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A ambulância era a bomba atómica.

LXI

Como se tivessem recebido nesse instante um choque eléctrico, os três largaram a correr para atravessar a avenida, Ted e Rebecca a sacarem as suas pistolas, Tomás de mãos vazias mas a correr também, a mente dos três fixada obsessivamente na mesma ideia, na mesma descoberta, no mesmo horror.

A ambulância era a bomba atómica.

Acercaram-se do veículo já sem se preocuparem com manter-se furtivos; era tudo demasiado urgente para subtilezas. O homem do FBI agarrou o manipulo e puxou-o, de modo a abrir a porta traseira, mas ela manteve-se fechada. Estava trancada.

Sem hesitar, Ted apontou a pistola à fechadura, segurou o pulso para travar o coice da arma e carregou no gatilho. Pah.

O brutal estampido do disparo ecoou pelos tímpanos de Tomás e lançou o caos em redor. Os polícias que faziam a

segurança naquela zona aperceberam-se de que algo de anormal se passava, sacaram das armas e começaram a gritar. "Freeze!"

Mas Ted ignorou-os.

A fechadura da ambulância estava estilhaçada e ele puxou a porta, que se abriu de imediato, revelando dois homens no interior do veículo, um de camisa verde ajoelhado sobre alguma coisa, o de bata branca com uma arma na mão.

Pab.

Pab.

Ted abateu o homem da bata branca, que se dobrou em dois e caiu para a rua. O homem de verde, evidentemente Ahmed, sacou de uma pistola e apontou-a para o exterior.

Crack-crack-crack-crack-crack.

Uma chuva de balas abateu-se sobre Ted, que caiu desamparado no chão. Eram os polícias em redor a abrir fogo sobre ele, pensando que o homem do FBI acabara de balear um médico indefeso.

"CIA!", gritou Rebecca para os polícias. "Parem o fogo!"

Os polícias hesitaram e suspenderam os disparos.

Pab.

Um tiro partiu do interior da ambulância e Tomás rolou pelo chão, fulminado pelo disparo.

Acto contínuo Rebecca atirou-se ao asfalto e, deitada de barriga para baixo, apontou para Ahmed, que já virava a arma fumegante na direcção dela.

Pab.

Pab.

Ahmed tombou no interior da ambulância.

Crack-crack-crack-crack-crack.

Dessa vez a polícia abriu fogo sobre Rebecca, mas como ela estava estendida no chão acabou por se revelar um alvo menos exposto. Além disso largou de imediato a pistola e protegeu a cabeça. Vendo-a indefesa, os guardas suspenderam os disparos e mantiveram as armas apontadas para toda a gente, mesmo os que haviam sido atingidos.

"Ninguém se mexe!", gritou um dos polícias.

"Mantenham-se deitados no chão! Quem se levantar ou fizer alguma coisa será abatido!"

"CIA!", repetiu ela. "Sou da CIA! Há uma bomba na ambulância! Temos de a desactivar!"

Os polícias ficaram desconcertados com a informação. Olharam para a ambulância e depois para o mais graduado do grupo, um barrigudo que tentava ainda decidir o que fazer.

"Você é da CIA?"

"Sim. Deixem-me ir ver a ambulância. Está lá uma bomba!" "Esteja quieta!", ordenou o polícia barrigudo. "Tem algum cartão que a identifique?"

"Sim."

"Com movimentos muito lentos, tire-o e mostre-nos. Mas, atenção, têm de ser mesmo movimentos muito lentos. Se fizer algum gesto brusco, abrimos fogo."

A mão ensanguentada de Rebecca mergulhou devagar no casaco e extraiu um cartão, que exibiu na direcção dos guardas. Os homens do NYPD

aproximaram-se com cuidado, curvados e atentos, as armas sempre apontadas. Um deles inclinou-se com lentidão e pegou no cartão. O pequeno rectângulo plastificado apresentava a fotografia dela e o círculo com a águia americana no centro e as palavras Central Intelligence Agency em redor.

"Com os diabos, ela é mesmo da CIA!", constatou o guarda, mostrando o cartão ao mais graduado.

"Posso levantar-me?", perguntou Rebecca.

O superior hierárquico ponderou o pedido por um instante. Olhou para o cartão, depois para Rebecca, de novo para o

cartão e mais uma vez para Rebecca. Não encontrando motivos para duvidar da autenticidade do documento, acabou por

fazer sinal afirmativo com a cabeça. O polícia que pegara no

cartão estendeu a mão e ajudou-a a erguer-se. m A americana sentia-se combalida e teve dificuldade em endireitar-se. Havia sido atingida por duas balas no braço direito e a manga da camisa estava molhada de encarnado. Olhou em redor e viu Tomás e Ted deitados no alcatrão com pequenas poças de sangue em redor.

"Meu Deus!"

"A senhora conhece esta gente?"

"Eles estão comigo", disse ela, aproximando-se o mais depressa que pôde do português. Ajoelhou-se junto dele e inclinou a cabeça cor de palha para lhe falar ao ouvido. "Tom, você está bem?"

Tomás gemeu e voltou-se devagar.

"Fui apanhado no ombro", arrulhou com um esgar de dor. "Mas acho que vou sobreviver."

Rebecca caiu sobre ele e abraçou-o, aliviada.

"Graças a Deus! Graças a Deus! Tive tanto medo..."

Tomás devolveu o abraço, embora com cuidado para proteger o ombro esquerdo, e beijou-a nas orelhas e no pescoço. Cheirou-lhe o perfume suave no cabelo dourado e sentiu-se flutuar, os músculos distendendo-se e o corpo descontraindo e entregando-se a ela.

"Está tudo bem", insistiu num sussurro, os dentes subitamente cerrados para dominar um inesperado recrudescer da dor no ombro. "Pronto, está tudo bem."

Os polícias rodearam-nos.

"Minha senhora", disse um deles, uma expressão alarmada no rosto. "Há um relógio dentro da ambulância."

Num sobressalto, Rebecca e Tomás viraram imediatamente a cara para ele.

"O quê?"

"Está em contagem decrescente."

LXII

Um polícia magro e alto ajudou Rebecca e Tomás a subirem para a viatura. Sentiam ambos dores fortes nas partes do corpo onde haviam sido baleados, mas a informação que o homem do NYPD lhes dera funcionara como uma chicotada. Fosse qual fosse a dor que sentissem, aquele assunto tinha prioridade sobre todos os outros.

O polícia indicou-lhes o relógio.

"É aqui."

Os dois inclinaram-se sobre o local e arregalaram os olhos ao ver os dígitos luminosos a mo

vimentarem-se na sombra.

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"Três minutos e dez segundos para a explosão", murmurou Tomás, aterrado. "Você consegue desarmar a bomba?" Rebecca abanou maquinalmente a cabeça. "Em três minutos? Isso não é possível!"

Levaram ambos as mãos à boca, sentindo-se impotentes para resolver o problema.

"Isto é uma bomba?", perguntou o polícia, de repente muito alarmado. "E melhor mandar evacuar esta zona!"

"Esta bomba é nuclear", observou Rebecca. "Já não vale a pena evacuar nada. É demasiado tarde para isso."

Tomás encarou-a.

"Oiça, Rebecca. Tem de haver uma maneira."

"E impossível, Tom! Teríamos de abrir a bomba e desactivar o propulsor da bala de urânio enriquecido.

Isso não se faz em... em..."

Olhou de novo para o relógio.

08:53

"... em menos de três minutos! É absolutamente impossível!" Recusando-se a desistir, Tomás pegou na caixa negra com o mostrador do relógio a âmbar e analisou-a. "Isto é um teclado."

"Sim, faz parte do sistema de segurança", disse Rebecca. "O teclado serve para introduzir um código que activa a bomba."

A informação acendeu-lhe uma luz de esperança.