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"Isso significa que deve também haver um código que a desactiva..."

"E provável", admitiu ela. "O problema é que não sabemos que código é esse."

Tomás voltou a cabeça para o corpo do homem da bata branca, que permanecia estendido na rua.

"Mas sabem eles", disse. Levantou o olhar para o polícia que os acompanhava. "Algum dos tipos da ambulância sobreviveu?"

"O paciente", indicou o homem do NYPD, afastando--se para deixar ver Ahmed. "Foi atingido nos pulmões, mas safa-se."

Tomás arrastou-se para junto do seu antigo aluno.

"Ahmed! Ahmed!"

O árabe tinha os olhos fechados, mas abriu-os ao ouvir alguém chamar o seu nome, coisa que não esperava. Olhou Tomás com surpresa, como se visse e não acreditasse.

"Professor!", exclamou em português. "O que está o senhor a fazer aqui?"

"É uma longa história", disse Tomás, esforçando-se por sorrir. "Tu estás bem?"

Ahmed suspirou com dificuldade.

"Estou pronto para entrar no Paraíso", murmurou.

"Deus é grande e misericordioso e vai acolher-me no Seu belo jardim."

Ouvindo-o falar assim, Tomás percebeu que não ia ser fácil convencê-lo a revelar o código de desactivação.

"Ouve, Ahmed", disse com suavidade. "Es livre de ir para o jardim de Alá se quiseres e quando quiseres. Mas, sabes, eu não estou com muita pressa e gostava de continuar a viver por mais algum tempo."

"Compreendo", assentiu o homem da Al-Qaeda, manifestamente com dificuldade em falar devido à ferida nos pulmões. "Se o senhor morrer agora irá para o Inferno, uma vez que é um infiel." Tossiu.

"Mas há uma solução."

"Diz."

"Converta-se ao islão agora", sugeriu. "Recite a sbahada, aceitando Alá como o único Deus e Maomé como o Seu Profeta. Tornar-se-á imediatamente muçulmano e morrerá como um sbabid. Deus, na Sua misericórdia infinita, acolhê--lo-á no Paraíso das virgens."

Estas palavras soaram a Tomás como uma sentença de morte; era evidente que Ahmed não iria falar.

Mesmo assim, não desistiu. Apontou para o relógio cujos dígitos brilhavam na sombra, a dois metros de distância, saltitando na contagem decrescente.

"Estás a ver aquilo?"

Ahmed voltou a cabeça para lá.

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"Falta um minuto e meio para Alá me receber no Paraíso", murmurou o árabe. "Deus é grande!"

"Quando a bomba explodir irá morrer muita gente, Ahmed. Mulheres, crianças, velhos. Não podes deixar que isso aconteça. Por favor, dá-me o código para desactivar a bomba."

"Se as vítimas forem muçulmanas serão todas shahid e irão para o Paraíso das virgens e dos rios de vinho sem álcool. Se forem infiéis, irão conhecer as chamas do Inferno. O senhor professor ainda tem tempo de se converter."

Tomás respirou fundo.

"Ouve, Ahmed, como sabemos nós que esta é mesmo a vontade de Deus? Porque não damos a Deus a hipótese de escolher?"

"Não percebo", murmurou o árabe, uma expressão interrogativa nos olhos. "Escolher o quê? Escolher como? Como se pode pôr Deus a escolher?"

"Dá-me uma pista para o código", sugeriu o historiador. "Se eu conseguir chegar à chave que pára a contagem decrescente, é porque Deus quis que a bomba não detonasse. Por outro lado, se eu não conseguir, é porque Deus quis que ela rebentasse. O

que achas da ideia? Não me digas que tens medo de entregar a Deus a decisão..."

Ahmed voltou a espreitar o relógio.

Um minuto para a explosão. O que tinha ele a perder?

"Está bem", assentiu. "Deus, na Sua infinita sabedoria,

decidirá. A pista é esta: Thy mania by /." 0

Tomás fez uma careta. "O

quê?"

"Thy mania by I. E essa a pista para o código."

"Isso é Shakespeare ou quê?"

O homem da Al-Qaeda lançou um derradeiro olhar na direcção do relógio e sorriu.

"Tem um minuto, senhor professor", disse, cerrando os olhos. "Que se cumpra a vontade de Alá e se solte a fúria divina!"

Percebendo que do seu antigo aluno não arrancaria mais nada, Tomás arrastou-se para junto do relógio e digitou Thy mania by I no teclado. Depois fixou os olhos no mostrador a âmbar.

00:5 í

nn çn uu.Ou

Os algarismos prosseguiram a sua marcha inexorável.

"Então?", perguntou Rebecca, afogada em ansiedade.

"Conseguiu parar o..."

"Chiu!", ordenou Tomás.

O historiador fez um esforço para se concentrar na charada.

Tby mania by I.

Parecia inglês antigo e queria dizer literalmente a tua mania por eu. Ou por mim. Shakespeare era uma possibilidade, mas, se fosse de facto uma referência a um qualquer verso do grande poeta inglês, estava tudo perdido. Não havia tempo para localizar a referência e o verso, e muito menos para extrair daí a palavra ou a frase que travasse a detonação da bomba.

Sem conseguir controlar o nervosismo, lançou uma espreitadela para o mostrador do relógio.

.•45

Duas gotas de suor percorreram a testa de Tomás.

A verdade, a triste verdade, é que já não havia tempo para nada. A única esperança que via era tratar-se de um anagrama. Se fosse outra coisa, estava realmente tudo perdido. Seria um anagrama?

Mesmo que fosse, o tempo esgotava-se sem misericórdia.

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Deixem cá ver, pensou, escrevinhando a charada num pedaço de cartão que arrancou de uma caixa pousada na viatura.

Tby mania by I.

Um espasmo de dor no ombro fê-lo gemer. Era como se uma agulha ali espetada remexesse na ferida latejante, mas respirou fundo, controlou o sofrimento e, embora a custo, voltou a concentrar-se.

Se fosse um anagrama, raciocinou, teria de manter estas letras mas alterar a sua ordem, de modo a encontrar uma outra frase ou palavra que usasse as mesmas letras. A haver tal palavra, considerou, provavelmente seria uma qualquer referência islâmica. Teria de ser uma palavra com dois y, dois a, um í, um m...

nn

32

Seria Allah u akbar? Não, as letras não coincidiam.

E os primeiros versículos do Alcorão? Biçmillah Irrahman Irrabim? Não, também não podia ser.

Teria de ser uma coisa secreta, uma coisa que só Ahmed soubesse. Essas frases islâmicas eram demasiado óbvias para serem escolhidas para código.

A dor voltou, lancinante. Cerrou os dentes, fez força com o corpo todo, comprimiu os olhos até as lágrimas lhe nascerem pelos cantos e esperou que o espasmo passasse. Quando a dor finalmente recuou, olhou de novo para a charada, sabendo que, custasse o que custasse, tinha de se manter concentrado.

E se fosse um nome? Balançou afirmativamente a cabeça, encorajado com aquela linha de pensamento.

Sim, um nome. Maomé ou Mubammad estavam fora de questão, as letras não coincidiam e, além do mais, tratava-se também de uma opção por demais evidente. Claro que o seu antigo aluno poderia ter utilizado o seu próprio nome.

Não, abanou a cabeça. Também não. Ahmed não dava. Era um nome demasiado curto e óbvio. Além disso, faltava à charada o e. A ser um nome, parecia-lhe claro que teria de ser um nome secreto, um nome que... que...

Caramba, se calhar... se calhar...

"Ibn Taymiyyah!", exclamou. "É Ibn Taymiyyah!"

00:26

Agarrou-se ao teclado e escreveu Ibn Taymiyyab, o nome de guerra de Ahmed na Al-Qaeda. Era Ibn Taymiyyah, convenceu-se no seu desespero. Só podia ser Ibn Taymiyyab!

Acabou de introduzir as letras, o rosto coberto de transpiração e o suor a pingar profusamente pela ponta do nariz e do queixo, e cravou os olhos ansiosos no relógio.