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Inclinou-se para mim, observando qualquer coisa que eu não podia ver, sorriu e disse algumas palavras. O zumbido mudou de tom e a luz tornou-se verdadeiramente violeta. Senti um formigueiro contínuo e as fôrças pareceram, lentamente, voltar.

Ele saiu, deixando-me só. Foi fácil para mim reconstituir os fatos: tinha sido ferido gravemente e estava num hospital sinzu, possivelmente a bordo da astronave.

Recaí numa sonolência agradável. Ao fim dum certo tempo, que fui incapaz de calcular, o Sinzu reapareceu, desta vez com Szan. O Hiss explicou-me o que se tinha passado: apenas atingido pelo Mislik, este, devido ao efeito da luz quente — que se acendeu depois e não antes do choque, como eu supunha ficou fora de combate. Fui levantado por Ulna e o irmão e levado para a antecâmara num estado lastimável.

Estava moribundo quando fui transportado para a astronave. Os Sinzus quiseram me tratar, primeiro porque não estava em condições de ser transportado, em seguida porque, no fim de contas, tinha salvo o filho e a filha do chefe, e, finalmente, porque parecia estar eu, fisiologicamente, mais perto deles do que dos Hiss. Até que ponto isto era certo foi revelado pelo exame químico-histo-biológico a que fui submetido de urgência, enquanto era mantido vivo artificialmente por aparelhos que ultrapassavam tudo o que tinha visto em Ella.

Tinha um protoplasma absolutamente idêntico ao deles, de modo que não hesitaram um segundo em fazer-me hétero-greffes, coisa que nós não sabemos ainda fazer. Eles são mestres nesta arte e têm sempre em reserva matéria-prima viva, se assim posso chamar.

Na verdade, salvo o fato de eles não possuírem senão quatro dedos, característica que num cruzamento com a nossa espécie desapareceria, são menos diferentes de nós, Europeus, do que o Chinês.

Breve estava curado, graças aos cuidados de Vicédom, o seu grande médico. Seria injusto esquecer o papel de Szzan, a quem eu tinha ensinado um pouco de medicina terrestre, e que o aconselhou, e o de Ulna, encarregada durante longos dias da vigilância do extraordinário coração artificial, de sua invenção.

A partir do momento em que recuperei a consciência já me levantava. Tive, com a ajuda dum capacete amplificador, demoradas conversas com Ulna, seu irmão e seu pai, e comecei a aprender a língua deles Consegui assim alguns pormenores sobre o planeta Arbor e a raça sinzu.

Os Sinzus, muito avançados sob o ponto de vista científico, têm uma curiosa organização social, herdada dos antepassados. Antigamente todas as famílias sinzus eram nobres e nenhum indivíduo fazia trabalhos manuais, os quais deixavam para a raça inferior dos Telms. Consagravam a vida à arte, às viagens e à guerra. Esta desapareceu há cerca de sete séculos do seu planeta e foi substituída pela investigação científica e pela exploração do Espaço. É um estranho paradoxo que nós fôssemos descobertos pelos Hiss e não pelos Sinzus, porquanto a galáxia deles, como verificamos mais tarde, não é outra senão a nossa tão próxima vizinha Andrômeda. Em verdade, de qualquer modo, as possibilidades de chegarem ao sistema solar, em meio de milhões de estrelas da nossa própria galáxia, eram das mais hipotéticas.

Hoje há cerca de 2 bilhões de Sinzus em Arbor e 350 milhões noutros planetas da sua galáxia. A organização social mantém-se aristocrática. Hélon é irmão dum shémon, isto é, qualquer coisa correspondente a um príncipe. Não há senão quatro shémons em Arbor, chefes de quatro famílias, que descendem dos últimos reis. A organização política é piramidal. No alto, os quatro shémons, semi-hereditários, no restrito sentido de que eles são sempre escolhidos nas mesmas famílias, mas não são necessariamente filhos dos shémons precedentes. Mas Ulna explicará melhor do que eu esta complexa sociedade.

No oitavo dia do meu despertar Vicédom autorizou-me a deixar o quarto. Feliz, saí da astronave, com Souilik e Ulna. Subimos lentamente a Escadaria das Humanidades e vi que efetivamente tinham juntado um Mislik na estátua do Sinzu. Souilik ria discretamente, olhando o seu pequeno relógio, e Ulna sorria com um ar misterioso.

Me sentindo cansado, quis regressar. Eles me dissuadiram, dizendo que o ar me fazia bem, e nos sentamos num banco de pedra, frente ao mar. assza passou e sentou-se também. Falamos de variadas coisas e depois ele nos deixou e partiu para a astronave. Ao fim de um basike Souilik olhou de novo o relógio e, com a face verde enrugada de malícia, me disse:

— Agora podemos regressar.

Quando subimos a escada da astronave os dois Sinzus me saudaram. Fiquei surpreso, porque até esse momento só vira os Sinzus saudarem os chefes e os membros do Conselho dos Dezenove. Ulna e Souilik deixaram-me só. Não fiquei assim por muito tempo, porque Akéion apareceu, vestido com uma esplêndida túnica púrpura, manto da mesma cor, a testa cingida por uma delgada tira de platina.

— Venha — disse ele em hiss. — Há uma cerimônia em sua honra e você tem de se vestir.

Me levou para um camarote e me ajudou a envergar o manto sinzu. Consistia numa longa túnica branca, que me fazia parecer mais escuro do que sou, num manto da mesma cor e numa tira de ouro.

Eu o segui até a proa, junto da cabina de pilotagem. Ao fundo da comprida sala estava um estrado, onde Hélon e Ulna se sentavam. Hélon vestia uma túnica amaranto, Ulna uma verde-pálida. O estado-maior da astronave, vestido de negro, e a equipagem, de uniforme cinzento, se alinhavam ao longo das paredes. Entre as amplas túnicas, as costas de Assza e Souilik, justíssimas, pareciam quase indecentes.

Parei, atônito, a poucos metros da tribuna. O silêncio era completo. Um pouco afastado, Akéion mantinha-se imóvel.

Hélon levantou-se lentamente e disse:

— Quem se apresenta diante do ur-shémon?

— Um nobre e livre Sinzu — respondeu Akéion por mim.

— O que lhe dá direito a usar a túnica branca?

— Salvou a filha e o filho do ur-shémon.

— Que deseja o nobre e livre Sinzu?

— Receber o «Ahen-réton».

— Que dizem os filhos do ur-shémon?

Aceitam — disseram em côro Ulna e Akéion.

Que dizem os nobres e livres companheiros do ur-shémon?

— Aceitam disseram em côro o estado-maior e a equipagem.

— Nós, Hélon, ur-shémon, comandante da astronave Tsalan, em escala no planeta amigo Ella, em nome dos outros shémons de Arbor, dos shémons de Tiran, de Sior, de Sertin, de ArborTian e de Sinaph, em nome de todos os Sinzus habitantes dos Seis Planetas, em nome dos Sinzus mortos e em nome dos Sinzus que hão-de nascer, declaramos conceder ao Sinzu do planeta Terra presente, como recompensa da sua corajosa conduta, a.honra de Sinzu— hen e o «Ahen-réton» do 7.» grau.

Na assembleia houve um murmúrio de surpresa Ulna sorria.

— Avance — disse-me Akéion.

Eu devia estar imensamente ridículo, negro na minha túnica branca, a minha tira de ouro, as delgadas antenas do capacete oscilando, por cima da cabeça. Avancei, não compreendendo bem o que ia se passar. Cheguei ao pé do estrado.

Então, entoado em côro, elevou-se um cântico estranho e belo, o mesmo que tinha ouvido na manhã em que vi Ulna pela primeira vez, o cântico dos Conquistadores do Espaço. Tive um arrepio de emoção quase religiosa. Senti que me tiravam o manto branco e me colocavam outro sobre os ombros. O cântico cessou.

Tinha agora um manto vermelho, bordado a ouro.

— A partir de agora, homem do planeta Terra, você — prosseguiu Hélon, — é Sinzu como nós. Eis as chaves da Tsalan e a arma que pode usar, se os nossos hospedeiros Hiss o permitirem — concluiu ele, sorrindo para Assza.

Me deu duas chaves de níquel, simbólicas — há bastante tempo que os Sinzus, como os Hiss, não utilizavam este meio primitivo —, e um tubo curto de metal brilhante.