Выбрать главу

Pouco depois a mãe saiu e ficaram apenas os jovens. A irmã de Essine veio sentar— se na minha frente e pôs-se, bruscamente, a bombardear-me com perguntas: donde vinha, qual era o meu nome, a minha idade, a minha profissão? Como eram as mulheres terrestres? Que pensava eu de Ella?…

Souilik e Essine vieram participar também na conversa e ao fim de alguns minutos esqueci-me completamente de que estava num mundo estranho. Tudo me parecia familiar. Quase que o lamentava, dizendo para comigo que, na realidade, esta fantástica viagem era vã, dado que todas as humanidades do Céu se assemelhavam.

Quase que não valia a pena deixar a Terra para encontrar muito pouco que fosse de novo. Novo! Bolas! Depois veria se havia ou não algo de novo! Quando penso nos horrores daquele planeta Siphan! Mas naquela altura ignorava ainda tudo isso e parecia-me que física e mentalmente, apesar da pele verde e dos cabelos brancos, os Hiss se assemelhavam muito a nós.

Transmiti essa reflexão a Souilik. Antes que ele pudesse responder, Essen-Iza, a irmã de Essine, adiantou-se:

— Oh! sim, você dá a impressão de ser um Hiss barbado, cor-de-rosa!

Souilik sorria enigmaticamente Acabou por afirmar:

— Na verdade, vocês nada sabem. Eu já tomei contacto com cinco humanidades, das quais uma, os Krens, são tão parecidos fisicamente conosco que é quase impossível distinguir-nos; Ao princípio são as semelhanças de costumes que chamam a atenção. Depois… Quando já tiver vivido muito tempo em Ella talvez você pense como os Froons, de Sik, da estrela Wencor, do Sexto Universo, que, por questões várias, têm relações conosco, mas, na verdade, não nos suportam.

Depois disto partimos. Essen-Iza e seu irmão Ars desejaram cerimoniosamente um «bom vôo» a Souilik e a «Srenn Sévold Slair», isto é, ao Sr. Vsévolod Clair. Essine acompanhou-nos no seu réob.

Uma hora depois estávamos de volta na casa de Souilik.

Essine demorou-se pouco tempo e nós ficamos sós. Não me recordo muito bem do que fizemos no meu primeiro dia em Ella. Me parece que só mais tarde é que eu comecei a aprender a falar e a escrever o hiss. Talvez fosse Souilik quem me ensinou esse curioso» Jogo das Estrelas», que se joga numa espécie de tabuleiro redondo e que consiste em conseguir, com pedras que representam estrelas, planetas e ksills, uma certa combinação que permite empregar «o Mislik»; a partir desse momento tem-se a partida ganha, porque a parada é difícil e pode-se então começar a «extinguir» as estrelas, do adversário.

Passamos o fim da tarde juntos. Eu começava a me afeiçoar por aquele jovem Hiss, que se tornaria o meu melhor amigo em Ella. Após uma ligeira refeição, em que, pela primeira vez, provei os alimentos destinados aos Sinzus (que têm um sabor acentuado de carne), saímos e sentamo-nos na porta da casa.

Interroguei Souilik sobre as suas viagens. Ele conhecia cinco planetas humanos e muitos outros inabitados ou habitados somente por formas inferiores de vida. Alguns desses mundos — o planeta Biran, o sol Fsien, do Primeiro Universo, por exemplo — eram de uma beleza extraordinária; outros, pelo contrário, desolados. Souilik estivera também nos planetas Aour e Gen, do sol Ep-Han, do Primeiro Universo — o dos Hiss — , cujos habitantes se tinham suicidado em guerras infernais. Me mostrou fotografias a cores desses mundos, excelentes imagens que não sonhamos conseguir com a nossa técnica. Tenho algumas comigo. Mostrou-me também uma estatueta encontrada nas ruínas de uma cidade de Aour, frágil objeto de vidro que escapou ao desastre e que, apesar do estranho ser que representava — uma espécie de homem alado, com cabeça cônica —, era de uma invulgar perfeição.

Não tenho uma recordação nítida do que se passou no dia seguinte. Melhor: tenho-a, certamente, mas deve estar misturada com a dos dias que se sucederam.

No entanto, recordo-me muito bem do dia imediato a esse, pois foi o da minha segunda visita na Casa dos Sábios.

Parti com Souilik no réob. A viagem foi rápida e logo que chegamos fui introduzido no gabinete de Azzlem, enquanto Souilik tornava a partir. As paredes da sala eram nuas, com exceção de cinco painéis retangulares que pareciam feitos de vidro despolido, No centro, sobre uma mesa de uma matéria estranha, estavam alguns pequenos aparelhos e um quadro de comandos complexo. Azzlem mandou-me sentar em frente a ele Uma vez mais senti uma impressão familiar, aquela que sentia quando era interno no hospital e o chefe de equipe me mandava chamar.

Azzlem devia ser idoso. A descoloração da pele estava desenvolvida e dava-lhe um ar esverdeado, que entre nós parecia doentio. Mas o seu corpo, que se desenhava sob a cota cinzenta, faria inveja a muitos atletas da Terra.

Ficou um momento me olhando de frente, sem nada transmitir. Sentia que me comparava aos numerosos espécimes de outros seres que tinham-me precedido neste gabinete. Depois a nossa conversação silenciosa começou:

— É extremamente lamentável que os seus compatriotas dizia ele — tivessem atacado o nosso ksill e tenham assim matado dois dos nossos. Aass é um pouco culpado, arriscado daquela maneira. Não calculou que vocês já soubessem voar.

— Aprendemos a fazê-lo tem pouco tempo — respondi. Mas nenhum dos nossos aparelhos atingiu ainda, salvo um ou outro foguete experimental, o vazio interplanetário.

— Como? Sabem voar e não puderam sair da atmosfera? E quais foram esses engenhos que o conseguiram? Não percebi um dos seus pensamentos.

— Um foguete! — disse eu. E fiz uma descrição mental desses aparelhos O seu rosto exprimiu surpresa.

— Já percebo. Bem entendido, nós conhecemos teoricamente os «foguetes». Mas não os empregamos. O rendimento é deplorável! E os engenhos volantes de vocês são movidos por esses «foguetes»?

— Alguns. Outros, por motores de explosão.

Tive de explicar novamente este termo Também eu começava a ficar admirado.

Fiz-lhe, por minha vez, uma objeção. — Não vejo — disse eu — a relação que há entre o vôo na atmosfera e a possibilidade de sair dela.

— É evidente! Desde que se puderam utilizar os campos gravíticos negativos, o sair da atmosfera não foi senão uma questão de conseguir aparelhos estanques. Vocês utilizam gravíticos?

— Não posso afirmá-lo, embora não saiba exatamente do que se trata.

Azzlem tentou durante muito tempo me fazer compreender.

Mas, muitas vezes, eu não só não compreendia, como não «ouvia» nada. Azzlem usava noções que me eram completamente estranhas e toda a comunicação se interrompia imediatamente entre os nossos pensamentos. Lamentei imenso não ser um físico ou, então, que você estivesse lá! Se bem que seria muito melhor que fosse o próprio Einstein. Azzlem desistiu.

— Sejam quais forem os meios de propulsão, o que é certo é que um dos aparelhos de vocês atacou o nosso ksill eficazmente. Souilik já me disse que isso foi devido a um equívoco. Acredito em você.

— Posso lhe fazer uma pergunta? — interrompi. — O ksill em que viajei foi o primeiro a visitar a Terra?

— Sim, posso lhe garantir. Todas as ordens para explorações são dadas por mim. Eu tinha mandado Aass e Souilik ver se existiam outros universos para além do Décimo Sexto. O seu fica vinte vezes mais afastado do que aquele, o que significa que é necessário estar vinte vezes mais tempo no ahun para o atingirmos. Não posso garantir, contrariamente ao que lhe disse Aass, que seja possível o seu regresso. Não é seguro que possamos ultrapassar a tal ponto as regras de navegação no ahun.

Saberemos em breve. O meu filho Asserok vai regressar do Décimo Sétimo Universo, descoberto durante a viagem de Aass, e que está quase tão distanciado como o de vocês e na mesma direção. Quando digo que o descobrimos é inexato. Foram eles que nos descobriram. Têm também o sangue vermelho, conhecem o ahun e assemelham-se aos terrenos.