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— São dinossauros — disse Paul Ellison bruscamente, largando a lista em cima da mesa. — Todos eles.

— Ora, Paul, todos esses homens são experientes diplomatas de carreira.

— E preconceituosos na tradição do Departamento de Estado. Lembra como perdemos a Romênia há três anos? Nosso experiente diplomata de carreira em Bucareste meteu os pés pelas mãos e estragou tudo. Essa turma me preocupa. Todos estão querendo se resguardar. Quando propus um programa de povo-para-povo, estava falando sério. Precisamos causar uma impressão positiva num país que neste momento se mostra muito cauteloso em relação a nós.

— Mas se puser um amador no posto... alguém sem experiência... estará correndo um grande risco.

— Talvez precisemos de alguém com um tipo de experiência diferente. A Romênia será um teste para nós, Stan. Um piloto para todo o meu programa, se preferir assim.

— Hesitou por um instante. — Não estou me iludindo. Minha credibilidade está em jogo. Sei que há muitas pessoas poderosas que não querem que o programa dê certo. Se fracassar agora, ficarei acuado. Terei de esquecer a Bulgária, Albânia, Tchecoslováquia e o resto dos países da Cortina de Ferro. E não tenciono permitir que isso aconteça.

— Posso verificar alguns dos nossos candidatos políticos que...

O presidente Ellison sacudiu a cabeça.

— O problema é o mesmo. Quero alguém com um ponto de vista completamente novo. Alguém que possa promover o degelo. O oposto do americano feio.

Stanton Rogers observava atentamente o presidente, aturdido.

— Paul... tenho a impressão de que você já está com alguém em mente. É verdade?

Paul Ellison tirou um charuto da caixa em cima da mesa e acendeu-o.

— Para ser franco — respondeu ele, falando bem devagar —, talvez eu esteja mesmo.

— Quem é ele?

— Ela. Por acaso leu o artigo que saiu no último número da revista Foreign Affairs intitulado 'Détente agora'?

— Li.

— O que achou?

— Interessante. A autora acha que estamos em condições de tentar atrair os países comunistas para o nosso lado, oferecendo ajuda econômica e... — Ele parou de falar abruptamente. — Era muito parecido com o seu discurso de posse.

— Só que foi escrito há seis meses. Ela tem publicado artigos brilhantes em Commentary e Public affairs. No ano passado li um livro dela sobre a política do Leste europeu e devo admitir que ajudou a esclarecer algumas das minhas idéias.

— Muito bem. Então ela está de acordo com suas teorias. Isso não é motivo para considerá-la para um cargo tão impor...

— Stan... ela foi além da minha teoria. Esboçou um plano detalhado que é extraordinário. Quer reunir os quatro grandes pactos econômicos do mundo.

— Como poderíamos...

— Levaria algum tempo, mas é possível. Como sabe, os países do bloco oriental da Europa formaram em 1949 um pacto de assistência econômica mútua, chamado CO-MECON. Em 1958 os outros países europeus formaram o MCE... Mercado Comum Europeu.

— Certo.

— Temos a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico que inclui os Estados Unidos, alguns países do bloco ocidental e a Iugoslávia. E não se esqueça de que os países do Terceiro Mundo criaram um movimento de não-alinhados que nos exclui. — A voz do presidente estava impregnada de excitação. — Pense nas possibilidades. Se pudéssemos combinar todos esses planos e formar um único grande mercado... por Deus, seria fantástico! Significaria um verdadeiro mercado mundial. E poderia trazer a paz.

Stanton Rogers disse, cauteloso:

— É uma idéia interessante, mas muito distante.

— Conhece o velho ditado chinês: "Uma jornada de mil quilômetros começa com um único passo."

— Ela é uma amadora, Paul.

— Alguns dos nossos melhores embaixadores eram amadores. Anne Armstrong, ex-embaixadora na Grã-Bretanha, era uma educadora, sem qualquer experiência política. Perle Mesta foi nomeada para Luxemburgo, Clare Boothe Luce foi embaixadora na Itália. John Gavin, um ator, foi embaixador no México. Um terço dos nossos atuais embaixadores é constituído pelo que você chama de amadores.

— Mas não conhece nada sobre essa mulher!

— Exceto que ela é brilhante e que estamos na mesma sintonia. Quero que você descubra tudo o que puder a seu respeito. — Ele levantou um exemplar de Foreign affairs. — Seu nome é Mary Ashley.

Dois dias depois o presidente Ellison e Stanton Rogers tomaram o café da manhã juntos.

— Tenho a informação que você pediu. — Stanton Rogers tirou um papel do bolso e começou a ler. — Mary Elizabeth Ashley, Milford Road, 27, Junction City, Kansas. Idade, 35, casada com o doutor Edward Ashley... dois filhos, Beth, de doze anos, e Tim, de dez. Presidente do Capítulo Cinco da Liga de Eleitoras de Junction City. Professora-assistente de ciência política, especialista em Leste europeu, na Universidade Estadual do Kansas. O avô nasceu na Romênia. — Levantou os olhos, com uma expressão pensativa. — Talvez seja o tipo de representante que você deveria mandar para a Romênia.

— É bem possível, Stan. Eu gostaria de ter uma verificação de segurança completa sobre Mary Ashley.

— Pode deixar que tomarei as providências.

4

— Discordo, professora Ashley. — Barry Dylan, o mais brilhante e o mais jovem dos estudantes no seminário de ciência política de Mary Ashley, olhou ao redor, constrangido.

— Alexandros Ionescu é pior do que Ceausescu jamais foi.

— Pode nos dar alguns fatos que sustentem tal declaração? — pediu Mary Ashley.

Havia doze alunos graduados no seminário, realizado numa sala de aula do Edifício Dykstra, na Universidade Estadual do Kansas. Os alunos sentavam-se num semicírculo, de frente para Mary. A lista de espera para ingressar em suas turmas era maior que a de qualquer outro professor da universidade. Ela era uma professora extraordinária, com um senso de humor descontraído e uma simpatia que tornavam sua presença extremamente agradável. Possuía um rosto oval que mudava de atraente para bonito, dependendo de seu estado de espírito. Tinha os malares salientes de uma modelo e olhos cor de avelã. Os cabelos eram escuros e abundantes. O corpo deixava as alunas com inveja e despertava fantasias nos homens; apesar disso, ela não tinha consciência de sua beleza.

Barry especulou se ela seria feliz com o marido. Relutante, ele tornou a concentrar sua atenção no problema em debate.

— Quando assumiu o controle da Romênia, Ionescu perseguiu todos os elementos pró-Groza e restabeleceu uma posição de linha dura, pró-soviética. Nem mesmo Ceausescu foi tão ruim assim.

Outro aluno indagou:

— Então por que o presidente Ellison está tão ansioso em estabelecer relações diplomáticas com ele?

— Porque queremos atraí-lo para a órbita do Ocidente.

— Não se esqueçam de que Ceausescu também tinha um pé em cada lado — frisou Mary. — Em que ano isso começou?

Foi Barry quem respondeu:

— Em 1963, quando a Romênia tomou partido na disputa entre Rússia e China, a fim de demonstrar sua independência nas questões internacionais.

— Como é o relacionamento atual da Romênia com os outros países do Pacto de Varsóvia e com a Rússia em particular? — indagou Mary.

— Eu diria que está mais forte agora. Outra voz:

— Não concordo. A Romênia criticou a invasão russa do Afeganistão e também o acordo soviético com a CEE. Além disso, professora Ashley...

A campainha soou. A aula acabara. Mary disse: — Segunda-feira conversaremos sobre os fatores básicos que influenciam a atitude soviética em relação ao Leste europeu e também discutiremos as possíveis conseqüências do plano do presidente Ellison de se infiltrar no bloco oriental. Um bom fim de semana para vocês.