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— Será mesmo difícil — disse. — E provávelmente impossível para certos sóis. É preciso encontrar a forma de tornar a operação astomática Mas poderemos ensaiar na superfície de uma pequena estrela.

No dia seguinte Souilik partiu de novo, com o grande ksill que devia ser acabado de construir na ilha Aniasz. Durante um mês não ouvi falar de mais nada. E, de repente, em certo dia, Assza passou pelo laboratório e me anunciou que tudo estava pronto e que partiríamos no dia seguinte para torpedear um sol morto da Galáxia Maldita onde eu já estivera. Nessa noite ficamos na Casa dos Estrangeiros. Ao pôr de Ialthar o grande ksill surgiu do poente e amerissou no extremo da pequena ilha.

Alguns minutos mais tarde Souilik apareceu, acompanhado por Essine, Assza, Beichit, Séfer, Akéion e Béranthon, o grande físico sinzu. Todo o estado-maior do Sswinss (este nome significa «Destruidor») estava, pois, reunido. Houve uma espécie de banquete, sem discursos. Ulna e eu nos retiramos cedo e fomos passear na praia.

Estava uma temperatura deliciosa e o mar fosforecia, em grandes ondulações lentas.

Ari e Arzi difundiam a sua luz fria, as estrelas brilhavam aos milhares. Baixo, no horizonte, Kalvénault cintilava ainda, um pouco mais vermelho. O luar argênteo das luas recortava as sombras dos bosques. Nos sentamos, fitando a vaga a se desfazer na praia em espuma.

Ali ficamos muito tempo sem falar. Que poderíamos nós dizer? O drama que se preparava ultrapassava-nos! Já não me era possível recuar, e, de resto, não era essa a minha intenção, apesar do medo que me sacudia o corpo. Ulna sabia que desta vez não podia me acompanhar. Perto do mar, do nosso lado esquerdo, surgiu um outro par. As elegantes silhuetas, um pouco franzinas, denotavam serem Hiss.

Aproximaram-se e reconhecemos Souilik e Essine. Me levantei para os chamar, mas Ulna puxou-me pela túnica, dizendo:

— Não. Também eles têm de se separar.

Fiquei calado. Passaram diante de nós sem nos ver e afastaram-se para a direita.

Pouco depois voltaram para o nosso lado. Já não estavam sós. Os seus companheiros eram ainda mais frágeis e adivinhei que se tratava de Beichit e Séfer.

Desta vez, quando passaram perante nós, chamei-os e eles vieram se sentar ao nosso lado. Tirei o cachimbo do bolso e acendi-o. Se bem que os Hiss não fumem e achem até este vício singular, existe em Ella uma planta que é melhor do que o tabaco terrestre, sem ser tão nociva como este Trouxe comigo, para aqui, algumas dessas plantas, que, no entanto, não se puderam aclimatar. Acendi, pois, o meu cachimbo e esse gesto me transportou a alguns anos atrás. Uma vez, em 1944, precisamente antes de embarcar para a costa da Provença, fumara o meu último cachimbo diante do Mediterrâneo, acompanhado por camaradas, muitos dos quais deveriam cair mortos, a meu lado, alguns dias depois. Me voltei para Souilik.

— Que probabilidades temos de regressar, na sua opinião? Me respondeu com uma locução hiss: — É a mordidela do stissnassan!

O stissnassan é um verme de Ella cuja cabeça é tão semelhante à cauda que as pessoas se enganam uma vez em duas sobre a sua posição. E prosseguiu:

— Provavelmente não há Milsliks nos sóis mortos. O perigo não reside nisso. Mas nós disporemos de muito pouco tempo para lançar o kilsim. Tudo dependerá, possivelmente, da sua fôrça. Ao contrário dos Sábios, eu talvez esperasse poder fabricar autômatos que funcionassem nos campos anti-gravíticos Mas, por outro lado, a construção dos kilsims devora uma enorme quantidade de energia, e se, no fim de contas, eles não podem servir, mais vale isso ser verificado já e utilizar essa energia para outro fim.

— Mas certamente que você conseguirá — exclamou Beichit, indignada.

— Beichit faz parte da equipe dos construtores — replicou Souilik, num tom ligeiramente sarcástico. — É natural que tenha plena confiança no seu engenho. Por minha parte, ficarei mais tranquilo quando ele estiver funcionado. Ainda não seria nada, se ele se contentasse em não funcionar. Explodirá de qualquer forma. Mas temos de triunfar… ou perecer!

— Mas porque? — interroguei eu.

— O kilsim é ainda um engenho experimental… e perigoso. Uma vez assentada a penúltima peça, você terá precisamente um minuto terrestre para a colocar. Assim mesmo, se conseguir, a explosão se dará um basike depois. Se falhar, verificaremos dois minutos depois. Inútil dizer que neste último caso não teremos tempo para nos afastarmos. Quanto a passar para o ahun, na proximidade de um campo gravítico tão potente, nos arriscamos a ir parar em algum universo negativo. E nem toda a gente tem a sorte de Akéion. Mas não se inquiete. No seu minuto farei dar o máximo ao campo antigravítico. Você conseguirá!

Arzi descia lentamente para trás do horizonte. Levantou-se um vento fresco.

Ficamos silenciosos. Depois Ulna entoou, a meia voz, o canto dos Conquistadores do Espaço. Quando chegou ao verso sobre «os que a morte levou para os seus mundos desconhecidos» deu um breve soluço, mas prosseguiu. Com uma voz baixa e muito pura, Beichit entoou, por sua vez, um antigo canto do seu planeta, lento e obscuro como se fosse um sortilégio. Depois me pediram que cantasse uma canção da Terra, e não encontrei melhor do que a rude ária dos corsários de Jean Bart:

São homens de muita coragem Os que conosco partirão…

Exato, pensava eu. Que foram as viagens dos navegadores de outrora ao lado desta fantástica tarefa: reacender um sol?!

Séfer, calado até aí, disse:

— Aconteça o que acontecer, os planetas humanos poderão se orgulhar de nós. Se falharmos, outros, mais tarde, triunfarão. Mas nós teremos sido os primeiros!

Sim — retorquiu Souilik. — Mas tenhamos o cuidado de não nos comportarmos como Ossinsi!

Quem era Ossinsi?

O mais famoso dos guerreiros de Ella-Ven, há alguns milênios. — A canção ainda existe… É a sua vez, Essine!

Constituindo um dueto, cantaram os feitos de Ossinsi. Era uma tão famoso guerreiro que nunca pôde matar ninguém, pois o inimigo debandava só de ouvir o seu nome. Certo dia encontrou um velho eremita que nunca ouvira falar dele e ao qual perturbara as orações. Longe de fugir, o homem invetivou-o violentamente. E

Ossinsi, intimidado por ter diante dele alguém que ousava increpá-lo, fugiu tão depressa que ainda hoje corre. Com esta nota irônica fomos dormir.

Partimos ao romper da aurora. Essine, Beichit e Ulna nos acompanharam ao embarcadouro. Fizemos as últimas despedidas e, então, a porta de metal se fechou sobre nós.

A primeira parte da viagem não teve história. A passagem para o ahun notou-se simplesmente por um balanço mais forte do que o habitual, devido as grandes dimensões do ksill. Emergimos na Galáxia Maldita, mas Souilik não pôde me dizer se estávamos longe ou perto do planeta Siphan, onde eu permanecera um tão angustioso mês. Passamos suficientemente perto de um planeta para verificar se era povoado por Milsliks. O sistema solar que íamos destruir nos pareceu comportar uma dúzia de planetas, mas, claro, este número era apenas um cálculo. Descemos, então, para o sol morto.

Eu estava com Béranthon, Akéion, Séfer e Souilik no posto de comando, o séall.

Além dos instrumentos habituais, que eu aprendera a utilizar ou compreender, havia uma nova quantidade de mostradores, controlando a aparelhagem especial.

— Só atingiremos o sol morto dentro de alguns basikes — disse Souilik. Será talvez útil que Béranthon lhe mostre exatamente o que terá de fazer.

Segui o físico. O Sswinss comportava uma equipe de cinquenta homens apenas: vinte e cinco Hiss e outros tantos Sinzus. A maior parte do ksill era ocupada por uma imensa divisão circular, cujo chão estava dividido em duas partes: sobre um círculo central erguia-se uma máquina pesada e maciça, oval. com cerca de três metros de altura e trinta de largura. Estava inacabada e, ao lado dela, pousadas sobre o chão metálico, encontravam-se as peças que a deviam completar. Entre elas vi a que eu devia manipular. Nos extremos deste círculo central estavam os geradores de campo antigravítico, sob cuja ação deveríamos trabalhar.