Выбрать главу

Por que não me disseste que vinhas esta noite? Não estava à espera...

Cala-te! Cala-te, peço-te, e faz amor comigo! Preciso muito! Acaricia-me! Possui-me!

Ao sentir a humidade das suas faces e lábios, ele compreendeu que ela chorava-.

O que é que se passa! Por que essas lágrimas?

Ela vai... ela vai partir outra vez! Ela vai-me deixar outra vez...

Quem?

Quem havia de ser?... Fiora, a minha patroa amada. Ela quer-me deixar, quando prometeu que nunca mais nos separaríamos! É aquela maldita Léonarde que ela vai levar...

Para onde? Para onde vai ela, agora que o Inverno está a chegar?

Para Paris, para casa de gente que eu não conheço... E por muito tempo.

Eu conheço-os, são os melhores amigos dela. Além disso, é Agnolo Nardi que lhe gere a fortuna. Mas, que vai ela lá fazer?

Um clarão de temor brilhou no olhar desnorteado da jovem, impedindo-a à justa de uma última confidência que, ela sabia-o, pagaria cara.

Não te posso dizer porque era capaz de morrer, mas faz amor comigo, suplico-te. É preciso que alguém trate de mim e me dê alguma alegria, porque a minha bela Fiora já não quer a sua escrava...

Onde foste buscar isso? indignou-se Florent. Só porque donna Fiora não te quer levar para Paris, achas que vais ficar separada dela para sempre? Tu vais ficar aqui a tomar conta do filho dela, e depois? Sentes-te infeliz?

E Florent tratou de provar a Khatoun que, pelo menos para ele, ela tinha muita importância. Um instante mais tarde, ela ronronava por baixo dele como um gato feliz e as suas lágrimas secavam sob os beijos do rapaz. O pequeno quarto encheu-se de suspiros, aos quais as paredes já estavam acostumadas.

De facto, três dias após a partida de Fiora e de Mortimer, Florent, que entretanto empilhava cuidadosamente fardos de palha para o Inverno, vira Khatoun ir ter com ele. Era um daqueles belos dias de Outono, tépidos, em que o Sol suave provoca alguma humidade na pele e dispõe à preguiça. Enquanto arrumava os fardos odoríferos, o rapaz talvez tivesse bebido um pouco de vinho a mais à refeição pensava, justamente, que seria bom rolar em cima deles com uma rapariga de corpo fresco.

Khatoun tinha um vestido de tela azul por cima de uma gargantilha cujas fitas, um pouco largas, deixavam ver uns ombros suaves. A jovem levava uma bilha de água fresca acabada de tirar do poço, cujas gotas cintilavam ao caírem uma a uma na terra batida. Sem uma palavra, ela deu de beber ao jovem e depois, pousando o recipiente com um meio sorriso como se fosse a coisa mais natural do mundo, pegou-lhe na mão e, olhando-o no fundo dos olhos, levou aquela mão-cheia de poeira a um dos seus pequenos seios redondos e duros, sobre o qual ela se fechou instintivamente.

Khatoun pode refrescar-te de outra maneira murmurou ela. É tão bom fazer amor com este calor! E a palha cheira tão bem!

Um instante mais tarde mergulhavam, os dois nus, no feno perfumado. A pele da pequena tártara era doce e sedosa como cetim cor de marfim e como, astuciosamente, ela roubara um pouco do perfume da sua patroa, o antigo aprendiz de banqueiro teve, ao fechar os olhos, a impressão de possuir aquela Fiora tão bela por quem estava tão perdidamente, tão desesperadamente, apaixonado... E pareceu-lhe delicioso.

Depois, quase todas as noites a menos que o pequeno Philippe não precisasse de Khatoun os dois jovens juntavam-se no quartito do rapaz para empreenderem jogos ardentes, dos quais tiravam um prazer cada vez mais arrebatado. Khatoun sabia que Florent não a amava verdadeiramente, assim como Florent sabia que não podia haver amor em casa da sua patroa, mas aquele amor, se bem que diferente, claro, que ambos sentiam por Fiora levava-os a unirem-se. Florent era jovem, bem constituído e naturalmente ardente. Quanto a Khatoun, o amor era para ela uma questão de instinto, como para muitas filhas da Ásia. Ela sabia satisfazer um homem sem deixar de guardar para si a sua dose de prazer, porque recebera do seu marido, o médico romano, as melhores lições. Quanto ao jovem parisiense, perdida a inocência em casa de uma prostituta das margens do Loire, descobriu, com a pequena tártara, um mundo de sensações inimagináveis. Conseguindo com ela feitos de que se julgava incapaz, tinha por ela um reconhecimento ingénuo. Graças a Khatoun, Florent achava-se um daqueles homens privilegiados pela natureza, dignos de se tornarem amantes de uma rainha.

Tu és uma verdadeira diabinha dizia-lhe ele, por vezes mas o amor contigo é tão doce...

O importante era, após uma noite particularmente quente, escapar ao olhar míope mas singularmente perspicaz da dama Léonarde, ou ao sorriso entendido do pai Étienne. Florent safava-se indo chafurdar no Loire ao nascer do dia, mas sabia que teria de encontrar outra coisa quando chegasse o Inverno. Era verdade que, então, as noites seriam mais longas e os trabalhos do jardim ou dos campos menos absorventes...

Mas, naquela noite, o jogo do amor terminou rapidamente e, enquanto Khatoun continuava a chorar com a cabeça aninhada no ombro do rapaz, este, apesar de tudo ter feito para apaziguar o desespero da sua amiga, confessou a si próprio que não estava longe de o partilhar com ela. Por que razão partiam Fiora e Léonarde para casa dos Nardi, sobretudo se tinham de ficar lá durante várias semanas, talvez vários meses? Entretanto, no meio da sua inquietação, nascia uma esperança: aquele grande diabo escocês não podia passar o tempo todo a escoltar as damas, o que lhe dava a ele, Florent, a hipótese de ser escolhido.

Sob o feroz comando de Archie Ayrlie, os seus progressos na equitação tinham sido rápidos e não havia razão nenhuma para o deixarem em casa.

O jovem abanou suavemente Khatoun, que adormecera, para a mandar para o seu quarto, um pouco envergonhado por constatar que a ideia de não a ver durante dias e dias não lhe provocava uma grande pena. E como ela recomeçasse a chorar, ele lançou-lhe, descontente:

Não vais passar o tempo todo a chorar até ao Natal? É aborrecido, sem dúvida, que donna Fiora se vá embora, mas podes ter a certeza, de que se o faz é porque tem uma boa razão. Por isso, não lhe compliques a existência! Ela volta. Sim... Tens razão, claro... Enfim, veremos...

E, pegando na camisa, Khatoun vestiu-a com um gesto maquinal e dirigiu-se para a porta. Florent voltou a deitar-se e esforçou-se por adormecer, porque o dia aproximava-se. As palavras de Khatoun martelavam-lhe a cabeça e ele esforçava-se por encontrar uma explicação. O jovem não conseguiu e, pelo contrário, acabou por adormecer num sono tão profundo que não ouviu cantar o galo e esqueceu-se das horas. Só quando Étienne o atirou da cama abaixo é que ele retomou o contacto com a realidade quotidiana.

Realidade essa que não tinha nada de sorridente. Fiora, com o rosto sombrio, não dizia palavra e parecia sofrer. A jovem estava pálida e visivelmente fatigada. Além disso, chovia a cântaros, o que provocava uma luminosidade cinzenta pouco sedutora. Assim, quando depois do meio-dia apareceu um pajem para lhe dizer que o Rei desejava vê-la, ela acolheu o convite sem o menor prazer. Florent, pelo contrário, ficou muito contente, porque a jovem ordenou-lhe de imediato que se aprontasse para a acompanhar e que selasse as mulas enquanto ela mudava de vestido.

Fiora encontrou Luís XI no seu quarto, uma vasta divisão cheia de tapeçarias representando temas de caça onde uma dezena de cães, épagneuls louros e galgos brancos formavam, sobre os tapetes, um arquipélago sedoso. Sentado numa cadeira de madeira esculpida perto da grande chaminé de pedra branca onde ardia um tronco de árvore, o Rei de França parecia curiosamente encarquilhado. Friorento em excesso, estava vestido como em pleno Inverno com um traje castanho sólido e quente orlado de pele de castor, que luzia como uma castanha, combinando com o chapéu que usava, como habitualmente, sobre um barrete de lã vermelha que lhe cobria as orelhas. Junto dele, o seu galgo favorito, Cher Ami, estendia o seu estreito focinho para os bocados de biscoito que as mãos finas, verdadeiramente reais, talvez a única beleza daquele estranho soberano, ofereciam à sua gulodice. À luz das chamas, os rubis encastoados na coleira do cão brilhavam como brasas.