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Gwen se odeia por ter feito o que fez, – mas ao mesmo tempo, ela sabe que aquela tinha sido a única maneira possível de talvez salvar seu filho. Ela ouve o som de rugidos e trovões no horizonte atrás dela e sabe que, em breve, toda aquela ilha seria consumida pelas chamas – e nada que ela pudesse fazer seria capaz de salvá-los. Nem Argon, que continua deitado em um estado indefeso; nem Thorgrin, que está em algum lugar distante, na Terra dos Druidas; nem Alistair ou Erec, que estão muito longe dali, nas Ilhas do Sul; e certamente nem Kendrick ou os Prata ou qualquer um dos corajosos homens que ali se encontram – nenhum deles possui os poderes necessários para combater um dragão. Mágica é do que eles precisam – e também é a única coisa de que não dispõem.

Eles tinham tido sorte ao conseguirem escapar do Anel e, agora, o destino os havia alcançado. Não há mais como correr e nenhum lugar onde poderiam se esconder. É hora de encarar de frente a morte que há muito tempo os perseguia.

Gwendolyn se vira, olha para o horizonte oposto e vê – mesmo daquela distância, uma massa escura de dragões que se aproxima rapidamente, voando na direção deles. Gwen tem pouco tempo; ela não quer morrer ali sozinha naquela costa, e sim junto ao seu povo, protegendo-os o máximo que lhe for possível.

Ela dá uma última olhada na direção do mar, esperando ver Guwayne uma última vez.

Mas não há nada. Guwayne está muito longe dela agora, em algum lugar do horizonte, sendo levado em direção a um mundo que ela jamais conheceria.

Por favor, Deus, Gwen reza. Esteja com ele. Leve minha vida no lugar da dele. Eu farei qualquer coisa. Mantenha Guwayne em segurança. Permita que eu volte a segurá-lo em meus braços. Eu lhe imploro. Por favor.

Gwendolyn abre os olhos, esperando ver algum sinal, talvez um arco íris no céu – qualquer coisa.

Mas o horizonte está vazio. Não há nada exceto nuvens tempestuosas escuras, como se o universo estivesse furioso com ela pelo que Gwen havia feito.

Soluçando, Gwen dá as costas para o oceano mais uma vez, – dá as costas para o que ainda restava de sua vida, e começa a correr, aproximando-se a cada passo do momento em que enfrentaria o mal ao lado de seu povo pela última vez.

*

Gwen fica em pé nos parapeitos superiores do antigo forte de Tirus, rodeada por dezenas de seus companheiros, entre eles seus irmãos Kendrick e Reece, e Godfrey, além de seus primos Matus e Stara, Steffen, Aberthol, Srog, Brandt, Atme, e todos os cavaleiros da Legião. Todos observam o céu, em silêncio sombrio, cientes do que estava prestes a acontecer com todos eles.

Eles ficam ali parados, completamente impotentes e ouvindo o barulho distantes dos rugidos enquanto Ralibar luta por eles – um único e corajoso dragão fazendo o possível para segurar o exército de dragões inimigos. O coração de Gwen se enche de orgulho ao assistir Ralibar lutando, tão forte e corajoso; um dragão diante de dezenas e, ainda assim, sem demonstrar qualquer temor. Ralibar cospe fogo nos dragões, erguendo suas grandes garras para arranhá-los, agarrando-os e enfiando suas enormes presas em seus pescoços. Ele não só é mais forte do que os outros, mas também é mais rápido. É impressionante observá-lo em ação.

Enquanto Gwen assiste, seu coração se enche mais uma vez com uma pontada de esperança; uma parte dela ousa acreditar que Ralibar talvez possa derrotá-los. Ela vê Ralibar desviar e mergulhar quando três dragões assopram fogo em seu rosto, errando o alvo por pouco. Ralibar mergulha para a frente e enfia suas garras no peito de um dos dragões, usando seu impulso para empurrá-lo na direção do oceano.

Vários dragões assopram fogo nas costas de Ralibar quando ele mergulha, e Gwen assiste horrorizada quando Ralibar e o outro dragão se tornam uma bola flamejante, despencando em direção ao mar. O dragão tenta resistir, mas Ralibar usa todo o seu peso para empurrá-lo na direção das ondas – e logo, ambos caem dentro do oceano.

Ouve-se um grande chiado, e nuvens de vapor se erguem quando as águas do mar apagam o fogo. Gwen observa ansiosa, torcendo para que ele esteja bem – e momentos depois, Ralibar ressurge, sozinho. O outro dragão logo aparece, mas ele seu corpo está inerte, boiando nas ondas, morto.

Sem hesitar, Ralibar dispara para o céu, rumo às dezenas de outros dragões que mergulham na direção dele. Ao mesmo tempo em que eles descem, com suas grandes mandíbulas abertas com a intenção de mordê-lo, Ralibar parte para o ataque: ele estica suas imensas garras, inclinando-se para trás, abre suas asas e agarra dois deles ao mesmo tempo em que gira e os empurra para dentro do mar.

Ralibar os segura dentro da água, mas ao fazer isso, dezenas de dragões atacam suas costas expostas. O grupo inteiro mergulha para dentro do mar, levanto Ralibar junto com eles. Ralibar, por mais destemidamente que esteja lutando, está simplesmente em grande desvantagem, e é levado para o fundo do mar debatendo-se, preso por dezenas de dragões que gritam enfurecidos.

Gwen suspira, seu coração aos pedaços ao ver Ralibar lutando com tanta coragem por todos eles, enfrentando sozinho todos aqueles dragões; tudo o que ela mais quer é poder ajudá-lo. Ela vasculha o mar diante dela, procurando, esperançosa, por qualquer sinal de Ralibar e torcendo para encontrá-lo.

Mas para sua tristeza, ele não aparece.

Os outros dragões ressurgem, – voando para o céu e se reagrupando, e voltam suas atenções para as Ilhas Superiores. Eles parecem olhar diretamente para Gwendolyn ao darem um grande rugido ao mesmo tempo em que estendem suas asas.

Gwen sente seu coração partir. Seu grande amigo Ralibar, a última esperança de seu povo, sua última forma de resistência, havia morrido.

Gwen se vira para seus homens, que observam paralisados pelo choque. Eles sabem o que viria a seguir: uma inevitável onda de destruição.

Gwen se sente pesada; ela abre a boca, mas as palavras ficam presas em sua garganta.

"Soem os alarmes," ela diz finalmente com a voz rouca. "Levem nosso posso para o abrigo. Todas as pessoas aqui em cima precisam descer, agora. Levem-nos para cavernas, porões – qualquer lugar, menos aqui. Levem-nos – agora!"

"Soem os alarmes!" Steffen grita, correndo para a entrada do forte e gritando para os soldados no pátio. Logo, os sinos tocam por toda a praça. Centenas de seus súditos, sobreviventes do Anel, começam a fugir, correndo para se esconderem, indo para cavernas nos arredores da cidade ou descendo para os porões e adegas no subsolo, preparando-se contra a inevitável onda de fogo que certamente viria.

"Minha rainha," Srog diz, voltando-se para ela, "talvez possamos todos nos refugiar no forte. Afinal de contas, ele é feito de pedras."

Gwen balança a cabeça.

"Você não conhece a fúria dos dragões," ela diz; "Nada que estiver na superfície estará seguro. Absolutamente nada."

"Mas minha senhora, talvez nós fiquemos mais seguros dentro do forte," ele insiste. "Ele resistiu ao teste do tempo. As paredes de pedras têm quase um metro de espessura. Não seria melhor ficarmos aqui do que embaixo da terra?"

Gwen balança a cabeça. Há um rugido, e ela olha para o horizonte e pode ver que os dragões se aproximam. Seu coração se sobressalta ao ver, à distância, os dragões assoprando uma parede de fogo em sua frota, que continua atracada no porto ao sul das ilhas. Ela assiste horrorizada quando seus preciosos navios, sua única forma de escapar daquelas ilhas – navios belíssimos cuja construção tinha levado anos, são reduzidos a nada além de brasas. Ela fica satisfeita por ter previsto aquilo, e feliz por ter escondido alguns navios no outro lado da ilha. Gwen espera apenas que eles sobrevivam para poder usá-los.

"Não temos tempo para discussões. Todos deixaremos esse lugar imediatamente. Sigam-me."