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Donatella teve outro filho, e Simonetta, outra filha. Às vezes, Ivo desejava que tivesse acontecido ao contrário. Era errado que sua mulher só lhe tivesse dado filhas, enquanto sua amante lhe dava filhos, pois ele desejava herdeiros masculinos que pudessem continuar o seu nome. Apesar disso, era um homem contente. Tinha três filhos em casa e três fora. Adorava a todos e era muito bom para eles, nunca se esquecia dos aniversários, dos dias dos seus santos e dos seus nomes. As meninas se chamavam Isabella, Benedetta e Camilla. Os meninos, Francesco, Carlo e Luca. Quando os filhos cresceram, as coisas começaram a ficar mais complicadas para Ivo.

Incluindo a mulher, a amante e seis crianças. Ivo tinha que se lembrar de oito aniversários, de oito dias de santos e de oito presentes dobrados nas festas. Providenciou para que as escolas das filhas e dos filhos fossem bem separadas. As meninas foram mandadas para o Saint-Dominique, o convento francês na Via Cassia, e os meninos foram matriculados no Massimo, o colégio dos jesuítas na EUR. Ivo conhecia e encantava todos os professores dos filhos, ajudava todos a fazer os deveres de casa e consertava os brinquedos quebrados. O esforço de manter duas famílias separadas punha à prova toda a energia de Ivo, mas ele dava um jeito. Era pai, marido e amante exemplar. No dia de Natal, ficava com Simonetta, Isabella, Benedetta e Camilla. No Dia dos Reis, a 6 de janeiro, Ivo se vestia como a Befana, a feiticeira, e distribuía presentes e carbone, a bala de açúcar-cande que as crianças adoravam, a Francesco, Carlo e Luca.

A mulher e a amante de Ivo eram belas e seus filhos eram inteligentes e bonitos.

Sentia orgulho deles. A vida era maravilhosa. Foi então que os deuses cuspiram no rosto de Ivo Palazzi. Como acontece com muitas grandes catástrofes, tudo chegou sem o menor aviso. Ivo tinha feito amor com Simonetta antes do café da manhã e depois fora diretamente para o escritório, onde fizera um bom trabalho na parte da manhã. À uma hora da tarde, disse a seu secretário - Simonetta não admitia secretárias - que ia a uma reunião, que decerto lhe tomaria o resto da tarde. Sorrindo ante os prazeres à sua espera, Ivo circundou a construção que bloqueava a rua no Lungo Tevere, onde estavam construindo o metro havia dezessete anos, atravessou a ponte para o Corso Francia e, trinta minutos depois, entrava na sua garagem na Via Montemignio.

No momento em que abriu a porta do apartamento, soube que havia algo de anormal. Francesco, Carlo e Luca rodeavam Donatella em prantos. Quando se aproximou, Donatella o olhou com tal expressão de ódio, que por um instante, Ivo teve a impressão de haver entrado em outro apartamento.

- Stronzo!- gritou ela para Ivo. Ivo correu os olhos em redor, cheio de espanto.

- Caríssima! Crianças! Que foi que houve? Que foi que eu fiz?

Donatella levantou-se e jogou-lhe um exemplar da revista Oggi.

- Está aí o que você fez. Veja!

Atônito, Ivo pegou a revista e viu na capa uma fotografia em que aparecia ele, Simonetta e suas três filhas com a legenda "Padre di famiglia" Dio! Tinha-se esquecido inteiramente daquilo. Meses antes a revista lhe pedira autorização para fazer uma reportagem sobre sua família e ele, sem dar muita atenção ao caso, concordara.

Nunca esperava que dessem tanto destaque à reportagem. Olhou para a amante e para os filhos que choravam e disse:

- Posso explicar isso…

- Os colegas deles já explicaram tudo - exclamou Donatella. - Meus filhos voltaram para casa chorando porque na escola todos os estavam chamando de bastardos!

- Cara, eu…

- Os vizinhos estão nos tratando como se fôssemos leprosos. Não podemos mais levantar a cabeça. Temos de sair daqui! Ivo olhou para ela, atordoado.

- Que é que você está dizendo?

- Vou sair de Roma com meus filhos.

- São meus filhos também, e você não pode fazer isso!

- Tente impedir-me e eu o matarei!

Era um pesadelo. Ivo ficou ali, vendo a amante e os filhos entregues a um verdadeiro acesso de desespero e pensando: "Não! Isso não pode estar acontecendo comigo"! Mas Donatella ainda não dissera tudo.

- Antes de sairmos daqui, quero um milhão de dólares. Em dinheiro. Era tão ridículo que Ivo começou a rir.

- Um milhão de dólares…

- Se não me der o dinheiro, telefonarei para sua mulher.

Isso havia acontecido seis meses antes. Donatella ainda não cumprira a sua ameaça, mas Ivo sabia que poderia cumpri-la. Todas as semanas, ela aumentava a pressão. Telefonava para o escritório dele e dizia:

- Não me interessa como vai conseguir o dinheiro, mas trate de arranjá-lo.

Havia somente um meio de conseguir uma quantia tão grande. Tinha de vender as ações da Roffe and Sons. Sam Roffe não consentiria na venda. Sam Roffe estava prejudicando a felicidade conjugal e o futuro de Ivo. Era preciso dar um jeito nisso. Se conhecesse as pessoas certas, isso poderia ser feito. O que mais machucava Ivo era que Donatella, sua querida amante apaixonada, não o deixava tocar nela. Ivo podia visitar as crianças todos os dias se quisesse, mas não podia entrar no quarto.

- Só depois que me der o dinheiro deixarei você fazer amor comigo - dizia Donatella. No seu desespero, Ivo telefonara para Donatella uma tarde e dissera:

- Vou para aí agora mesmo. Consegui o dinheiro. Pretendia amá-la primeiro e acalmá-la depois. Não poderia deixar de dar certo. Conseguiu fazê-la tirar a roupa e então disse a verdade. - Ainda não tenho o dinheiro, cara, mas dentro em breve… Foi então que ela o atacou com as unhas como um animal feroz.

Ivo estava pensando nessas coisas ao afastar-se de carro do apartamento de Donatella, como então pensara a considerá-lo, e virou para o norte na movimentada Via Cassia, de volta à sua casa em Olgiata. Olhou para o rosto no espelho. Os ferimentos não estavam mais sangrando, mas eram bem visíveis no seu rosto. Olhou para a camisa manchada de sangue. Como poderia explicar a Simonetta os arranhões no rosto e nas costas? Por um momento passou-lhe pela cabeça a idéia de contar a verdade, mas abandonou esse pensamento absurdo. Talvez pudesse confessar a Simonetta que, em um momento de aberração mental, tinha ido para a cama com uma mulher e ela ficara grávida… Sim, poderia dizer isso e escapar com vida. Mas três filhos? E no espaço de oito anos? A sua vida não valeria uma nota de cinco libras. E não podia deixar de ir para casa, pois estavam esperando convidados para jantar e Simonetta fazia questão da sua presença. Ivo estava num beco sem saída. O seu casamento estava acabado. Só San Gennaro, o santo dos milagres, poderia salvá-lo. De repente, viu um cartaz ao lado da Via Cassia. Virou o carro na direção do cartaz e freou. Trinta minutos depois, transpunha as portas de Olgiata. Sem dar atenção aos olhares dos guardas para seu rosto arranhado e a sua camisa ensangüentada, Ivo seguiu pelos caminhos da propriedade e foi parar diante da casa. Abriu a porta e entrou na sala, onde estavam Simonetta e Isabella, a filha mais velha. Simonetta ficou espantada ao olhar para o marido.

- O que aconteceu, Ivo? Ivo sorriu a contragosto, tentando dissimular a dor que estava sentindo. - Creio que fiz uma coisa completamente irrefletida, cara… Simonetta havia se aproximado e examinava os arranhões. Ivo podia ver que ela já estava apertando os olhos. Perguntou então com uma voz repassada da maior frieza:

- Quem foi que lhe arranhou o rosto desse jeito?

- Tibério - disse Ivo, tirando de trás de si um grande e feio gato cinzento que, naquele momento, soltou-se de suas mãos e fugiu. - Comprei-o para Isabella, mas o danado do bicho me atacou em um trecho da estrada em que era muito perigoso parar. - Povero amore mio!

Instantaneamente Simonetta estava ao seu lado.

- Angelo mio! Vamos subir que eu quero botar você na cama. Vou telefonar para o médico e passar iodo nisso…