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— Compreendo — disse. — Os Milsliks estão nos planetas de Kalvénault! — Com um esgar, continuou: Cinco anos-luz. Só cinco!

— Que a Luz primordial proteja Ialthar — acrescentou Essine.

Calaram-se todos. Olhei as faces pálidas dos meus hospedeiros. — Devem ter começado há pouco — disse eu. — Souilik há três anos visitou Rissman e nada viu de suspeito.

— Fui a Rissman, mas não a Erphen, nem a Sion, nem aos planetas Seis e Sete.

Eles devem estar nestes dois últimos. Os outros são muito quentes, pelo menos nesta altura…

Depois de um demorado silêncio, Assza declarou:

— Não é momento de discutir. O Tsérien que venha comigo. Os outros ocupem os seus postos antes da noite. Não haverá, decerto, perigo imediato para Ialthar. Temos colônias em todos os nossos planetas, incluindo os mais frios. Estando em Kalvénault, os Milsliks não têm ação no nosso sol. Souilik e Essine: o dia é de vocês!

Amanhã, ao meio-dia, procurem-nos.

Partimos, acompanhados pelos Sinzus. No réob Assza foi mais explícito: não só

Kalvénault parecia atingido de morte, como El Toéa e Asselor mostravam também sinais inquietantes. No dia seguinte os Sábios, de acordo com a Administração de Ella, de Marte, de Réssan e o Conselho da Liga das Terras Humanas, decretariam o estado de sítio. Não havia dúvidas: os Milsliks tinham invadido o Primeiro Universo.

Voando sobre a Casa dos Sábios, na península de Essanthem, vimos uma esquadrilha de ksills, que rapidamente tomavam altura. Eram cem, em linhas cerradas. Estranho espetáculo! Muito brilhantes, numa velocidade enorme, desapareceram no céu azul.

— Primeiro vôo de reconhecimento — disse Assza. — Quantos voltarão? Em que planeta estarão os Milsliks? Estarão algures no Espaço interplanetário? Quem os descobrir quase não tem probabilidades de escapar. — Calou-se um momento. —

Souilik vai zangar-se. Esperava comandar esta esquadrilha.

— E eu? Que vou fazer? — perguntei.

— Partirá com a segunda esquadrilha, num ksill de guarnição — Hiss e Sinzus.

Quando aterramos, ao lado da astronave, notei que a escada estava levantada e todas as bandeiras tinham desaparecido. Era a guerra.

Entramos diretamente na sala do Conselho. Havia assembléia plenária: os Dezenove na frente, os outros na retaguarda. Me indicaram um lugar na segunda fila, com os representantes dos Sinzus. Foi rápido: não se tratava de escolher entre a guerra e a paz. Era necessário a todo o custo expulsar os Milsliks do Primeiro Universo. Só depois se atacariam as Galáxias Malditas.

Era impossível utilizar de momento a astronave sinzu. Kalvénault não estava no seu raio de ação. Uma parte da guarnição passou para os ksills e a outra voltou a Arbor, em busca de reforços.

A astronave partiu de madrugada. Meia centena de Sinzus, além de Ulna e Akéion, ficaram em Ella. Ao meio-dia chegaram Souilik e Essine; partimos imediatamente para a ilha de Aniasz, ponto de concentração da segunda esquadrilha. Chegamos nove horas depois.

A segunda esquadrilha era composta de 172 ksills dos mais variados tipos: desde o tipo ligeiro, que me tinha trazido da Terra, até aos pesados — de mais de 150 metros de diâmetro —, poderosamente armados e com sessenta tripulantes.

Avançamos até ao meio da formação. Souilik apontou um ksill médio:

— É o nosso — disse. — O navio-almirante — acrescentou, entre orgulhoso e brincalhão.

Estranho navio e estranha guarnição: Souilik, chefe de esquadrilha, Snezin, comandante de bordo, dez Hiss, Ulna, Akéion, Herang, físico sinzu, e eu.

Nós quatro formaríamos o grupo de desembarque. Conosco seguiam também dois jovens Hr'bens: Beichitinsiantorépanséroset e Séférantosinanséroset. Iam experimentar uma nova arma, não térmica, criada nos laboratórios de Réssan.

Concordamos, é óbvio, em abreviar-lhes os nomes, muito longos: Beichit e Séfer, assim os chamamos desde então.

Nos dias seguintes treinamo-nos intensamente no uso de armas e manejo de ksills. Hérang, Ulna e Akéion, habituados aos aparelhos sinzus, aprenderam depressa e rapidamente me ultrapassaram. Eram também superiores a mim no manejo das armas sinzus; em contrapartida, eu os batia nas armas hiss. A nova arma hr'ben. não foi experimentada; só seria eficaz contra os Milsliks.

Ao amanhecer do sexto dia fomos convocados para a Casa dos Sábios. Para lá nos dirigimos de ksill, a uma velocidade prodigiosa. Tinha regressado o que restava da primeira esquadrilha. Tal como Assza previra, as perdas tinham sido elevadas — de cento e dois ksills, somente tinham voltado. vinte e quatro.

As notícias eram francamente más. Kalvénault estava quase extinto. Apesar de a sua luz nos chegar ainda brilhante, um pouco avermelhada, há cinco anos que ia amortecendo lentamente.

Souilik sentiu um arrepio retrospectivo ao compreender que, quando da sua viagem a Rissman, os Milsliks estavam, havia já dois anos, nos planetas Seis e Sete.

Agora o seu solo gelado enxameava de Milsliks.

Como tinham feito com o sol Sklin, construíram formidáveis torres metálicas. Era impossível surpreendê-los, porquanto, em grupos de nove, patrulhavam incessantemente o vácuo interplanetário. Os ksills de reconhecimento bombardearam as torres do planeta Seis, mas foi-lhes impossível aproximarem-se do planeta Sete. A nós competia romper as defesas deste, destruir as misteriosas torres e voltar, se possível. Dispúnhamos para isso de veículos blindados, que nos defenderiam, um pouco, do ataque dos Milsliks.

Mentiria se dissesse que tal perspectiva me agradava. Só a idéia de desembarcar num mundo novo, para defrontar sabe-se lá o quê, na companhia de seres quase desconhecidos, gelava-me dum pavor antecipado.

Mas… já não podia recuar. Hóspede dos Hiss, tinha sido aceito como um deles e tinham-me confiado muitos dos seus segredos. Estava imunizado contra as radiações Milsliks e, feitas bem as contas, defendendo Ialthar, defendia o nosso sol e a única possibilidade de sobrevivência da nossa espécie. Aceitei.

Partimos na madrugada do dia seguinte. Em breve chegamos perto da órbita de Rissman, terceiro planeta do sistema Kalvénault.

Não se pense que cada estrela tenha um cortejo de planetas Na realidade, segundo os Hiss, só uma estrela em cento e noventa os comporta.

Somente dois planetas em dez são habitáveis, e nestes só um em mil é suscetível de vida humana. Rissman é habitado por formas primitivas de vida, análogas às que floresceram na Terra no período cambriano.

A concentração de fôrças fez-se próximo de Rissman. Era um mundo de tamanho intermédio, entre a Terra e Marte. Antes da invasão mislik era iluminado por um radioso sol azulado, um dos mais belos do Primeiro Universo. Agora parecia um olho sangrento, vermelho e sombrio. O seu solo estava coberto de neve e gás carbônico liquefeito. A temperatura baixara para 100° negativos e toda a forma de vida desaparecera já, salvo nas grandes profundidades dos oceanos gelados.

Nem sei descrever a desolação do nosso campo de vista: imagine uma planície enorme, estendendo-se até ao infinito, numa semiobscuridade avermelhada. Aqui e além, alguns montículos de neve, imprecisos, moles. Por entre eles, as manchas achatadas dos ksills, mescla de brilho e sombra, em volta das quais circulavam minúsculas silhuetas de escafandro. À medida que Kalvénault se aproximava do horizonte, a sua luz, refletida nos gelos, lembrava dedos sangrentos a apontar para nós. Me sentia longe da Terra, perdido no universo imenso, a bilhões de quilômetros do meu planeta natal. Tinha a sensação do fim do mundo, do Apocalipse, do exílio fora do tempo. Os próprios Hiss me pareciam estranhos e sem afinidades comigo.

Ulna sentia decerto o mesmo: tremia muito e empalidecia de momento a momento.

Akéion e o outro Sinzu olhavam, mudos e impenetráveis.

No posto de comando Souilik radiodifundia as suas ordens.