anos e depois morreu. Scragger e ela voltaram ao seu antigo padrão de amizade. Não que tenhamos deixado de ser amigos, pensou. Ela é uma ótima pessoa, as crianças estão felizes e eu estou voando. Ele ainda lhe mandava dinheiro todos os meses. Ela sempre dizia que não precisava de dinheiro.

— Então guarde-o para uma época de dificuldade, Nell — sempre respondia. Até agora, deixa eu bater na madeira, eles ainda não tinham tido nenhum período de necessidade, nem ela nem as crianças e nem seus netos.

A madeira mais próxima era a coronha do rifle que o revolucionário segurava. O homem o olhava com ar de ódio. Maldito filho da mãe, você não vai estragar o meu dia. Sorriu para ele, depois virou de costas, se espreguiçou e olhou em volta.