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- Caríssima…

- Não me toque! Prefiro me entregar ao primeiro marinheiro sifilítico que encontrar no meio da rua a deixar que você se aproxime de mim. Ivo aprumou o corpo, ofendido no seu orgulho.

- Nunca esperei que a mãe dos meus filhos falasse assim comigo!

- Quer que eu fale delicadamente com você? Quer que eu deixe de trata-lo como o verme que você é? - perguntou Donatella, erguendo de novo a voz. - Então me dê o que quero!

Ivo olhou nervosamente para a porta.

- Não posso dar, caríssima, porque não tenho…

- Consiga então para mim! Você prometeu! Ela estava começando a ficar exasperada de novo, e Ivo achou que o melhor era sair dali antes que os vizinhos chamassem outra vez os carabinieri.

- Não vai ser fácil conseguir um milhão de dólares. Mas vou dar um jeito… Vestiu apressadamente as cuecas e as calças e calçou as meias e os sapatos, enquanto Donatella andava pelo quarto com os seios magníficos e firmes empinados no ar e Ivo pensava:

"Meu Deus, que mulher! Como eu a adoro!" Pegou a camisa ensangüentada. Não havia outro jeito senão vesti-la. Sentiu nas costas e no peito a umidade pegajosa do sangue. Olhou-se ainda uma vez ao espelho. Algumas gotas de sangue ainda escorriam dos profundos cortes que Donatella lhe abrira no rosto com as unhas. Murmurou então:

- Caríssima, como é que eu vou explicar isso a minha mulher?

A mulher de Ivo Palazzi era Simonetta Roffe, uma herdeira do ramo italiano da família Roffe. Quando a conheceu, Ivo era um jovem arquiteto. O escritório mandara-o supervisionar algumas reformas na Villa Roffe em Porto Ercole. No momento em que Simonetta pôs os olhos em Ivo, seus dias de solteiro estavam contados.

Ivo tinha chegado à quarta fase com ela na primeira noite e, pouco tempo depois, estava casado. Simonetta era tão decidida quanto bela, e sabia muito bem o que queria.

Queria Ivo Palazzi. Foi assim que Ivo se viu transformado de homem solteiro e despreocupado em marido de uma jovem e bela herdeira. Desistiu sem pesar dos seus sonhos como arquiteto e começou a trabalhar na Roffe and Sons, com um magnífico escritório na EUR, a parte de Roma iniciada com tantas esperanças pelo falecido e malaventurado Duce. Desde o início, Ivo fez sucesso na firma. Era inteligente, aprendia com facilidade as coisas, e todos o adoravam.

Era impossível não adorar Ivo. Estava sempre sorridente e era sempre encantador.

Os amigos invejavam-lhe a posição e não sabiam ao certo como ele conseguira. A explicação era simples. Ivo mantinha profundamente oculto o lado sombrio da sua natureza. Na realidade, era um homem violentamente emotivo, capaz de ódios explosivos, capaz até de matar. O casamento de Ivo com Simonetta deu certo. A princípio, ele receara que pudesse ser uma servidão que lhe tolhesse a liberdade, mas logo viu que os seus receios eram infundados. Submeteu-se apenas a um programa de austeridade, reduzindo o número de suas mulheres, e tudo continuou como antes. O pai de Simonetta comprou para eles uma bela casa em Olgiata, uma grande propriedade vinte e cinco quilômetros ao norte de Roma, protegida por portões fechados e vigiada por guardas fardados.

Simonetta era uma esposa maravilhosa. Amava Ivo e tratava-o como um rei, o que, na opinião de Ivo, ele merecia. Havia apenas uma leve falha em Simonetta. Quando sentia ciúmes, virava uma fera. Desconfiara certa vez que Ivo levara uma mulher do departamento de compras a uma viagem ao Brasil. Ele se mostrara indignado e ofendido com a acusação. Antes que a discussão terminasse, a casa estava em cacos.

Não havia um prato ou um móvel intacto, e quase tudo fora quebrado na cabeça de Ivo. Simonetta avançara para ele com uma faca de cozinha ameaçando matá-lo e matar-se depois. Ivo tivera que empregar toda a sua força para tomar-lhe a faca.

Terminaram brigando no chão e, aí, Ivo rasgara-lhe todas as roupas e acabara com a raiva dela. Mas, depois desse incidente, Ivo se tornou mais discreto.

Disse à moça do departamento de compras que não podia mais fazer viagens com ela, e tinha o cuidado de não deixar que nem a sombra de uma suspeita o tocasse. Sabia que era o homem mais feliz do mundo. Simonetta era jovem, bela, inteligente e rica.

Gostavam das mesmas coisas e da companhia das mesmas pessoas. Era um casamento perfeito, e Ivo, muitas vezes, ao levar uma garota da segunda para a terceira fase ou da quarta para a quinta, ficava sem saber por que era infiel. Encolhia, então, os ombros filosoficamente e dizia: Alguém tem que dar um pouco de felicidade a essas mulheres.

Ivo e Simonetta estavam casados havia três anos quando ele conheceu Donatella Spolini durante uma viagem de negócios à Sicília. Foi mais uma explosão do que um encontro. Eram dois planetas que se chocavam. Enquanto Simonetta tinha um corpo esbelto e suave de uma jovem esculpida por Manzú, Donatella tinha o corpo sensual e exuberante de uma figura de Rubens.

O rosto era excepcional, e os olhos verdes mortiços inflamavam Ivo. Foram para a cama uma hora depois de se terem conhecido, e Ivo, que sempre se vangloriava das suas proezas como amante, descobriu que era um simples aluno e Donatella, uma professora.

Ela o levou a altura que ele nunca havia atingido, e o corpo de Donatella podia fazer com ele coisas que Ivo nunca julgara possível. Ela era uma cornucópia inesgotável de prazer, e quando Ivo estava deitado na cama, de olhos fechados, saboreando sensações incríveis, convenceu-se de que seria rematado idiota se um dia abrisse mão de Donatella.

Assim, Donatella se tornara amante de Ivo. A única condição imposta por ela foi que ele se livrasse de todas as outras mulheres em sua vida, exceto a sua esposa. Ivo concordara, todo feliz.

Viviam assim haviam oito anos e durante esse tempo, ele nunca fora infiel, nem à esposa, nem à amante. Satisfazer as duas mulheres vidas seria suficiente para exaurir um homem comum, mas, no caso de Ivo acontecia exatamente o contrário. Quando amava Simonetta, pensava em Donatella e no seu corpo redondo e cheio, sentindo-se então cheio de desejo. Quando amava Donatella, pensava nos suaves seios jovens de Simonetta e no seu delicado corpo e se portava como um animal enfurecido. Com qualquer das mulheres ao seu lado, sentia que estava enganando a outra, e isso ampliava entrementes o seu prazer. Ivo comprara para Donatella um belo apartamento na Via Montemignaio e ficava com ela todos os momentos possíveis. Tomava todas as providências para uma viagem de negócios súbita e então passava o tempo todo na cama com Donatella. Parava para vê-la quando ia para o escritório e, depois do almoço, passava a hora da sesta com ela. Uma vez, quando viajava de navio para Nova York, no Queen Elizabeth II, em companhia de Simonetta, instalou Donatella em um camarote, um convés abaixo. Foram os cinco dias mais estimulantes da vida de Ivo.

Na noite em que Simonetta anunciou a Ivo que estava grávida, ele sentiu uma alegria indescritível. Uma semana depois, Donatella informou a Ivo que estava esperando um filho, e o contentamento de Ivo transbordou. Por que, perguntava ele, os deuses me cumulam de bens? Com toda a humildade, Ivo reconhecia às vezes que não merecia todos os grandes benefícios que lhe caíam nas mãos. No devido tempo, Simonetta deu à luz uma menina e, uma semana depois, Donatella deu a luz um menino. Que mais podia um homem querer?

Mas os deuses ainda não estavam satisfeitos.

Pouco tempo depois, Donatella disse a Ivo que estava de novo grávida e, uma semana depois, Simonetta ficou grávida novamente. Nove meses depois, Donatella deu a Ivo outro filho, e Simonetta presenteou o marido com outra menina. Quatro meses depois, as duas mulheres estavam novamente grávidas e, desta vez, tiveram os partos no mesmo dia. Ivo correu nervosamente do Salvator Mundi, onde Simonetta estava internada, para a clínica Santa Chiara, para onde levara Donatella. Corria de hospital para hospital, no seu carro, pelo Reccordo Anulare, acenando para as mulheres sentadas frente de suas barracas à beira da estrada, sobre guarda-sóis cor-de-rosa, à espera dos fregueses. Ivo dirigia muito depressa e não podia ver-lhes os rostos, mas amava a todas e lhes desejava felicidades.