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O estudo dos registos levou uma dezena de dias. Fui então convocado para ir na casa de Azzlem, que encontrei rodeado de três psicotécnicos.

Pelo que disseram, o resultado do exame fora surpreendente. As minhas capacidades intelectuais ultrapassaram largamente a média dos Hiss, colocando-me na cotação 88 (a média dos Sábios é de 87). As minhas capacidades afetivas perturbaram-nos bastante mais: segundo o que soube, eu era um indivíduo que podia ser perigoso, dotado duma combatividade extrema e de fantásticas possibilidades de amor ou de ódio, com um gosto muito vivo de solidão e uma certa insociabilidade Este último traço não deve lhe surpreender! Em compensação, as minhas capacidades de emoção mística eram baixas, muito baixas, quase nulas, e isso pareceu entristecê-los. Mas o que os intrigava mais é que eu emitia um certo tipo de ondas que eles não souberam interpretar e que se aproxima muito dum tipo de ondas emitido pelos Milsliks!

O resultado prático foi que, em vez de ser enviado para Réssan, com os representantes das outras humanidades, fiquei em Ella, achando os Sábios preferível esta solução.

Continuei então a viver em casa de Souilik. Este partiu dentro em pouco para uma viagem no ahun, deixando-me só. Mas eu já tinha travado conhecimento com muitos vizinhos e recebia muitas vezes a visita de Essine ou de membros da sua família.

Como tinha aprendido a ler ao mesmo tempo que a falar, comecei a utilizar os numerosos livros de Souilik. Muitos, tratando de ciências físicas, ultrapassavam-me.

Outros, ao contrário, tratando de biologia ou de arqueologia universal, apaixonaram— me.

Lia um dia tranquilamente uma história resumida do planeta Szem, do sol Fluh, do Décimo Primeiro Universo, quando um réob azul aterrou em frente da casa. Saiu dele o gigantesco Hiss que fazia parte do Conselho dos Sábios e se chamava Assza. Tinha tido pouca convivência com ele, pois era um físico, e os Hiss depressa julgaram que, nesse aspecto, os meus conhecimentos eram bastante medíocres para valer a pena agregarem-me a um especialista. Fiquei, pois, surpreendido com a sua visita.

Segundo. a maneira direta dos Hiss, ele não perdeu tempo:

— Venha, precisamos de você.

— Porquê? — perguntei.

— Para ver se você é, afinal, um dos seres de sangue vermelho da Profecia, que os Milsliks não podem matar. Venha. Não correrá nenhum perigo.

Poderia decerto ter recusado, mas não tinha nenhuma vontade. Estava impaciente por saber o que eram os famosos Milsliks, Segui-o, pois, no seu réob.

Subimos muito alto, a grande velocidade. O réob sobrevoou dois mares, montanhas, ainda um mar, e depois, ao fim de três horas o piloto picou em direção a uma pequena ilha rochosa, desolada. Tínhamos percorrido mais de 9.000 quilômetros. O Sol declinava no horizonte e devíamos estar a uma latitude muito elevada, porque vi gelos flutuarem no mar.

Assza pousou o réob numa minúscula plataforma que pendia sobre as ondas.

Dirigimo-nos para uma larga porta metálica. Com gestos complicados, o meu guia abriu um guichet e falou. A porta entreabriu-se e entramos Doze jovens Hiss, armados da sua «espingarda de calor», examinaram-me. Passamos este posto de guarda e penetramos numa sala octogonal, cuja parede apresentava a falta de polimento peculiar dos écrans de visão. assza mandou-me sentar:

— Isto é o meu gabinete — disse ele — Estou encarregado da vigilância do Mislik. — E me explicou o que em seguida você vai ouvir.

Há pouco mais de dois anos, um ksill conseguira surpreender um Mislik isolado no Espaço e capturá-lo. Isso fora bastante difícil e a equipagem, exposta de maneira prolongada aos seus raios, sofrera muito tempo de anemia. Mas o mais árduo fora fazer o Mislik atravessar a atmosfera quente de Ella sem o matar. Tinham-no, enfim, conseguido, e o Mislik lá estava, numa cripta, sempre mantida a uma temperatura de 120 absolutos. Todos os tipos de humanidades com exceção dos últimos conhecidos que sabiam passar no ahun e de mim — foram voluntariamente submetidos a emissão dos raios do Mislik, com todas as precauções necessárias para que não houvesse acidente mortal. Nenhum pudera resistir. Mas nenhum também tinha o sangue vermelho da Profecia. Eu tinha este sangue!

— Olhe o Mislik! — me disse Assza.

Mergulhou a sala na obscuridade. Sobre o écran apareceram imagens numa curiosa luz azul.

— Luz fria. Qualquer outra iluminação mataria o Mislik! A minha vista mergulhou num compartimento de largas proporções. O solo rochoso estava nu. Ao meio, imóvel, estava qualquer coisa que tomei primeiro por uma pequena construção metálica, feita de placas articuladas por juntas ocas, Aquilo brilhava como um vivo clarão prateado e tinha uma forma poliédrica e uma estrutura de, aproximadamente, dois metros por um.

O Hiss levou-me em frente de aparelhos registadores que me lembraram o psicômetro. Sobre os quadrantes, agulhas fosforescentes oscilavam lentamente, tubos fluorescentes palpitavam em lentas ondulações regulares.

— A vida do Mislik — disse Assza. — Ele é constantemente centro destes fenômenos eletromagnéticos, que, parece, vocês, gentes da Terra, utilizam como manancial de energia. Ele Repousa.

Assza premiu um botão. O termômetro que indicava a temperatura da cripta passou de 120 a 300 absolutos. As agulhas deram um salto no quadrante, os tubos emitiram uma luz mais viva, as suas palpitações aceleraram-se. Assza designou-me um, que vibrava numa cadência particular.

— As ondas Phen: as que, segundo o nosso conhecimento, só você e os Milsliks emitem!

Levantei os olhos e me vi num espelho Era um fantástico espetáculo, as nossas caras iluminadas por esta única luz palpitante, esverdeada, que vinha dos tubos, e o reflexo da luz azul do écran. Raramente em Ella tive uma tão viva impressão de deslocação doutro mundo. Tive medo.